VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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o L que foi sem nunca ter sido. Que L é esse?
Dallagnol, o deputado agora cassado pela segunda vez por uma Mesa Diretora medrosa, omissa e com pendências muito mais sérias junto à Justiça, é hoje a imagem acabada de uma República totalmente rendida ao ativismo político, de um Judiciário que fechou a Constituição e abriu um manual próprio do obscurantismo.
Em resumo o que se obtém com essa cassação dupla tanto dos direitos políticos de um cidadão de bem, como a subtração ligeira de 350 mil votos soberanos, é a consolidação, pura e simples de um Estado de exceção, regido por um partido de esquerda, que contaminou mortalmente as instituições republicanas. Ficar aqui com meias palavras e com eufemismos enganosos, querendo apresentar essa situação esdrúxula como normal e plenamente aceitável, não só não elucidam os fatos correntes como contribuem, pela omissão, para que essa contra reforma infame ganhe ainda mais viço.
Não se trata aqui de açular embates entre esquerda e direita, pelo menos entre aqueles que prezam a ética pública, mas tão somente de denunciar os perigosos desvios tomados pelos três poderes, sobretudo no que diz respeito ao afastamento, cada vez maior, das linhas mestras traçadas pela Constituição Federal. Fora da Carta maior, não há salvação para o país. Também usá-la de forma distorcida em chicanas políticas, tão pouco.
Como naquela antiga propaganda de vodka que dizia: eu sou você amanhã”, Dallagnol é hoje os que serão amanhã todos aqueles que se insurgirem contra o arbítrio. Quem diria que um simples tribunal eleitoral, uma corte que muitos sempre consideraram uma excrescência no organograma do Estado, viria, um dia, a ditar normas e, pior, enfeixar em suas mãos, o destino de uma nação? Nem mesmo nos romances fictícios do gênero surrealista, essa possibilidade jamais seria crível.
A falta de atitudes e mesmo a indisposição mofina daqueles que poderiam, por suas posições, fazer frente a esses desatinos, nos leva a essa encruzilhada triste de nossa história . Faltam heróis e sobram políticos. Falta justiça e sobram juízes.
Desde outubro do ano passado, estamos pouco a pouco submergindo, atolados no parece ser uma areia movediça que vai engolindo o Estado Democrático de Direito. Vivemos tempos absolutamente anormais e não há como desenhar a paisagem que se mostra nesse horizonte, sem recorrer a tintas pesadas.
Cassam-se aqueles que agiram de forma correta como quem caça animais, enquanto nomeiam-se outros que deveriam estar banidos e caçados pela polícia. Na foto, feita em Paris, em que aparecem um notório e rico advogado de avatares do colarinho branco, festejando ao lado do também notório Zé Dirceu, a cassação de Dallagnol, diz muito e resume bem esses tempos trevosos em que tudo parece de cabeça para baixo.
Amanhã, quando vierem buscar também aqueles que se omitiram, já não será mais possível reverter a situação e fazer recuar a noite. A lista daqueles que não torceram pelo candidato do sistema é longa e ocupa hoje, em tempo integral, uma justiça de há muito deixou de ser justa.
Para aqueles que possuem um poder maior de observação, basta ver quem são aqueles que estão ganhando e festejando com toda essa inversão atual de nosso país, para se assegurarem de que estamos seguindo por sendas tortuosas e que não há nada para comemorar.
A frase que foi pronunciada:
“Enquanto viver a vingança cave duas covas. Uma será sua.”
Douglas Horton
Cifras
De volta à Brasília, os indígenas acampam até que saia a decisão sobre o marco temporal. É muita coisa em jogo.
Empreendedorismo
Leila Rodrigues, diretora do CEF 11 no Gama pelo projeto Energia Solar Fotovoltaica, conseguiu que a escola economizasse R$5 mil de energia. O projeto foi apresentado na feira de ciências da escola.
Voltas do mundo
Havia um professor do ensino médio que sempre dizia aos alunos. Estudem para não precisarem encher a lage de cimento. O tempo passou e hoje, quem enche a lage de cimento recebe muito mais que um professor. O mestre de obras mais simples, ganha o salário de um professor, por semana.
História de Brasília
E há coisa pior: o delegado do TAPFESP em Brasília, sr. Aracaty Marques Ferreira, tem contratado funcionários na verba de “fichamento” de operários, e para comprovar, basta saber quantos mestres de obras há, quantos encarregados, e até desenhistas foram contratados. (Publicada em 21.03.1962)