Gaia, um planeta perdido em si mesmo

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Furacão Helene provoca estragos em Boone, na Carolina do Norte, nesta sexta-feira (27). — Foto: Jonathan Drake/Reuters

 

            É certo que as estações do ano, assim como todos os fenômenos relativos ao comportamento atmosférico, sempre chamaram a atenção dos seres humanos, que viram, nessas mudanças naturais, uma oportunidade e um aprendizado capaz de contribuir para sua própria sobrevivência sobre o planeta.

           Infelizmente, toda essa atenção com os fenômenos naturais parece ter sido perdida ou deixada de lado ao longo da caminhada dos homens pela história. Com a revolução industrial e com o acelerado processo de urbanização mundo afora, a preocupação com a chamada meteorologia foi deixada a cargo dos especialistas e do homem do campo, que ainda se servia dessas informações para cuidar do preparo da terra, da semeadura e da colheita.

         O crescimento vertiginoso da população mundial e o consequente consumo e abuso dos recursos naturais levaram-nos ao ponto em que nos encontramos atualmente e que podem ser resumidos pelo alerta provocado pelas mudanças climáticas em âmbito planetário. Aqueles que cuidam desses estudos afirmam que, a partir do início deste século, inauguramos uma nova era, a qual foi classificada como Antropoceno, ou seja, a era em que a humanidade passou a influir diretamente sobre os destinos da Terra.

         Não por outra razão, dizem que a massa dos objetos construídos pela humanidade, também chamada massa antropogênica, superou em peso a massa dos seres vivos, ou biomassa, pela primeira vez desde o surgimento do homem sobre o planeta. Isso sem contar a massa de lixo. Somando toda massa de plástico produzida até agora, seu peso já é o dobro de todos os animais terrestres e aquáticos existentes.

         Em 1900, o peso dessa massa antropogênica era apenas 3% do peso atual; desde então, o peso dessa massa tem, segundo a revista Nature, dobrado a cada 20 anos. Essa massa, esses valores, hoje, já correspondem a impressionantes 30 gigatons de peso, o que, segundo os cientistas, equivale a cada indivíduo reproduzindo seu peso por semana. Para o cientista holandês e prêmio Nobel de química em 1985, Paul Crutzen, o antropoceno, que segue ao holoceno, é uma nova era geológica, caracterizada pelo impacto do homem sobre o planeta. E pensar que todo o crescimento dessa massa antropogênica se deu durante o século XX, especialmente depois da Segunda Grande Guerra.

         Para um pequeno planeta como o nosso, que hoje já é visto como um verdadeiro ser vivo solto no espaço e que alguns chamam de Gaia, ou Mãe-Terra, os efeitos trazidos pelo crescimento da população e do consumo dos bens naturais, têm sido danosos para o planeta, provocando, além da acumulação na atmosfera dos gases de efeito estufa (GEE), outras consequências negativas que culminariam nas mudanças climáticas, alterando todo o ecossistema planetário.

         Mesmo sentindo, na pele, as consequências dessas mudanças bruscas, como temperaturas altíssimas, degelo, furacões, inundações e outros efeitos desastrosos, boa parte da humanidade ainda não se deu conta de que as alterações irreversíveis a curto prazo já foram deflagradas e há pouco o que podemos fazer sem uma alteração radical e mundial dos costumes.

         O desmatamento contínuo, a uma taxa de 13 milhões de hectares por ano, assim como a perda da biodiversidade, onde mais de 35 mil espécies estão em risco de extinção, faz desse antropoceno uma era de grandes desafios e que pode pôr fim à epopeia da breve existência da espécie humana sobre o planeta.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor.”

Pitágoras

Imagem: reprodução

 

Em tempo

Faixas de pedestres, bocas de lobo, pinturas no asfalto, semáforos, árvores podadas, morros de contenção de água e tudo o que for necessário fazer para enfrentar a chuva que já vai chegar.

Foto: TV Globo/Reprodução

Dinheiro fácil

A diferença cobrada em estacionamentos em Brasília chega a ser um escândalo. Em Centros Clínicos, por exemplo. No Centro Clínico Lucio Costa, 610/11 Sul, em 10 minutos cravados de estacionamento, o valor pago foi de R$9,50. Já no Centro Clínico Linea Vita, na 616 Sul, há um espaço de 15 minutos de tolerância, ou seja. R$ 0 por 15 minutos.

Foto: achoumudou.com

 

História de Brasília

O tapume do Ministério da Marinha na W-3 está irregular. Está tomando o passeio, quando não havia necessidade disto, e põe em perigo a vida dos pedestres. (Publicada em 18.04.1962)

Gestão de crise

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O presidente Lula durante o discurso na sede das Nações Unidas, em Nova York. Foto: Ricardo Stuckert / PR

 

         Dos discursos proferidos até agora durante a realização da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas, boa parte foram endereçadas diretamente à própria ONU. Ao que parece, os líderes que ocuparam aquela planetária tribuna levaram consigo uma extensa lista de reclamações sobre a atuação desse importante órgão no atual cenário global, destacando a pouca ou nenhuma ação desse organismo para deter o avanço dos conflitos que ocorrem agora em vários países e que ameaçam se alastrar para uma guerra generalizada.

         De fato, não são poucos os problemas que a ONU tem que lidar no dia a dia, de um mundo tumultuado, superpopuloso e que agora enfrenta também sérias ameaças com relação às mudanças climáticas e suas consequências para todo o planeta e para a vida em geral. Com o lema “Paz, Prosperidade, Progresso e Sustentabilidade”, os organizadores dessa 78ª Assembleia Geral esperavam que as lideranças, que viessem a essa reunião, trouxessem sugestões e ideias consistentes a serem acolhidas para dar um pouco de esperança e otimismo a um mundo que parece ter virado de cabeça para baixo. Ao que parece, a velha máxima de que várias cabeças pensam melhor que uma não deu resultado.

         Para complicar todo esse cenário, onde nem mesmo os países desenvolvidos sabem ao certo para onde seguir, é preciso destacar ainda que a pandemia provocada pelo Covid-19, iniciada a cinco anos passados, ainda faz vítimas pelo mundo. De acordo com o último relatório da OMS, até 1º de setembro de 2024, 776.137.815 casos confirmados em 231 países com 7.061. 330 mortes registradas em decorrência dessa doença. Para os sanitaristas envolvidos nessa questão, a Covid-19 foi a quinta doença mais mortal da história humana, perdendo apenas para a malária, que desde a Idade da Pedra continua fazendo vítimas fatais. Ainda assim, a Covid-19 fez estragos em todo o planeta, deixando mais de 114 milhões de desempregados, cerca de 55% da população mundial sem qualquer proteção social, aumentando a pobreza global em mais de 125 milhões de pessoas.

         Não fossem poucos os problemas enfrentados pela ONU, somam-se, a esses infortúnios, a poluição ambiental, a perda de biodiversidade e as calamidades naturais que vão ocorrendo mundo afora, com cada vez mais intensidade, decorrentes também do aquecimento global. A todo esse quadro caótico em âmbito mundial, acrescentam-se ainda o esgotamento rápido dos recursos naturais como água potável, tudo isso num planeta que abriga hoje um contingente humano de 8 bilhões de indivíduos.

         Não por outra razão, todo esse conjunto de problemas tem indicado que já se observa um nítido declínio dos direitos humanos em toda a parte, sobretudo relativos a mulheres, crianças e idosos. Qualquer indivíduo que possua hoje um mínimo de consciência global e que esteja antenado acerca dos problemas globais enfrentados pela  humanidade, nessas primeiras décadas do século XXI, sabe que sem o fortalecimento e união em torno de um organismo multilateral do porte da ONU, os graves problemas experimentados agora por nossa espécie, talvez o mais sério de toda a nossa história, não terão o condão de aliviar todo esse quadro, dando uma chance para que o planeta volte aos trilhos da normalidade.

          A questão aqui é que, segundo os especialistas em meio ambiente, as chances do planeta voltar a ser o que era, até um passado recente, são poucas ou quase nenhuma, sendo que, à medida em que o tempo avança, as chances de salvação da Terra e dos seres vivos vão ficando cada vez mais escassas. Aqui, não se trata de alarmismos, mas de prognósticos sombrios da ciência, feitos há algum tempo e não levados a sério pela maioria dos países. Pelo que se depreende dos vários discursos feitos nessa plenária mundial, as preocupações dos líderes dos diversos países, como não poderia deixar de ser, revelam preocupações locais ou umbilicais, muitas delas causadas por administrações erráticas e sem relação direta com o que parece importar nesse momento, que são os graves e inadiáveis problemas mundiais.

         Infelizmente, os líderes mundiais que discursaram nesta Assembleia, em sua maioria, também não leram previamente o Relatório publicado ainda em 2022 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que identifica e analisa os principais problemas atuais da humanidade no campo ambiental. Tivessem prestado atenção a esse documento, saberiam que a poluição sonora, os incêndios florestais e as mudanças climáticas compõem hoje o que os cientistas chamam de fenologia, ou seja, um conjunto de distúrbios que provocam alterações nas plantas e animais, roubando-lhes seus sincronismos com a natureza, prejudicando a reprodução, a frutificação, a polinização, as migrações entre outras atividades naturais e imprescindíveis à continuidade da vida sobre o planeta.

         Ir até essa importante tribuna falar de assuntos como a política de gênero e outras sandices, como foi ouvido aqui e ali, enquanto o planeta se desfaz sob nossos pés, é alienação, despreparo ou, como disse a imprensa: coisa de falso estadista.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A ONU precisa ser reformulada para o bem da democracia.”

Presidente Lula da Silva, sem antes estabelecer a hipótese definitória da expressão.

 

História de Brasília

Se o Banco retirar essa vantagem, estará condenando a transferência do Estabelecimento para Brasília, porque ninguém deseja vir sem vantagens, já que os funcionários públicos recebem 100%. (Publicada em 18.02.1962)

Na contramão do bom senso

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Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

 

Por insistir em querer trafegar na contramão do bom senso, vamos nos tornando uma nação cada vez mais sui generis, vista aos olhos do mundo como um povo exótico e avesso aos valores que fizeram do mundo Ocidental o que ele é hoje. De tão espertos que acreditamos ser, cometemos erros e crimes que acabam por prejudicar a nós mesmos — afinal, vivemos em sociedade: o que acontece à unidade afeta todo o conjunto.

Somos, por exemplo, submetidos a rigorosas leis de trânsito e a multas caras e irrecorríveis por quaisquer distrações, como conduzir um carro com um farol queimado ou placa pouco legível. Mas as mesmas autoridades que agem com firmeza contra os motoristas são aquelas que, há décadas, permitem que os profissionais de limpeza sejam conduzidos, por toda a cidade e em grandes velocidades, perigosamente pendurados na traseira imunda e insalubre dos caminhões de lixo.

Para os mais céticos, essa diferenciação no trato de prevenção de acidentes de trânsito, com dois pesos e duas medidas, parece não se aplicar às empresas de limpeza urbana, tampouco aos carros dos próprios departamentos de trânsito, que estacionam seus veículos onde bem entendem e até sobre os gramados e áreas verdes. Quando as leis passam a diferenciar os cidadãos, alguma coisa não vai bem, ou nas leis ou nos cidadãos.

Em nosso caso, a esperteza é tamanha que não nos damos conta de que estamos assaltando a nós mesmos. Os jornais de todo o país têm mostrado que, de acordo com levantamento feito pelo Banco Central sobre o que chamam de mercado de apostas, mais de 5 milhões de beneficiários do programa Bolsa Família torraram nada menos do que R$ 3 bilhões em apostas on-line, com cada titular desse benefício social gastando em torno de R$ 100 por aposta.

Isso não é motivo para cassar o benefício. Afinal, essa medida iria prejudicar os proprietários dessas casas de jogos de azar, que, somente em agosto, amealharam R$ 21 bilhões. Nas pequenas cidades do interior do Nordeste e do Norte, é conhecida a rotina dos titulares desses cartões de benefício. Assim que chega o aviso de que se está pagando o Bolsa Família, imediatamente se formam longas filas em frente às agências. Nessas filas, é comum encontrar os donos de botequins, que, de cartão em punho, vão receber o pagamento mensal pendurado no bar por seus clientes. Note que o cartão fica nas mãos do dono do bar, e não do titular, que o entrega como garantia de que, no mês seguinte, continuará bebendo às custas da viúva.

Assim, entre apostas em jogos e consumo de cerveja ou cachaça, lá se vão os recursos assistencialistas bancados por cada um de nós. Fiscalizar, nos moldes corretos, essa montanha de dinheiro desperdiçado, obviamente, causa constrangimentos políticos de toda a ordem, e isso pode prejudicar a imagem dos benfeitores da política, ainda mais em tempos de eleições municipais. Antigamente, acreditava-se que o dinheiro que vinha fácil, fácil também era desperdiçado, pois o valor das coisas era dado pelo esforço em adquiri-las. Esse sentido se perdeu no tempo, vítima do populismo e da ação nefasta dos pais da pátria. Aqueles que ousam chamar a atenção para esse ralo sem fundo por onde escoa o dinheiro público são taxados de tudo o que não presta, menos de pessoas de bom senso.

Outras notícias vão dando conta de que o governo local vai construir um hospital veterinário público em Sobradinho. Nada contra a proposta. Só que, nesse caso, a primeira impressão que surge é que os serviços médicos de atendimentos à população nos hospitais e nos postos da rede pública já atingiram o patamar de excelência, não sendo mais necessário aperfeiçoar o atual modelo de saúde.

Para uma cidade em que 60% dos lares têm animais de estimação, essa parece ser uma boa medida. Assim, você opta por criar seu animal de estimação e nós, os contribuintes, iremos arcar com as despesas médicas e, quem sabe, até com os futuros planos de saúde para seus pets. Para um país dotado de uma história próxima ao surrealismo fantástico, não surpreende que o valor dado hoje aos animais irracionais chegue a superar o valor conferido aos próprios seres humanos.

»A frase que foi pronunciada:
“O dinheiro mal ganhado, água deu, água levou.”
Cantiga do povo

 

 

Telefonemas ou lei?
Se o quiosque do piscinão já colocou um andar de grade e ninguém reclamou, deixa assim. Se o pessoal do Clube do Choro toca em uma entrequadra e alguém reclamou, então procura-se um argumento para retirar o grupo do local.

Foto: página oficial do Clube do Choro de Brasília no Facebook

 

História de Brasília
Não será hoje a Assembleia Geral do Banco do Brasil e, sim, no dia 25. Um dos assuntos a ser tratado será o da gratificação de 50% que recebem os funcionários que residem em Brasília. (Publicada em 18/2/1962)

Ecocídio

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Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

 

          Por analogia, fosse a Terra um cachorro gigante, nós, seres humanos, seríamos nada mais do que piolhos, carrapatos ou pulgas a infernizar a pobre animal canina. De fato o somos, como tem observado o cientista e climatologista, mundialmente famoso por suas pesquisas sobre o meio ambiente, Carlos Nobre, a “doença da Terra”. Com isso, vai ficando cada vez mais patente que as ações humanas sobre o planeta, ao longo dos séculos e, principalmente, após a Revolução Industrial, levaram a Terra ao atual estágio de aquecimento global e de emergência climática.

         Para esse pesquisador, considerado hoje como um dos guardiões do planeta, vivemos um momento em que a humanidade se depara com o maior desafio já enfrentado desde seu aparecimento sobre a Terra. Nobre é um dos autores do importantíssimo documento, intitulado “Saúde do Planeta”, apresentado em Nova York durante a semana climática promovida pela ONU. O fato é que boa parte da humanidade parece não ter sido despertada ainda para a importância de parar de vez com as emissões de gases estufa, para a poluição em geral e para o rápido esgotamento dos recursos naturais do planeta. Vivemos o que seria o ponto máximo de inflexão. A partir desse ponto temos que parar imediatamente com o atual modelo econômico que nos levou a esse beco sem saída.

         O lado otimista desse problema mundial é que ainda existem alternativas, na verdade poucas, para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Mas essa possibilidade vai se exaurindo também a passos largos. Na avalição do cientista, o fato de o Brasil ainda apresentar as maiores florestas tropicais do planeta, em tempos de aquecimento global, favorece, em certos parâmetros, para que assistamos também nesse momento, os maiores incêndios já ocorridos em nosso país em todos os tempos.

         Carlos Nobre cita o caso do Cerrado que, ainda, é a maior savana tropical do planeta, com a maior biodiversidade e com enormes quantidades de carbono armazenado na forma de matéria orgânica do solo. Esses e outros fatores juntos são de suma importância para a estabilidade climática do planeta e de todos os outros biomas brasileiros. O fato de estarmos experimentando agora quase 15 meses de temperaturas recordes dos últimos 120 mil anos, mostra que a estamos no limite das possibilidades do planeta.

         Essa situação parece ainda grave se verificarmos que em torno de 97% dos incêndios ocorridos são devido à ação humana. Nesse sentido, o que parece claro, tanto para os climatologistas como para todo o mundo, é que é chegada a hora de uma proibição total, que elimine o crime de usar o fogo como meio de limpar a terra, como tem feito sistematicamente a pecuária e a agricultura em nosso país. É preciso o uso agora de práticas modernas e sustentáveis que não usem o fogo.

         Para Carlos Nobre estamos, de fato, em plena era do chamado antropoceno, em que o homem é o autor direto dessas mudanças bruscas no clima planetário. Estamos indo em direção ao que os cientistas chamam de estresse térmico, em que o corpo humano não suporta mais as altas temperaturas. Caso venhamos a atingir esse estágio dramático, bebês e idosos não viverão mais do que meia hora ou trinta minutos. Mesmo os adultos saudáveis não resistirão por mais de 2 horas. Dessa maneira, tornaremos muitas áreas do planeta inabitáveis.

          Caso a temperatura escale ou passe acima dos 4 graus, nas próximas décadas, iremos gerar a sexta maior extinção de espécies do planeta, tudo provocado pela ação nefasta e irrefletida do ser humano. O pior nesse cenário é que as pesquisas mais atuais mostram que estamos imersos num cenário tão preocupante que já é possível antever: adentramos por um caminho sem volta.

         Daqui para a frente, cabe, à humanidade como um todo, agir de forma racional e unida, para que essa situação de fim de mundo anunciado não aconteça no curto prazo, dando-nos a chance de, quem sabe, salvar nosso planeta de nossas ações egoístas e destruidoras. É preciso ainda reconhecer, de forma sincera, que estamos praticando uma espécie de “ecocídio”, comprometendo a vida no planeta e impossibilitando a chance de viver das futuras gerações.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Vivemos em uma época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar a si mesmo.”

Albert Schweitzer

Albert Schweitzer, fotografia de Yousuf Karsh.

 

Protocolo

Nossa leitora chama a atenção para a burocracia de atendimento da Caesb. Um cano estourado no setor habitacional da W3 Sul jorrou água por dias, apesar das inúmeras ligações dos moradores à empresa e à ouvidoria. Até que, numa tarde, um caminhão da empresa apareceu no local. Quem estava em casa foi ver os trabalhadores acabando com o vazamento. Só que não. Eles estavam ali para consertar uma calçada e, apesar de presenciarem a fonte que jorrava o dinheiro do contribuinte, informaram que a solução daquele problema era em outro setor.

Caesb. Foto: destakjornal.com.br

 

História de Brasília

A cidade de Moreno, em Pernambuco, está para ficar sem prefeito. O vice pediu à Câmara a cassação do mandato do sr. Ney Maranhão, e ninguém sabe o que pode vir a acontecer naquele município. (Publicada em 18.02.1962)

Um tempo para ser feliz

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Reprodução da internet

 

Uma das consequências observáveis da evolução humana ao longo da história dessa espécie é que, quanto mais as características do homo sapiens iam se moldando, mais e mais era prolongada a fase infantil. O prolongamento da fase infantil, em que o ser humano passa a tomar contato com o mundo a sua volta, é um fator por excelência a permitir a evolução de toda a sua estrutura cognitiva, social e emocional.

Hoje, já se sabe que a infância desempenha um papel fundamental para a saúde humana e pode determinar todo o futuro de um indivíduo. Povos que outrora e ainda hoje experimentam uma fase infantil longa e adequada, são também os que aparecem entre os mais bem sucedidos e realizados da nossa espécie. Não é por outra razão que entre os indivíduos considerados mais felizes e realizados estão justamente aqueles que experimentaram uma longa e saudável fase infantil. Também não é por acaso que muitos governos na atualidade devotam seus esforços para garantir políticas públicas que protejam e estimulem a população infantil a desfrutar, sem percalços, dessa importante fase.

Não chega a ser exagero também afirmar que a infância é uma das principais fases da vida humana. Qualquer problema mais grave nessa fase irá acarretar consequências graves para o futuro. Muitas vezes irreversíveis. Infelizmente. o mundo moderno e urbano, cada vez mais desligado das coisas simples e da natureza, parece caminhar no sentido oposto, obrigando as crianças a se submeter a jornadas de tarefas que começam logo ao amanhecer e se prolongam até a noite.

Nessas rotinas, as atividades lúdicas ficam restritas ao mundo virtual dos computadores. Para os menos favorecidos, a infância termina bem cedo. É possível ver, em nossas cidades, crianças de todas as idades trabalhando nas mais diversas atividades. Não importa aqui se rica ou pobre, o fato é que submeter as crianças a tarefas estressantes, reduzindo ou, simplesmente, acabando com a natural fase infantil, é o caminho mais curto para gerarmos adultos estressados, deprimidos e com aptidões tolhidas.

Segundo a Unicef, estudos científicos têm demonstrado que as primeiras experiências vividas na infância, bem como intervenções e serviços de qualidade ofertados nesse período, estabelecem a base do desenvolvimento humano.” A neurociência comprova que o cérebro da criança pequena tem uma grande plasticidade, ou seja, está sempre aprendendo e é sensível a modificações, particularmente nos primeiros 1.000 dias, desde a concepção até os 2 anos de idade. Nesse período, o desenvolvimento cerebral ocorre em uma velocidade incrível: as células cerebrais podem fazer até 1.000.000 de novas conexões neuronais a cada segundo – uma velocidade única na vida.”

Para os que buscam causas dos fenômenos sociais como a criminalidade, os pesquisadores já demonstraram que uma infância sadia é fator importante para afastar os indivíduos da violência e dos crimes. Dizem, com muita propriedade, que a infância saudável seria a única fase na vida de um indivíduo em que ele experimentou a verdadeira felicidade. Outros dizem que a felicidade, o objeto mais insanamente perseguido pelos seres humanos, nada mais é do que resquícios ou lembranças fugáveis da infância.

Houve um tempo em que se acreditava que rico era aquele indivíduo que possuía o tesouro do tempo. Hoje, começamos a suspeitar que esse tesouro, muitos de nós, abandonamos ao lado de uma estrada florida que nos ligava à infância. De fato, em nossa infância, o tempo parecia andar de mãos dados conosco e não tinha pressa em se evadir. Os dias eram longos e as noites mais ainda. Esse era tesouro que possuíamos sem saber e que, para muitos de nós, ainda é precioso como pedra rara.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Brincar é frequentemente falado como se fosse um alívio do aprendizado sério. Mas para as crianças brincar é aprendizado sério. Brincar é realmente o trabalho da infância.”

Fred Rogers

Fred Rogers. Foto: reprodução da Netflix

 

Livro de cabeceira

Aclamada pela crítica desde os primeiros passos no palco, a pianista Magdalena Tagliaferro deixa um livro de memórias intitulado “Quase tudo…”. Escreveu-o em francês e foi traduzido para o português pela pianista e tradutora Maria Lúcia Pinho. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1979.

Reprodução da internet

 

Droga e Educação

Por falar em piano, no auditório Neusa França, na Sede da SEEDF, haverá um ciclo de palestras de Prevenção à Dependência Química. A discussão será sobre estratégias para a prevenção e ações para o impacto quanto ao uso de substancias químicas no âmbito da Secretaria de Estado de Eduçaão do DF. No dia 20 de setembro, de 8h30 as 12h. Mais detalhes a seguir.

 

 

História de Brasília

Nesta época do ano, há uma onda de resfriado da cidade. Nos adultos, provoca rouquidão, e nas crianças, dificuldade de respiração. A Secretaria de Higiene informa que não há sinal para alarme. Basta manter a criança no banheiro durante uma hora, com as torneiras de água quente abertas, para provocar maior umidade no ambiente. (Publicada em 18.04.1962)

A indústria farmacêutica e os médicos

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Foto: reprodução da internet

 

A indústria farmacêutica e os médicos A indústria farmacêutica sabe que a maioria dos médicos tem baixa remuneração e, por isso, os cerca com promessas e muitas outras vantagens tentadoras. Nesse ponto, a questão fica entre receber honorários justos e adequados ou se render e acabar caindo nas armadilhas da mercantilização da saúde.

Também os escândalos nessa área acontecem com muita frequência. Felizmente, para muitos médicos, o mais importante é manter o nome limpo e livre de escândalos. Na prática, o que se observa é que as relações entre médicos e indústria farmacêutica, quando estabelecidas dentro de regras éticas, torna essa parceria indissociável e proveitosa para todos, inclusive para os pacientes. Para tanto, faz-se necessário, mais do que boa vontade. É preciso estabelecer regulamentações que sejam seguidas por todos e cobradas de todos.

Anteriormente, o CFM, preocupado com essa questão, havia elaborado a Resolução 1.939/10, proibindo a distribuição, pelos profissionais, de cupons e cartões de desconto em medicamentos. Mais recentemente, o CFM elaborou a Resolução 2.386/24, publicada no último dia 2, que deverá entrar em vigor em seis meses. Por essa nova resolução, o conselho prevê que o médico que tiver vínculo com a indústria farmacêutica ou que produza insumos e produtos médicos, bem como equipamentos de uso médico exclusivo ou de uso comum com outras profissões, empresas intermediadoras da venda desses produtos, é obrigado a prestar informações ao Conselho Regional de Medicina em que estiver inscrito.

Em entrevistas, debates ou exposição ao público leigo a respeito da medicina e em eventos médicos, o profissional fica obrigado a declarar seus conflitos de interesse. Pela resolução, fica vedado ao médico receber quaisquer benefícios relacionados a medicamentos, órteses, próteses, materiais especiais e equipamentos hospitalares sem registro na Anvisa, exceto para pesquisa e que tenha sido previamente aprovado nos comitês de ética em pesquisa.

 

Frase que não foi pronunciada:
“A serpente se enrola no bastão. Sempre foi assim. A serpente está sempre em volta aguardando a oportunidade para seduzir, convencer e corromper.”
Dra. Sophia, a sábia

Símbolo da Medicina. Imagem: reprodução da internet

 

Inocência
Era setembro de 2016, quando o relatório de Fernando Bezerra aumentava a concessão de 20 para 25 anos aos cassinos e bingos. José Serra, à época, defendia que não havia nova riqueza com bingos e cassinos, “já que o jogador estaria tirando dinheiro de outra demanda para jogar.” O texto frisava que era proibida a exploração de jogos por detentores de mandato eletivo, cidadãos condenados por crime contra a ordem tributária, meio ambiente, lavagem de dinheiro de manutenção de empregados em situação análoga à escravidão.

Charge do Marvil Ops

 

Ação
Mais policiamento à noite, quando as queimadas começam no DF. Pela madrugada, carros de polícia que, raramente eram vistos, hoje, estão por todo lado.

Incêndio no Parque Nacional de Brasília | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

 

História de Brasília
A cidade de Moreno, em Pernambuco, está para ficar sem prefeito. O vice pediu à Câmara a cassação do mandato do sr. Ney Maranhão, e ninguém sabe o que pode vir a acontecer naquele município. (Publicada em 18/4/1962)

Jogos entregues à própria sorte e jogadores, ao próprio azar

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Charge do Marvil Ops

 

         Como previsto pela pequena parcela de brasileiros que utilizam a cabeça para pensar, a liberalização dos jogos de azar, das bets, dos bingos, dos cassinos, do bicho, das corridas de cavalo e outras modalidades voltadas para tungar os trouxas, traria consigo consequências nefastas muito além dos supostos benefícios apregoados pelos defensores desse mundo de fantasias. Aqui, foi dito que os afoitos defensores da liberalização dos jogos no país deveriam ser investigados previamente, antes que essa matéria fosse levada adiante e aprovada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Houvesse, ao menos, uma sincera vontade em conhecer, de perto, quem são aqueles que querem os cidadãos brasileiros mergulhados no mundo obscuro da jogatina desenfreada, nenhum desses tormentos que agora surgem de todos os lados estariam acontecendo.

         O certo é que aqueles que desejam que o Brasil se transforme num imenso cassino, e que verdadeiramente estão por detrás dessa manobra, não mostram o rosto. Como sempre, fechamos as portas depois de arrombadas. O poderoso lobby dos jogos de azar fez seu trabalho às custas de muito suor e, Deus sabe lá, às custas de que outras coisas mais. Falar em criação de regras para a exploração da jogatina e de mecanismos de fiscalização e controle dos mesmos, num país em que regras, fiscalização e controle só funcionam onde não existe o poder do suborno é piada sem riso.

          A contravenção conhece muito bem os caminhos que levam à absolvição. Não só os caminhos mas quem pode absolvê-los. Aos ludopatas, ou aqueles tomados pela doença psicológica de compulsão por jogos de azar, foi dada a Disneylândia das apostas. Aos hospitais e às clínicas de psiquiatria, um grande volume de pacientes. Do mesmo modo, ao SUS, foi empurrada a tarefa e os custos com a chegada em massa desses novos doentes. Sem tocar na destruição de famílias. Aos contribuintes, foram entregues ainda as dívidas com os altos custos desses novos benefícios. Ou seja, o azar fica do lado dos perdedores, no caso aqui, os brasileiros, e a sorte vai para os bolsos desses empresários enriquecidos agora com o dinheiro fácil.

         Outro beneficiário direto desses estabelecimentos de apostas serão as organizações criminosas, que terão, à disposição, excelentes meios de lavar o dinheiro do crime. Outro absurdo anunciado pelo governo, para conferir um certo grau de correção na atividade de jogos, será a exigência aos viciados em apostas a apresentação, pelas casas de apostas do perfil desses jogadores. Até o mesmo o Ministério da Saúde está sendo recrutado para alertar e fazer campanhas publicitária, sobre os efeitos das apostas na saúde das pessoas. Outra exigência, do tipo para inglês ver, será a obrigação das casas de apostas enviarem relatórios diários para o Ministério da Fazenda sobre o perfil dos jogadores, renda, valor e frequência das apostas. Aqui fica mais do que patente que ao governo, nessa história toda, interessa apenas o quanto poderá arrecadar em impostos e outras taxas.

         As fraudes já começaram a acontecer, com notícias correntes de empresas que estão explorando tanto os apostadores, como os empregados e o próprio fisco. O problema aqui é que mais cedo ou mais tarde o Judiciário será invadido por uma avalanche de processos individuais e coletivos, feitos por famílias que, de uma hora para outra, perderam tudo, inclusive a casa própria. Para um país cujas prioridades reais deveriam ser educação, saúde, infraestrutura, água e esgoto tratados e muitas outras necessidades urgentes, a liberação da jogatina demonstra que o governo e mesmo o Congresso estão, como sempre, alheios ao Brasil real, cada um cuidando dos próprios interesses. Essa história de que a Fazenda está cuidando agora para que a regulamentação tenha um potencial para proteger os consumidores, não faz sentido, quando se sabe que nem mesmo as metas fiscais estabelecidas pelo próprio governo são cumpridas ou respeitadas.

          Outra balela é falar em “jogo responsável”, como se isso fosse possível para viciados em apostas, criminosos lavando dinheiro e donos de cassinos, loucos por encher os cofres das empresas. Também deixar por conta dos apostadores e dos sites uma autorregulamentação é outra sandice saída de mentes baldias. Por fim, tratar esse setor controverso e perigoso como empresas dedicadas ao entretenimento e lazer é fazer troça dos cidadãos. O fato é que o jogo no Brasil, a partir dessa liberalização geral, está entregue à própria sorte. Os incautos apostadores estarão entregues ao próprio azar. Afinal a liberação do jogo em nosso país é uma boa medida para nosso futuro? Sim ou não? Façam suas apostas.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Ninguém gosta de perder, mas não se pode ganhar o tempo todo. Se você perder, tem que levar isso de maneira graciosa”.

Steve Wynn

Steve Wynn. Foto: Patrick T. Fallon / Bloomberg

 

Nossa cidade

As crianças que hoje são avós, ao ouvir o sinal de fim das aulas batido diariamente na escola, saiam correndo para casa. Pegavam bola, patins, bete e passavam o resto do dia na rua. Hoje, as crianças não querem sair da escola ao toque do sinal. Brincadeiras só no parque da escola. Não há segurança para deixar crianças brincando sozinhas nas ruas ou debaixo dos blocos. É uma mudança e tanto de cultura.

Foto: agenciabrasilia.df

 

História de Brasília

Para os que querem entender demais, e que receitam a torto e a direito sem ser médicos, o nome da doença é laringite estridulosa. (Publicada em 18.09.1962)

Um ballet de máscaras

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Foto: EFE / Fernando Bizerra Jr.

 

 

          Diante dos olhos dos brasileiros, principalmente daqueles que apresentam algum grau de percepção da realidade, vão se ensaiando os passos de um jeté num grande bailado que evolui em sentido oposto à ordem institucional democrática, reimplantada a partir de 1985. O banimento da plataforma X, sob o falso pretexto de seus operadores se recusarem a cumprir ordens judiciais, integra essa coreografia, que conta ainda com outros movimentos, meticulosamente preparados e inseridos num roteiro sob a direção da China e de outros países agrupados hoje no bloco dos BRICS.

          Não por coincidência, mais da metade dos países que formam esse bloco mantém rédeas curtas nas liberdades das redes sociais, inclusive com o banimento da rede X. O estreitamento, cada vez maior entre o Brasil e a China, sob o argumento de vantagens econômicas, esconde, da vista do público, objetivos políticos de médio e longo prazo, visando a substituição paulatina de um modelo mais aberto e democrático, ainda em vigor, por um rond de jambe, tocando no controle do Estado por um partido único. A situação aqui está em copiar o longo know how chinês em hegemonia política e econômica e, quiçá, trazer, para dentro de nosso país, o figurino de um capitalismo estatal nos moldes tupiniquim.

         As conversas entre os dois países seguem em ritmo acelerado, pois todo esse esforço de aprendizado e transplante desse modelo ditatorial pode ser abortado, por força do destino ou de algum outro descontrole do processo eleitoral nas eleições de 2026. Solapar a democracia brasileira por dentro, obviamente com ajuda externa da China, Rússia, Irã e outras ditaduras, tem sido ensaiado com plié que sobe e desce em movimentos disfarçados de cooperação bilateral em diversos setores, a começar pelo setor de comunicações, o que inclui aqui a liberdade de imprensa.

         O cenário de fundo é ocupado por uma cenografia que mostra a democracia com todos os seus atributos sendo protegida contra os ataques das oposições e de quaisquer outros tipos de contestações. Os inimigos aqui incluem-se todos aqueles conterrâneos e nacionais contrários às pantomimas dos que ocupam o palco. Os inimigos externos estão, não por outra razão, também classificados entre as maiores democracias do Ocidente.

         As democracias consolidadas representam barreiras naturais contra as investidas do autoritarismo. Para outras democracias frágeis e cujo Estado de Direito é ainda uma utopia, o avanço no controle do Estado é só uma questão de tempo. Aliás, o termo democracia é usado e abusado como propaganda do sistema, mas que, em sua essência, pouco ou nada ainda carrega de seu sentido histórico e factual. Nada é o que parece. A resposta aos reclamos da população e das oposições vem através de medidas que simplesmente fecham esses canais de contestação, censurando o debate ou criminalizando objeções através de leis subjetivas de repressão. O avanço chinês está condicionado diretamente ao enfraquecimento dos sistemas democráticos do Ocidente. Essa é a realidade.

         Outro aspecto ou fator a favorecer o avanço da China sobre os países do Ocidente é a corrupção existente em muitos Estados desse lado do mundo. Quanto mais as elites no poder são corruptas, antipatrióticas e pouco escolarizadas, mais fácil para a China adentrar o território, comprando tudo e a todos aqueles para os quais tudo tem preço. Troca-se a soberania e democracia coisas como espelhos e outras bugigangas. Alçada à presidência do Banco dos BRICS, Dilma Roussef, a quem os brasileiros deram o cartão vermelho por incompetência e outras más condutas, recebe agora a mais alta comenda do governo chinês, a Medalha da Amizade. Certamente, não por seus atributos administrativos a frente das finanças bancárias, mas por seus serviços de vassalagem prestados ao governo daquele país. Nada é de graça e sem os devidos significados.

         Em 2023 o atual governo brasileiro levou a China a maior comitiva já vista em toda a nossa história. A presidente do partido no poder tem feito também visitas frequentes àquele governo, onde tem adquirido ensinamentos preciosos para o fortalecimento da atual gestão interna. Também o chefe da mais alta corte do Brasil tem feito visitas ao governo chinês em busca de conhecimentos sobre o uso da inteligência artificial no sistema processual brasileiro. Notem que essa visita de aprendizagem é feita justamente num país em que não existe justiça nos moldes das democracias do Ocidente. Naquele país o ministro foi em busca de possibilidades de lançamento de parcerias e cooperações na área jurídica, sobretudo aquela relativa a eleições.

         Naquela ocasião o magistrado discorreu sobre o tema democracia, para uma plateia que não faz a mínima ideia do seja democracia ou processo eleitoral livre. “Nós somos ensinados a acreditar naquilo que vemos e ouvimos. No dia em que nós não pudermos acreditar no que vemos e ouvimos, a liberdade de expressão terá perdido o sentido”, disse Barroso.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Alguns apenas vivem, outros dançam.”

Marcelo Nunes

 

História de Brasília

Para os que querem entender demais, e que receitam a torto e a direito sem ser médicos, o nome da doença é laringite estridulosa. (Publicada em 18.09.1962)

Quando o circo pega fogo

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Imagem aérea mostra incêndio no Parque Nacional de Brasília. Imagem: g1.globo.com

Em dezembro de 1961, num domingo de verão, o Brasil inteiro tomava conhecimento do que foi considerado o maior incêndio já registrado no país. Naquela ocasião, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, um enorme incêndio consumia por completo o maior circo da América Latina, Gran Circo Norte-Americano, deixando 503 mortos, dos quais 300 eram crianças. A causa dessa tragédia teria sido a imensa lona que cobria o circo, feita de uma mistura de algodão com parafina.

Nessa ocasião, o presidente da República era Juscelino Kubitschek, e o Brasil registrava uma população de aproximadamente 71 milhões de habitantes. Passados 63 anos, o episódio trágico, como tudo neste país, caiu no esquecimento e poucos ainda se recordam do acontecido. Para os moradores de Niterói, ficou um certo temor e uma fobia contra espetáculos circenses de qualquer natureza. O que teria esse acontecimento do passado a ver com a situação atual de nosso país, cercado hoje por mais de 200 mil focos de incêndio, mergulhado na maior e mais escandalosa nuvem de fumaça e fuligem de toda a nossa existência como nação?

Por certo, no futuro distante, o ano de 2024 ficará registrado nos anais do país como o ano da calamidade nacional. A começar pelo Sul, vítima do maior dilúvio já registrado na região. Agora, Norte e Centro-Oeste são consumidos por chamas colossais, varrendo o que resta de cobertura vegetal e, com ela, milhares de animais silvestres, todos igualmente reduzidos a cinzas e mostrados ao vivo e a cores para todo o país e para o resto do mundo.

Alguns mais apressados correrão para anunciar que o Gran Circo Brasil está em chamas. Os rescaldos materiais desses fogos continentais ainda não são conhecidos. Talvez, um dia, venhamos a saber. Também não se conhece o número de vítimas humanas dessas queimadas. Por certo existem, e devem ser muitas. O fato aqui, e que corrobora para o prosseguimento dessas tragédias, é que não aprendemos nada com nossa história. E pior: buscamos não aprender nada, deixando que as culpas recaiam sempre nas costas daqueles que pouco ou nada podem fazer em sua defesa.

Os políticos brasileiros, em sua grande maioria, fazem até o impossível para serem eleitos. Uma vez no cargo, deixam de lado suas responsabilidades e miram apenas no poder que ser governo dá. Apenas uma pequena e ínfima minoria entende que governar, em um país como o nosso, é um apagar de incêndio diário. Para os demais, somente quando o fogo começa a lhes arder as vestes é que correm para agir.

Bastou o Distrito Federal ser coberto por grossas nuvens de queimadas para os ocupantes da Praça dos Três Poderes sentirem a necessidade de gritar: Fogo! O Congresso, como sempre, preocupado e envolto em questões argentárias de orçamento, pouco ou nada tem feito. Do mesmo modo, o Executivo, alheio ao que se passa além das janelas do Palácio, mesmo avisado com muita antecedência sobre os sinistros que viriam, resolve agora fazer reuniões para estabelecer estratégias visando, quem sabe, impedir que o país volte a arder em chamas.

Não há quem possa acreditar que o que não foi prevenido será, doravante, efetivado. É tudo uma grande pantomima a mostrar, mais uma vez, que os brasileiros, de modo geral, estão entregues à própria sorte. Não chega a ser surpresa que o Gran Circo Brasil, aquele cujo picadeiro fica em Brasília, está em chamas, sendo imolado no altar das vaidades e das políticas sem lastro na ética pública. Tivéssemos aprendido com os acontecimentos daquele longínquo dezembro de 1961, por certo, não voltaríamos a nos reunir debaixo dessa lona.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“A nossa preocupação é que, ao longo do dia, com o aumento da temperatura e queda da umidade, esses focos possam se propagar novamente”
Coronel Pedro Aníbal, comandante operacional do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal

Coronel Pedro Aníbal. Foto: agenciabrasilia.df.gov

 

Alerta para alagamentos
Enquanto o DF permanece atrás de uma cortina de fumaça, as faixas de pedestres continuam sem tinta, as bocas de lobo não foram revisadas e não há contenção para as chuvas vindouras. Hora de prevenir!

 

Agenda
Hoje é dia da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados promover um debate virtual entre os pré-candidatos à presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB): Paulo Wanderley Teixeira, Marco Antonio La Porta e Yane Marques. O evento será realizado às 14h, no plenário 4, e atende a pedido do deputado Luiz Lima (PL-RJ), que será o moderador do debate.

Foto: cob.org

 

Inclusão
Projeto incentiva produção cultural que busca incluir idosos. A proposta trata de idosos internados em instituições de longa permanência, asilos e residência assistida. Já que o deputado federal David Soares (União-SP) se empenhou tanto nesse objetivo, poderia simplesmente prever a participação de idosos com um aporte maior se forem de instituições.

David Soares. Foto: camara.leg

 

História de Brasília
Para os que querem entender demais, e que receitam a torto e a direito sem ser médicos, o nome da doença é laringite estridulosa. (Publicada em 18/4/1962)

Um tempo para ser feliz

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Reprodução da internet

 

Uma das consequências observáveis da evolução humana ao longo da história dessa espécie é que, quanto mais as características do homo sapiens iam se moldando, mais e mais era prolongada a fase infantil. O prolongamento da fase infantil, em que o ser humano passa a tomar contato com o mundo a sua volta, é um fator por excelência a permitir a evolução de toda a sua estrutura cognitiva, social e emocional.

Hoje, já se sabe que a infância desempenha um papel fundamental para a saúde humana e pode determinar todo o futuro de um indivíduo. Povos que outrora e ainda hoje experimentam uma fase infantil longa e adequada, são também os que aparecem entre os mais bem sucedidos e realizados da nossa espécie. Não é por outra razão que entre os indivíduos considerados mais felizes e realizados estão justamente aqueles que experimentaram uma longa e saudável fase infantil. Também não é por acaso que muitos governos na atualidade devotam seus esforços para garantir políticas públicas que protejam e estimulem a população infantil a desfrutar, sem percalços, dessa importante fase.

Não chega a ser exagero também afirmar que a infância é uma das principais fases da vida humana. Qualquer problema mais grave nessa fase irá acarretar consequências graves para o futuro. Muitas vezes irreversíveis. Infelizmente. o mundo moderno e urbano, cada vez mais desligado das coisas simples e da natureza, parece caminhar no sentido oposto, obrigando as crianças a se submeter a jornadas de tarefas que começam logo ao amanhecer e se prolongam até a noite.

Nessas rotinas, as atividades lúdicas ficam restritas ao mundo virtual dos computadores. Para os menos favorecidos, a infância termina bem cedo. É possível ver, em nossas cidades, crianças de todas as idades trabalhando nas mais diversas atividades. Não importa aqui se rica ou pobre, o fato é que submeter as crianças a tarefas estressantes, reduzindo ou, simplesmente, acabando com a natural fase infantil, é o caminho mais curto para gerarmos adultos estressados, deprimidos e com aptidões tolhidas.

Segundo a Unicef, estudos científicos têm demonstrado que as primeiras experiências vividas na infância, bem como intervenções e serviços de qualidade ofertados nesse período, estabelecem a base do desenvolvimento humano.” A neurociência comprova que o cérebro da criança pequena tem uma grande plasticidade, ou seja, está sempre aprendendo e é sensível a modificações, particularmente nos primeiros 1.000 dias, desde a concepção até os 2 anos de idade. Nesse período, o desenvolvimento cerebral ocorre em uma velocidade incrível: as células cerebrais podem fazer até 1.000.000 de novas conexões neuronais a cada segundo – uma velocidade única na vida.”

Para os que buscam causas dos fenômenos sociais como a criminalidade, os pesquisadores já demonstraram que uma infância sadia é fator importante para afastar os indivíduos da violência e dos crimes. Dizem, com muita propriedade, que a infância saudável seria a única fase na vida de um indivíduo em que ele experimentou a verdadeira felicidade. Outros dizem que a felicidade, o objeto mais insanamente perseguido pelos seres humanos, nada mais é do que resquícios ou lembranças fugáveis da infância.

Houve um tempo em que se acreditava que rico era aquele indivíduo que possuía o tesouro do tempo. Hoje, começamos a suspeitar que esse tesouro, muitos de nós, abandonamos ao lado de uma estrada florida que nos ligava à infância. De fato, em nossa infância, o tempo parecia andar de mãos dados conosco e não tinha pressa em se evadir. Os dias eram longos e as noites mais ainda. Esse era tesouro que possuíamos sem saber e que, para muitos de nós, ainda é precioso como pedra rara.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Brincar é frequentemente falado como se fosse um alívio do aprendizado sério. Mas para as crianças brincar é aprendizado sério. Brincar é realmente o trabalho da infância.”

Fred Rogers

Fred Rogers. Foto: reprodução da Netflix

 

Livro de cabeceira

Aclamada pela crítica desde os primeiros passos no palco, a pianista Magdalena Tagliaferro deixa um livro de memórias intitulado “Quase tudo…”. Escreveu-o em francês e foi traduzido para o português pela pianista e tradutora Maria Lúcia Pinho. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1979.

Reprodução da internet

 

Droga e Educação

Por falar em piano, no auditório Neusa França, na Sede da SEEDF, haverá um ciclo de palestras de Prevenção à Dependência Química. A discussão será sobre estratégias para a prevenção e ações para o impacto quanto ao uso de substancias químicas no âmbito da Secretaria de Estado de Eduçaão do DF. No dia 20 de setembro, de 8h30 as 12h. Mais detalhes a seguir.

 

 

História de Brasília

Nesta época do ano, há uma onda de resfriado da cidade. Nos adultos, provoca rouquidão, e nas crianças, dificuldade de respiração. A Secretaria de Higiene informa que não há sinal para alarme. Basta manter a criança no banheiro durante uma hora, com as torneiras de água quente abertas, para provocar maior umidade no ambiente. (Publicada em 18.04.1962)