Categoria: ÍNTEGRA
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Brasília, a capital do país e onde se concentram brasileiros de várias origens, firmou-se, ao longo dos anos, como uma vitrine a exibir a síntese do que é o Brasil real na atualidade. Nesse retrato em preto e branco do país, centrado nesse pequeno quadrilátero no centro do Brasil, temos uma pequena amostra das nossas belezas e mazelas.
Como toda capital, nacional ou estrangeira, Brasília, nesses poucos anos de existência, já apresenta um conjunto complexo de problemas que reclamam providências urgentes e necessitam ser enfrentados de frente e com coragem. Entre as questões do mundo moderno merecedoras de atenção, uma se destaca e requer a atenção redobrada de nossas autoridades: trata-se do consumo exagerado — e põe exagerado nisso — de bebidas alcoólicas.
São milhares de bares abertos diuturnamente, espalhados por toda a capital, a oferecerem uma infinidade de bebidas alcoólicas. Esse tipo de consumo não conhece crise econômica. Para os adeptos do álcool, além dos bares e botecos, existem as distribuidoras de bebidas em cada esquina, as lojas de conveniência e os supermercados. A oferta desses produtos segue o consumo igualmente gigante e crescente. Não há limite de idade. Todos bebem — e bebem muito.
Em Brasília, mais de 26% dos adultos consumiram álcool de forma abusiva no ano passado. Tal disposição a esse tipo de consumo coloca nossa capital em segundo lugar, atrás apenas de Salvador, onde quase 30% da população consome álcool regularmente.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), trata-se de um verdadeiro problema de saúde pública a lotar hospitais e todo o sistema de saúde e a fomentar outro problema ainda mais sério, como a violência no trânsito e outros tipos de violência — crimes de roubo e de assassinato, por exemplo. Ganha ainda uma dimensão mais assustadora quando se verifica que o consumo abusivo de álcool vem crescendo entre as mulheres. É sabido que as mulheres morrem mais de problemas como hipertensão associada ao álcool. Em muitas capitais do país, incluindo Brasília, o consumo de álcool pelas mulheres dobrou, atingindo inclusive as menores de idade.
O pior é que a indústria do álcool faz cara de paisagem para o problema, assim como as autoridades, que fingem que ele não tem toda essa dimensão que a mídia divulga. De acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), o problema vem num crescendo preocupante, embora não se tenha notícias de programa oficial algum que busque combatê-lo. Não se fala no assunto nas redes de TV, nas escolas, em parte alguma. Trata-se de uma espécie de problema tabu, pouco ou nada discutido com a população. Talvez, por isso mesmo, os hospitais de centros de saúde estejam cada vez mais lotados de vítimas voluntárias do álcool. Além disso, esse pode ser o motivo da lotação em clínicas de saúde mental.
Aliás, o índice cada vez maior de casos de transtornos mentais na capital está ligado diretamente ao consumo exagerado do álcool pela população e, em especial, pelas mulheres. Entre 2016 e 2021, 3.227 pessoas morreram de causas ligadas ao consumo de álcool no Distrito Federal. O prejuízo econômico para a capital e para o próprio país é imenso. O pior é que os relatórios oficiais mostram uma realidade que está muito aquém do que acontece de fato na capital e no restante do país.
O alcoolismo é, para os especialistas no assunto, uma verdadeira bomba relógio contra a sociedade a minar a saúde física e mental da população, a consumir os recursos públicos de saúde e a fomentar a violência em todas as suas variantes.
A frase que foi pronunciada:
“Uma das coisas mais difíceis foi aprender que eu merecia a recuperação.”
Demi Lovato, sobre a luta contra o alcoolismo e drogas
Alto custo
O nome da farmácia reflete também o alto custo para os pacientes conseguirem a medicação. Não é possível que qualquer questionamento precise ser feito pessoalmente, tirando todos os envolvidos da sua rotina enquanto um simples telefonema resolveria tudo. Hora de rever a rotina de atendimento.
Força tarefa
Tanto no Plano Piloto quanto nas outras cidades administrativas, as faixas de pedestre não têm recebido manutenção. Na estiagem é o melhor momento para isso. Forma simples de dar mais segurança aos motoristas e aos pedestres.

Força
Terezinha Bleyer será homenageada na celebração dos 50 anos da Secretaria de Articulação Nacional (SAN) de Santa Catarina, no dia 15 do próximo mês. Bem antes de 1975, dona Terezinha já era a política em pessoa. Daquelas raridades que sempre têm o bem comum como objetivo.
História de Brasília
A Prefeitura, na hora do venha a nós, faz tudo. Ao vosso reino, nada. No que se refere a emplacamento de carros então, é um Deus nos acuda. O posto é na Velhacap, distante 18 quilômetros do Plano Pilôto. (Publicada em 8/5/1962)
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Tem crescido o número de pessoas que se dizem pessimistas não só com os resultados concretos da 30ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, como chegam até a apostar que essa Conferência seja de fato realizada na cidade de Belém do Pará, como está prevista para acontecer entre 10 e 21 de novembro próximo.
Reuniões de emergência têm sido realizadas para discutir não só os custos elevadíssimos, como a possibilidade de a cidade nortista apresentar, em tempo hábil, condições mínimas para a efetivação do evento. De fato, pelo que é mostrado nas diversas reportagens nacionais e internacionais, é que os custos previstos e bancados pela ONU estariam cinco ou seis vezes acima da ajuda proposta pelas Nações Unidas. De acordo com o que tem saído das reuniões do Secretariado da Convenção do Clima das Nações Unidas, os problemas são de diversas ordens, a começar pelos preços cobrados para a acomodação dos participantes. O número de participantes por delegações tem sido reduzido em prejuízo dos trabalhos.
Diante do que vem sendo exposto aos participantes, diversos países têm insistido para que a Conferência não seja realizada em Belém. Alguns hotéis da cidade, diante da oportunidade única, estariam cobrando até 15 vezes mais do que os preços normais, igualando espeluncas a hotéis internacionais de seis estrelas. Em resposta, o Brasil tem rejeitado mudanças de local, afirmando que “não há plano B”, mas garantiu que uma série de medidas está em curso.
Em 1º de agosto, foi anunciada uma proposta oficial para oferecer hospedagens “inclusivas e acessíveis”, com tarifas entre US$ 100 e US$ 600, priorizando delegações de países menos desenvolvidos. Além disso, cerca de 500 quartos em hotéis de Belém e Castanhal foram negociados com preços entre US$ 100 e US$ 300 para essas delegações. Para suprir essa demanda, estão previstas várias iniciativas. Navios cruzeiros, oferecendo cerca de 6.000 leitos. Conexões com Airbnb, escolas, igrejas, motéis, e uma “Vila COP” modular, como alternativa de hospedagem. Um dos projetos mais polêmicos é a Avenida Liberdade, uma estrada de 13 km construída através de um trecho protegido da Amazônia para melhorar o acesso a Belém. Apesar de planejada antes da escolha da cidade como sede, sua construção tem sido criticada por seu impacto ambiental e contradição com os objetivos da conferência. Outros investimentos incluem a expansão do aeroporto, revitalização do porto, melhorias no saneamento e mobilidade urbana, tudo voltado para receber o evento e reduzir gargalos logísticos. Há, no horizonte, um cenário de exclusão, não apenas com acomodações, mas com transportes, segurança, alimentação e outros quesitos.
Quem conhece a outrora aprazível Belém sabe que, hoje, a cidade não possui as mínimas condições para a realização de um evento mundial dessa magnitude.
O estado do Pará não possui infraestrutura adequada nem para atender a sua própria população. Para esconder o vexame, o governo federal vem destinando verbas bilionárias de emergência a serem utilizadas em obras que, segundo a população, buscam apenas maquiar e dar uma aparência de melhoria. Não há saneamento básico, os indicadores de educação estão entre os mais baixos do Brasil, a saúde pública é precária e alvo de várias denúncias, além disso o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Pará é um dos piores do nosso país. O que antes era uma realidade conhecida apenas pelos paraenses, já chegou a todo o Brasil e ao mundo, revelando os estragos.
Todo o processo de preparar, minimamente, a cidade para receber a Conferência tem sido realizado à toque de caixa, as denúncias de superfaturamento em obras emergenciais têm sido frequentes. O mundo sabe dessa situação, que coloca, mais uma vez, nosso país como inseguro e suspeito para a realização de eventos desse porte. As autoridades que fingem nada saber, mais uma vez, voltam a falar no falso legado da COP 30 que será herdado pelos paraenses. Se formos levar em conta os legados prometidos pela Copa e pelas Olimpíadas, os paraenses podem ir se preparando para mais um engodo.
A frase que foi pronunciada:
“Se não houvesse hotéis disponíveis, eles deveriam dormir sob as estrelas”.
Lula para os críticos da COP 30

Alto Custo
O nome da farmácia reflete também o alto custo para os pacientes conseguirem a medicação. Não é possível que qualquer questionamento precise ser feito pessoalmente, tirando todos os envolvidos da sua rotina, enquanto um simples telefonema resolveria tudo. Hora de rever a rotina de atendimento.
História de Brasília
A Prefeitura na hora do venha a nós, faz tudo. Ao vosso reino, nada. No que se refere a emplacamento de carros, então é um Deus nos acuda. O posto é na Velhacap distante 18 quilômetros.
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Há muito, a ciência deixou de ser um oráculo distante para se tornar um alerta constante. O aquecimento global, que antes parecia uma previsão para tempos distantes, instalou-se em nosso cotidiano com a violência dos desastres e a urgência de um ultimato. A temperatura da Terra sobe, os termômetros quebram recordes, os ciclos naturais se desorganizam, e a humanidade, com seus oito bilhões de habitantes, parece andar com um carámbano sobre a cabeça.
Não estamos diante de um problema técnico. A emergência climática escancara a falência de um modelo de desenvolvimento que insiste em confundir crescimento com destruição, progresso com esgotamento. Enquanto o planeta clama por responsabilidade, parte considerável da liderança mundial se entretém com a repetição cínica de velhos vícios: guerras inúteis, agricultura predatória, mineração selvagem, tudo embalado pelo discurso do lucro e pela indiferença de quem vê, na natureza, apenas recurso a explorar.
Ainda soa inacreditável que, em pleno colapso climático, haja países devotados ao desmatamento sistemático, à erosão da biodiversidade, à extração de combustíveis fósseis em áreas sensíveis, tudo isso sob a falsa justificativa da soberania econômica. O negacionismo climático já não se expressa apenas por palavras, mas por atos deliberadamente destrutivos, disfarçados de política de Estado.
No Brasil, o retrato é trágico. Incêndios em série, enchentes históricas, calor recorde, frio acentuado e uma sucessão de tragédias que deveriam bastar para mobilizar uma política pública à altura da crise. Mas não. As reações oficiais ainda se limitam a movimentos tímidos, muitas vezes cosméticos, como a criação de entidades burocráticas de nome sonoro e função incerta. A “Autoridade Climática”, por exemplo, surge como resposta tardia e genérica a um problema que se agrava em tempo real.
Fala-se em emergência climática em uma linha do telefone enquanto na outra linha emite-se a autorização a prospecção de petróleo na Foz do Amazonas e o asfaltamento da BR-319, em plena Amazônia. Ambos os projetos enfrentam oposição técnica, científica e ambiental, mas avançam como se o debate estivesse encerrado. O apetite desenvolvimentista, travestido de modernização, parece ignorar que há limites ecológicos intransponíveis.
Pior: o Brasil ocupa hoje o posto de maior importador mundial de agrotóxicos proibidos em seus países de origem. O “pacote do veneno”, aprovado no Congresso, é o maior sintoma de que o interesse de grandes conglomerados agrícolas se sobrepõe ao direito à vida, ao solo fértil e à água limpa. A agricultura, que poderia alimentar uma nação, e o mundo tornou-se vetor de contaminação ambiental em larga escala.
Exportações de alimentos brasileiros continuam a ser observadas na Europa, não por questões comerciais, mas por exigências mínimas de segurança ambiental. São boicotes que falam mais alto do que os discursos vazios de quem, em território nacional, insiste em tratar a pauta ambiental como um entrave ideológico ou um luxo de países ricos. No fundo, sabe-se que não é nem um, nem outro: é apenas uma questão de sobrevivência.
Velha conhecida da história brasileira, a mineração continua a abrir crateras nas entranhas do território, entregando riquezas a empresas estrangeiras que, como sempre, abandonam, atrás de si, um rastro de destruição e passivos ambientais impagáveis. Desde o ciclo do ouro, a lógica colonial do extrativismo não mudou, apenas ganhou tratores novos, propaganda moderna e a conivência de um sistema político ainda voltado para ganhos imediatos.
Monocultura, grilagem de terras públicas, o avanço sobre áreas de preservação, tudo isso integra um modo de produção que sacrifica o amanhã em nome do agora. E, ao contrário da economia, a pauta ambiental não elege ninguém. Por isso, segue invisível nas campanhas, nos debates e nas prioridades orçamentárias.
Enquanto isso, os sinais se multiplicam. Rios secam, cidades colapsam, zonas costeiras desaparecem. Mas a resposta política continua descolada da realidade climática. Entre relatórios técnicos e notas de repúdio, seguimos entorpecidos, como passageiros de um navio em rota de colisão.
Mais do que promessas é o que a emergência climática exige. Exige ruptura. Exige coragem para contrariar lobbies poderosos, para reverter subsídios danosos, para taxar o carbono, para proteger biomas inteiros proteger o que é precioso no solo. Exige, sobretudo, que a política deixe de ser cúmplice da catástrofe.
Ontem Lula e Marina estiveram em reunião para decidir sobre os vetos ao PL do licenciamento ambiental. Vamos acompanhar os resultados.
Enfrentar a crise climática é uma emergência. Não há mais tempo. Ou nos levantamos como civilização para encarar a realidade com a gravidade que ela impõe, ou aceitaremos, sem resistência, um futuro que será breve, tóxico e irreversível.
A frase que foi pronunciada:
“As leis da Natureza não mudam em função das nossas necessidades”
Marina Silva

História de Brasília
É a medida mais acertada, para solução de uma vez. 48 casas do BNDE não resolvem situação dos professôres, e o plano de construir 300 casas, sendo 150 êste ano, e 150 no próximo, dá caráter mais sério à solução, que é indicada pelo sr. Sette Câmara. (Publicada em 08.05.1962)
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A história não perdoa os que dormem enquanto o tempo corre. O Brasil, em suas últimas quatro décadas, parece ter cochilado no banco do passageiro enquanto outras nações aceleravam na estrada do desenvolvimento. Enquanto o mundo engatava marcha rumo ao crescimento com médias globais beirando os 117%, o Brasil avançava um tímido 45%, como quem tem pressa, mas tropeça nos próprios sapatos. Países como o Chile, por exemplo, avançaram quase 200% no mesmo período. Não se trata apenas de perder velocidade, mas de perder o rumo.
Tornamo-nos espectadores da própria estagnação. Em 1980, ocupávamos a 48ª posição no ranking de PIB per capita (em paridade de poder de compra) do FMI. Quarenta e cinco anos depois, caímos para a 87ª colocação. Um declínio silencioso, quase imperceptível no dia a dia da população, mas gritante, quando se observam os números. Em 1985, nosso PIB per capita (PPP) era de cerca de US$ 5.890. Em 2019, alcançamos US$ 25.150. Um aumento que parece expressivo à primeira vista, mas que empalidece diante da performance dos países da OCDE.
Enquanto isso, o Chile, que nos seguia de longe no século passado, ultrapassou-nos com folga. Seu PIB per capita (PPP), que era de US$ 3.412 em 1980, saltou para quase US$ 15 mil. Um crescimento de 339%, ante 327% do Brasil. A diferença? Menos retórica, mais ação. Menos Estado interventor, mais liberdade econômica. A Venezuela, por outro lado, serve como espelho sombrio: uma queda de mais de 68% no mesmo indicador, lembrando-nos de que o retrocesso não é apenas possível, é provável quando se insiste em fórmulas falidas.
No Brasil, o Estado continua crescendo em peso, mas não em eficiência. Nossa dívida pública, entre 2024 e 2025, oscilou entre 76% e 83% do PIB, uma das maiores da América Latina, cuja média ronda os 54%. A isso se soma a carga tributária elevada para quem paga, ineficaz para quem administra. Embora o índice geral tenha ficado em torno de 14,7% em 2022, a informalidade distorce a realidade. Para a classe média formalizada, o peso é sufocante. Os juros, por sua vez, orbitam em torno de 15%, consumindo 7 a 8% do PIB apenas com o serviço da dívida. Essa engrenagem emperrada transforma o Brasil em um país que trabalha muito para entregar pouco.
Ainda assim, insiste-se em políticas que acentuam o controle estatal, inibem a produtividade e desestimulam o investimento privado. A abertura comercial segue tímida, quase envergonhada, enquanto as reformas estruturais, tributária, previdenciária, administrativa, parecem eternamente proteladas. A hesitação custa caro: o capital foge, o emprego esmorece, a confiança desaba. E o país? Este continua correndo no mesmo lugar, como hamster em roda enferrujada.
A retórica de que “o Estado deve cuidar de tudo” perdeu fôlego até mesmo entre os países que a inventaram. Mas aqui, ressurge com sotaque populista, embalado por promessas que desconsideram a matemática e o tempo. O resultado é um ciclo vicioso: mais impostos para cobrir mais gastos, menos crescimento, mais dívida, menos liberdade econômica. Um país sufocado sob o peso de sua própria estrutura.
A projeção para 2025 é desalentadora. Com PIB per capita nominal estimado em US$ 11.200, estamos abaixo da média mundial (US$ 14.200). Não é apenas uma questão de número — é uma questão de destino. Não crescemos o suficiente sequer para manter nossa posição relativa no mundo. O risco não está apenas na estagnação, mas no retrocesso, como alertam os economistas e como ilustram nossos vizinhos bolivarianos.
Repetem-se discursos sobre “desigualdade”, “justiça social” e “redistribuição de renda”. Mas sem crescimento, não há o que redistribuir. Sem produtividade, não há riqueza a ser compartilhada. Sem eficiência, o Estado torna-se um buraco negro que suga recursos, esperança e tempo. A equação não fecha.
Há saídas, sim. Mas elas exigem coragem, visão de longo prazo e compromisso com o futuro, não só com a próxima eleição. Reverter essa trajetória exige reformas estruturais, responsabilidade fiscal, estímulo à competitividade e desburocratização real da economia. Não é ideologia. É sobrevivência.
O país que quer ser protagonista no século XXI precisa abandonar os vícios do século XX. Não há como construir o futuro com ferramentas do passado. O bonde do desenvolvimento pode até ter partido, mas ainda é possível correr atrás dele, desde que paremos de discutir quem puxa o freio.
A frase que foi pronunciada:
”O erro dos Países emergentes é pensarem que o seu desenvolvimento reside nos programas dos seus Governos, quando na verdade o progresso comunitário e a educação cívica coletiva são determinantes para o progresso social, político e econômico de uma Nação.”
Edgar Fonseca

História de Brasília
A Universidade de Brasília solicitou ao IAPI e êste à Novacap para que sejam abertas fossas “provisórias” para os blocos 4 e 7 da superquadra 305. Nada mais absurdo. Ou muda tudo ou não deve haver privilégio em detrimento de outros. (Publicada em 08.05.1962)
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É sintomático de nossa era o modo como tratamos as crianças. A infância, uma fase essencial ao desenvolvimento humano, tem sido comprimida, encurtada, empobrecida — e, em muitos casos, apagada. Ao contrário do que se poderia imaginar em tempos de avanços tecnológicos e maior acesso à informação, assistimos a um fenômeno alarmante: a corrosão da infância como etapa legítima, protegida e insubstituível da vida humana.
A espécie humana, ao longo de sua evolução, foi moldando-se a partir do prolongamento da fase infantil. Essa expansão do tempo de dependência e aprendizado, característica exclusiva do Homo Sapiens, permitiu o florescimento da linguagem, da cultura, das emoções e da inteligência social. Crianças que brincam, exploram, expressam-se e se sentem seguras são as sementes de uma sociedade mais justa, saudável e inovadora.
Entretanto, o mundo moderno parece seguir na contramão. O que antes era considerado tempo necessário para crescer tornou-se, para muitos, um luxo dispensável. A urbanização desordenada, a violência social, o consumismo e a lógica do desempenho precoce invadem a rotina das crianças. Submetidas a agendas sobrecarregadas, privadas de contato com a natureza e expostas precocemente às telas, muitas já não vivem a infância — apenas sobrevivem a ela.
A UNICEF alerta: “As experiências vividas nos primeiros anos moldam profundamente o futuro de cada ser humano. O cérebro infantil, sobretudo nos primeiros mil dias, estabelece cerca de um milhão de novas conexões por segundo. É nesse intervalo que políticas públicas devem intervir com maior intensidade”. Infelizmente, em vez de fortalecer essa janela de ouro do desenvolvimento, o Brasil vem falhando. O investimento público na primeira infância está aquém do necessário. Segundo relatório da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, apenas 0,47% do PIB é destinado à atenção integral à primeira infância, patamar considerado insuficiente para garantir impacto positivo a longo prazo.
Mas não é apenas nas planilhas do orçamento que a infância vai sendo reduzida. É no cotidiano banalizado da exploração infantil, no silêncio diante da evasão escolar, na omissão frente ao trabalho infantil que o país revela sua negligência crônica.
A ex-ministra do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, certa vez declarou que “a proteção da infância não é apenas um dever moral — é uma obrigação constitucional”. De fato, a Constituição de 1988 estabelece no artigo 227 que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à educação, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar. No entanto, quando se analisa o que tem sido feito em termos de políticas públicas estruturantes, o cenário revela uma distância brutal entre a letra da lei e a realidade das ruas.
Nos centros urbanos, a infância é comprimida entre o medo e o concreto. Nos rincões do país, ela é muitas vezes interrompida antes mesmo de florescer. Para os mais pobres, a infância termina cedo: meninos empurram carrinhos de recicláveis, enquanto meninas cuidam dos irmãos mais novos em casas improvisadas. São vidas que amadurecem antes da hora, roubadas do tempo do encantamento, do lúdico, do afeto.
Como consequência, surgem adultos que não puderam ser crianças. Indivíduos que cresceram sem o suporte emocional adequado, sem espaço para elaborar medos ou desenvolver autonomia. A psiquiatria já demonstrou a ligação entre traumas infantis e transtornos como depressão, ansiedade, transtornos de personalidade e até mesmo tendências violentas. A infância desassistida não é apenas uma injustiça; é também um risco social.
Num recente fórum internacional sobre juventude, a psicóloga chilena Neva Milicic afirmou: “A criança que cresce sem brincar é um adulto em potencial que não aprendeu a criar saídas. O brincar ensina a resiliência, a negociação, a empatia”. Ora, se é no brincar que se desenvolvem as principais habilidades para a vida em sociedade, o que esperar de uma geração criada à base de tarefas exaustivas e isolamento digital?
A neurocientista canadense Adele Diamond defende que “as funções executivas mais complexas do cérebro — aquelas que nos tornam humanos — começam a ser moldadas nos primeiros anos de vida, e dependem de experiências ricas e afetuosas”. Isso nos leva à constatação de que investir na infância não é caridade. É, antes, a mais inteligente e estratégica política de desenvolvimento.
Se quisermos um país menos desigual, menos violento e mais equilibrado, precisaremos começar pelas crianças. Não apenas em slogans, mas em ações concretas, investimentos duradouros e compromisso real com o futuro.
A Frase que foi pronunciada:
“Grande é a poesia, a bondade e as danças. Mas o melhor que há no mundo são as crianças.”
Fernando Pessoa, em “Liberdade”

História de Brasília
O senhor Martins Rodrigues, que reside em Brasília, e que daqui a pouco arrasta o pé , bem poderia patrocinar essa causa em benefício do Distrito Federal, com a autoridade de líder da maioria. (Publicado em 08.05.1962)
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Ainda não temos a exata medida da revolução trazida pela Inteligência Artificial (IA). O que se sabe até agora vem de previsões, a maioria repletas de interrogações e de sinais de mau agouro sobre essa nova tecnologia. De fato, o século XXI parece que será moldado pela IA em múltiplos aspectos. Cientistas respeitados como o físico britânico Stephen Hawking alertam para o perigo que a humanidade enfrentará caso a IA venha a adquirir vontade própria aliada a uma competência extrema e sobre humana, capaz, segundo ele, de representar uma ameaça à própria existência humana sobre o planeta.
Em sua obra póstuma “Brief Answers to the Big Questions”, Hawking previu que a aprimoração da IA pode levar a humanidade a ser simplesmente ignorada e mesmo colocada em segundo plano, sendo então descartada como uma espécie superada. O fato é que a IA colocou o homem numa espécie de encruzilhada decisiva entre a salvação e a destruição. A questão aqui é como estabelecer uma espécie de regulação ética e desenvolvimento responsável para a IA, quando se sabe que a espécie humana é guiada por desejos, sendo um deles o desejo pelo poder e pela dominação.
Deste modo, estaríamos numa encruzilhada do tipo dialética, alimentando uma tecnologia que, no futuro, irá simplesmente nos destruir sem remorsos, sem choro nem velas. Talvez estejamos inventando um novo tipo de pólvora ou bomba atômica, que, mais cedo ou mais tarde, irá explodir a todos. Nas últimas quatro décadas, Peter Diamandis, empresário, médico e engenheiro, fundador da X Prize Foudation e da Singularity University, vem tentando entender que tecnologias irão moldar este século em que estamos. Para tanto, fundou a Singularity University orientada para pesquisar e responder a essa questão. Segundo ele, em pouco mais de uma década, o mundo, tal qual o conhecemos hoje, será totalmente irreconhecível. A principal ferramenta responsável por essa mudança será justamente a IA.
Nesse mês de agosto, Peter Diamandis estará presente no Rio Innovation Week (RIW), falando sobre esse tema. Ao contrário de Hawking, Diamandis é um ortimista em relação ao futuro com a ajuda da IA. O que temos em mãos é que a IA, como toda grande revolução tecnológica da história, é ambivalente. Pode ser instrumento de dominação ou de libertação, dependendo de como a humanidade escolher usá-la.
Vejamos algumas das possibilidades concretas e positivas que a IA já começou a trazer e que, bem reguladas e dirigidas por princípios éticos sólidos, podem moldar um futuro promissor: a medicina personalizada e cura de doenças até hoje incuráveis é uma dessas esperanças. A IA já está revolucionando a medicina com diagnósticos precoces mais precisos do que os realizados por médicos humanos, detectando câncer, doenças neurodegenerativas e patologias raras com maior exatidão. Com o avanço de tecnologias como o machine learning, será possível desenvolver terapias personalizadas, criadas para o perfil genético de cada paciente, e prever surtos epidêmicos antes mesmo de se alastrarem. Na educação, em vez de um modelo de ensino industrial, que trata todos os alunos como iguais, a IA permitirá a criação de ambientes educacionais altamente personalizados, que se adaptam ao ritmo, estilo de aprendizagem e interesses de cada estudante. Isso pode levar à inclusão de populações tradicionalmente marginalizadas pela educação formal, como adultos analfabetos, pessoas com deficiência e comunidades remotas. Também, na redução drástica da pobreza, há esperanças. Com a automação de tarefas repetitivas e a otimização de processos, a IA poderá aumentar exponencialmente a produtividade em diversos setores. Se associada a políticas públicas inteligentes, isso pode significar maior acesso a bens, serviços e oportunidades e uma redistribuição mais justa da riqueza produzida, abrindo caminho para a redução da pobreza extrema em muitas regiões do mundo.
Na proteção ao meio ambiente, a IA pode ser utilizada para prever desastres naturais com mais antecedência, otimizar o uso de recursos naturais, monitorar ecossistemas ameaçados e desenvolver novas formas de energia limpa. Algoritmos já estão sendo usados para combater o desmatamento na Amazônia e para analisar os impactos das mudanças climáticas em tempo real. Na governança inteligente a IA poderá tornar a gestão pública mais eficiente, transparente e orientada por dados reais.
A corrupção poderá ser reduzida com sistemas de auditoria automatizados, e o planejamento urbano, saúde pública e segurança poderão ser otimizados com base em análises profundas e imparciais. No entanto, nada disso será alcançado por nossa espécie caso a IA venha a cair em mãos erradas. Para tanto, o alerta de Hawking não deve ser desprezado.
O poder da IA é tão imenso que, em mãos erradas ou sem controle, pode sim representar uma ameaça real. Algoritmos enviesados podem reforçar injustiças; sistemas autônomos de armas já estão sendo testados em zonas de conflito; e há o risco de concentração de poder nas mãos de poucas corporações ou Estados que dominem a IA. Por isso, mais do que discutir se devemos parar ou avançar, o centro da questão está no “como avançar”.
Ética, regulação internacional, educação pública sobre tecnologia e a formação de uma consciência coletiva global são elementos indispensáveis para garantir que a IA seja uma ferramenta de emancipação, e não de escravidão digital. Assim como aconteceu com as conquistas do fogo, da eletricidade e da energia nuclear, a IA é uma ferramenta. Não é boa nem má em si mesma. Tudo dependerá daquilo que faremos com ela. A presença de nomes como Peter Diamandis no Rio Innovation Week é um sinal de que o debate precisa ser ampliado, democratizado e, sobretudo, ancorado na busca por soluções que tenham o ser humano e o planeta como prioridade. A pergunta que fica é: seremos capazes de guiar essa revolução com sabedoria, ou seremos guiados por ela rumo à obsolescência? A resposta, por ora, ainda está em nossas mãos.
A frase que foi pronunciada:
“Estude o passado se quiser adivinhar o futuro.”
Confúcio

História de Brasília
De qualquer forma é, ainda, a cidade quem paga por tudo isto. O projeto de isenção de imposto de renda para lucros imobiliários, o código tributário, e outras proposições da Câmara. (Publicada em 08.05.1962)
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Observadores da cena internacional acreditam que o mundo caminha, nesta primeira metade do século XXI, para uma espécie de “socialismo de castas”, onde as elites cada vez mais empoderadas vão se eternizando no topo, com toda a espécie de direitos e privilégios, enquanto ao povo, essa histórica porção de ninguém, é dado como herança e destino um novo tipo de miséria, mais perniciosa e não menos desumana. Tanto a Europa como, no nosso caso, o Brasil assistem essa realidade advinda de um globalismo niilista, que vai, aos poucos, destruindo a democracia clássica em nome de uma falsa igualdade.
Trata-se aqui de reconhecermos uma realidade poderosa que sintetiza um sentimento crescente de que os valores democráticos clássicos, como liberdade, mérito, mobilidade social, estão sendo lentamente substituídos por um sistema autoritário disfarçado de justiça social. O que vemos aqui é um novo tipo de socialismo, mais adaptado ao nosso século e a um mundo superpopuloso e inquieto. A ideia de socialismo de castas expõe também uma contradição: em vez de eliminar desigualdades, o sistema as congela como deseja o globalismo.
O discurso da igualdade, quando instrumentalizado por elites políticas e econômicas globalizadas, acaba servindo como véu para manter seus privilégios intactos, enquanto impõe ao povo uma “igualdade na miséria”. Não se trata aqui do socialismo clássico, mas de uma versão tecnocrática, centralizadora, niilista — sem valores transcendentes, sem verdade, sem limites éticos, em que tudo é relativo, exceto o poder de quem já o detém. O que está posto aqui projeta para um futuro próximo o que é hoje, no presente, a realidade de países como a Venezuela.
Essa nova elite transnacional, formada por grandes corporações, organismos multilaterais e lideranças políticas, supostamente progressistas, defende uma ordem mundial onde o indivíduo é reduzido á estatística, o Estado nacional é esvaziado, e a cultura local é vista como obstáculo à padronização social e econômica. Isso constitui um niilismo poderoso que vai rompendo paulatinamente com qualquer base moral objetiva: tudo é permitido em nome de uma suposta e ilusória inclusão e progresso. É o progresso não para a melhoria na qualidade de vida da sociedade, mas que a arrasta literalmente para um mundo distópico e já sem esperanças.
Na Europa, o discurso igualitário avançou ao ponto de se tornar um instrumento de controle ideológico. Países como França, Alemanha e Suécia vivem crises internas com o multiculturalismo imposto, a erosão da cultura nacional e a criminalização do pensamento divergente. A promessa de igualdade e integração se transformou em zonas de exclusão social, guetos e insegurança. Além disso, a burocracia da União Europeia, distante da realidade dos povos, impõe regras ambientais, econômicas e culturais que favorecem grandes conglomerados e limitam a autonomia dos cidadãos comuns. Assim, a mobilidade social é engessada e a elite política permanece girando entre os mesmos nomes, partidos e interesses, numa pantomima ensaiada que vai, aos poucos, solapando a vida social, econômica e política como a conhecemos.
No Brasil, essa lógica se manifesta também de forma ainda mais perversa. Políticas públicas mal planejadas, sob o pretexto de “inclusão”, criam dependência estatal em vez de emancipação cidadã. O bolsa família é hoje um verdadeiro labirinto sem saída e que vai aprisionando o cidadão ao Estado. A elite política brasileira, muitas vezes aliada a ONGs internacionais e à grande mídia, perpetua sua influência sob o discurso de “representatividade” e “diversidade”, enquanto entrega a população a um sistema educacional falido, violência urbana crônica e oportunidades restritas. Tristes tempos esses em que o mundo e o homem vão perdendo sua identidade em nome de projetos que não são os seus.
Com essa nova realidade que vai se impondo, a meritocracia passa a ser demonizada como “elitista”, enquanto privilégios de castas burocráticas, como no caso de magistrados, políticos, altos funcionários seguem intocados. Cria-se, assim, um abismo intransponível: de um lado, uma elite protegida e globalizada; de outro, um povo sufocado, rotulado e manipulado. A destruição da democracia clássica, como a conhecemos, vai sendo posta de lado, como coisa do passado. A democracia clássica se baseava na alternância de poder, na liberdade de expressão, na igualdade perante a lei e no Estado de Direito. Tudo isso está sendo minado por esse globalismo niilista, que substitui o debate aberto por narrativas únicas, a autonomia nacional por tratados internacionais e o cidadão por uma massa homogênea de “clientes do Estado”.
Essa nova ordem se legitima por meio do medo, das pandemias, do clima e do discurso “de ódio” para justificar o controle crescente. O objetivo não é eliminar desigualdades, mas redistribuí-las de forma a manter a elite onde sempre esteve, blindada contra o povo e acima da lei. O mundo não caminha para uma igualdade verdadeira, mas para uma hierarquização disfarçada, onde a elite se apresenta como salvadora enquanto cristaliza seus próprios privilégios. A democracia só sobreviverá onde há liberdade real, e esta depende de pluralismo, responsabilidade individual e soberania. O desafio está lançado: ou resgatamos os fundamentos da civilização ocidental, com suas liberdades e limites, ou assistiremos à consolidação de um novo tipo de despotismo, tecnocrático, globalizado e sorridente, mais parecido com o mundo previsto por George Orwell em “1984”.
A frase que foi pronunciada:
“Você não pode escapar da responsabilidade do amanhã, fugindo dele hoje.”
Abraham Lincoln

História de Brasília
Como não haverá eleição no Distrito Federal, os próprios líderes se descuidaram do caso, e não procuraram apresentar , por êsse motivo, os nomes dos seus partidos. (Publicada em 08.05.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
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Crises, como já apontavam os antigos, abrem oportunidades para a criação de novas soluções e de novos caminhos. Essa situação vale, sobretudo, para aqueles que possuem imaginação e não se deixam guiar por pessimismos. Sun Tzu, autor da celebre “A Arte da Guerra”, já ensinava, no século V a.C., que a guerra é, além de um caminho para a sobrevivência, um meio de conhecer não só a si mesmo, como ao próprio inimigo, derrotando-o sem sequer lutar. Mas antes é preciso saber quando lutar e quando esperar. Sobretudo, é preciso não blefar, desafiando um oponente reconhecidamente superior e mais forte.
Guerras não são jogos de cartas. Há sangue e humilhações. Para um bom estrategista, a maneira mais correta para avaliar os prós e contra de uma guerra é saber como outras nações trataram o mesmo assunto, a fim de evitar o pior. O problema é quando o comandante passa a ignorar os conselhos e o bom senso, deixando-se guiar pelo fígado e, pior, por uma questão que mistura bravatas e crenças políticas. Igualmente danoso é quando um líder resolve colocar sua salvação pessoal e política à frente dos legítimos interesses da nação.
É preciso entender que guerra, do tipo tarifária, pode ser tão mortal como guerras do tipo convencional. É preciso que se entenda ainda que, no nosso caso particular, com a taxação dos produtos brasileiros decretado pelo governo americano, a aceleração da derrocada economia nacional, produzida por essa decisão externa, vem a se juntar à crise econômica gerada por ação interna e exclusiva do próprio governo. Para um país como o nosso, manietado por uma severa crise econômica, resultado de anos de políticas desastrosas, a entrada de um fator externo deveria ser encarado com cuidados redobrados. O mais preocupante, contudo, é saber que, por interesses pessoais e estratégias mal formuladas, o governo brasileiro pensa em colher frutos em forma de votos, opondo-se frontalmente aos Estados Unidos, numa reedição transloucada dos tempos da guerra fria.
Para quem não entende o que está posto nesse momento, soberania e, antes de tudo, fartura de comida no prato, educação de qualidade e segurança pública eficiente, tudo o que não temos e que a cada tempo se mostra mais distante. O governo brasileiro parece ignorar completamente os princípios milenares de prudência e inteligência estratégica. Ao invés de buscar caminhos diplomáticos e negociar a partir de uma leitura realista das correlações de força, tanto econômicas quanto políticas, prefere confrontar os Estados Unidos, como se estivesse em um tabuleiro de bravatas ideológicas, e não em um cenário geopolítico real, de consequências concretas para milhões de brasileiros. A lucidez, que deveria nortear qualquer liderança em tempos de crise, tem sido substituída por uma retórica marcada por ressentimentos históricos e delírios de soberania, que não se sustentam diante da fragilidade econômica brasileira.
O país amarga estagnação, baixo crescimento, desemprego estrutural e perda de competitividade industrial. Em vez de concentrar esforços na reconstrução da economia interna e na ampliação de mercados externos, o governo acena com discursos de enfrentamento, como se isso, por si só, fosse suficiente para garantir prestígio ou votos. Mais grave ainda é o fato de que a crise econômica interna, já instalada por anos de erros sucessivos em políticas públicas, fiscais e de investimento, é agora potencializada por essa confrontação com a maior economia do mundo. O resultado? Uma tempestade perfeita: retração de investimentos, aumento da desconfiança internacional e, inevitavelmente, mais dificuldades para o setor produtivo brasileiro,especialmente o agroexportador, que depende diretamente do acesso a mercados estrangeiros.
A tentativa vã de “colher frutos em forma de votos”, atinge o cerne do problema e mostra um governo perdido em suas alucinações. A manipulação de crises internacionais como instrumento de fortalecimento político interno , algo típico de regimes autoritários ou de governos em desgaste, revela não apenas imprudência, mas também falta de compromisso com o bem-estar nacional. Colocar interesses eleitorais acima da estabilidade econômica é uma forma disfarçada de traição ao país. A guerra tarifária pode ter efeitos tão letais: fábricas fechadas, produtos encalhados, desemprego crescente e carestia nas prateleiras. E, em última instância, ela contribui para o desmonte silencioso da soberania real, que começa com a fome, passa pela desinformação e termina na apatia de uma população que não vê saída. Diante disso, o que se exige de um governo não é orgulho ferido, mas racionalidade estratégica, diálogo com os pares internacionais, como foi feito por vários países e, sobretudo, humildade para reconhecer os próprios limites. A crise pode, sim, abrir oportunidades. No caso do Brasil, em duas frentes: para aqueles que têm imaginação e coragem de governar para um povo ou para os que já tem um plano para confrontar a nação.
A frase que foi pronunciada:
“Os mercados em rápido crescimento – os BRICS e os Next Eleven – são a chave. O próximo bilhão de consumidores não virá dos EUA ou da Europa Ocidental – eles virão da Ásia, América Latina e África.”
Martin Sorrell

História de Brasília
5Sobre essas de travessia, há uma observação. Se as linhas fossem em diagonal seriam vistas a maior distância. (Publicada em 08.05.1962)
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É possível ao Estado tornar-se mais forte do que a sociedade e ainda assim conservar a democracia em toda a sua plenitude? Eis, aqui, uma questão que muitos têm feito, na busca de entender o Estado contemporâneo e suas vertentes atuais. De cara, é preciso notar que, nessa nova situação, o governo vive em função do próprio governo e não em função do cidadão.
Miguel Reale (1910-2006) considerava que, no Brasil, o direito civil começou a morrer com o surgimento do direito administrativo, ao regular a dependência das pessoas em função do Estado e, mais modernamente, em função do governo. Essa questão toda atrai para si outra de igual importância para o entendimento da liberdade cidadã: o fenômeno do estatismo. Esse, por sua vez, é cria direta de outro fenômeno que veio para antepor mais dificuldades à liberdade e que, nesse caso, é representado pela burocracia estatal, exercida por indivíduos com laços estreitos com o governo. A burocracia tolhe nacos da liberdade, tornando o cidadão refém ou dependente do Estado e das vontades do governo.
Os estados atuais tornaram-se instituições sofisticadas e complexas, nas quais a liberdade passou a ser um simples detalhe, dependente de uma infinidade de regras que, ao fim e ao cabo, colocam a liberdade no fim de uma fila de exigências. A situação é simples quando se pensa que, quanto maior o Estado, menor é o cidadão, e pequena a sua chance de encontrar a liberdade. A verdade é que a união do Estado com o governo cria um outro elemento, representado por um retorno saudoso e nada saudável do despotismo ilustrado, em que as autoridades se sentem imbuídas da missão de recivilizar a sociedade, tornando-a palatável aos novos tempos.
Por outro ângulo, nesse caso, a liberdade induz os indivíduos a fugirem da dependência. Antigamente se dizia que “quem aluga seu traseiro, não senta onde quer”. A dependência, induzida por políticas do tipo paternalistas, é um dos entraves à liberdade e um indutor do despotismo. A liberdade é o que é, e não pode ser amenizada apenas por conquistas materiais. A liberdade, em si, é um ato de independência. Há casos, porém, nos quais a liberdade é fomentada apenas pelo medo da servidão, e isso, convenhamos, não é liberdade. Não há dúvidas de que essa é uma questão central e profundamente atual: é possível manter a democracia plena quando o Estado se sobrepõe à sociedade, tornando-se mais forte que ela?
Em A Democracia na América, Tocqueville alertava para o risco do que chamou de “despotismo suave”: um Estado que, em vez de oprimir de forma brutal, cuida dos cidadãos como um pai benevolente, mas infantiliza-os ao ponto de retirar-lhes a autonomia. “O soberano estende seus braços sobre a sociedade como uma rede de regras sutis e complicadas… Ele não quebra as vontades, mas as amolece, dobra e dirige; raramente força a agir, mas, constantemente, opõe-se a agir.” Para Friedrich Hayek, em O Caminho da Servidão, o crescimento do Estado intervencionista leva, inevitavelmente, à perda das liberdades individuais. Ele via no planejamento centralizado uma ameaça à ordem espontânea da sociedade. Dizia ele: “Quanto mais o Estado planeja, mais difícil se torna para o indivíduo planejar”.
A crítica de Hayek ao estatismo ecoa na observação de que o cidadão se torna aos poucos refém do próprio Estado. Isaiah Berlin, em sua clássica distinção entre liberdade positiva e liberdade negativa, alertou para o risco de regimes que, em nome de uma liberdade “superior” (positiva), justificam a coação. Essa liberdade positiva, quando apropriada pelo Estado, pode levar ao autoritarismo. Ou seja: “A liberdade para o lobo é a morte para o cordeiro”. Essa frase ilustra como o poder estatal, ao tentar moldar a sociedade, pode sacrificar a liberdade de alguns sob o pretexto de proteger ou educar o coletivo, algo próximo do arcaico despotismo ilustrado.
Benjamin Constant, por sua vez, diferenciava a liberdade dos antigos (participação direta na política) da dos modernos (autonomia individual frente ao Estado). Para ele, “a liberdade é o direito de não ser submetido senão às leis, de não ser preso, nem detido, nem morto, nem maltratado de nenhum modo pela vontade arbitrária de um ou vários indivíduos”. Essa ideia reforça o ponto de que a liberdade é um valor em si, não uma concessão do Estado nem um subproduto do bem-estar material.
Hannah Arendt, em Origens do totalitarismo, lembra que a perda da liberdade começa quando o cidadão troca sua autonomia por segurança ou conforto, e que a burocracia é uma das formas mais sutis e eficientes de dominação. “A burocracia é o governo de ninguém, e, portanto, talvez o mais tirânico de todos.” A verdadeira liberdade, como ato de independência e não como simples ausência de grilhões, não pode ser administrada, muito menos concedida, por políticas paternalistas ou por um Estado tutor. A democracia plena exige um Estado limitado, transparente e controlado pela sociedade civil, e não o contrário. Quando o Estado cresce demais e passa a ditar os termos da liberdade, resta ao cidadão lembrar a lição de Étienne de La Boétie, em seu Discurso da Servidão Voluntária: “Resolvi apenas fazer-vos compreender que, para que deixeis de ser escravos, basta que não queirais mais sê-lo.”.
A frase que foi pronunciada:
“O país estava em perigo; ele estava colocando em risco seus direitos tradicionais de liberdade e independência ao ousar exercê-los.”
Joseph Heller, no livro Catch-22

História de Brasília
A 22 de novembro do ano passado, o sr. Raniere Mazzilli promulgou a resolução 63, que altera o regimento interno da Câmara dos Deputados em diversas partes, e criou, nessa oportunidade, a Comissão Permanente do Distrito Federal. (Publicada em 8/5/1962)
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Sendo o único animal que se move por interesses, o homem é, por conseguinte, um ser negociador. A política é, em si, a arte de negociar acordos, estabelecendo pontes. O impasse enfrentado, agora, pelo Brasil com a taxação imposta pelos americanos aos produtos de nosso país, é a prova inequívoca de que negociar é tão importante quanto respirar. É, nesse ponto, quando a maré baixa, que vemos quem de fato estava nadando nu.
Fosse colocado como pré-requisito aos candidatos ao governo o notório saber nas artes de negociar, em todas as suas vertentes, quer seja na política, nos tratados econômicos, nos mercantis poucos ou quase nenhum de nossos candidatos às eleições atenderiam essa exigência. O fato é que o bem-estar da população vem do direcionamento correto nas negociações. No caso do Estado, as negociações são feitas para atender as necessidades reais de sua população, e não para as pretensões dos governos. Não por outra razão, os países que mais se destacam na qualidade de vida dos seus cidadãos são, justamente, aqueles que têm sob seu comando pessoas dotadas da habilidade da negociação. Países que não têm em seus governos dirigentes que saibam negociar, ou nada entendem desse mister, são justamente aqueles em que as populações são as mais atingidas por crises cíclicas e profundas.
Negociar, antes de ser uma ciência humana, é uma arte delicada, em que é possível encontrar o ponto de equilíbrio entre interesses diversos e diferentes. Só a boa negociação torna o negócio rentável, embora se saiba que, na verdadeira negociação, todos acabam ganhando. O que fez do Itamaraty o que ele era nas relações internacionais foi, justamente, essa capacidade que os representantes do Brasil tinham de bem negociar. Hoje, essa fama ficou no passado, substituída por variantes outras, como conceitos moldados em argamassa, o que não propicia riqueza e, sim, dependência.
À luz de fatos concretos recentes, divulgados pela imprensa econômica e por agências de comércio internacional, é notório que, nos últimos meses, os Estados Unidos anunciaram, oficialmente, novas tarifas sobre produtos importados do Brasil, com destaque para o aço e o alumínio, setores historicamente sensíveis. A justificativa americana, como de praxe, é de “segurança nacional e protecionismo econômico”, mas há claros elementos geopolíticos e de pressão comercial em jogo. Em alguns casos, o Brasil foi equiparado a países como China e Rússia, no que diz respeito a barreiras tarifárias, o que é um indicativo preocupante de perda de prestígio diplomático.
Segundo dados da ComexStat e do Ministério da Indústria e Comércio, em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 4 bilhões em produtos metálicos aos EUA. Com as novas taxações, parte significativa desse comércio se tornará inviável, o que pode levar à perda de milhares de empregos na cadeia industrial brasileira e à retração em polos siderúrgicos importantes, como Minas Gerais e Espírito Santo. Enquanto alguns países, como México, Canadá e Coreia do Sul, conseguiram renegociar, ou pelo menos adiar a aplicação de tarifas unilaterais por parte dos EUA, o Brasil tem se mostrado desinteressado em buscar soluções diplomáticas reais. O Ministério das Relações Exteriores emitiu apenas notas protocolares, e não há registros de ações contundentes de pressão junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) ou tentativas de construir coalizões diplomáticas multilaterais, como seria esperado em uma situação com tamanho impacto.
A condução da política externa brasileira tem sido reiteradamente eivada de desprezo. Isso transforma negociações comerciais em palco de confronto simbólico, e não em arenas de construção de consenso que dê segurança à população e aos investidores. Em vez de usar as instituições multilaterais, a diplomacia técnica e o pragmatismo, o Brasil tem optado por respostas retóricas e, até agora, ineficazes. As consequências para a população brasileira serão severas.
A médio e longo prazo, os impactos de uma diplomacia ineficiente recaem diretamente sobre a sociedade brasileira, na forma de desemprego em setores exportadores sensíveis; aumento da informalidade, especialmente, em regiões industriais; inflação decorrente da instabilidade cambial e perda de competitividade; isolamento comercial, dificultando a entrada do Brasil em cadeias globais de valor; além de uma diminuição de investimentos estrangeiros diretos, dado o risco percebido pelos investidores sobre a previsibilidade política e econômica do país.
Estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o Brasil perde até R$ 40 bilhões ao ano por não integrar acordos comerciais relevantes com países desenvolvidos, muitos dos quais são parceiros históricos dos EUA. Negociar nesse mundo globalizado é governar. Resta saber que interesses o atual governo tem para tirar o Brasil da roda. O país enfrenta o mundo com discursos, enquanto os demais países negociam com cláusulas, garantias, acordos e assinaturas.
Negociar não é sinal de fraqueza, é expressão de inteligência estratégica. O Itamaraty já foi referência global em diplomacia técnica, tendo desempenhado papel central em fóruns como a Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou nas negociações do Acordo de Paris. Hoje, essa herança foi desperdiçada. Se quisermos garantir prosperidade interna e relevância internacional, é urgente resgatar a arte da boa negociação, entendendo que, em um mundo interdependente, a soberania real é exercida com inteligência e diálogo, e não com trincheiras ideológicas e outras opções nada práticas. A questão é: há interesse em garantir a prosperidade do povo desta nação?
A frase que foi pronunciada:
“A ciência é inerentemente antiautoritária tal como a democracia. Ao contrário do que por vezes se julga, em ciência não existem autoridades, mas sim especialistas, pois apenas à realidade se reconhece autoridade para escolher entre hipóteses rivais.”
Timothy Ferris

História de Brasília
Um dos graves problemas do ex-Distrito Federal é o do trânsito. A cápsula que conduziu Glen Jr. Ao kosmos levou, do Galeão para a Cinelândia, um terço do tempo que gastou para uma volta em tôrno da Terra. (Publicada em 6/5/1962)

