Oásis inatingíveis

Publicado em Íntegra

Criada por Ari Cunha desde 1960

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com Circe Cunha e Mamfil   

         Guardadas as devidas proporções, a guerra entre o governo palestino e o Estado de Israel, que agora se reinicia e volta a assustar o mundo, torna-se pequena e até insignificante se for comparada a verdadeira guerrilha vivida nas principais metrópoles do Brasil. Por aqui, segundo as estatísticas divulgadas pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, um brasileiro é morto a cada 8 minutos, vítima da violência urbana, que há décadas assola nossas principais capitais. São em torno de 60 mil homicídios a cada ano, muitos dos quais, jamais serão solucionados ou terão os executores identificados, julgados ou presos.

         Em termos de mortes violentas, somos imbatíveis. Para os especialistas e aqueles que buscam explicações para essa mortandade elevada, as causas desse flagelo social podem ser debitadas à falência e a corrupção que se espraiou através das instituições públicas, afetando sobremaneira as áreas de educação e de segurança. Há ainda que mencionar como fontes direta desses morticínios, o próprio sistema judiciário, que parece que tende a abolir as penas e punições aos criminosos, sejam eles cometidos por pessoas comuns e principalmente quando o crime, seja ele qual for, é praticado por pessoa poderosa e com grande trânsito e influência dentro do governo e do Estado.

          Como um crime que acontece às escuras, a corrupção, como reconhece o próprio Ministério Público, se traduz pela violência contra a toda a sociedade, não tanto por seus efeitos diretos e imediatos, mas por suas consequências deletérias e nefastas de longo prazo. Disse o ministro Barroso em palestra na PUC do Rio: “Ninguém quer um Estado policial. Queremos que seja preservado o devido processo legal e o direito de defesa. Mas queremos um Estado onde as pessoas sejam devidamente punidas. Um Estado que puna os empresários que fraudem licitações, os operadores do mercado financeiro que lucrem com insider trading, os gestores de fundos de pensão que desviem recursos. Isso não é Estado policial, é Estado de Justiça.”

Barroso disse ainda na ocasião que, “é preciso enfrentar o equívoco tropicalista que acha que corrupção ruim é a dos outros”. “Não existe corrupção do bem”, avaliou, declarando que a sociedade brasileira precisa enfrentar o sistema atual, onde os que praticam crimes contra a administração pública “frequentam os mesmos banquetes” e se protegem mutuamente.

         Pudesse o Brasil ser livre ou menos afetado por uma espécie de corrupção endêmica, que parece paralisar o Estado, por certo os índices de criminalidade e mesmo a violência urbana diária cairiam vertiginosamente, nos colocando entre os países do primeiro mundo no quesito paz social.   Não temos, como no caso de Israel, movimentos terroristas como o Hamas e outros da mesma periculosidade a atormentar a sociedade e o governo, levando àquele país à um estado de permanente prontidão e segurança interna.  No do Brasil, nossos terroristas são representados por dezenas de quadrilhas do crime organizado, armadas com o que há de mais moderno e letal e que surgem a todo o momento em diversos cantos do país.  De fato, essas quadrilhas vêm ao longo do tempo se especializando e treinando táticas de guerrilha urbana para defender suas fontes ilegais de lucro. O pior é que, por seu poderio econômico, essas quadrilhas investem muito na preparação de indivíduos, e mesmo em campanhas políticas, financiando candidatos, que após eleitos irão, de dentro do Estado, favorecer e proteger o crime organizado e suas atividades.

          Não chega ser surpresa que esse avanço do crime organizado se dá à medida em que o Estado vai sendo enredado pela corrupção, o que ajuda não só na destruição da credibilidade das instituições, como contribui ainda para a sensação correta da pouca efetividade de uma democracia indiferente aos problemas da nação. A questão aqui, nessa comparação desigual entre o morticínio decorrente da guerra ente Israel e palestinos e o que ocorre no Brasil atual, com dezenas de milhares de mortes violentas a cada ano, é que tanto num caso como o outro, a multiplicidade de razões históricas impede que a paz nesses dois cantos do planeta, pareçam sempre miragens distantes ou oásis inatingíveis.

A frase que foi pronunciada:

“A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa.”

Jô Soares

Mais barato

Um dos melhores lugares para os celíacos almoçarem em Brasília é a Galeteria Gaúcha, do Lago Norte. Apesar de ter massa na cozinha, o galeto, arroz, cada produto é feito em área diferente o que elimina o risco de contaminação.

História de Brasília

O trabalho é longo, mas ajudará em muito a Procuradoria, tão ciente no cumprimento do seu dever. É preciso apenas uma coisa: justiça para todos. (Publicada em 24.03.1962)

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