Prejuízos olímpicos

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha e MAMFIL

Governos populistas, sem exceções, em todo tempo e lugar, buscam nos eventos esportivos, principalmente aqueles de intensas repercussões interna e externa, meios de difundir e propagandear seus feitos e imagem. A história está repleta de exemplos desse tipo e mostram como o personalismo, o apelo ufanista e a exploração marqueteira da gestão do Estado caminham, lado a lado, com esses grandes torneios. Não foi diferente durante o governo Médici, e não foi diferente no governo Lula.

Arquitetadas dentro do esquema cartesiano e frio de propaganda do governo, a Copa do Mundo de Futebol e agora as Olimpíadas serviram para incensar e pôr em primeiro plano a figura do chefe do Executivo. Pai dos pobres, pai da pátria, pai dos esportes. Não importa o epíteto, interessa, isso sim, destacar que graças à intervenção pessoal do “nosso guia”, o Brasil se tornará também uma potência nos esportes. Todo o resto, incluindo os gastos astronômicos para viabilizar os eventos, é secundário e vem em decorrência da premissa original.

Deixado o legado da Copa do Mundo, os grandes estádios são agora verdadeiros elefantes brancos, cuja manutenção diária exige cada vez mais recursos do contribuinte. O caso do Mané Garrincha, o mais caro de todas as arenas do planeta, é um exemplo concreto.

A Noruega abriu mão de realizar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 sob a alegação dos altos custos financeiros para o cidadão. Somente com a realização da Copa em 2014, a Fifa embolsou R$ 16 bilhões. Um recorde absoluto em toda a história da entidade. A maioria de seus dirigentes encontra-se hoje banida do mundo da bola e não se atreve sequer a sair das fronteiras do país, sob pena de serem presos e deportados para os EUA onde a Justiça quer trancafiá-los por longos períodos.

Quem lucrou também com aqueles jogos foram as grandes empreiteiras, a maioria investigada pela Operação Lava-Jato. Para o restante dos brasileiros, ficaram as dívidas com a festança. No caso das Olimpíadas, especialistas no assunto garantem que a realização desses eventos é um mau negócio e deixa dívidas de longo prazo para as sedes desses eventos de até 30 anos.

Estimativas como a do economista Andrew Zimbalist dão conta de que o Rio de Janeiro gastará cerca de R$ 20 bilhões para realizar os Jogos Olímpicos. Urbanistas de renome internacional, como a brasileira Raquel Rolnick, relatora das Nações Unidas para o Direito à Moradia e hoje uma das principais especialistas mundiais na questão, concordam que para a preparação desses eventos são comuns os casos de expulsões de grandes levas de moradores das áreas vizinhas aos jogos, encarecimento nos preços de moradia, falta de alternativas e pressão sobre as famílias mais pobres para deixarem os locais próximos dos eventos.

Esses contingentes desfavorecidos, diz Raquel, acabam empurrados para periferias cada vez mais distantes e sem recursos. Para Raquel, essas têm sido as características tanto das Copas do Mundo como dos Jogos Olímpicos pelo mundo. No caso da Olimpíada do Rio de Janeiro, a expulsão dos moradores da Vila do Autódromo serve como ilustração desse modelo de exclusão.

A frase que não foi pronunciada

“Mostre o que você bebe e eu digo o que você pensa.”

Frequentador assíduo do Bar Bante

Sem líderes

Enquanto os brasileiros penam para cumprir as regras trabalhistas, a Vila Olímpica no Rio de Janeiro foi surpreendida pelo Ministério Público que atestou mais de 600 trabalhadores sem carteira assinada ou contrato de trabalho. O mais difícil de ser brasileiro é não ter nos mandatários um exemplo a ser seguido.

Jovem escritor

Depois do sucesso do concurso de redação do Senado Federal, o Sindigraf-DF teve a mesma iniciativa ano passado e de tão rico o material apresentado resolveu repetir a iniciativa.

Novidade

Marcada para 4 de agosto, mas ainda não confirmada, audiência pública na Câmara dos Deputados vai analisar o projeto de lei com artigos contra a corrupção. O primeiro depoimento será do juiz federal Sérgio Moro.

Crise

Ovídio Maia, do Sindicato de Habitação do Distrito Federal (Secovi), informa que a profissão dos corretores de imóveis passa a ser exclusiva aos poucos e explica: “A remuneração do corretor não é fixa, é necessário fazer poupança e pensar em longo e médio prazos, se não, o trabalhador com certeza abandonará o mercado”.

História de Brasília

Está de pé, o caso da Prefeitura de Brasília. O regime parlamentarista está sendo desvirtuado, porque estão fazendo leilão de cargos. O que ocorre com Brasília é simplesmente lamentável. (Publicado em 12/09/1961)

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