Para que o caldo não entorne

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Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Cristobal Herrera/EFE

 

Enganam-se redondamente todos aqueles que acreditam e apostam que a denúncia, oferecida agora, pela Procuradoria-Geral da República, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas a ele ligadas, direta ou indiretamente, irá gerar benefícios políticos e outros ganhos eleitorais tanto para as esquerdas, como para o atual governo e sua base de apoio no Congresso.

Para início de conversa, essa denúncia, há muito dada como certa, elevará as polarizações, já por demais acentuadas, a um patamar imprevisível e de possíveis consequências para todos, igualmente. A primeira lição desse caso rumoroso não foi posta em prática. Qual seja, a postura de estadista exige sempre uma posição intransigente de pacificação do país. Rompida essa posição, resta esperar pelo pior. O primeiro e preocupante sinal foi dado dentro do próprio Congresso, com os ânimos de deputados e senadores escalando para um patamar de briga generalizada.

Na realidade não há clima para apaziguamentos. Coletadas todas as imagens existentes nesse caso – lembrando aqui que muitas foram propositalmente apagadas – e colocando-as em ordem racional, o que a mente, livre de radicalismos, consegue entender é que todo esse caso, desde o início, está muito mal explicado. Nesse ponto, caberá, aos futuros historiadores, separar o que é narrativa criada e o que são os fatos verídicos e incontestáveis. Por enquanto, o que se tem de certo é que a radicalização política, que permeia o país de cima a baixo, seguramente não é uma boa conselheira.

Outro engano é pensar que essa denúncia irá aplainar os caminhos da esquerda nas eleições de 2026. Para uma situação que vai se tornando explosiva a cada momento, caberia, às instituições do Estado, buscar meios de evitar que a crise anunciada ganhe ainda mais elementos perturbadores. Aqui e ali, observam-se movimentos que tendem a somar mais ingredientes à fervura.

Nesta quarta-feira (19), o STF colocou a última pedra sobre processos que pesavam sobre o ex-dirigente petista, Antonio Palocci, anulando todas as provas contra ele, como já fizera com relação à Odebrecht. Com isso, a Operação Lava Jato, que prometia uma virada do país rumo à civilização, está morta e enterrada. Na mesma onda se observa que o governo Lula é reprovado por mais de 55% da população ouvida pelo Paraná Pesquisas. Na região Sul, a desaprovação do atual governo alcança a marca de 67%. São números preocupantes. Também preocupante é a escalada dos preços dos alimentos, ao qual o governo insiste em tirar o corpo fora, pondo a culpa pela alta nos atacadistas.

Nesse mesmo cenário ocorre a indiciação de um ministro do Supremo nos Estados Unidos. A imprensa internacional tem repercutido esse caso. Dentro desse conjunto de confusões, a Transparência Internacional acaba de afirmar que o combate à corrupção no Brasil não interessa mais às autoridades e a ninguém. Isso quando nosso país apresenta um dos mais altos pontos no Índice de Percepção da Corrupção desde 2012. “O Brasil não conseguiu interromper e reverter a tendência de queda no combate à corrupção nos últimos anos, após o fim das investigações da Lava Jato ao invés disso, a corrupção continuou a se espalhar no Estado”, diz a TI.

Enquanto a situação vai se agravando, diversos juristas se unem para dizer que o STF não possui condições de realizar um julgamento estritamente técnico. Um desses juristas, advogado e professor de Direito Constitucional, André Marsiglia, afirmou agora que a crescente polarização da Corte compromete sua capacidade de análise imparcial em casos de alta relevância política, uma vez que essa Corte vem se politizando de tal forma que são poucos os temas que possa enfrentar. “Quando o STF somou, ali em 2019, 2+2 deu cinco, todas as contas passaram a ser erradas a partir de então”, diz o professor, para quem as ações dessa Corte vão ser sempre eivadas de vícios e de uma politização inevitável.

Alguém precisa dizer isto em alto e bom som. Também o doutor em Direito processual Penal e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Aury Lopes Jr considera errado que o caso Bolsonaro continue sob a análise do Supremo. Para ele, esse julgamento deveria ocorrer na primeira instância, já que Bolsonaro não ocupa mais o cargo público com foro especial no STF. Além disso, diz o jurista, é errado que o caso continue sob a análise do ministro Moraes, relator da investigação.

Para ele seria salutar para a credibilidade do STF que Moraes se declarasse suspeito, devido a seu intenso envolvimento na fase investigatória e também” por ter sido alvo do suposto plano desse grupo”. “Quando você é chamado a tomar várias decisões sobre o caso – como durante a fase de inquérito – e você tem que julgar esse caso, você está contaminado.” Diz. É toda uma sucessão e encadeamento de acontecimentos que irão exigir enorme responsabilidade de todos esses participantes para que o caldo não entorne de vez.

A frase que foi pronunciada:

“Desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal.”

Millôr Fernandes

Millôr Fernandes. Foto: Daniela Dacorso/Bravo (exame.abril.com)

História de Brasília

Na inauguração da Sucursal dos Diários Associados estavam presentes o Primeiro Ministro, Tancredo Neves, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, o prefeito Sette Câmara, o ministro Oliveira Brito, o lider da maioria Martins Rodrigues, e muitas outras autoridades. (Publicada em 26.04.1962)

Globalismo e globalização

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Ilustração: reprodução da internet

 

Poucos sabem, mas o fenômeno da globalização teve início ainda no século XV, com as grandes navegações, período em que a formação dos Estados Nacionais, sob o comando de um monarca e com o apoio de uma burguesia nascente, deu as condições materiais necessárias para a exploração de rotas marítimas e comerciais ao redor do mundo. Se, anteriormente, foram os meios materiais que propiciaram as grandes navegações, hoje, a globalização, tão discutida, faz-se graças aos avanços na área técnico-científico-informacional (comunicações e transportes), que reduziu o mundo à tão sonhada aldeia global, na qual a integração econômica veio num pacote fechado. A aldeia global tem seus benefícios, mas traz consigo problemas que passam a ser do tamanho do mundo, ou seja, problemas globais.

Com o advento do que os historiadores chamam de terceira Revolução Industrial (avanço da ciência, da tecnologia, da informática, da robótica e da eletrônica), o processo de globalização ganhou um ritmo alucinante, que, em parte, redundou na formação de mercados comuns, na proliferação de empresas transnacionais, consolidando de vez o capitalismo financeiro e gerando profundas transformações tanto no sistema econômico como na organização do trabalho. É fato que o processo de globalização, tanto a partir do século XV , como agora, atende muito mais aos países desenvolvidos do que o resto do mundo, gerando assim um novo e amplo processo de marginalização de boa parte da população mundial.

Nesse ponto, é necessário conhecer as diferenças entre o que é globalização e o que é globalismo. Se o primeiro trata de conexões comerciais, o segundo se refere a um fenômeno de caráter político, ligado também a um movimento de ordem ideológica, que busca, entre outras ondas de destruição, acabar com a cultura greco-romana-cristã do Ocidente, pela supressão da moral e tradição dessa parte do mundo, substituindo-a por conceitos que visam destruir a família, o sentido de pátria, a religião e todos os costumes que possam servir de obstáculo ao avanço de uma retórica de esquerda, sobretudo a concepção enraizada no Ocidente do individualismo, avesso às superestruturas, ou seja, ao Estado.

Problema aqui é que a globalização trouxe, à tiracolo, o globalismo, que nada mais é do que a configuração atual do marxismo. De fato, como muitos acreditam, a globalização econômica passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. A questão aqui não é de oposição da direita ao globalismo, mas de uma oposição racional ao irracionalismo. Não é destruindo fronteiras dos países, as raízes familiares e toda uma tradição e cultura milenares que será possível erguer algo novo e positivo sobre ruínas.

Na verdade, o que houve foi uma aposta temerária e feita no escuro quanto à globalização. Realizada, em parte por uma elite liberal avessa à ideia de nações e simpática a ideias marxistas desde que seu quinhão pudesse ser preservado. Para os trabalhadores, a classe na base da pirâmide a globalização significou a vinda de centenas de milhares, senão milhões de asiáticos entrando no mercado de trabalho do Ocidente. Trabalhadores altamente produtivos, mesmo ganhando uma pequena fração do que recebia o trabalhador ocidental.

Esses trabalhadores do Ocidente, que antes desfrutavam de vida, até certo modo cômoda, viram, de uma hora para outra, seu mundo dissolver. Empresas foram fechadas, outras, simplesmente,transferiram suas sedes para o Oriente, onde os trabalhadores são mais produtivos e disciplinados. O reconhecimento da China como economia de mercado, feito pelo governo brasileiro, mesmo contrariando recomendações, deu o passo inicial para a entrada daquele país em nossa economia, com os resultados que já conhecemos, como a destruição de nossa indústria têxtil, de calçados, de nossas empresas de tecnologia entre outros estragos.

A chegada da China ao Brasil, feita por motivos puramente ideológicos, provocou um intenso e prematuro processo de desindustrialização e de desnacionalização no nosso país. O Brasil se viu, de uma hora para outr,a de produtor da maioria dos bens aqui fabricados para importador de tudo, inclusive de pregador de roupas, pregos, lâmpadas e outros bens. Em síntese, como reforça o Instituto de Estudos para o desenvolvimento Industrial, o comércio internacional do Brasil com a China segue um padrão “centro-periferia”, onde o Brasil exporta predominantemente produtos básicos com baixo grau de processamento industrial e importa produtos manufaturados de maior intensidade tecnológica, exacerbando a trajetória de retrocesso industrial do país”.

Por outro lado, esses estudos apontam ainda que países em desenvolvimento dependentes de commodities permanecem presos por longos períodos em uma situação de baixo crescimento do PIB e fraco desenvolvimento socioeconômico, instabilidade macroeconômica, alta exposição a choques e à volatilidade dos preços internacionais das commodities, entre outros problemas.

É o preço que pagamos pelo misto de globalização e globalismo armazenados num mesmo container.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“A globalização encurtou as distâncias métricas, aumentando muito mais as distâncias afetivas.”
Jaak Bosmans

Jaak Bosmans. Foto: artequeepoesia.blogspot.co

História de Brasília
A inauguração, ontem, da sucursal dos "Diários Associados" de São Paulo foi motivo para uma reunião do alto mundo político nacional. (Publicada em 26.04.1962)

O incêndio das bandeiras

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A partir de 2026 em diante, quando a Reforma Tributária começar a entrar em vigor, terá início também o que pode vir a ser o fim definitivo do que conhecemos por República Federativa do Brasil, estruturada pela Constituição de 1988. Os entes federativos, como Estados, Municípios e o Distrito Federal terão suas autonomias e competências específicas diminuídas em alto grau, acabando, de vez, com a descentralização, o que vale dizer, com a própria identidade de cada um desses membros.

A questão é simples: ao centralizar, nos cofres da União, boa parte dos recursos captados em cada uma dessas entidades, direcionando-os prioritariamente para o Tesouro Nacional, Estados, Municípios e o Distrito Federal ficarão à mercê do bom humor do chefe do Executivo e do tipo de relação político e ideológica mantida com o poder central. Sem recursos para manter suas necessidades locais, essas entidades passarão a engrossar a fila de pedintes na porta do Palácio do Planalto e dos Ministérios. Com isso, aumenta também o grau de subordinação ao governo central, em desrespeito tanto às leis orgânicas locais, como à própria Constituição, já que o federalismo é uma normativa constitucional, gravada logo no seu artigo 1º.

A subordinação financeira acarretará ainda a subordinação política ao comando central, favorecendo cada vez mais a centralização do poder nas mãos do Executivo. Tirar o ICMS dos estados, que, numa análise rápida, representa 88% das receitas estaduais, e o ISS dos municípios, que representa, em média, 45% do que eles possuem para gastar com seus encargos, é a pá de cal na sepultura da federação. Sem dinheiro não pode haver um mínimo de atividade nos estados e nos municípios.

Para os partidos que possuem em suas diretrizes ideológicas a centralização do poder numa legenda única, essa reforma vem como uma luva em seus intentos, pois decreta o fim da pluralidade, obrigando os entes federados a viver de mesadas, distribuídas de forma assimétrica e sem critérios objetivos.

Para um país continental como o nosso, com imensa diversidade cultural e geográfica, com seus problemas próprios, a Reforma Tributária irá trazer uma espécie de pasteurização política, eliminando a pluralidade na tentativa de recriar um país cuja identidade é aquela desenhada pelo poder central. A própria história do país terá que ser recriada de acordo com as novas diretrizes da União. Pluralidade e divisão do poder é o principal pilar da democracia. Sem essas bases primárias o que se tem é tudo, menos democracia.

O espantoso é verificar que nenhum país democrático do Ocidente possui um modelo de centralização tributário como esse que entrará em vigor em 2026. Também pudera, nenhuma democracia digna do nome resistiria à tamanha centralização de poder nas mãos de uma só pessoa ou grupo hegemônico. Nesse ponto, o que estamos assistindo é a repetição da vexaminosa queima das bandeiras estaduais, realizada na Praça Roosevelt, no Rio de Janeiro, em 27 de novembro de 1937, por ordem do então presidente Getúlio Vargas.

Naquela ocasião, as bandeiras dos estados foram solenemente cremadas, pois haviam sido abolidas pela constituição autoritária daquele ano, que concentrava, nas mãos de Vargas, todo o poder de restringir a autonomia dos estados, nomeando, para cada um deles, um interventor antenado com o poder central. Nessa ocasião ,os partidos foram abolidos e estabelecida também a censura prévia aos meios de comunicação, com prisões em massa de opositores e outras medidas autoritárias.

Na verdade, o que está em jogo agora com essa reforma é o futuro dos brasileiros, a autonomia e pluralidade de cada recanto deste país, em nome de um genuíno confisco de receitas. Quem enxerga todos esses problemas na mencionada reforma não é esta coluna, mas todos os grandes nomes ligados à questão tributária, que vêm alertando políticos e todos que podem de alguma maneira intervir nessa questão.

Não há dúvida de que essa reforma irá provocar um desvio federativo irreversível, entregando mais de 5 mil municípios às vontades e veleidades de um comitê gestor, que nada mais é do que o próprio governo central. Quando o peso da maioria cede lugar a uma minoria interessada apenas em seus benefícios imediatos, a situação tende, como já vista, a regredir ao ano fatídico de 1937.

 

A frase que foi pronunciada:
“Quem não aguenta o trote não monta o burro.”
Getúlio Vargas

Getúlio Vargas. Foto: memorialdademocracia.com

História de Brasília
O deputado Esmerino Arruda arrombou o depósito, de lá retirando grande quantidade de leite, distribuido demagogicamente entre a população pobre. (Publicada em 26.04.1962)

Para além da caverna

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Platão e Sócrates. Imagem: reprodução da internet

Chega a essa coluna o livro “Platão e a Lenda do Quinto Império”, da editora Thesaurus, escrita a duas mãos por Rubi Rodrigues e Jônatas Rodrigues. A obra trata, como é mister da filosofia, da faculdade humana de pensar. Uma atividade natural, mas que nesses tempos conturbados tem sido pouco ou nada utilizada por aqueles que poderiam resolver grande parte dos problemas atuais. É justamente essa falta de discernimento de nossa classe política que nos tem conduzido e mantido presos no vale das crises institucionais.

A filosofia, como ensina a história, foi uma atividade nascida nas praças públicas da Grécia Antiga (Ágoras) entre o final do século VII a.C e o início do século VI a.C. Eram nesses espaços públicos, que os cidadãos gregos, impulsionados pelo ócio contemplativo, debatiam acaloradamente temas que ainda hoje são de grande interesse para humanidade, (fenomenologia).

Para os autores do livro, apesar dessa pouca atenção que se tem dado hoje a faculdade de pensar, cuja  preocupação ficou restrita apenas aos acadêmicos, atualmente estão postas ao alcance de todos as condições culturais e tecnológicas para que a humanidade passe a experimentar um novo ciclo do pensar criticamente o mundo ao seu redor e o papel do homem contemporâneo nessa encruzilhada que nos coloca diante de desafios como o da própria sobrevivência.

A Ágora moderna pode ser personificada como as redes sociais da Internet, cujo alcance mundial tem servido à difusão dos grandes temas que afligem o planeta nesse instante. De fato, a polarização política, vivenciada hoje no Brasil e nos Estados Unidos, é fruto dessa ação passiva do não pensar e que tem nos levado ao extremismo e a radicalização que culminou tanto em nosso caso, como nos Estados Unidos com atentados contra o presidente daqui em 2018 e norte americano em 2024.

Mesmo antes desses acontecimentos trágicos, já se assistia a uma certa retração com relação às armadilhas das ideologias radicais. Segundo os autores, o mundo presencia nesse momento a emergência de um novo modo de pensar que se espalha intuitivamente, induzindo as pessoas, ao menos, a saber claramente o que não querem mais. Para além das radicalizações, existe uma nítida evolução do discernimento humano, pois é claro que existe também um mundo muito além dos cercadinhos impostos pelas ideologias e que se estende para o infinito.

É justamente esse alargamento da visão e do discernimento humano com base, por enquanto na intuição, que vai preparando o caminho, neste início de milênio, que irá nos conduzir a uma conquista sem volta, libertando-nos das amarras ideológicas dos séculos passados. É esse quinto império, que segundo os autores, Platão apontou em seus estudos. O tempo em que poderemos contemplar o todo, entendendo a verdadeira constituição do mundo e da realidade, alcançando, enfim a maturidade inferencial, ou seja, feito com base nas informações que já possuímos para a interpretação do mundo e da realidade. Quem sabe, deduz essa coluna, com base nessa nova visão do mundo, não estaríamos também a beira de concluir que estamos todos imersos num fabulosa matrix ou uma realidade simulada por máquinas ou alienígenas. O que é fato e a obra aponta nesse sentido, é que estamos no limiar de uma era pós-ideológica. Aqueles como nós que tem tido a oportunidade de viver numa época de transição de século e de milênio, terão a chance de vislumbrar essa superação histórica do pensamento humano.

Sentados na popa do navio, com a lanterna em mãos, vamos visualizando os rastros deixados pelo barco nas águas do tempo. É nesse sentido que os autores dessa obra, em conjunto com outros pensadores, instituíram a Academia Platônica de Brasília para reunir os amantes do conhecimento, desejosos de entender os caminhos e destinos da humanidade.

 

A frase que foi pronunciada:
“Você é livre no momento em que não busca fora de si mesmo alguém para resolver os seus problemas.”

Kant

Imagem: reprodução / internet

SESDF
A fila para um neuro pediatra na Secretaria de Saude do DF conta com mais de 3.000 crianças em espera. Em compensação, falta pouco para se concretizar uma demanda antiga dos pais, para que professores tenham a oportunidade de receber formação específica para o atendimento a alunos autistas.

Foto: Raquel Morais/G1

 

TEA

Desde o ano passado, a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara aprovou o Projeto de Lei 3125/24, de autoria do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que prevê formação específica para educadores que lidam com alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O processo está em tramitação.

Imagem: reprodução da internet

 

História de Brasília
Por sua vez, o governador Parsifal Barroso pediu intervenção do Exército, que está guarnecendo o depósito, e não entrega o leite à Legião Brasileira de Assistência porque a presidente dessa organização é parenta do deputado Carlos Jereissati. (Publicada em 26.04.1962)

Para baixo do tapete

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Charge do Jota A

 

           Dos males que assolam nosso país, nenhum outro é mais devastador do que a corrupção. Isso porque ela engendra, na população, o veneno da descrença, que, por sua vez, induz a descredibilidade das instituições do país. E esse é um fenômeno que, praticamente, nasceu com o Brasil. Desde sua formação, ouve-se falar, no Brasil, de corrupção e má gestão dos recursos públicos. Hoje, como ontem, quaisquer pesquisas mostram que a população acredita que a maioria dos políticos nacionais são corruptos. O pior é que esse é um problema que vem aumentando com o passar do tempo, num ciclo que se repete ininterruptamente. Assim, temos que o incremento dos casos de corrupção vai aumentando na mesma proporção que o descrédito dos políticos e das instituições, além de contribuir para uma sequência sem fim de crises políticas.

          Praticamente, não há um dia sequer em que não se tem notícia de algum escândalo político, o que, de certa forma, faz com que esses acontecimentos passem a compor uma espécie de normalidade cotidiana. Não se pode negar que o ciclo de impunidade que acompanha esses casos serve como alimento também para sua perenidade ao longo do tempo. Como ainda não criaram uma Vara Criminal exclusivamente para tratar de modo imediato e definitivo cada caso de corrupção, o jeito é ir empurrando esse problema morro acima, como fazia o personagem da mitologia grega, Sísifo, que, depois de todo o esforço, tinha que suportar a desilusão de ver a enorme pedra rolar novamente para o sopé da montanha.

         A corrupção é essa enorme pedra no sapato dos brasileiros a decompor o Estado e a apodrecer suas instituições. Ficasse a corrupção restrita apenas ao universo político, haveria ainda uma esperança de combatê-la. Mas seus efeitos se estendem e minam por toda a parte, contaminando tudo ao redor, de alto a baixo. No entanto, é preciso notar que nenhum combate à corrupção pode ser eficaz se não for realizado de cima para baixo. E é aí que as coisas ficam complicadas se não impossibilitadas de prosseguir a bom termo. O que é preciso ter em mente é que nenhum país que tenha logrado se desenvolver plenamente, o fez sem antes debelar a corrupção dentro da máquina do Estado.

          Num país onde se assiste, desde muito tempo, atuações diversas dentro do próprio Judiciário, visando barrar ou anular as investigações contra corruptos e corruptores, não surpreende que o combate a esse flagelo seja por demais sobre-humano. Também merece ser mencionado o fato de que a classe política tem cuidado, desde sempre, de blindar-se a si e ao seus do alcance da lei, tornando essa tarefa de saneamento público um obstáculo de proporções ciclópicas. Não por outro motivo, o Brasil não sai da rabeira, quando o assunto é o ranking de corrupção entre os países do Ocidente.

         Observem ainda que, embora não muito mencionada, a corrupção é, dentro de diversos fatores causais, aquela que mais contribui para manter o Brasil no cercadinho dos países subdesenvolvidos e com baixos indicadores de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). De acordo com os últimos dados fornecidos pela Transparência Internacional, o Brasil voltou a chamar atenção nos índices de corrupção, com o maior destaque desde 2012, quando teve início essa série histórica. Dos 180 países que compõem o ranking, o Brasil passou da 96ª colocação em 2022 para a 104º em 2023, caindo agora 3 posições, indo para a 107ª posição da lista. Quase a lanterninha, entre os menos corretos. Nos últimos dez anos, o Brasil recuou 38 posições, figurando hoje ao lado de países como a Argélia, Turquia e outros.

         O Índice de Percepção da Corrupção (IPC) é considerado hoje como um dos principais indicadores do planeta nesse quesito e serve como uma espécie de cartão de visita do país. Ao verificar a posição do nosso país nesse ranking, cidadãos do mundo todo pensam duas vezes em fazer negócio com conosco, estabelecer parcerias ou, simplesmente, visitar-nos. Atrelado a essa péssima posição, vemos ainda que o fenômeno da violência, que torna nosso país o mais perigoso do planeta, é consequência direta também da corrupção endêmica. Tomando como parâmetros notas de 0 a 10, o Brasil aparece, nessa última avaliação, com a nota 34. Ou seja, nesse quesito, o nosso país recebeu agora uma nota vermelha, sendo mais uma vez reprovado nesse tema.

         Diante de uma situação inegável como essa, políticos da situação correram logo para criticar a avaliação da TI, acusando-a falsamente de crimes e tentando desqualificá-la, na tentativa de esconder o cadáver putrefato debaixo do tapete.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A indiferença das pessoas é o ambiente propício para o crescimento da corrupção”  

Delia Ferreira, presidente da Transparência Internacional.

Delia Ferreira, presidenta de Transparencia Internacional. Foto: Andrea Comas

 

História de Brasília

O deputado Esmerino Arruda arrombou o depósito, de lá retirando grande quantidade de leite, distribuido demagogicamente entre a população pobre. (Publicada em 26.04.1962)

Fundos sem fundos

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Charfge do Genildo

Volta a pairar no ar o temor de que os bilionários fundos de pensão, das principais estatais do país, mais uma vez, estejam experimentando toda uma sequência de escândalos de corrupção e má gestão desses recursos. Com isso, uma triste página de nossa história volta a se repetir, com os mesmos sinais de impunidade. E tudo isso, bem debaixo do nariz das autoridades, trazendo, mais uma vez à tona, todo um conjunto de crimes graves praticado contra uma classe trabalhadora, que, bem ou mal, tem apoiado o modo de gestão dessas empresas.

O que desta vez deixa escancarado para todos é que a falta de punição exemplar de casos pretéritos semelhantes pode estar estimulando a volta dessas práticas de dilapidação dos recursos destinados à aposentadoria dos trabalhadores das empresas estatais. É o déjà vu de um escândalo, cujas consequências voltam a recair não apenas nas costas dos trabalhadores, mas de toda a população.

Para se ter uma ideia, em 2024, os Correios registraram um déficit de R$ 2,1 bilhões. O que se fala dentro dessa empresa é que a situação financeira como um todo é de insolvência. Como sempre, a culpa pelos maus resultados é empurrada de um lado para o outro. Agora chegou a vez de pôr a culpa na taxa das blusinhas, para cobrir o déficit e aumentar a arrecadação. Obviamente que esses resultados, mais uma vez, irão refletir no fundo previdenciário desta estatal, o Postalis, que, ainda em 2015, obrigou os funcionários a cobrir um rombo de mais de R$ 5,6 bilhões.

Naquela ocasião, os trabalhadores foram obrigados a ceder 26% de seus salários para cobrir o rombo. Diante de uma situação que parece mais grave do que o divulgado oficialmente, deputados estão se articulando para montar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para investigar a recorrente má gestão nessa empresa. Passados 10 anos, a história se repete como farsa e uma afronta à nação. A questão toda não para por aqui. Não bastasse o fato de que os fundos de pensão estão sendo corroídos, esses fundos também estão sendo penalizados por más aplicações, apostando em títulos pouco ou nada rentáveis. Na mesma rota de ruína, esses fundos estão sendo obrigados a rever suas metas de rentabilidade, pressionado também pela inflação.

Não bastasse esse cenário de calamidade, muitos gestores desses fundos, a maioria, com estreitas relações com a esquerda sindical, voltou a estar no foco da Polícia Federal. Cientes dessa quebradeira anunciada, pensionistas, de algumas dessas empresas, sobretudo, aqueles que defendem o fundo de pensão do Banco do Brasil, a Previ, organizaram um manifesto em defesa desse fundo junto ao Tribunal de Contas da União. A ideia é não ser apanhado de surpresa com, mais um escândalo nesse fundo. Não apenas a Previ, mas outros grupos como a Associação Virtual dos Participantes de Fundos de Pensão Unidos (AVFPU), Associação Virtual dos Participantes dos Fundos de Pensão Petros (AVPP), Associação Virtual dos Participantes e Assistidos da Previ e Cassi (AAPPREVI). Para esses participantes é necessário fortalecer a segurança, a previsibilidade credibilidade do Regime de Previdência Complementar Fechada, visando futuro e perenidade.

Para esses defensores dos fundos, notícias dando conta de um novo aparelhamento dos Fundos de Pensão aumentam as chances de novos déficits e por isso solicitam urgência nessas auditorias. Os episódios danosos do passado e que ainda seguem sem punição tornam necessário acender uma luz vermelha sobre as gestões atuais dos fundos de pensão. De acordo com esses organizadores, existem, ao menos, 353 casos suspeitos que necessitam ser investigados, pois os prejuízos já andam na casa dos R$ 6,62 bilhões. O que é fato é que o TCU já aprovou auditoria sobre a gestão da Previ, depois que esse fundo contabilizou perda da ordem de R$ 14 bilhões, entre janeiro e novembro de 2024.

Mais uma vez, o aparelhamento dos fundos de pensão, por pessoas ligadas a partidos, reascendem as suspeitas de que, no caso dos fundos de pensão, estamos assistindo a uma volta a um passado que acreditávamos ter sido enterrado pela Operação Lava Jato, Greenfield e outras que mostraram a atuação de ratazanas na dilapidação do patrimônio dos trabalhadores das estatais.

 

A frase que não foi pronunciada:
“Caneta vermelha, vermelha caneta.”
Deputado estadual Manoel Gomes, pensando em outra versão de sua “música” de sucesso

 

Ontem e hoje
Valores, verdades, visão de futuro, posições jornalísticas. Vale a pena rever as entrevistas de Maluf, no programa Roda Viva, sobre a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança e do fim do tabagismo.

 

História de Brasília
Ninguém sabe quem tem razão, mas é uma vergonha o que está acontecendo no Ceará. Os americanos enviaram toneladas de leite em pó para distribuir entre as crianças mas estão mais preocupados com a luta política. (Publicada em 26.04.1962)

Pergunte às donas de casa

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Foto: Divulgação

 

Num mundo ideal, lugar distante muitas léguas de qualquer país de regime fechado, a gerência da economia, no que tange os produtos alimentícios, seria realizada diretamente por donas e donos de casa. Ainda não foram inventados melhores analistas de variação de preços desses produtos do que aquele representado pelos chefes de família, sobretudo os que se submetem voluntariamente a uma jornada diária e infinda em busca de melhores preços. Afinal, essa é uma tarefa vital para todos que buscam sobreviver dentro dessa selva hostil em que se transformou o mercado.

Obviamente, não por culpa dele próprio, como querem fazer parecer os técnicos do governo. Na verdade, o mercado, como região onde se cruzam oferta e procura, tem vida própria, só respondendo aos estímulos externos. No nosso caso, esses estímulos partem diretamente dos gabinetes instalados na Esplanada dos Ministérios que, por sua vez, são orientados por uma espécie de premonição paranormal, vinda do terceiro andar do Palácio do Planalto. Por mais complexas que sejam as fórmulas embutidas na economia para decifrar a variação ascensional nos preços dos alimentos, suas causas e efeitos, as donas de casa, que desconhecem ou desprezam essas fórmulas e outras teorias científicas, conhecem essa aritmética pela prática, apenas pela observação empírica exposta nas gôndolas dos supermercados e das feiras.

Há, ainda, outros reflexos nessa guinada dos preços rumo ao Olimpo, que são o aumento pela procura das xepas e por produtos com prazo de validade vencido ou prestes a vencer, também com alteração dos dados de validade, a diminuição das embalagens, o retalhamento de produtos, como carne, queijos e outros em embalagens menores, entre outras artimanhas. No Brasil, o real vale cada vez menos. Desde sua criação, em 1º de julho de 1994, nossa moeda perdeu quase 90% de seu poder de compra. A inflação no preço dos alimentos, mais do que perturbar o sono tranquilo das donas de casa, aflige o governo. Não pelo fato correto de que esse fenômeno afeta diretamente a vida dos brasileiros, mas pela simples razão de que o custo dos alimentos tem reflexo direto no humor dos eleitores e esse fenômeno pode abreviar a vida política de muitos.

Não fosse pela aproximação das eleições em 2026, a toada seguiria sem intervenções, indiferente aos reclamos das ruas. Desde sempre, os historiadores constataram que o motor que move as massas não utiliza como combustível as ideologias, mas, sim, o espectro da fome. O poder deletério da fome tem movido o mundo e destruído impérios.

De acordo com a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras), que reúne algo como 1.247 empresas supermercadistas em todo o país e, como tal, conhece de perto esse fenômeno cíclico do aumento nos produtos da cesta básica, o preço dos alimentos se apresenta muito acima do que foi divulgado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é outro problema sério. As donas de casa sabem desse fato por instinto e pelo bolso. Segundo a Abras, o café torrado aumentou cerca de 40%. O óleo de soja teve um reajuste de 30%. A carne aumentou quase 30% e o leite, tipo longa vida, teve um reajuste de aproximadamente 20%. Observem que esses são produtos que compõem a cesta básica. Com isso, a cesta básica deu um salto de quase 15% em 2024.

Em 16 das 17 capitais analisadas, a cesta básica ficou mais cara. Dizer que o vilão da cesta é o café, também não corresponde à verdade, uma vez que entre os ingredientes que contribuem acentuadamente para o aumento dos alimentos em geral estão fatores de ordem política. É a política econômica com elevação de impostos, subsídios, bem como o explosivo modelo de gastos públicos, que favoreceu o aumento da cesta básica. Com isso, segundo o Dieese, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ser hoje de R$ 6.657,55 ou 4,71 vezes o mínimo atual que é de R$ 1.412. O brasileiro tem que trabalhar em média mais de 100 horas por mês para adquirir uma cesta básica, comprometendo também mais de 50% do seu rendimento apenas para se alimentar.

Num apanhado geral, nem mesmo a abóbora, que veio em substituição à picanha prometida, escapou dos efeitos desses aumentos com um reajuste de 75% na primeira semana de 2025, com a abóbora seca custando, agora, R$ 3,15 o quilo. Até mesmo o halloween desse ano terá que ser cancelado.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“Eu não sei como os cientistas calculam os preços. O que eu comprava para o mês, agora, compro para duas semanas.”
Ilza Dourado, dona de casa

Charge de Jean Galvão

 

Caso sério
Várias partes da intersecção das faixas recapeadas na W3 Sul emendadas com as novas faixas exclusivas para os ônibus já apresentam esfacelamento, buracos e craqueamentos, tanto em direção ao norte quanto ao sul.

Fotos: Divulgação/SODF

 

História de Brasília
Enquanto isto, o diretor geral, Afonso Almiro, negase a transferir funcionários não se sabendo como será distribuída a cota de apartamentos daquele Ministério. (Publicada em 26/4/1962)

Ainda os puxadinhos

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Foto: Divulgação/ Seduh-DF

 

Brasileiros, e em nosso caso particular, os brasilienses, quando vão ao exterior, a primeira coisa que notam e admiram é a organização e limpeza das cidades. Na grande maioria dos países do primeiro mundo, suas metrópoles, mesmo com toda sua longa história, complexidade e intenso trafegar diário de pessoas e automóveis, dão-nos a impressão de que tudo parece estar em seu devido lugar, funcionando como um relógio suíço. A questão é: por que nossas capitais, com raras exceções, fogem tanto desse padrão urbano de organização, limpeza e vigilância? Na verdade, nossas cidades são um espelho do que é o terceiro mundo em geral, com suas contradições políticas e históricas, sua miséria e todo esse senso de abandono, que vai envelhecendo precocemente tudo à nossa volta.

Brasília, que até há pouco tempo era uma exceção à regra, também caminha a passos acelerados para envelhecer antes do tempo. A situação, aqui, é mais complexa. Mesmo ostentando o galardão de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco, é visível que a capital de todos os brasileiros e orgulho do modernismo na arquitetura, segue também rumo à condição inexorável de decadência. Não será surpresa se, num futuro próximo, esse título internacional venha a ser cancelado, dada a sucessão de alterações e erros impostos ao projeto urbano inicial, e também à permissividade, como algumas alterações são feitas, estão acelerando o processo de decrepitude de Brasília.

Para ficar apenas num exemplo básico desse abandono visível da capital do país e que vem ocorrendo em toda a área do Plano Piloto, observem como, de uns anos para cá, tem aumentado de forma exponencial o número de barracos de lata não só nas paradas de ônibus, como por dentro de todas das quadras e superquadras, tanto na Asa Sul quanto na Asa Norte. Nesses novos e improvisados estabelecimentos, é comercializado de tudo, desde alimentos até bugigangas eletrônicas. Alguns desses barracos de metal foram transformados, inclusive, em bares e restaurantes. Nos pontos de ônibus, principalmente ao longo das abandonadas avenidas W3 Norte e Sul, há quase uma centena desses barracos que vão se proliferando à vista de todos.

Os comerciantes desses puxadinhos urbanos não escondem que estão espalhados, em número cada vez maior, por todo o Plano Piloto, graças ao lobby e pressão dos deputados distritais junto ao GDF e à política de boa vizinhança entre o governo local e os políticos da cidade. Desse modo cria-se uma situação que, claramente, favorece apenas a classe política local, uma vez que essa é outra modalidade de troca de favores e concessões esdrúxulas, dentro do pernicioso modelo: de um voto e uma autorização. Trata-se aqui do antigo modelo: um lote, um voto, que vai se repetindo sob o olhar displicente dos brasilienses. Quem perde com toda essa descaracterização da cidade é o brasiliense, que assiste à perda paulatina da qualidade de vida da capital.

Infelizmente nossa classe política não possui a capacidade de entender a extensão desse problema no longo prazo para Brasília e seus habitantes. Insensíveis a essa destruição da cidade, aqueles que dizem representar a população continuam utilizando de expedientes populistas, mesmo que sejam nocivos aos brasilienses, apenas para atender seus horizontes curtos que chegam a cada nova eleição.

Infelizmente parece não existir um órgão independente de fiscalização capaz de pôr fim a esse retalhamento da capital em capitanias políticas. O que o brasiliense não pode tolerar é que as regras do bom urbanismo e de toda a urbanidade sejam oferecidas como uma espécie de moeda política, loteando o Plano Piloto com invasões que atentam contra o bom senso e as regras mínimas impostas pelo ordenamento da cidade.

Também não se pode sacrificar o projeto urbanístico de toda uma cidade, no altar do populismo, sob a desculpa de que isso serve como solução para o nosso complexo problema social. Há, sim, que resolver, da melhor maneira possível, o problema social, sem colocar em risco o futuro da cidade e de seus cidadãos. Já estão apontados o problema, seguem também as soluções. Que tal alocar todo esse comércio improvisado em trailer padronizados sob rodas, para que sejam retirados dos logradouros públicos ao fim do expediente? A cidade agradece.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“Meu sonho é viver e morrer em um país com liberdade.”
Juscelino Kubitschek

Lúcio Costa e presidente JK. Foto: arquivo.arq

 

Caverna
Uma pena ainda estar desativada a entrada subterrânea do Banco do Brasil no Setor Bancário Sul. Como o banco sempre se mostrou preocupado com a segurança dos clientes, poderia reativar o serviço.

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

 

História de Brasília
Com 20 mil processos aguardando tramitação, o Serviço de Comunicações do Ministério da Fazenda está com apenas 12 funcionários, quando dispõe de 300 no Rio. (Publicada em 26/4/1962)

Sentido da palavra

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Deportados dos Estados Unidos, em imagem divulgada pela Casa Branca                     Crédito: Divulgação/Casa Branca

 

Muitos fatos correlatos, pouco ou nada explorados e até propositalmente omitidos por muitos, deveriam ser objeto de honesta reflexão, por todos que se interessam pelos casos envolvendo as recorrentes deportações de brasileiros dos Estados Unidos (EUA) para o Brasil. A começar pelo simples detalhe de que todos os brasileiros que rumaram por livre vontade para os EUA o fizeram porque não encontraram, em sua própria terra natal, condições dignas de prosperar como indivíduo ou mesmo como trabalhadores.

A desesperança e a total falta de perspectivas são os motores que impulsionam os brasileiros a buscar um futuro melhor para si e para os seus lá fora. Gerações após gerações, os brasileiros puderam constatar, da pior maneira possível que, a cada ano que passa, a deterioração da economia em geral os empurra para fora do país. A escolha é entre ficar por aqui e viver desesperançado, trabalhando apenas para sobreviver no dia a dia ou ir em busca de um sonho de melhorar de vida num país onde as coisas acontecem de fato e as chances de um futuro garantido são infinitamente maiores do que as encontradas no Brasil.

É fato que esse tipo de escolha não é fácil e a decisão tem que ser o mais rápido possível, enquanto o indivíduo pode ainda contar com o ânimo e a força própria da juventude. É fato ainda que os brasileiros vêm empobrecendo a cada ano. Para muitos, a emigração é a única e talvez a última oportunidade de melhorar de vida e, portanto, vale a pena arriscar quaisquer meios para entrar nos Estados Unidos, inclusive com risco de perder a vida nessa aventura.

As imensas agruras daqueles que se aventuram a entrar nos EUA demostram bem até que ponto vale correr esses riscos para sair de um país eternamente envolto no submundo do desenvolvimento. Não adianta dourar a pílula com fantasias de que nossos emigrantes são apenas aventureiros sem causa. Cada um desses que saem do país sabe muito bem que o empobrecimento paulatino que vão experimentando é obra de um único personagem: o governo. São os governos que tornam os cidadãos pobres, e não quaisquer outros fatores naturais ou morais.

Com isso, cabem aos governos a criação de condições para que nossos jovens permaneçam em nosso país. Obviamente não com esmolas, mas com ferramentas para construir uma nova vida.

O fato de muitos virem de volta para o Brasil, algemados e acorrentados, demonstra ainda que eles retornam de maneira forçada e contra a vontade. Pudessem escolher em permanecer lá fora, a grande maioria nunca mais voltaria para o Brasil. Houvesse um sincero mea culpa, o governo, que tanto alarde fez com essas deportações, deveria se empenhar para melhorar as condições econômicas do país e com isso reter a fuga de nossos jovens para o exterior.

Ninguém nega o fato de que viver em outro país como forasteiro e imigrante exige grande capacidade e humildade para aceitar as manifestações de xenofobia, que existem e parecem aumentar com chegada de grandes levas de pessoas nos Estados Unidos. Viver como estrangeiro num país distante sempre gera muita dor. Mas, ainda assim, vale a pena, devido às péssimas condições e incertezas de nosso país. Não se enganem: fossem oferecidas condições oficiais de transporte e permanência de nossos jovens nos Estados Unidos, a maioria de nossos compatriotas, no melhor vigor de suas existências, deixariam o Brasil sem olhar para trás.

É isso que deveria ser motivo de preocupação desse e de outros governos. Em entrevistas, os retornados não escondem a decepção com a volta forçada. Muitos até confessam que, na primeira oportunidade, irão tentar novamente ingressar nos Estados Unidos. Não há nada de especial nessa onda de emigração. A maioria dos jovens sul-americanos faz o mesmo caminho em busca de melhores condições de vida na América do Norte, principalmente as populações submetidas a regimes totalitários.

O problema não são as algemas e correntes que os deportados são obrigados a carregar consigo no retorno. O problema real são as algemas e as correntes que aprisionam muitos latino-americanos a seus países, impedindo-os da liberdade e de ter algum futuro digno.

 

A frase que não foi pronunciada:
“Não vejam as algemas dos deportados como uma forma de degradação humana. Retirando as algemas, a degradação continua.”

Dona Dita vendo o noticiário

Foto: poder360.com

 

História de Brasília
O cine Brasília há vários domingos só apresenta filmes proibidos para menores de 18 anos. É o dia das crianças comparecerem ao cinema e estão sempre impedidas. O Serviço de Comunicações do Ministério da Fazenda está com mil processos aguardando tramitação. (Publicada em 26.04.1962)

Era uma vez, eram duas vezes…

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11/01/2017REUTERS/Paulo Whitaker

 

Antigo conto árabe, perdido no tempo, cujos título e autor, escritos na areia, foram apagados pelos ventos do deserto, narra a estória de um califa, cuja fama de injustiça e de buscar punições a qualquer preço rendeu-lhe o epíteto do mais cruel dos monarcas que já existiu naquele mundo encantado de outrora.

Certa vez, ao passar pela rua, um morador local foi atingido na cabeça por um pedaço de madeira que se desprendeu da moldura de uma janela. Ferido, foi então procurar reparação e justiça com califa local. Relatou-lhe o ocorrido. O califa, imediatamente, mandou chamar o marceneiro que havia construído aquela janela para puni-lo. Conhecedor das maldades do califa, o marceneiro, por sua vez, culpou a qualidade da madeira que havia adquirido de um vendedor próximo. O califa, sedento em julgá-lo, mandou trazê-lo rapidamente.

Como a fama de maldade do califa era conhecida mesmo em terras distantes, o vendedor da madeira em questão, logo acusou o lenhador, de quem havia comprado a mercadoria. Diante do califa, o lenhador, temendo por sua vida, pôs a culpa na qualidade do aço do machado, que lhe permitia cortar apenas madeira verde. O califa ordenou, então, que lhe trouxesse o fabricante do machado. Tremendo de medo e diante de um monarca que assustava até os animais irracionais, o fabricante do machado culpou o comerciante que lhe havia vendido ferro de má qualidade para a fundição da lâmina.

Então, o califa mandou vir o tal comerciante. Por sua vez, o comerciante do minério de ferro, sem pestanejar, acusou o minerador que morava nas cercanias da cidade. Trazido à presença do califa, o minerador pôs a culpa em sua própria mulher que havia brigado com ele e, como vingança, misturou o ferro com areia do deserto. Apanhada de surpresa e diante de uma situação inusitada como aquela e sem ter como explicar como havia feito tal vingança, a mulher ficou sem uma explicação razoável para o califa. O califa então ordenou: enforquem-na no parapeito da janela que causou o acidente.

Em um mundo, como o nosso, onde as aparências vão se confundindo cada vez mais com a realidade, estórias como essa, por mais absurdas que pareçam, podem servir de alerta para os desencontros entre os fatos e as narrações. De fato, nada é o que nos parece à primeira vista, ainda mais quando estamos predispostos a tomar posição guiados pelo ego ou pelo fígado. Estamos imersos num oceano sem fim de narrativas, naquilo que os estudiosos passaram a classificar como um tempo de prevalência da pós-verdade, ou seja, num momento em que a opinião pública, por interferências diversas, passa a reagir mais impulsionada pelos apelos emocionais do que pelos fatos objetivos em si.

Essa tendência atual de colocar em segundo plano os fatos, detendo-se nas crenças e nas emoções das massas, tornam a população e a opinião pública suscetíveis a todos os tipos de manipulações. Conhecendo bem esse momento sui generis de nossa sociedade é que os manipuladores têm tirado proveitos sem fim desse comportamento. Não é por outra razão que os políticos atuais buscam parcerias com os técnicos de propaganda e merchandising, para dar forma a seus discursos.

Por sua vez, esses técnicos em comunicação ensinam aos políticos como conduzir as massas para o lugar desejado, “ensinando-lhes como educar a população”, não, sem antes, culpar os adversários. Ao empurrar a própria culpa para debaixo do tapete, ou para algo, ou para alguém, nossos políticos, pelo menos os mais espertos, repetem o comportamento do conto acima, repassando suas culpas e erros, temendo o califa moderno que é a própria população e a sua sede de justiça a qualquer preço. No caso em questão, não seria por demais ilógico culpar o rapaz que utiliza a maquininha de remarcação de preços no supermercado pelo aumento atual dos alimentos. Se a culpa não é dele, deve ser do fornecedor da tal maquininha ou, quem sabe, daquele que inventou esse equipamento desumano.

 

A frase que foi pronunciada:
“Todo homem é culpado de todo o bem que não fez.”
Voltaire

Voltaire. Imagem: reprodução da internet

 

Molhar o Sol
Alguma razão deve haver para o caminhão pipa molhar as flores da cidade em pleno Sol das duas horas da tarde. Mas é bom repensar a rotina. Não faz o menor sentido.

Arquivo pessoal

 

Abusivo
Uma forma bastante arriscada é pagar pelo serviço antes de ser feito. No caso das agências de modelo que cobram com antecedência o trabalho, a promessa é clara. Você paga, mas há possibilidade de não ser chamado. A mesma coisa ocorre com os garotos do futebol. Os pais que precisam pagar pelos testes devem ficar atentos. Há treinadores e olheiros que não cobram para isso.

Foto: guiadobebe.com

 

História de Brasília
O que está feito aqui é de concreto armado e nem as britadeiras, nem as picaretas dos inimigos poderão destruir. A obra tem alcance superior. (Publicada em 26/4/1962)