Capital de lata

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Basta circular pelas principais ruas e avenidas do Plano Piloto para constatar a invasão de verdadeiro exército de lata, formado de quiosques de todo o tipo e finalidade e, agora, os chamados food truck. Eles tomaram de assalto a capital do país. Para uma cidade que se pretendia minimamente planejada, a multiplicação desordenada dessas estruturas metálicas fixas e motorizadas ameaçam qualquer pretensão de urbanidade e lançam, no terreno incerto do caos, uma metrópole que ainda integra o seleto rol dos sítios tombados pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Na ânsia de angariar simpatias (leia-se votos), as autoridades do poder público do Distrito Federal, incluídos o Executivo, o Judiciário e principalmente o Legislativo, de forma leniente e açodada, vêm permitindo que a cidade caminhe para se transformar numa gigantesca favela de folha de flandres, do tipo feira dos importados. Para tornar o processo ainda mais rápido, as normas regulamentando a invasão vêm sendo tocadas no melhor estilo fast food.

A comunidade segue desprotegida pela vigilância sanitária sem saber o que está acontecendo. O que surgiu como comércio provisório para atender necessidades pontuais, em pouco tempo se transformou em problema de grandes dimensões e caminha para se tornar situação irreversível, desordenada e caótica, capaz de inviabilizar de vez a gestão dos espaços públicos da capital.

Para o comércio local tradicional, a concorrência com o exército de lata pode ser fatal. No caso do food truck, a afirmação de que se trata de tendência mundial não significa nada. A conhecida precariedade dos serviços de fiscalização do Contran e da Anvisa serão, obviamente, estendidos a esses novos prestadores de serviços, transformando o que já é insuficiente em algo corrente.

Ao inchaço da capital, com a proliferação de invasões e de condomínios ilegais em terras públicas, com trânsito congestionado com mais de um milhão de automóveis entulhando as ruas, vem se somar, agora, o novo flagelo urbano representado por latas fixas e sobre rodas espalhadas por todo canto. O que hoje parece tendência ingênua e sem maiores consequências, aponta para um futuro em que Brasília pode se transformar num imenso mercado de lata a céu aberto.

 

 

Hermenêutica

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“Eventual decisão da Câmara dos Deputados pela admissibilidade do processamento do impeachment — de caráter essencialmente político, como sublinhado pelo acórdão do STF — em nada condiciona ou vincula o exame do recebimento ou não da denúncia popular pelo Senado Federal, visto que essa etapa já se insere no conceito de processamento referido na Constituição, de competência privativa do Senado”. Esse é o documento que vai gerar discussões no dia 16. Pela pena do dr. Alberto Cascais, da Advocacia do Senado, a afirmação é de que o Senado não precisa seguir a Câmara sobre o impeachment.

Lente

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De olho na Câmara Legislativa. Telma Rufino tem pressa para a apreciação do projeto aprovado pela Comissão de Assuntos Fundiários que propõe a desafetação de áreas públicas e autoriza a transferência de propriedade ou de direito de imóveis em diversas Regiões Administrativas do DF.

Muito bom

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De livros sobre cultivo de hortas em pequenos espaços até DVDs, com boletins de pesquisa, a estante virtual da Embrapa está em pleno vapor na comercialização de publicações que podem ser facilmente adquiridas no portal http://www.embrapa.br/livraria.

História de Brasília

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É lamentável que o sr. Juscelino Kubitschek não tenha comparecido a nenhuma sessão do Senado, quando o seu lugar deveria ser na cadeira que o povo lhe deu. E mais: sendo um líder nacional, sua palavra não poderia faltar quando toda a Nação vive uma tremenda onda de boatos e incertezas. (Publicado em 28/8/1961)

Traços e destino

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Curioso notar, nos traços de personalidade da presidente Dilma, comportamento singular para pessoa envolta por enormes turbulências provocadas pelo processo de impeachment. Na opinião daquelas pessoas que em algum momento conviveram com ela, Dilma nunca escondeu seu caráter voluntarista, com fortes doses de arrogância, próximas da mais pura falta de educação. Esse comportamento, pouco amistoso e desconfiado, granjeou ao longo do mandato um sem número de desafetos, em variados graus de descontentamento. Diferentemente da personalidade vaselina e escorregadia de Lula, para quem todos têm um preço, e de Fernando Henrique, para quem a melhor arma está no diálogo diplomático estilo professoral, Dilma tem talento nato para espantar as pessoas à sua volta, com grosserias e mandonismos semelhantes aos de uma criança mimada e birrenta.

Para alguns desses muitos destratados pela presidente, o comportamento grotesco de Dilma parece ter se originado lá trás, quando experimentou overdoses de tortura pelo aparelho de Estado. Nesse ponto, psicólogos são unânimes em admitir que sessões de torturas, como as sofridas pela presidente, têm a capacidade de deflagrar mecanismos internos de autodefesa duradouros, que, em algum instante da vida, afloram com mais intensidade, criando espécie de armadura externa e permanente, provocando na pessoa estado latente de sobreaviso com relação a todos em volta.

Especialistas no assunto concordam que dentro da sintomatologia desses casos, existe sim a ocorrência de patologia específica, originada do processo traumatizante de demolição da pessoa em seus valores e convicções básicas. A vítima de tortura experimenta ainda espécie de desorganização, conhecida como esvaziamento narcisista, em que sua identidade e história são arrancadas de forma traumática, deflagrando nela um tipo de interiorização do terror ou de ferida aberta, sempre pronta para sangrar.

No caso do Brasil, em que o regime presidencialista ainda não se livrou das origens históricas, e por isso mesmo é exercido de forma quase imperial, com absoluta concentração de poderes, qualquer comportamento psicológico do chefe do Executivo que foge ao padrão geral se reflete imediatamente na cadeia de comando, com resultados sempre inesperados e insólitos.

Inconscientemente, ou não, a performance da presidente Dilma à frente do Executivo reflete em maior ou menor grau as experiências sofridas ainda na época da militância clandestina. O pior nesse caso é que os torturados agora são os milhões de brasileiros que sofrem com um governo caótico e que terão, por décadas, de recolher os cacos todos dessa loucura.