Enxugando o mar

Publicado em ÍNTEGRA

ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960
colunadoaricunha@gmail.com;
com Circe Cunha e Mamfil

Fonte: youtube.com
Fonte: youtube.com

       Imagens que circulam agora nas redes sociais mostram um frentista e seu parceiro, desviando, tranquilamente, o combustível do estabelecimento, enquanto abastecem o carro de um displicente motorista. Bastou um descuido  do freguês e o larápio encheu o regador de plástico, que normalmente fica junto a bomba, colocando parte da gasolina, que o cliente pagou no vasilhame, roubando, apenas nesse caso flagrado ao vivo, uns dez litros do produto.

         A operação criminosa se repetiu, cada vez que um motorista solicitava o enchimento do tanque. Não se sabe em quantos postos espalhados pela cidade esses desvios aconteceram e com que frequência. Pela naturalidade e rapidez com que agiam, é fácil supor que esse crime vem acontecendo a muito tempo. Neste ramo, além da prática costumeira do cartel, da adulteração de combustível e da alteração eletrônica do contador de litros das bombas, o flagrante de mais esse crime coloca os postos no topo dos estabelecimentos de comércio nos quais os consumidores precisam ficar de olhos bem abertos. Enquanto as montadoras não providenciarem contadores de combustível e outros equipamentos como itens de fábrica que verifiquem, no ato do abastecimento, a qualidade e quantidade do produto, os motoristas continuarão a ser ludibriados das formas mais criativas possíveis. Infelizmente esse é apenas um pequeno exemplo da selva que os brasileiros construíram para si próprios.

         Rouba-se tudo e em todos os lugares. Em estabelecimentos com bares e restaurantes, a prática de cobrança com sobre preços é usual. Na hora de fechar a conta, aqueles consumidores que não costumam conferir a nota, invariavelmente são lesados no valor final com o acréscimo de produtos e serviços que não foram prestados. É preciso ficar atento principalmente naqueles estabelecimentos que funcionam a meia luz. É no escurinho dos bares e boates, depois de rodadas de bebidas que as fraudes acontecem repetidas vezes. Rouba-se na quantidade, na qualidade e em qualquer oportunidade que surja .

      Mesmo em casos de acidentes, nas estradas, com vítimas fatais, tornou-se normal assistir a população local saqueando os carros envolvidos nos sinistros, passando inclusive por cima dos mortos. Na Avenida Brasil,  no Rio de Janeiro, por diversas vezes, as câmeras flagram comunidades inteiras saqueando caminhões. Em poucos minutos cargas inteiras desaparecem, levadas por moradores locais, numa operação por atacado. Obviamente que essas práticas desonestas que ocorrem na base da pirâmide, nem de longe alcançam o montante de dinheiro que  tem sido desviado pelas maiores lideranças do país e que constantemente tem sido reveladas pelas operações do Ministério Público e Polícia Federal.

     Padre Antonio Vieira no sermão do Bom Ladrão, escrito em 1655 já alertava sobre esse comportamento corriqueiro observado na colônia portuguesa: O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera. (…) os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. – Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.” A impunidade das elites para casos de desvios de conduta também foi denunciado por Luis de Camões, maior poeta da língua portuguesa, que ainda no século XVI  chamava a atenção para o fato de que “leis em favor dos reis, se estabelecem. As em favor do povo só perecem”.

      De lá para cá pouca coisa parece ter mudado. Persistimos afundados num pesadelo que nos acorrenta ao passado. Imagem mostrada também nas redes sociais parece resumir essa nossa triste sina. Nela aparece um indivíduo com um rodo em punho tentando enxugar a praia a cada recuo das ondas, num esforço inútil e eterno.

 

A frase que foi pronunciada:

“Um sistema de legislação é sempre impotente se, paralelamente, não se criar um sistema de educação.”

Jules Michelet, filósofo e historiador francês.

Pela paz

Aprovado na Câmara o Projeto de Lei da deputada Keiko Ota que impõe às escolas política da paz principalmente para evitar o bullying. A matéria seguiu para o Senado. Resta saber se as escolas terão interesse em cumprir as regras porque a lei anti bullying já existe a muito tempo.

Sexismo

Conhecemos uma aeromoça da United Airlines que precisou fazer a opção pelo trabalho, por isso aceitou a imposição da empresa em permanecer solteira. Caso contrário seria demitida. Hoje, com mais de 80 anos, é absolutamente solitária.

Ainda

Hoje em dia o sexismo continua. Patrícia Smith procurava uma casa para comprar. Quando marcou o encontro para assinar a papelada ouviu do vendedor a seguinte pergunta: “Nenhum homem, marido, irmão ou pai está com a senhora? A senhora vai fazer essa negociação sozinha?”

HISTÓRIA DE BRASÍLIA 

Esses movimentos devem respeitar a figura do Presidente da Republica e a pessoa do Prefeito de Brasília, porque cabe a este, a nomeação. E a procura do cargo através do Presidente da República, deixa transparecer desconfiança ou apadrinhamento, o que não é o caso de Brasília. (Publicado em 12.10.1961)

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