Cérebros em fuga

Publicado em ÍNTEGRA

Desde 1960

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com Circe Cunha // circecunha.df@dabr.com.br com MAMFIL

 

Não é de hoje que o Brasil vem perdendo pesquisadores e profissionais altamente especializados para países onde a ciência é tratada como o principal motor do desenvolvimento humano e da riqueza material. Os Estados Unidos são o que são hoje justamente porque souberam absorver grande parte da intellingetsia do mundo. A fuga de cérebros segue, desde o século 18, uma mesma rota e quase sempre pelos mesmos motivos. Razões políticas, religiosas e econômicas têm sido responsáveis pela debandada de grandes levas de cientistas para os centros mais livres e desenvolvidos.

Perseguidos pelas censuras políticas que cerceiam o livre pensar; pelos dogmatismos religiosos, que perseguem quem ousa se aproximar da árvore da ciência do bem e do mal; e por questões puramente econômicas, que impossibilitam o financiamento de pesquisas e laboratórios adequados, restam aos cientistas buscar melhores condições de trabalho longe de suas origens. Há muito se sabe que a verdadeira ciência não tem pátria ou ideologia, muito menos credo religioso.

Para o pesquisador, debruçado e absorvido pela lida diária, o mundo à volta, com suas idiossincrasias é composto apenas de uma paisagem distante habitada por pessoas do mesmo modo distante. O fato cruel com crises econômicas prolongadas e agudas, como a que vem ocorrendo agora no Brasil, é que, a longo prazo e por motivos óbvios, o efeito deletério com a fuga de capital humano se faz sentir por décadas, aprisionando o país no ciclo perverso do subdesenvolvimento e do atraso eterno.

Estudo feito ainda em 2009, no ápice dos chamados governos bolivarianos, mostrou que a América Latina e o Caribe eram as regiões com maior número de profissionais altamente qualificados vivendo e trabalhando nos países desenvolvidos, principalmente nos EUA.

Naquela ocasião, o número de latino-americanos vivendo nos países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) era de aproximadamente 5 milhões de pessoas, ou 11,5% da mão de obra qualificada da região. Para se ter uma ideia, em 1990, 63 mil brasileiros qualificados trabalhavam em países da OCDE. Em 2007, esse número era de 218 mil, ou 2,3% da força de trabalho qualificada. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram fechados 115 mil postos de trabalho para brasileiros com o ensino superior completo e , também, incompleto em 2015.

Nesses últimos dias, tem chamado a atenção o caso da neurocientista Suzana Herculano-Houzel. Conhecida e respeitada em todo o mundo, a cientista, descobridora do número exato de neurônios no cérebro humano (86 bilhões) e da quantidade de dobras cerebrais existem nos mamíferos, declarou que em breve deixará o país, rumo à Universidade Vanderbilt, no Tennessee, EUA, onde ocupará a cadeira de professora no Departamento de Psicologia e Ciências Biológicas daquela instituição.

Depois de bancar pesquisas com ajuda de campanhas de financiamento coletivo e do próprio bolso, a cientista jogou a toalha e resolveu partir. “Não importa o quanto um cientista produza, o quanto se esforce, quanto financiamento ou reconhecimento público traga para a universidade — o salário será sempre o mesmo dos colegas que fazem o mínimo necessário para não chamar a atenção”, desabafou. Com ela partem também as chances de o Brasil ter alguma importância nessa área de pesquisa, considerada hoje como um dos maiores desafios da humanidade para entender nossa espécie.

 

A frase que foi pronunciada

“Uma análise mais apurada das Convenções de Sindicatos nos mostra claramente que as regras são muito mais patronais do que laborais. Lembrem que os trabalhadores doam um dia de trabalho. Mereciam ao menos mais consideração.”

José Rodrigues, leitor

 

Fluidez

Beatriz Oliveira elogia a logística na passagem da tocha por Brasília. Na Asa Sul, a vizinhança desceu animada e pela altura da 7 lá estavam todos. Fotos com os atletas, alegria, tudo sem tumulto. Diz a leitora que foi emocionante e que a volta para casa foi mais rápida que em dias comuns.

 

Durma com essa

Enquanto o país pega fogo, a Câmara cuida do projeto do deputado Flavinho que altera o Código de Trânsito Brasileiro, proibindo que passageiro alcoolizado seja conduzido no banco ao lado do motorista.

 

Eficiência

Tem muita gente procurando o juiz Marcel Maia Montalvão para ver se ele consegue a mesma eficiência para impedir o sinal de celulares na cadeia.

 

História de Brasília

Se o governador Leonel Brizola vier a Brasília ficará decepcionado. É que domingo, em seu discurso, disse que o Congresso decidiu das “escavações de Brasília” para todo o Brasil. (Publicado em 5/9/1961)

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