Isso ou nada

Publicado em ÍNTEGRA

 

Desde 1960

colunadoaricunha@gmail.com

com Circe Cunha  e Mamfil

“A concepção pedagógica que orienta a ação educativa dos Cieps tem como norma central assegurar a cada criança um bom domínio da escrita, da leitura e da aritmética, como instrumentos fundamentais que são para atuar eficazmente dentro da civilização letrada.  Com base nesses elementos, ela pode não só prosseguir estudando em regime escolar, como continuar aprendendo por si própria.  Sem essa base, ao contrário, ela estará condenada à marginalidade e ao risco de cair em delinquência.  Isso é verdade, sobretudo, para a criança das áreas metropolitanas, que tem mais a escola do lixo e da criminalidade do que a escolaridade mínima indispensável para se realizar pessoalmente através do trabalho e para exercer conscientemente a cidadania,” declarou o antropólogo e escritor Darcy Ribeiro.

Quando o assunto é educação, especialistas são unânimes em apontar a escola em tempo integral como a única solução capaz não só de dar formação intelectual e psicológica adequada às nossas crianças, mas sobretudo resgatá-las das ruas das grandes metrópoles brasileiras, transformadas, há muito tempo e bem debaixo dos olhos das autoridades, em verdadeiras escolas do crime.

O que se observa, ainda hoje, nos países sérios, aqueles que equacionaram a maioria de seus problemas econômicos, sociais e políticos, é que em todos eles é quase impossível você avistar uma criança perambulando sozinha pelas ruas e muito menos durante os horários de aulas. Escola em meio período é coisa nossa, como a jabuticaba, e serve apenas para economizar recursos desse setor e encaixar novas levas de alunos, num arranjo improvisado e de resultados sempre ruins.

O fato é que a maioria dos países desenvolvidos perceberam que, para manter o padrão de vida e de bem-estar atual da população no futuro, é preciso preparar, com esmero, as novas gerações. E o melhor e o mais eficaz modelo para isso é mantê-las em boas e acolhedoras escolas durante a maior parte do dia.

Mais do que grandes segredos industriais e tecnológicos, essa é a chave garantidora da manutenção do alto padrão de vida, apresentado por esses países, que tanto nos causa admiração. Ou é assim ou é a selva que temos. Crianças em grandes números vagando famintas, maltrapilhas e sem rumo por ruas inseguras e violentas, são vistas por aqui. No preço do abandono está incluído não só o futuro delas, mas o de cada um de nós.

Reforma política e econômica, que traga resultados efetivos, perpassa pela solução definitiva para o problema de crianças deixadas pelas ruas,  para que tenha eficácia consistente e duradoura. Crianças vagando pelas ruas atestam nossa incompetência para lidar com a realidade criada por nós mesmos e jogam para frente, sine die e ao acaso, o dia da nossa redenção.

Essa situação não é nova e, desde os anos 1940,   foi alertada por educadores, como Anísio Teixeira, um dos criadores do modelo de escola-parque. Nos anos 1960, o também educador e fundador da Universidade de Brasília Darcy Ribeiro recomendava o modelo de escola em tempo integral, concretizado posteriormente com os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs). Esse é o único caminho.

 

A frase que foi pronunciada

“Não é a religião que faz a justiça social. É o caráter do Estado escolhido pelos eleitores.”

Leitora, sobre a abertura da coluna Visto, lido e ouvido (11/10, pág. 11)

 

Na mira

» Vem novidade por aí sobre o golpe em um banco público. A Polícia Federal começa a traçar o mapa de saques em contas da poupança de clientes com grandes saldos e que não apresentavam histórico de retiradas.

 

Desconhecimento

» Falta mais divulgação sobre as ações do Departamento de Atenção Básica (DAB) do SUS. Amamenta e Alimenta Brasil, Brasil Sorridente, Consultório na Rua, NutriSUS, Prevenção e Controle dos Agravos Nutricionais, Programa Nacional de Suplementação de Vitamina, Promoção da Saúde e da Alimentação Adequada e Saudável, Rede Cegonha, Saúde na Escola (PSE), Telessaúde e Sistema Prisional são algumas das iniciativas pouco divulgadas.

 

Opinião

» Nosso leitor José Rabelo envia uma observação interessante: “Difícil também é saber que o horário de verão serve como apoio oficial ao consumo de bebida alcoólica”. Para os trabalhadores o sacrifício biológico; para os consumidores de álcool, o sacrifício do fígado e mais risco no trânsito.

 

História de Brasília

E mais: o aluguel será de 23 mil cruzeiros. Levando-se em conta a situação de humildade de uma boa parte dos moradores daqueles apartamentos, é de se prever que novas dificuldades surgirão. (Publicado em 6/10/1961)

 

 

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