Lixo: um problema sempre atual

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Foto: Vinicius de Melo/Agência Brasília

 

         Um fato que ninguém pode negar, é que a humanidade evoluiu bastante ao longo dos séculos, isso em todas as áreas do conhecimento, principalmente após a chamada Revolução Industrial, quando passou a substituir a força humana, pela força das máquinas. Com isso multiplicou a produção, encurtou distâncias, transferindo boa parte da população do campo para as cidades.

         Nenhuma outra revolução foi capaz de trazer tanto dinamismo e transformação no modo como as pessoas se relacionavam com o planeta. Infelizmente o progresso trazido pela introdução das máquinas no cotidiano humano, se mostrou, ao longo dos séculos, incapaz de também de resolver alguns problemas gerados pelo fenômeno da superprodução e do excesso de bens de consumo descartados na forma de lixo. É possível verificar que muitas comunidades rurais, distantes dos centros urbanos, ainda hoje sabem muito bem como lidar com o excesso de produtos e com os resíduos para descarte.

         Restos de comida vão para as galinhas, para os porcos ou para as composteiras para virarem adubos. Roupas usadas vão para os menores ou viram pano de chão e assim por diante, nada é desperdiçado. Nesses locais a produção de lixo é ínfima, existindo uma espécie de economia circular, com consumo moderado com um máximo de reaproveitamento dos bens.

         O homem urbano atual, no entanto, parece ter esquecido dessas lições, vindas do passado, produzindo cada vez mais e consumindo como nunca. Com isso produz também uma quantidade espantosa de lixo diariamente. Cada brasileiro gera, em média, 1 kg de lixo. Ao final de um ano cada brasileiro terá gerado cerca de 343 quilos de lixo. Multiplicando essa quantidade de resíduos pelo número de habitantes em nosso país que é hoje de 218 milhões, temos que por dia, somente se referindo a produção individual, temos 218 milhões de quilos ou 218 mil toneladas de lixo. Ao fim de um ano a população brasileira terá produzido 74.774.000 toneladas de lixo.

         No Brasil, atualmente são cerca de 3 mil lixões e aterros à céu aberto. A promessa de acabar com essas montanhas de lixo, incrivelmente poluentes, conforme estabelecida pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) ficou no papel. O problema é que elas estão presentes em todas as regiões do país, muitas delas, cerca de 39% depositadas em áreas inadequadas do ponto de vista ecológico. Isso significa que estão poluindo os cursos d’água superficiais e subterrâneos, contaminando o solo e envenenando homens e animais.

         Mais de trinta milhões de toneladas de lixo vão parar nesses aterros improvisados que não param de crescer. No mundo a geração atual lixo gira em torno de 2,1 bilhões de toneladas, podendo atingir a marca de 3,8 bilhões de toneladas em 2050, uma marca impossível de ser suportada pelo planeta.

         Apesar de todos os problemas gerado pela super produção de resíduos sólido, a quantidade de lixo em todo o planeta continua a aumentar. A questão aqui é que a reciclagem de resíduos sólidos em nosso país e no restante do mundo ainda é muito pequena, e não resolve esse que é uma das maiores dores de cabeça para aqueles que pensam em gestão de cidades.

         Em 2050 o Brasil, a continuar sem uma política adequada de coleta e destinação de lixo, estará gerando cerca de 120 milhões de toneladas de resíduos sólidos, o que é uma quantidade bem acima dos padrões mínimos aceitáveis. O problema é tão sério mundo afora, que existem hoje países que exportam boa parte de seu lixo para outros cantos do mundo, em troca de pagamento para cada tonelada aceita. Essa situação escala para a catástrofe quando se verifica que cerca de 2,7 bilhões de pessoas em todo o mundo não possuem acesso aos serviços básicos de limpeza urbana e coleta de lixo.

         Em nosso país, uma em cada dez pessoas não possui esses serviços, descartando os resíduos sólidos na beira dos cursos de água ou em áreas impróprias. Quanto mais produção, mais consumo e mais lixo. O que se sabe é que a humanidade está rapidamente alcançando um ponto máximo e extremo na produção de lixo. A partir desse patamar,  teremos que passar a viver literalmente  sobre o lixo e em função dele.

 

A frase que foi pronunciada:

“Deve ser o nosso jeito de sobreviver – não comendo lixo concreto, mas engolindo esse lixo moral e fingindo que está tudo bem.”

Lya Luft

Foto: Katherine Coutinho / G1

 

História de Brasília

O regime parlamentarista trouxe isto: ontem, foi protestado nesta praça, um título do “Comité Volte JK 65”… (Publicada em 11.04.1962)

O sapo na viola

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Charge do Cazo

 

          Caso venha a ser aprovada também no Senado com o texto original enviado pela Câmara dos Deputados, a Reforma Tributária irá colocar o contribuinte brasileiro entre duas opções. De um lado, menos burocracia em impostos e contribuições. De outro, uma elevação nas alíquotas sem precedentes na história do país. Quaisquer das duas opções, o contribuinte é quem menos tem poder para fazer sugestões nesta discussão e o que mais será impactado por uma reforma, que visa objetivamente dotar o governo federal de todos os poderes para arrecadar como nunca.

          Economistas, que acompanham essa discussão, já sabem de antemão que a soma das alíquotas na Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), mais o Imposto Sobre Bens e Serviços (IBS), resultará no chamado Imposto sobre Valor Agregado (IVA), com uma alíquota unificada de 26,5%, a mais alta do mundo. Ou seja: mais de um quarto de todos os impostos e contribuições gerados no país ficarão à disposição da União, ou mais precisamente nas mãos do governo, para fazer desses recursos o que tem feito até agora, ou gastar como quiser.

          Coisas como adquirir casa própria, sonho de nove em cada dez brasileiros, ficará quase impossível, já que a tributação sobre um imóvel, que hoje varia entre 6,4% até 8%, facilmente irá ultrapassar os 22%. Impostos sobre Transmissões de Bens Imóveis (ITBI), que hoje é recolhido após a escritura, será cobrado também no momento da compra e venda. Para aqueles membros do governo que acreditam que ainda é possível extrair mais impostos da população, quando se sabe que a curva de Lafer já aponta para baixo, só resta mesmo fazer chegar ao contribuinte a narrativa de que a Reforma Tributária será benéfica para as classes menos favorecida e que os ricos, finalmente irão pagar impostos. Nada mais irreal.

         Na verdade, caso aprovada, vai ocorrer justamente o contrário, com os pobres pagando ainda mais impostos, já que as empresas irão repassar aos consumidores, cada centavo a mais cobrado pelo governo. Sempre que se ouve falar em reforma tributária, o que vem escondido como um sapo na viola, é o aumento de impostos. Somos os campeões mundiais tanto em carga tributária quanto em precariedade no retorno em forma de bens e serviços. Até mesmo os serviços de saneamento público, num país em que 100 milhões de pessoas não possuem tratamento de esgoto, serão altamente majorados.

         Também todo esse festival de aumento de alíquotas passou batido, já que as mais de quinhentas páginas, contendo a reforma, foram lidas em minutos. Tudo isso com os deputados fazendo cara de paisagem, olhando seus celulares ou conversando entre si, absortos do que se passava. Muitos desses representantes da população votaram sem saber uma linha contida na reforma. Nem mesmo os motoristas de aplicativo ficaram de fora, sendo obrigados a pagar doravante uma alíquota de 26,5% como microempresários.

         Os interesses políticos próprios e a liberação histórica de emendas no Congresso, deram oportunidade de o governo fazer o que queria com a reforma como os aumentos da gasolina, que agora terão uma prévia, assim como o gás de cozinha subirão, ainda mais forçando famílias a voltar a procurar lenha para cozinhar os alimentos.

         Na visão do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança ( ) a votação dessa matéria ocorreu assim: “Poucos minutos antes do voto, os deputados receberam o texto final da lei complementar que irá regulamentar a reforma tributária. Ninguém leu. E mesmo assim vários deputados da esquerda governista subiram ao palanque para defender o texto não lido. Os deputados de “centrão” se calaram e votaram com o governo. Resultado, a lei complementar – não lida – passou com mais de 300 votos.” Nada mais fiel, conhecendo o parlamento que temos, onde o descompromisso com os eleitores já é por demais conhecido.

         Caso houvesse uma real discussão dessa reforma, com os deputados inteirados do total teor da matéria, dificilmente a Reforma Tributária teria passado na Câmara dos Deputados. Mesmo assim chega a ser impressionante que os deputados tenham dado um tiro no pé, votado uma lei que vai contra os interesses de seus próprios estados e contra seus eleitores.

         Para o citado deputado, os princípios do federalismo, da subsidiariedade e da liberdade econômica foram ignorados em prol de um projeto de arrecadação sem limites, centralização e controle de todas as atividades do país. Não há o que comemorar com essa aprovação.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A arte de governar geralmente consiste em espoliar a maior quantidade possível de dinheiro de uma classe de cidadãos para transferir a outra.”

Voltaire (François Marie Arouet) (1694-1778)

Foto: reprodução da internet

Combatente

Fogo consumiu parte do cerrado entre a MI10 e Taquari 2. Tratava-se de uma chácara com difícil acesso para os bombeiros. Os vizinhos ficaram bastante apreensivos, mas tudo se resolveu. Uma observação feita por um combatente é que, entre as medidas contra o fumo, os incêndios à beira das estradas diminuíram visivelmente. Era hábito jogar bituca de cigarro pela janela, o que causava danos terríveis ao cerrado.

Foto: reprodução da internet

 

História de Brasília

A linha é para o Ceará. Podem dizer que eu estou puxando o facão para o madacaru, mas o que é fato é que a divisão de tráfego de uma empresa não deve desprestigiar as cidades que serve. E o que se vê é isto: quem quiser ir de Brasília a Fortaleza terá que viajar via Rio. Uma passagem de 36 mil cruzeiros passa a custar mais de 60 mil cruzeiros. (Publicada em 11.04.1962)

Poluição visual

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Faixas são retiradas por equipes do DF Legal. Águas Claras é a região com mais infrações deste tipo | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

 

         É sabido que uma das formas de poluição que mais atentam contra a saúde humana e mais deterioram a qualidade do ambiente das cidades, é a poluição visual. Não por coincidência, as cidades que ostentam elevado índice de poluição visual, são também aquelas que apresentam os indicadores de violência mais altos, de caos urbano e de doenças de todo o tipo.

         A poluição visual, sendo um fenômeno eminentemente moderno é hoje considerada como uma praga a adoecer os centros urbanos, principalmente nas cidades do terceiro mundo, e por isso se constituindo numa marca característica de cidades degradadas e sem controle.

         As novas tecnologias de painéis eletrônicos, que podem ser vistas nas empenas cegas dos edifícios e em painéis espalhados em áreas de grande trânsito de pessoa e veículos, elevou a poluição visual a um status jamais visto. Hoje é impossível você caminhar pela cidade sem se deparar com essas televisões gigantescas apresentando todo o tipo de propaganda. Trata-se de uma comunicação exacerbada e cada vez mais sem controle, enfeiando as cidades e contribuindo fortemente para a degradação na qualidade de vida de seus habitantes.

         Para onde quer que o indivíduo olhe, lá está um anúncio, uma placa, um poster, um banner, cartazes, pichações, fios elétricos emaranhados e todo o tipo de sujeira, lixo, entulhos a anunciar aos quatros pontos cardeais que as cidades assim como seus habitantes estão seriamente doentes. Brasília não está fora dessa praga moderna e a cada dia que passa mais e mais poluição visual é vista em nossas ruas.

          No caso da área tombada pela Unesco, essa situação é por demais danosa para a população e para os brasilienses. Caso essa honraria seja revista e anulada, situação que é cada vez mais provável, a tendência é que a poluição visual que hoje já é excessiva, passe a tomar conta de todos os espaços possíveis, para o bem de poucos e para a infelicidade de muitos.          De acordo com a Teoria das Janelas Quebradas, quanto mais poluição visual, mais abandono, mais degradação urbana e mais violência. Agora com o chamado Plano Diretor de Publicidade do Plano Piloto, mais uma vez Brasília, com sua área tombada corre o risco de se transformar em mais um exemplo de cidade em rápido processo de decadência.  Infelizmente o grupo de trabalho encarregado que apresentar parecer sobre esse Plano é formado apenas por órgãos do GDF, como a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), pelo Instituto Brasília Ambiental, do Metrô-DF e do Departamento de Estradas e Rodagens (DER-DF).

         Caberia nessa discussão também as entidades de defesa do patrimônio, do Iphan, dos arquitetos e urbanistas e do próprio escritório representante de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, além, é claro da população.

         Deixar uma questão dessa importância apenas nas mãos dos burocratas do GDF não parece ser uma boa solução. Existe hoje uma unanimidade dos arquitetos e urbanistas de que a área tombada deveria ficar totalmente livre de toda e qualquer poluição visual, seja ela publicitária ou não, seguindo o exemplo de outros sítios tombados pelo mundo afora.

 

A frase que foi pronunciada:

“O ar quando não é poluído, é condicionado.”

Jô Soares

Jô Soares. Foto: Divulgação

 

Valor

Turzó Sándor, da Romênia, nos envia uma foto da cédula romena de 5 RON. Foi feita em homenagem ao músico compositor George Enescu(1881-1995) e traz figuras musicais, imagens nunca vistas antes em papel moeda. Notas de outros valores são homenagens a Nicolae Iorga (escritor e historiador), Nicolae Grigorescu (pintor), Aurel Vlaicu (engenheiro e piloto), Ion Luca Caragiale (dramaturgo), Lucian Blaga (escritor e filósofo) e Mihai Eminescu (poeta).

 

Tempos inocentes

Por falar em valorizar a cultura, foi em 2009 que o ministério de Juca Ferreira distribuiu panfletos pedindo apoio aos parlamentares que “votam pela cultura”. Na época, a oposição protestou afirmando que era uso indevido de dinheiro público.

Juca Ferreira. Foto: agendartecultura.com

 

Longa jornada

Foram quase 15 anos desde a primeira audiência pública na Comissão de Direitos Humanos na Câmara para chegar à políticas públicas voltadas para os autistas.

Foto: jovempan.com

 

História de Brasília

Antigamente havia um “Viscount” da Vasp que saia de S. Paulo e ia até Recife. Depois, aumentara, a linha até Fortaleza. Depois, cortaram. Restabeleceram novamente, e agora cortaram outra vez. A criação de uma linha pela DAC deve ser resultado de estudos de mercado, de possibilidades, com lucro, ou uma linha de prestígio para uma emprêsa. O que passageiro não pode é ficar à mercê das empresas com a criação e os cortes constantes de linhas. (Publicada em 11.04.1962)

Capivaras, carrapatos e mortes

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Foto: Gabriel Luiz/G1

 

Não passa um dia sequer sem que a polícia florestal e mesmo os bombeiros sejam chamados para capturar capivaras em plantações, hortas, piscinas e até dentro das casas. Os moradores da orla do Lago Paranoá são os que mais vêm sofrendo com a proliferação acelerada desses grandes roedores. E esse não é um problema que vem crescendo e tomando proporções alarmantes apenas no Distrito Federal. Em algumas regiões do país, como no interior de cidades paulistas, mineiras, goianas e de Mato Grosso, a multiplicação desses mamíferos apresenta um sério problema de saúde pública, com implicações diretas também na economia de muitos municípios.

A situação chegou a tal estágio que, em muitas localidades com grande concentração de capivaras, os terrenos, alguns com centenas de hectares, vêm progressivamente perdendo valor no mercado imobiliário. Muita gente tem deixado de comprar e vender terras em que existe a ocorrência desses roedores nas redondezas por medo dos prejuízos causados à lavoura e à criação de pequenos animais, que também são atacados.

A unidade da Embrapa Pantanal produziu um livro com todos os detalhes sobre as doenças transmitidas pelo roedor. Um perigo registrado é a febre maculosa. Os sintomas da enfermidade transmitida pelo carrapato-estrela, que pode ser transportado pelas capivaras, são dores nas articulações, apatia, perda do apetite, anemia, dor de cabeça e manchas avermelhadas na pele, que podem confundir no momento do diagnóstico.

Exames sorológicos podem não diagnosticar a doença no início dos sintomas. Há necessidade de notificação compulsória nas instâncias da vigilância epidemiológica. O atraso no diagnóstico pode trazer graves complicações, que afetam desde o sistema nervoso central até os rins, os pulmões e as lesões vasculares, podendo levar a óbito.

No Distrito Federal, a multiplicação desses animais em toda a orla do Lago preocupa não só os moradores, como todos aqueles que usam esse espelho d’água para o lazer. O problema atinge também os frequentadores dos clubes sociais situados nessa região. Além da transmissão de doenças conhecidas, esses roedores, principalmente as fêmeas com crias novas, são extremamente agressivos quando sentem a aproximação de estranhos. Por isso, é frequente a morte de cães que tentam proteger o território. Trata-se, para quem já teve a triste experiência de ser agredido, de um animal selvagem e que, dependendo da situação, pode até matar suas presas, com o poder de pressão das mordidas e o corte afiadíssimo de sua dentição.

O mais assustador é que esse problema parece crescer no sentido inverso da preocupação das autoridades responsáveis. As medidas adotadas até agora, segundo informam, se limitam à pulverização de venenos contra os carrapatos do tipo estrela e ao mapeamento das populações. Moradores de áreas em que há esses animais confessam, contudo, que nunca presenciaram qualquer dessas ações.

Para alguns biólogos que acompanham esses casos, trata-se, agora, de adotar medidas visando à castração de grande parte desses bichos antes que essa invasão ganhe proporções de uma calamidade pública.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“O biólogo precisa ter muita cautela nas explicações com abordagens evolutivas. A romantização da complexidade da vida abre brechas para a Teoria do Design Inteligente. É necessário entendermos que as mutações nem sempre são ‘inteligentes’ e que as mesmas podem ter alternativas mais eficazes.”
Gabriel Stive

 

Não efetiva
Ainda em 2017, o plenário do Senado aprovava uma lei que modificava a Lei da Acessibilidade, criando a obrigação de que pelo menos 5% dos brinquedos de parques públicos fossem destinados a crianças com mobilidade reduzida. Nem as crianças com 100% de mobilidade conseguem ter um parque decente com areia nova, brinquedos inteiros e conservados ou mesmo cerca no parquinho.

Foto: Pedro França/Agência Senado

 

Mau cheiro, bons negócios
Cada vez mais avançada, a tecnologia no campo garante que uma propriedade com 800 suínos seja capaz de produzir energia para 25 casas a partir do biogás dos dejetos dos animais. Pedro Colombari foi o primeiro a fazer esse tipo de investimento. O projeto GEF Biogás Brasil foi parar nas Nações Unidas para Desenvolvimento Industrial.

Foto: gov.br

 

História de Brasília
A carne dos dois supermercados, ontem, foi totalmente devolvida. Chegou estragada, e a população ficou sem abastecimento. (Publicada em 10/4/1962)

Frutos econômicos

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Foto de Pool / Getty Images AsiaPac

 

Somente os sábios, por natureza, são capazes de enxergar o óbvio. Não se sabe a razão. Talvez, pelo fato de o óbvio se situar demasiadamente próximo ao nariz, o que faz com que o indivíduo perca a visão do todo e passe a não enxergar o que está à sua frente. Ademais, é preciso entender preliminarmente um conceito muito banal e nem por muito importante. A coisa toda se resume em saber distinguir as noções entre enxergar e ver.

Você pode residir por décadas na mesma rua, vendo o que se passa nesse local, dia após dia e, simplesmente, não conhecer essa rua. Basta uma mudança no ângulo da visão, e tudo muda de figura. Um dia, sem querer, você descobre novos detalhes que nunca tinha reparado. Por isso, ver a rua não significa conhecer a rua.

Por outro lado, aqueles que têm a capacidade de enxergar a rua no seu todo são capazes de conhecê-la com mais exatidão. Não por outra razão, o verbo enxergar traduz o sentido de, pelo uso da visão, prestar atenção e pressentir o que está ali disposto.

Essa capacidade, oferecida pelo cérebro humano, de identificar o que se enxerga deveria ser a mais importante ferramenta utilizada por aqueles que têm a responsabilidade de governar. Infelizmente, é o que tem faltado aos nossos governos. O que se nota é que os governos veem muito, mas enxergam pouco.

Sobre esse ponto, poderíamos preencher uma biblioteca com exemplos. Mas, ficando apenas no que se refere às relações entre o Brasil e China, uma coisa é certa: é preciso aperfeiçoar muito ainda a capacidade de o governo brasileiro enxergar a China para dar prosseguimento mais adequado e prudente a essa relação.

Oficialmente, as relações entre os dois países começaram em 1974, ainda durante a ditadura militar no Brasil, quando o país reconheceu a República Popular da China (RPC) em vez de Taiwan. O governo brasileiro adotou, naquela época, uma política externa baseada no que era chamado de “pragmatismo responsável”, buscando autonomia econômica externa por meio da diversificação de relações internacionais.

Em 2004, o Brasil, então governado pelo atual presidente, reconheceu a China como uma economia de mercado, o que, naquela ocasião, como agora, não corresponde à realidade, dado que aquele país ainda estimula sua economia interna com base em interesses estritamente estratégicos e políticos, com vistas a se tornar não um parceiro econômico fiel, mas um forte controlador dos mercados internacionais.

Todo aquele reconhecimento com base no que não era a realidade visível foi feito sem enxergar devidamente o parceiro extra continental. Pior, essa aproximação também se dava, do lado de cá, apenas por motivos políticos e ideológicos. A diferença a partir do ponto de vista desses dois países é que, enquanto o Brasil via na China uma alternativa ao Irmão do Norte (Estados Unidos), a China enxergava o Brasil não como um parceiro, mas como um trampolim para dominar economicamente também o país.

Falar, como naquela ocasião, em relação estratégica, referindo-se a um país que está do outro lado do mundo, não passou de delírio. Por sua vez, ainda na solenidade que selava a aliança, o então presidente Hu Jintao deixava solto no ar as pretensões quanto à união, ao afirmar que aquela relação estratégica era para valer, sendo o Brasil uma prioridade dentro dos planos chineses de entrar definitivamente no continente americano pelo sul. “Essa postura do Brasil vai, certamente, criar condições para uma relação estratégica muito mais rica”, discursou. Esse “muito mais rico” queria também dizer “muito além do Brasil”.

O Brasil precisa adquirir um papel como parceiro da China mais importante do que o atual, baseado em segurança alimentar e energética para os chineses, se transformando não em uma ponte para que a China atinja os Estados Unidos. É preciso sofisticar essas relações, indo além do comércio de produtos in natura. Mas isso só será possível quando o Brasil enxergar o tipo de parceiro que atraiu para si e quais consequências dessa parceria a longo prazo.

É preciso saber ainda o trivial — ou seja, quais consequências virão. Infelizmente, o pragmatismo utilizado na primeira aproximação com aquele país do Oriente perdeu-se com o tempo, sendo substituído por um voluntarismo político que, como todos sabem, não rende frutos econômicos.

 

A frase que foi pronunciada:
“Como outros países no mundo, a China deve defender a própria soberania, integridade territorial e interesses de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, estamos dispostos a lidar adequadamente com diferenças e desacordos nas relações de Estado para Estado.”
Hu Jintao

Hu Jintao. Foto: Kevin Frayer/Getty Images

 

História de Brasília
A Rádio Educadora de Brasília bem que podia dar a hora certa. Seria uma ajuda aos ouvintes, que não são poucos. (Publicada em 10/04/1962)

O camelo e a agulha

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Foto: Paulo H. Carvalho/ Agência Brasília

 

                       Em matéria publicada no Podcast do nosso Correio Braziliense jornal no dia 03/07/2024, sob o título: “PPCUB – Um grande risco à qualidade de vida”, a arquiteta e urbanista Vera Ramos, integrante do Instituto Histórico e Geográfico do DF, alertou para o grande risco de Brasília vir a perder o prestigioso título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em 1987.

                       Não é pouca coisa, já que se trata da maior área tombada do mundo, com 112,5 km², talvez, por isso mesmo, tenha sido tornada alvo constante de todo o tipo de especulação imobiliária, por parte de políticos e empreiteiros locais ao longo de toda a sua existência. Dessa vez, e de forma até impetuosa, Brasília volta a sofrer mais uma tentativa de ser desfigurada por conta do controverso e malicioso Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), aprovado agora pela Câmara Distrital.

                        De acordo com Vera Ramos, muitas são as cláusulas desse Plano que colocam em risco não só a manutenção do título concedido pela Unesco, mas, sobretudo, diminuem e agridem sensivelmente a qualidade de vida dos brasilienses. De início, a urbanista lembra que o partido da cidade, ou seja, a característica fundamental (personalidade) de Brasília é que ela é uma cidade parque, sendo concebida muito em função das extensas áreas verdes que a cercam. O próprio Lúcio Costa deixou isso patente quando deixou claro em seu projeto a predominância das áreas verdes sobre as áreas construídas. Dessa forma não se pode entender ou aceitar Brasília sem suas áreas verdes.

                       Esse é, justamente, o ponto que deixa aqueles que nada entendem de urbanismo ou dos aspectos que levaram à concepção da capital sempre animados e prontos para, a todo o instante, propor medidas para alienar essas áreas. “O urbanismo de Brasília, ensina ela, traduz uma referência ética, que significa a predominância do interesse coletivo sobre o privado”.

                       Na avaliação de Vera Ramos, o PPCUB está propondo exatamente o contrário nas diversas cláusulas aprovadas, beneficiando o interesse privado. “Essa aula de ética que o urbanismo de Brasília dá para todos nós, e para as autoridades, deveria fazer parte, inclusive, de informações para o melhor entendimento desse Plano”, enfatizou a arquiteta, ao ressaltar que os bens inscritos na Unesco, como é o caso da capital, devem possuir um plano de preservação com regras claras, tudo o que o PPCUB não parece possuir.

                       Outro ponto que também chamou a atenção da urbanista é que, no caso do PPCUB, não houve a participação ativa da sociedade civil o que, de certa forma, torna evidente que a comunidade brasiliense desconhece o que trata o PPCUB. Outra questão destacada por Vera Ramos é quanto ao adensamento populacional trazido pelo plano ao instituir a criação de diversos novos lotes em áreas públicas. Acontece que esses lotes estão justamente situados em áreas não edificantes, ou seja são áreas previstas para ficar vazias, sem construções. É outro conceito trazido por Lúcio Costa de intercalar o cheio e o vazio, dando sentido e harmonia a ambos.

                       Outro ponto que para não caber na cabeça dos leigos e interesseiros de prontidão. As áreas não edificantes, assinala Vera Ramos, não são áreas ociosas pois integram a escala bucólica, prevista por LC. A arquiteta lembrou ainda que, em qualquer intervenção válida e séria, a abordagem deve ser feita a partir da escala, uma vez que esse é um dos elementos fundamentais do tombamento. Não se pode, pois, misturar setores de uma escala com outra.

                       Com isso, dá para entender que aqueles que redigiram o PPCUB não conheciam nem mesmo as mais básicas regras do tombamento e mesmo de urbanismo. Além disso, o PPCUB, segundo analisa, peca por falta de transparência em vários dispositivos. A questão da volumetria, que também é uma das exigências contidas no tombamento, foi abordada com maestria. Nesse sentido, o aumento de gabarito em alguns edifícios também vão contra o estabelecido no tombamento e ferem de morte o projeto de Lúcio Costa. Na opinião de Vera Ramos, o principal em toda essa celeuma e o que importa para a sociedade é discutir, de forma honesta, os reais instrumentos de preservação e valorização do patrimônio que é de todos os brasileiros, pois como ela própria ressalta: “a população é a guardiã do patrimônio.” Com essas possibilidades de Brasília vir a perder, ao mesmo tempo, o título de patrimônio cultural da humanidade e a qualidade de vida de seus habitantes é que obriga o PPCUB ser colocado a apreciação da população local por meio de um amplo e claro referendum, que apresente ponto por ponto essa proposta. A aposta dessa coluna, que sempre tomou frente em defesa de Brasília, é que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que a população aceitar esse plano maroto e cheio de más intenções.

A frase que foi pronunciada:

“Sim. A questão é polêmica, complexa e, por vezes, difícil de ser assimilada pela população.”

Leonardo Ávila, presidente do Codese sobre os alertas em relação ao tombamento

Leonardo Ávila. Foto: Codesi / Divulgação
Leonardo Ávila. Foto: Codesi / Divulgação

 

História de Brasília

A Rádio Educadora de Brasília bem que podia dar a hora certa. Seria uma ajuda aos ouvintes, que não são poucos. (Publicada em 10.04.1962)

Previdência sem futuro

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Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

 

Em 2023, o déficit da Previdência atingiu a cifra de R$ 306 bilhões. Qualquer outro país com números negativos dessa grandeza já teria declarado falência em seu regime de aposentadorias. Na verdade, o mundo inteiro sofre com esse problema, causado sobretudo pelo envelhecimento da população mundial. No nosso caso, essa situação vem se agravando desde 2006, quando os gastos previdenciários com servidores passaram a crescer uma média de 12,5% ao ano nos mais de 5 mil municípios, 5,9% nos estados e 3,1% na União.

Para piorar essa situação, a taxa de investimentos vem caindo também. Pesquisa feita pela Folha de S. Paulo indica que, nos últimos 30 anos, as despesas previdenciárias da União saltaram de 19,2% para 51,8%. Trata-se de uma situação que já indica uma situação de falência anunciada caso outra reforma da Previdência ou alguma outra fórmula matemática de salvação não seja feita com a máxima urgência.

Esse problema poderia ser amenizado caso houvesse investimento público e privado e uma onda seguida de  superavit nas contas do governo. Tudo o que não ocorre atualmente. Os gastos obrigatórios do governo com assistência social, educação e saúde só têm aumentado nesses últimos anos. Não existe conta no governo que esteja dentro de parâmetros positivos.

A fuga de capitais e o retraimento do setor privado interno contribuem, cada um a seu modo, para piorar a situação da Previdência. De 1980 a 2022, a taxa de investimento público em infraestrutura em nosso país despencou de 5,1% para 0,6% do Produto Interno Bruto. Colocada diante das contas públicas, o que se pode verificar é que os R$ 6 trilhões de deficit da Previdência correspondem a mais de 93% da dívida líquida do setor público.

Para aqueles que estão, no dia a dia, envolvidos nessa questão quase insolúvel, uma saída mais sensata, mas nem um pouco indolor, seria acabar com as surreais disparidades de salários pagos pela Previdência, trazendo esses números para um patamar mais condizente não só com a realidade econômica do país, mas com a realidade financeira da própria Previdência. Existem ainda outros problemas a serem resolvidos, como o grande número de novos benefícios, que cresce sem parar todos os anos.

O governo, enredado também em sérios deficits nas contas públicas, pouco pode fazer. Primeiro, porque não conta com uma maioria folgada dentro do Congresso. Depois, porque foi ele mesmo que cuidou, de forma populista, de desmantelar as reformas feitas por governos passados. A essa altura dos acontecimentos, o que todos já sabem e aguardam é que, nas próximas décadas, o rombo da Previdência estará na casa dos trilhões de reais.

Analistas entendem que o rombo da Previdência possa ser ainda maior do que o estimado, já que o governo tem usado sistematicamente projeções para lá de otimistas com relação ao crescimento do PIB. Bastaria ao atual governo reconhecer que as mudanças feitas na Previdência em 2019 estavam no rumo correto. Assim como estavam corretas as intervenções feitas pelo ex-ministro da economia Paulo Guedes, que, naquela ocasião e em decorrência do saneamento das contas públicas, estimava que o rombo na Previdência teria uma redução entre R$ 800 bilhões e R$ 1,07 trilhão no espaço de 10 anos.

Os próprios economistas já apontavam que, no fim de 2022, a economia de recursos com a reforma feita na Previdência entre 2020 e 2022 havia atingido um valor extraordinário, em torno de R$ 156,1 bilhões. O que o atual governo tem feito é seguir a mesma fórmula que faliu a Previdência durante as gestões petistas, deixando esse legado negativo para os próximos mandatários.

 

A frase que foi pronunciada:

“Quando o establishment perde a decência, a mudança é inevitável.”
Paulo Guedes

Imagem: REUTERS/Diego Vara

 

Para melhor
Há estudos, no Ministério do Planejamento, para ampliar o plano de saúde de funcionários públicos para a Assefaz. Tem muita gente sorrindo com essa mudança. Principalmente os beneficiários.

Foto: poder360.com

Legislativo
O jogo da democracia. Está no forno, um jogo sobre questões políticas e eleitorais que promete esquentar os ânimos.

 

Começo
Já são várias as linhas de ônibus que não empregam trocadores. Como grande parte do mundo, viagem interurbana apenas com cartão. As opiniões se dividem, mas é o futuro.

Foto: rafael costa/site ônibus brasil

 

História de Brasília

Veja-se que há condições de compras muito melhores do que se fosse construir, e há a vantagem de já receber os apartamentos prontos. A Novacap fez um excelente negócio com o edifício da Sousenge, e o exemplo poderia frutificar, para estimular novas construções. (Publicada em 10/4/1962)

 

Adultos mirins

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Ilustração: Gorka Olmo (brasil.elpais.com)

Um fenômeno dos tempos atuais que tem chamado muito a atenção de psicólogos e mesmo de áreas ligadas à antropologia e à sociologia tem deixado em estado de choque não apenas os pais, mas também muitos setores da sociedade e, sobretudo, dentro do governo e da política. Trata-se da chamada síndrome do imperador.

Diagnosticada nos fins do século 20 por psiquiatras europeus e que, em sua origem, foi observada apenas no comportamento voluntarioso de certas crianças dentro do círculo familiar, essa síndrome decorre, basicamente, do comportamento narcísico dos pais que, por meio de uma postura “neurótica” e, de certa forma, doentia, passam a acreditar na ideia de que têm a obrigação de fazer seus filhos felizes a qualquer custo. Com isso, constroem um mundo em torno da criança em que a frustração ou quaisquer tipos de obstáculos da vida desaparecem como por um passe de mágica. Dessa maneira, os pais vão dando vida aos pequenos tiranos, impedidos de crescer e de sentir as múltiplas contrariedades reais apresentadas pela vida.

Esses pequeninos não são capazes de esperar, criar, negociar, ceder ou se frustrar. Da família, que é a célula da sociedade, esses “adultos mirins” saem e vêm compor muitos setores da vida adulta, inclusive dentro do Estado e do governo. E é aí que o perigo mora. É verdade que ainda são muito incipientes as pesquisas que indicam, dentro de parâmetros científicos, que essas e outras características dessa síndrome estão presentes em indivíduos com relevantes cargos ou funções dentro dos governos. Não só no Brasil, mas em muitos outros países na atualidade.

Ocorre, no entanto, que esse comportamento exótico tem sido observado com frequência cada vez maior nas atitudes e mesmo na condução de assuntos de grande importância para toda a sociedade, e não raro culminam em atitudes que deixam transparecer sinais de que se tratam de adultos com comportamento infantil e birrento, que não admitem contestações, são intransigentes e não cedem a argumentos mesmo quando estão diante de fatos indiscutíveis.

Em alguns casos, quando alçados a posições em que lhes permitem confeccionar ou executar leis, não se intimidam em criá-las ou impô-las, visando, objetivamente, dar proeminência a si e aos seus grupos de apoio.

Tem sido cada vez mais comum associar o comportamento de certos políticos com a síndrome do imperador. Um apanhado mais atento na biografia de algumas dessas destacadas autoridades da atualidade revela que muitas dessas lideranças que estão conduzindo os destinos de nações inteiras apresentavam, desde a infância, características fortes e marcantes que compõem o perfil do indivíduo com a síndrome do imperador.

Isso é um problema evidente dentro do mundo político, embora se saiba, desde a fundação do Estado, que o poder político se baseia na posse dos instrumentos com os quais se exerce não apenas a força física, mas as vontades e os humores dos mandatários.

Não é por outro motivo que muitas prioridades da sociedade passam a ser subordinadas às prioridades do grupo dominante e intransigente. Assim é que esses “imperadores” começam a reivindicar também o monopólio da força, dentro de princípios de relações antagônicas que reduzem o Estado ao choque de amigos contra inimigos, como num jogo de disputa infantil. A política para esses novos imperadores se resume a uma guerra constante.

Com isso, a própria atividade política perde seu mais alto e maduro objetivo: o espírito republicano. O pior é que a ausência de um comportamento equilibrado passa a ter influência negativa sobre a sociedade, já que a ética da vida pessoal passa a se estender à ética do Estado. De fato, parece que estamos vivendo em um mundo cada vez mais infantilizado, e isso é perigoso, já que o bem comum passa a ficar em segundo plano, prevalecendo tão somente o desejo do poder desses imperadores modernos.

 

A frase que foi pronunciada:
“Leitura, antes de mais nada, é estímulo, é exemplo.”
Ruth Rocha

Ruth Rocha. Foto: moderna.com

 

Estranho
Incompreensível que uma ambulância com placa que não seja do DF seja multada por usar a via BRT. Ambulância leva pacientes de emergência. É preciso revisar esse estatuto.

 

Condenação
Está a caminho da Presidência, um texto de projeto de lei que condena o agressor sexual a pagar um ressarcimento à vítima, como parte da condenação. O texto passou pela Câmara dos Deputados, segue para o Senado e a última instância para análise é a Presidência da República.

 

História de Brasília
Não possuírem, até hoje, sequer um lugar comum para morar, é um absurdo. Não há apartamentos, e aqui está uma sugestão para o Cel. Dagoberto. Há diversos prédios particulares construídos, prontos, e que não foram vendidos. Por que não adquirir esses apartamentos de particulares e alugar aos funcionários? (Publicado em 10/4/1962)

As consequências vêm depois

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Imagem: Esboço do Plano Piloto de Brasília — Foto: Arquivo Público do Distrito Federal/Fundo Novacap

 

           No dia em que as autoridades e mesmo a população despertarem para a faculdade de relacionar fatos aparentemente desconexos e, com isso, passarem a ligar os diversos pontos, saberão, de uma vez por todas, que absolutamente tudo é parte indivisível de um conjunto. O que acontece a um elemento, mais dia, menos dia, acaba por afetar os demais, quer positivamente, quer de forma negativa. Infelizmente, aqueles que deveriam zelar para que o movimento em cadeia não seja deflagrado são justamente os que mais fazem para acelerar o processo de destruição.

          Todo esse preâmbulo vem em razão de movimentos incessantes pela modificação da estrutura urbana da capital. As ações em direção ao inchaço populacional da cidade vêm sendo executadas de forma sistemática, e o que é pior, sem ser seguido do mais elementar e sério estudo de impacto ambiental e social. O horizonte estreito, que é estendido somente até as próximas eleições, faz com que não se atinem para a possibilidade de que, a médio e longo prazos, a destruição urbana da capital venha a ser um fato irreversível e de enormes prejuízos para os brasilienses e para o país.

         Toda vez que a população ouvir falar em Planos de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília ou Projetos semelhantes, como o Reurb ou regularização fundiária urbana, pode ter a certeza que, por detrás desses eufemismos pomposos, esconde-se um fato inconteste: a alteração do planejamento urbano da capital, com vistas a atender aos anseios pressionados. Do mesmo modo, toda vez que uma autoridade reclamar do que chamam de “engessamento” da capital, por razão do processo de tombamento feito pela Unesco, que elevou Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade, saibam que essa é também uma outra premissa que precisa de discussão para não esconder propósitos que só interessam a um determinado grupo.

         Voltando ao início, é preciso que todos os brasilienses comecem, imediatamente, a ligar as pontas soltas que surgem no noticiário local e que vão dando conta da decadência paulatina na qualidade de vida dos habitantes da capital. Quando os noticiários anunciam o aumento da violência, o abandono de áreas centrais da capital, o sucateamento dos hospitais e escolas, os constantes engarrafamentos de vias urbanas entre muitos outros assuntos negativos, que aparentemente não possuem ligação com PPCUBs e Reurbs ou coisa do gênero, saiba, o leitor, que todas essas dificuldades são consequência da ocupação ilegal de terras e das intermináveis intervenções políticas no ordenamento urbano de Brasília. Basta ao leitor que ama Brasília começar a colecionar as diversas manchetes do noticiário local. A manchete deste sábado, 29 de junho, traz em letras garrafais o seguinte: “Alerta, Descoberto e água de Brasília estão sob ameaça.” Com essa notícia, chega a previsão de que, já em 2040, a Barragem do Descoberto irá secar, devido ao consumo excessivo e retirada anormal de água desse reservatório.

         A previsão dos ambientalistas é que em 2070, a capital terá metade da água disponível para consumo de uma população que não para de crescer. Adivinha por que isso acontece! Lembrando que, nos anos setenta, havia a previsão de ser construído o reservatório do Lago São Bartolomeu, com 110 quilômetros de espelho d’água, represando as águas do Rio São Bartolomeu e seus afluentes, como Mestre d’Armas e Rio Pipiripau. Toda essa imensa represa seria redenção para o fornecimento de água potável. Infelizmente, as ocupações irregulares de terras naquela localidade inviabilizaram essa obra importantíssima.

          Exemplos como esse podem ser colhidos em toda a parte. Para desgosto e prejuízo do cidadão, quem deveria zelar por Brasília não aprendeu ainda que as consequências vêm depois. No nosso caso, as consequências têm, como causa, a visão obtusa e o descompromisso com o futuro da capital.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Sei que a paz é mais difícil que a guerra”.

Juscelino Kubitschek

Lúcio Costa e presidente JK. Foto: arquivo.arq

 

Acesa

Interessante que, no prédio do Banco do Brasil, no Setor Bancário Norte, as cores do letreiro remetem a Portugal. O que era só verde passou a ser verde e vermelho. A foto está a seguir.

Foto: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

 

História de Brasília

Os funcionários do DCT, sem apartamentos, estão acampados em frente à repartição. É um movimento pacífico, mas deprimente para os chefes. Quem encara com seriedade que deve ter um serviço de comunicações, sabe que os funcionários encarregados devem ter o máximo de conforto. (Publicada em 10.04.1962)

Pais que participam da vida escolar dos filhos

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

          Ao longo das últimas décadas, depois de seguidas reformas em nosso modelo de educação, do ensino básico ao superior, temos que constatar, à luz do que mostram os diversos rankings internacionais de avaliação de aprendizagem, em que aparecemos sempre nas derradeiras posições, que a maioria de nossos projetos para a melhoria do ensino tem fracassado.

          A razão para isso é que, em todos os modelos impostos ao processo educativo, elaborados de cima para baixo, a maioria deles deixa de lado, ou não prioriza, conforme deveria ser, a participação da família nessas atividades. Com isso, todo o esforço de renovação e melhoria é descartado ao não considerar o grupo familiar do aluno como partícipe dessa empreitada. Dissociado da família, qualquer modelo de aperfeiçoamento do ensino torna-se capenga e não se completa.

         O ciclo integral de todo o processo educativo deve ser composto por alunos, professores e pais ou responsáveis. Sem essa tríade, mesmo os mais elaborados e revolucionários programas de ensino ficam a meio caminho. Esse tem sido o calcanhar de Aquiles de todo o processo brasileiro de ensino e que revela não apenas um descompromisso no envolvimento da escola com a comunidade, mas, principalmente, uma desconsideração da importância de se firmar um acordo sério entre todas as partes envolvidas nesse mecanismo.

         Um fato que comprova essa tese e que demonstra, na prática, essa falha é que é comum, em muitas escolas, que professores e orientadores desconheçam, por completo, quem são os pais e responsáveis da maioria de seus alunos. Não conhecem e muitas vezes não sabem, sequer, em que contexto social esse e aquele aluno vivem. Sem essas informações e sem o conhecimento do meio em que vivem seus alunos, seu cotidiano, suas origens, o que os país fazem, como é a rotina da família e outros dados preciosos, qualquer modelo tende a falhar.

         Ocorre que, em muitos casos, é a própria família que não deseja estreitar qualquer laço com a escola que seus filhos frequentam. Usando esses estabelecimentos de ensino apenas para cuidar de suas crianças, alimentá-las e dar-lhes alguma segurança, enquanto se ocupam em outras tarefas. Há casos em que o pai ou mãe está cumprindo pena judicial em algum presídio e a escola não toma conhecimento. Ou de pais e responsáveis alcoólatras ou viciados em drogas. Ou ainda lares onde essas crianças foram abusadas ou vivem sob condições de violência diária. Os Conselhos Tutelares estão abarrotados de casos e incidências de crianças que a própria escola desconhece.

         Sem um levantamento minucioso de todos esses dados, sem uma ficha completa que mostre o verdadeiro perfil de seus alunos, qualquer modelo de educação mostrará que a vida do discente não tem importância para o seu progresso. Para complicar uma situação corriqueira que em si já é dramática, há ainda os recorrentes casos de violência envolvendo alunos e professores ou dos próprios pais com os professores.

         Brigas, ameaças com facas aos professores, pais que não admitem reprimendas são parte desse quadro dramático. Casos como esse se repetem toda semana em muitas escolas da rede pública de todo o país. Esse fenômeno tem feito com que muitos docentes simplesmente abandonem a profissão, o que provoca, ainda mais, um isolamento das escolas em relação ao seu entorno e isso acaba repercutindo, negativamente, no processo de ensino.

         De fato, como tem ficado comprovado, os professores e a própria escola têm medo de seus alunos, e muitos, sequer ousam questionar a realidade deles.

 

A frase que foi pronunciada:

“Inteligência mais caráter. Esse é o objetivo da verdadeira educação.”

Martin Luther King Jr.

Foto: Martin Luther King, líder do movimento pelos direitos civis nos EUA e Nobel da Paz | Arquivo: (blogs.oglobo.globo.com)

 

Informação

Dados, de janeiro do ano passado, apontam que 380 pessoas identificadas como trans fazem transição de gênero gratuitamente no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. Desse total, 100 são crianças de 4 a 12 anos de idade, 180 são adolescentes de 13 a 17 anos. Tudo graças ao projeto de autoria do Deputado Jean Wyllys e da Deputada Erika Kokay — PL nº 5.002, que dispõe sobre o direito à identidade de gênero e altera o art. 58 da Lei nº 6.015 de 1973

Foto: hc.fm.usp

 

Estranho

Incompreensível que uma ambulância com placa que não seja do DF seja multada por usar a via BRT. Ambulância leva pacientes de emergência. É preciso revisar esse estatuto.

 

Tem solução? 

Se a vida de médico da rede pública de saúde não é fácil, a vida dos pacientes é bem mais difícil. Numa blitz, o MPDFT constatou que, em plantão no Hospital Regional do Gama, a UTI estava com 50% de médicos a menos trabalhando. A administração já tentou colocar placas visíveis aos pacientes com o nome de todos os médicos presentes, mas nada resolve essa carência de médicos para atendimento ao público. Com ou sem Covid, os hospitais estão sempre com a capacidade maior do que comportam.

Foto: Divulgação/ Agência Saúde

História de Brasília

Os funcionários do DCT, sem apartamentos, estão acampados em frente à repartição. É um movimento pacífico, mas deprimente para os chefes. Quem encara com seriedade que deve ter um serviço de comunicações, sabe que os funcionários encarregados devem ter o máximo de conforto. (Publicada em 10.02.1962)