Consumidos pela corrupção

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha e MAMFIL

Num apanhado geral de notícias sobre o Brasil veiculadas diariamente pelos jornais mundo afora, fica evidente que o assunto mais enfocado sobre nosso país é justamente o que trata da corrupção, principalmente aquela em que o governo e o mundo político local estão secularmente envolvidos. De modo geral, o noticiário internacional relaciona as causas principais do subdesenvolvimento persistente do nosso país à corrupção endêmica que impregna toda a máquina pública. Hospitais e escolas públicas extremamente carentes são mostrados para exemplificar os casos concretos da malversação dos recursos públicos e seus efeitos sobre a vida da população.

Mesmo agora nas Olimpíadas, grande parte dos correspondentes internacionais deixaram as disputas e os torneios de lado e partiram para registrar o dia a dia das comunidades enclausuradas em favelas miseráveis à mercê da trégua na guerra entre a polícia e o crime organizado. Sob todo e qualquer ângulo em que se procura enxergar a realidade brasileira lá de fora, a corrupção desponta como causa e assunto logo nas primeiras linhas. Por que razão nossas mazelas ganham tanto destaque na mídia estrangeira se temos também tantos aspectos positivos de nosso cotidiano que merecem ser mencionados?

Essa questão tem, na avaliação dos jornalistas de outros países, uma explicação até singela. Para muitos, a entrada de seus países no rol das nações desenvolvidas só foi possível depois de debelados os casos de corrupção na administração do Estado. Muitos de nossos compatriotas, afirma um repórter europeu, não conseguem entender como, em pleno século 21, um país continental e com uma grande população ainda não se livrou dessa praga. Enquanto não surge uma resposta satisfatória para a questão, melhor examinar o que um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) diz sobre os efeitos e as consequências da corrupção que se escondem sob a linha d’água desse imenso iceberg.

Para cada R$ 1 desviado pela corrupção, ocorre um dano na economia da ordem de R$ 3. É o que os especialistas chamam de multiplicação dos prejuízos. A corrupção é capaz também de contaminar agentes públicos honestos, primeiro pelo desestímulo e, em seguida, por pressão ou simples adesão àqueles que se beneficiam. Também a ineficiência e o excesso de burocracia se inserem no círculo vicioso da corrupção, alimentando-se mutuamente. Outro efeito é a sensação de impunidade, decorrente da falta de pena adequada, mecanismos eficientes para devolver o roubo e do tempo longo dos processos.

Por fim, a corrupção produz o efeito devastador de desmoralizar as instituições e, por tabela, a própria democracia. Um desses efeitos é sentido pela forte rejeição que a população expressa por seus representantes e respectivos partidos políticos e que bem ficou demonstrado nas manifestações de ruas.

Zeina Latif, economista, aponta como consequências diretas da corrupção sobre a economia do país os altos custos de transação, a baixa confiança nos contratos, o afastamento de investidores e a redução da capacidade de investimentos. Trata-se aqui de causa conhecida cujas raízes também se conhecem e cujo remédio é sabido por todos. Mas ainda assim insistimos em não enxergar o problema que nos consome a cada dia.

A frase que não foi pronunciada:

“Corrupção é um bicho que se alimenta da ignorância de um povo. Dói, mas é a verdade.”

Dona Dita, lendo jornal para os netos

Uma lástima

É de estarrecer que uma campanha publicitária com aquele peso de pobreza seja permitida ir ao ar. A Etna escolheu a mentira para vender seus produtos. Mentir para as visitas que aquele sofá custou caríssimo ou aquela peça de decoração que foi uma pechincha pode ser apresentada aos amigos como uma peça rara.Em pleno combate à corrupção, estimular a raiz de todos os males em propaganda é inaceitável. Ou deveria ser.

Palavrinhas mágicas

Já ouvi no programa do Toninho Pop, do compadre Juarez e na ClubeFM. As pessoas se comunicam muito bem ao pedir música. Mas é raro ouvir dos ouvintes as palavras “por favor” e “obrigado”. Está aí uma grande oportunidade para os apresentadores trabalharem a educação das pessoas queridas que participam do programa.

Nota oficial

» O GDF enviou aos jornalistas nota sobre a paralisação de 48 horas dos policiais Civis. O movimento teve o objetivo de pressionar o governo para equiparar os salários dos civis aos dos federais.

Curiosidade

Art.22 XXIII — O Brasil é o único país do mundo que proíbe a bomba atômica na própria Constituição.

História de Brasília

A principal preocupação do sr. Oscar Pedroso Horta, na TV, em S. Paulo, foi falar mal de Brasília, chamando-a de insípida, horrível e tenebrosa. E é mesmo. Não é para todo o mundo, mas para muitos. O homem é produto do meio.(Publicado em 12/9/1961)

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