ARI CUNHA
Visto, lido e ouvido
Desde 1960
colunadoaricunha@gmail.com;
com Circe Cunha e Mamfil
Febre amarela, uma doença que se acreditava controlada desde o início do século passado, retornou com força. Das conclusões que logo vêm à mente sobre esse flagelo, a primeira que surge é que em matéria de políticas públicas nas áreas de saúde persistimos as voltas com as mesmas carências encontradas na época de Oswaldo Cruz. Andamos em círculos, e o que é pior, cada vez mais enredados nas consequências de nosso subdesenvolvimento crônico.
Na verdade, de Oswaldo Cruz para cá, nossa situação piorou muito. O aumento da população nem de longe foi acompanhado de medidas que assegurassem e protegessem, minimamente a saúde dos brasileiros. Nem dos brasileiros, muito menos de nossas cidades. Nossas principais metrópoles não se prepararam para o fenômeno rápido do êxodo rural das últimas décadas.
O que temos hoje, com raras exceções, são capitais completamente ilhadas pela típica miséria sul americana, com cinturões de favelas ao redor, sem ruas, com esgoto correndo à céu aberto, com coleta e descarte precários de lixo, sem infraestrutura mínima e necessária.
É nesse cenário caótico, muitas vezes esquecido pelo poder público, que vive a maioria da população de baixa renda do país e onde, obviamente, ocorre a maioria dos casos de doenças tropicais. O ambiente propício à proliferação de mosquitos e outros vetores de doenças é também onde a assistência à saúde é mais precária, quando não totalmente inexistente.
Com tantos elementos negativos concorrendo para a disseminação de enfermidades, não chega a ser surpresa que uma doença do século passado tenha retornado com ímpeto, renascida das cinzas como uma fênix poderosa e assustadora.
O ressurgimento da Febre Amarela serve também como alerta para o fato de que nossas universidades públicas formam poucos médicos sanitaristas, poucos infectologistas e outros especialistas em doenças tropicais. Mesmo o ministério da Saúde parece pouco envolvido para sanar essa escassez de profissionais em doenças dos trópicos.
Desestruturados para o combate a essas epidemias, com falta de recursos e pessoal qualificado, a ocorrência dessas doenças sérias é quase uma certeza. Programas do tipo Saúde em Casa, que muito bem poderiam prevenir esse tipo de ocorrência, também foram descartados ou pouco incentivados.
O resultado é o que se vê agora, com multidões correndo desesperadas aos postos de saúde atrás da vacina, com os laboratórios incapazes de atender uma demando tão grande e urgente.
A Febre amarela atesta a incapacidade do governo de se articular cada vez que um surto de doenças aparece sem aviso e demonstra, na prática que uma legião de mosquitos pode muito mais do que um governo inteiro.
Pela seriedade do problema, era preciso, inclusive, a instalação de um gabinete de crise, envolvendo todos os ministérios, com chamadas e alertas feitos em cadeia nacional de rádio e televisão.
Não obstante, o que se vê é o de sempre, com a movimentação rasteira veloz de políticos com vistas as próximas eleições. Isso é, se o mosquito da vez permitir que os eleitores compareçam as urnas.
A frase que foi pronunciada:
“Eu olhei mas não vi. Eu vi mas não enxerguei.”
Marco Túlio Cícero, romano, nascido em 106 a.C.
Muito bom
Reclamações sobre o valor dos estacionamentos em aeroportos, preço da alimentação entre outras, desaparecem quando se conhece o site da Infraero. Além de acompanhar os voos, a ouvidoria é acessível, acesso a informações sobre os aeroportos, consulta de voos, guia do passageiro com detalhes e todas as explicações possíveis.
Adolescentes
Sol Nascente e Ceilândia recebem organização criminosa OCI, “Os cão do inferno”. É a chance de cortar o mal pela raiz e evitar que a violência se alastre pelo DF. O desafio vai exigir da inteligência e tecnologia da Polícia Civil. Um policial contou que a cena mais chocante da vida profissional foi quando uma mãe viu o corpo inerte do filho viciado e assassino, suspirou e disse: “agora vou ter paz na minha vida”. Políticas públicas voltadas aos jovens poderiam evitar essa cena.
DPVAT
Boris Feldman, com milhares de visualizações na internet pergunta: O DPVAT ficou mais barato porque a Seguradora Líder é boazinha? O assunto ainda gera a curiosidade sobre uma única seguradora arrecadar e distribuir bilhões de reais. Ainda sobre o assunto, o seguro obrigatório não chegou com o IPVA. É preciso imprimir o boleto, separado no site do Detran.
Barragem
Por incrível que pareça, até hoje, a grade da Barragem do Paranoá está avariada com uma fitinha amarela impedindo que algum carro caia de dezenas de metros de altura. Um guard rail nessa ponte seria mais próprio para evitar novos acidentes.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Lamentável atitude do sr. Tancredo Neves, querendo criar um gabinete no Rio. O que o Primeiro-Ministro deveria fazer, seria acompanhar o esforço de diversas repartições para a transferência total para o Distrito Federal, dentre as quais está, agora, o Banco do Brasil. (Publicado em 13.10.1961)