Robin Hood às avessas

Publicado em ÍNTEGRA

Desde 1960

com Circe Cunha e MAMFIL

colunadoaricunha@gmail.com

Em setembro de 2016, o ex-presidente Lula tirou, da dobra da manga do uniforme vermelho, mais uma de suas incontáveis pérolas de filosofia rasa. Embora tenha escapado pela boca sem antes ter passado pelo cérebro, a fala do chefão do PT traduz, a seu modo e até de forma inconsciente, o que muitos políticos pensam sobre questões como a ética e a probidade no trato com a coisa pública. A declaração foi dada no Instituto Lula e, ao contrário do que ele esperava, não gerou aplausos.

Disse Lula: “A profissão mais honesta é a do político. Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem de ir pra rua encarar o povo e pedir voto. O concursado, não. Se forma na universidade, faz o concurso e tá com o emprego garantido pro resto da vida”.

Em situação de normalidade, a frase não mereceria, sequer, ser citada. Mas em se tratando destes tempos estranhos em que forçosamente estamos metidos, a fala expõe a realidade cruenta apresentada ao distinto público pelas investigações do Ministério Público e pela Polícia Federal. Os nossos políticos, de qualquer matiz ideológica, acusados de corrupção, se uniram e agiram para saquear justamente os recursos destinados às camadas mais necessitadas da população. E o pior: fizeram concurso público para isso, através do voto. Como investir em educação seria o primeiro passo para acabar com a mamata, os eleitores deseducados e desinstruídos caem na rede sem se debater.

Invariavelmente os representantes da sociedade encarnaram, por aqui, uma espécie de Robin Hood às avessas, roubando dos pobres e miseráveis para dar aos ricos e milionários. Não se sabe muito bem ainda a razão para tamanha maldade, mas o fato é que as descobertas feitas pela polícia mostraram que as investidas feitas por esses malfeitores contra a população mais carente não respeitaram nenhuma regra humana.

Sem remorsos e sem medo dos castigos terrenos ou celestes, nossos políticos se lançaram, feito hienas, em cima dos recursos da merenda escolar, mesmo naquelas localidades mais miseráveis. Caíram matando em cima dos recursos para a saúde, para a reforma de hospitais, para a compra de medicamentos e aparelhos, não importando quão necessitadas fossem essas áreas.

Indiferentes, não pouparam nem os empréstimos consignados, feitos pelos aposentados em momentos de aflição e descontados a peso de ouro nos contracheques. Insatisfeitos, atiraram-se sobre os recursos dos fundos de pensão, amealhados por anos pelos funcionários das estatais.

Por falta de segurança até um feto paga. Se sobreviver, será paraplégico, porque levou um tiro enquanto estava no ventre da mãe. A violência aumenta com o poderio das organizações criminosas, que, de tão organizadas e com discurso coerente, são respeitadas até por quem deveria exterminá-las.

Usaram o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que representa a poupança de uma vida inteira, que seria, por lei, propriedade do trabalhador, para investirem em negócios suspeitíssimos de amigos e comparsas, gerando perdas incalculáveis aos poupadores e lucros imorais para si e seu bando.

Mesmo agora são feitas revelações surpreendentes dessa razia contra os brasileiros mais pobres. Com a prisão dos magnatas das empresas de ônibus, no Rio de Janeiro, a população tomou conhecimento de que o roubo não ficava apenas nas licitações viciadas e nos descaminhos do dinheiro destinado ao transporte público.

Bem disse o ministro Luís Roberto Barroso durante aula inaugural para alunos de direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. A corrupção se disseminou no Brasil “em níveis espantosos, endêmicos.Não foram falhas pontuais, individuais, pequenas fraquezas humanas. Foi um fenômeno sistêmico, estrutural, generalizado. Tornou-se o modo natural de se fazer negócios e política no Brasil. Esta é a dura e triste realidade”.

A cada aumento abusivo de passagem autorizada pelo Executivo local, aumentavam na mesma proporção as recompensas de caixa para o governador Sérgio Cabral, conhecido no submundo como “cabra” e seus assessores diretos. A depressão econômica e os 14 milhões de desempregados são apenas a parte mais visível e alardeada desses malfeitos repetidos. A outra face dessa infâmia entra para as estatísticas incontáveis de mortos. Assassinados pela ganância e pelo despreparo para a gestão pública. Crianças, idosos e trabalhadores ainda morrem por absoluta falta de atendimento e socorro de um estado exaurido e em situação falimentar.

 

A frase que não foi pronunciada

“Nós, representantes do caráter do povo brasileiro…”

Sugestão para o preâmbulo da Carta Magna

 

Ambiente acadêmico

» Tanta polêmica com os trotes em universidades. Democracia não é falta de regras. Veteranos envolvidos em trotes violentos devem ser jubilados. Crie-se a regra. Simples assim.

 

UnB

» A Universidade de Brasília organizou uma comissão de moradores, grupo consultivo com criação aprovada pelo Centro Administrativo. O objetivo é melhorar a eficiência da gestão dos imóveis residenciais da UnB. No mínimo, o que se espera é a visão de reconhecimento do trabalho dos professores, como rege a primeira lei sobre o assunto. Exploração econômica é inaceitável nessa região.

 

História de Brasília

Vocês não viram, mas eu vi o que fez um chapa amarela do Senado, às 13h10 de ontem. Aumentou a velocidade no pátio em frente ao Jardim da Infância da Caixa Econômica, depois subiu a calçada e saiu sobre o passeio em direção à W3. (Publicada em 30/9/1961)

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