Criada por Ari Cunha desde 1960
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com Circe Cunha e Mamfil
Pensamentos, palavras, atos e omissões
República, que todos deveriam entender como uma forma de governo em que cabe ao Estado ou coisa pública, atender e trabalhar em prol dos interesses da população, guarda, entre nós, alguns cacoetes perigosos, herdados, quem sabe, de nossa formação social e histórica.
O mais visível desses vícios, e que tornam nossa República capenga e carente de elementos éticos básicos, pode ser conferido na apropriação do Estado, por uma elite governista, que não acredita existência de uma fronteira cerrada e legal entre o público e o privado. Com isso, apoderar-se de tudo e como quer, segundo um conjunto de falsas premissas, como a de o fazer em nome de um governo que paira acima das leis e que conta para isso, com o apoio da população.
Conforme a organização da Justiça como está entre nós, não só colabora com esses cacoetes, como repreende aqueles que insistem em clamar pelo respeito à coisa pública. Não por outra razão nos casos de corrupção e de malversação do dinheiro público, mesmo de fabulosas somas, seus protagonistas, encontram na derradeira instância dos tribunais, o lugar certo da absolvição. Exemplos dessa apropriação indébita e desse Estado aberto e sem porteira ocorrem todos os dias.
Enganam-se os que acreditam que a colocação, à disposição dos três Poderes, de orçamentos próprios e vultosos ajudaria na melhor repartição e fiscalização dos recursos públicos, fazendo com que cada um apresentasse o melhor emprego do dinheiro em caixa. Não é o que ocorre. A desculpa aqui é que a máquina é cara, e que os encargos para a administrar o país, mais caros ainda.
É entre essas meias verdades que os déficits se prolongam, a inflação resiste e a economia mostra os gráficos em linhas descendentes. A questão aqui e que foge aos economistas, é saber entre as alternativas a que mais se aproxima de nossa realidade. Afinal é o Estado que não cabe no orçamento? É o governo? Ou seria a população que reclama por contrapartidas em serviços públicos, sempre insuficientes ou mesmo inexistentes?
Talvez para ficar no meio do caminho diriam que é o Brasil que não cabe no orçamento. Quem sabe com um pouco de parcimônia, probidade e respeito à coisa pública, o orçamento encontraria um meio de atender àqueles que mais precisam e que por acaso, não são aqueles que comandam o Estado.
Para o leitor, atento ao que se passa, basta observar bem para se certificar de um fato corriqueiro, desses que muitas vezes passa despercebido. Sempre que as autoridades são fotografadas ou filmadas, nas muitas solenidades que se repetem a cada momento, dois os mais personagens sentados próximos põem-se a confabular, olhando para todos os lados e com o cuidado de colocar a mão escondendo o gestual da boca, para ninguém entender do que falam por leitura labial.
Por certo e pela mímica desconfiada, não tratam de assuntos republicanos. O mesmo ocorre com as agendas de visitas. Em caso de visita pouco recomendada, essas agendas deixam de existir. Também, nesse mundo moderno, verdadeiro Big Brother, as filmagens e captação de cenas embaraçosas, somem ou são deletadas para sempre, sem deixar rastros.
É o cacoete de esconder da opinião pública o que não é republicano. Agora, em tempos de controle social da mídia, ou que quer que isso signifique, a questão é censurar, desmonetizar ou o que seja, tudo aquilo que pode vir a ser interpretado como conduta não republicana.
De fato, não é escondendo ou camuflando esses cacoetes que a coisa irá mudar. O mais correto e barato seria mudar aqueles que insistem nesses cacoetes.
A frase que foi pronunciada:
“Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos.”
Friedrich Nietzsche
Mais dedicação
Senador Izalci Lucas mostrou preocupação com parlamentares que chegam rapidamente para votar e votam de qualquer jeito, sem preocupação com as consequências. A iniciativa do senador Eduardo Braga é promover debates nessas matérias importantes com grupos de discussão na CAE, CCJ o que será bom inclusive para a população acompanhar os discursos de seus parlamentares.
História de Brasília
Seria um grande serviço prestado à coletividade, e nenhuma repartição está tão bem aparelhada para essa tarefa, faltando apenas a determinação, já que boa vontade não falta. (Publicada em 23.03.1962)