O juízo do juiz

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Frank Caprio: juiz ganha fama na Internet.| Foto: reprodução

 

Há uma questão de grande importância a ser colocada no contexto atual do nosso país que poderia servir para uma reflexão e, quem sabe, para uma retomada de caminho e de comportamento de nossa classe de juízes. Eis a indagação: O que faz de um magistrado um juiz exemplar? No imaginário popular, um juiz é alguém dotado não apenas do conhecimento das leis e dos alfarrábios jurídicos, mas, sobretudo, da virtude de interpretá-los e usá-los segundo a realidade dos fatos e da pessoa ou situação humana, objeto da análise.

Como premissa dessa questão é preciso estabelecer que uma pessoa de má índole jamais poderá ser um bom profissional, em qualquer área que atue. Essa máxima serve também para juízes. Em outras palavras, é possível afirmar que o que faz de um magistrado um bom e justo juiz é sua capacidade de se colocar no lugar do outro, ou sua capacidade de jamais se afastar de tudo o que é humano.

Mais do que em outras profissões, o juiz tem em mente que tudo o que é humano lhe interessa e o aflige humanamente. A propósito, mais do que palavras, vale a pena buscar exemplos vivos desse modelo de juiz. Vejam o caso exemplar do juiz americano Frank Caprio, conhecido mundialmente pelo programa Caught In Providence, em que julga infrações de trânsito em sua cidade.

Em uma entrevista recente, falando de seus mais de 40 anos como juiz, ele lembrou da ocasião em que, no seu primeiro dia de julgamento, levou, todo orgulhoso, seu pai para assisti-lo. O caso envolvia uma jovem, mãe de três filhos e que simplesmente alegou que não poderia pagar a multa de trânsito, porque não tinha condições financeiras. Caprio, não gostando da resposta pronta da jovem mãe, condenou-a a pagar a multa.

Terminada a sessão da Corte, o jovem juiz quis saber de seu pai o que ele achou de seu veredito firme e racional. Em resposta, seu pai o repreendeu. Em seu primeiro dia como juiz, não teve olhos para a situação e realidade daquela mãe acuada e com três filhos para cuidar. A partir daquele episódio inesquecível, Frank Caprio tomou a postura que hoje o faz ser mencionado como “o melhor juiz do mundo” — ou seja, um juiz que não deixa que a capa de juiz lhe roube a condição fundamental de humanidade.

Os casos são acompanhados pelos mais abastados de todo o mundo que enviam cheques para que o juiz justo dê aos que precisam. São mulheres que avançam o sinal por causa de violência doméstica, um senhor de 90 anos que estacionou o carro em área proibida porque não tinha condições de carregar o filho de 60 anos fraco com o tratamento contra o câncer.

Aos juízes, mais do que qualquer outro atributo, cabe-lhe o juízo, essa condição humana que faz com que os seres humanos se harmonizem. Quando alguns juízes ficam alheio às forças vivas da sociedade, é porque pelo menos uma parte dos magistrados perdeu o contato com uma realidade maior do que aquela circunscrita dos gabinetes.

Toda essa questão a chamar a atenção para o Poder Judiciário vem não só a propósito da excessiva e espetaculosa exposição dos juízes da mais Alta Corte do país nos últimos anos, mas, sobretudo, por um detalhe que passou a chamar a atenção de todos e que foi confirmado pelos próprios magistrados: a incorporação dos matizes, da linguagem e das posturas políticas à corte. Quando a população e até parte da imprensa começa a suspeitar que a Suprema Corte tem adentrado por caminhos políticos em suas deliberações, é porque esse comportamento chamou a atenção do público por tê-lo atingido diretamente.

Para boa parte dos parlamentares, a Alta Corte vem demonstrando, seguidamente, um comportamento puramente político em suas decisões. Estudos feitos, recentemente pela AtlasIntel, demonstram que a maioria dos brasileiros vê motivação política nas decisões do Supremo. Isso é mais do que sintomático e requer uma retomada do caminho constitucional que cabe à essa Corte.

 

A frase que foi pronunciada:
“A minha luta é uma luta da verdade contra a mentira, do conhecimento contra a ignorância, da luz contra as trevas. Pretendo criar a era da convicção, da verdade, da decência, da dignidade, da confiança, do preparo, do conhecimento, da inteligência, da ciência e do entusiasmo.”
Enéas Carneiro

Enéas Carneiro. Foto: camara.leg

 

Atesta CFM
Até março de 2025, a plataforma Atesta CFM deverá ser, obrigatoriamente, utilizada por trabalhadores que usarem atestados médicos para justificar faltas. O site está disponível com as explicações detalhadas aos médicos, trabalhadores e empresas.

Foto: portal.cfm.org

 

História de Brasília
Ainda está em Brasília o dr. Vinícius, que veio fazer um levantamento geral da situação do Iapfesp. O dr. Vinicius procurará, certamente, a Novacap para saber porque não foi feita até agora a urbanização da 104 e 304. (Publicada em 17/4/1962)

Sem rasgar seda

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Ilustração: cointelegraph.com

 

         Um dos pilares mais importantes a sustentar e dar impulso ao livre empreendedorismo, ao contrário do que muitos imaginam, não está na economia, propriamente dita, mas na política. É na política e, mais precisamente, nas liberdades plenas de expressão e de manifestação que estão contidas as condições necessárias para o deslanche das atividades empresariais. Pontuado aqui sobre aquelas atividades empresariais que não usam o governo como muletas para seus negócios, ou a ele se associam para burlar princípios básicos da ética pública.

         O que temos visto, lido e ouvido, nesses últimos anos, é uma sucessão enorme de escândalos envolvendo empreiteiras, frigoríficos, e outras empresas nas negociatas do governo, sempre com prejuízos para os pagadores de impostos e lucros fabulosos para os envolvidos nessas operações escusas. A certeza da impunidade serve ainda para impulsionar essas atividades fora da lei, mostrando, aos maus empresários e todos aqueles que caem nessa cantilena das sereias, que esse é o caminho mais fácil para o sucesso. Obviamente, para a grande parcela dos empresários, que quer distância dessas facilidades promíscuas, a vida, aqui no Brasil, está repleta de desafios de toda a ordem, a começar pelo grande volume de encargos, que acabam roubando parte do lucro suado. O nome de uma empresa é seu grande capital. A questão aqui é que é preciso refletir muito quando se observa, que por suas características políticas próprias, perseguem ainda a ideia anacrônica de que o Estado, no caso o governo, é o principal indutor da economia e que o estatismo é a solução para a economia do país. O estatismo resolve os problemas dos políticos e não da política nacional de desenvolvimento.

         Dias atrás, um frentista, desses que sentem cada instante o cheiro de gasolina e álcool, ensinou, a um freguês engravatado e cheio de certezas, que o preço alto dos combustíveis não está necessariamente em nenhum arranjo de mercado ou algo parecido, mas reside no simples fato de que a empresa que produz esse produto não passa de um enorme cabide de empregos. Políticos e apaniguados que nada entendem do setor de petróleo. Difícil contestar.

         A situação do livre empreendedorismo no Brasil pode escalar para um patamar ainda mais complicado, quanto mais se estreitarem as relações do Brasil com as economias representadas nos BRICS, principalmente quando a China passar a dar as cartas abertamente dentro desse clube. Deixar de lado os Estados Unidos, onde as leis estão acima de todos, e as empresas não estão submetidas as vontades de governo, para se juntar a países onde os líderes políticos pairam sobre todos, inclusive acima das leis, será ruim para nossas empresas.

          Na China e na Rússia, assim como em todas as ditaduras, as empresas estão submetidas às diretrizes de governo e agem em acordo com essas diretrizes, dentro e fora do país. A notícia de que os BRICS estão prestes a lançar uma moeda própria, cujo objetivo vai além da economia, visando, sobretudo, desafiar politicamente o dólar americano e, com isso, resolver os problemas de bloqueio enfrentado pela Rússia, favorecendo ainda a China em sua ânsia de cominar os EUA, é ruim para nosso país. Entramos nessa disputa, matizada com as cores do comunismo, acreditando que sairemos fortalecidos economicamente, mesmo à custa de destruir as empresas nacionais. Mais do que um bloco econômico, o BRICS é um bloco político que visa destruir a maior economia livre do planeta, que são os EUA, substituindo o livre empreendedorismo regidos por leis justas, por empresas estatais, eivadas de corrupção, controladas por agentes do governo em nome de um partido único.

         A ideia da nova moeda, chamada provisoriamente de moeda digital emitida pelo banco central (CBDC), será debatida agora durante a cúpula do bloco que será realizada na China. É preciso lembrar que moedas trazem consigo a assinatura e o seguro de políticas fiscais e monetárias, além, é claro, de desafios gigantescos de ordem cultural e geopolítica. O governo brasileiro insiste em desconhecer que geografia é destino, ao pretender amarrar os destinos do Brasil a nações do lado do planeta e que nada possuem em comum com o nosso país. Basta responder com sinceridade as perguntas feitas pelo nosso presidente Lula sobre a rota da seda.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Nós vamos dizer: O que é que tem para nós? O que eu tenho com isso? O que eu ganho? Porque essa é a discussão.”

Lula sobre a reunião sobre a Nova Rota da Seda

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva – 08/08/2024 – Ricardo Stuckert/PR

 

História de Brasília

Ontem, durante nosso programa na TV Brasília, uma espectadora telefonou dizendo que a superquadra 105 estava sendo ajardinada porque o dr. Sette Câmara mora lá. Não é verdade, minha senhora. O dr. Sette Câmara mora onde deve morar o Prefeito, no Riacho Fundo, que é muito bem ajardinado e arborizado. (Publicada em 17.04.1962)

Superpopulação

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John Calhoun. Foto: Reprodução

 

         Na década de sessenta, o cientista behaviorista e etologista americano John B. Calhon (1917-1995) decidiu criar em laboratório aquilo que seria sua visão de um mundo superpopuloso. Era a sua versão pessoal do que seria um mini apocalipse, a partir do que acontece quando uma população tem tudo o que necessita para viver. O experimento chamado de “Universo 25”. Para tanto, ele criou um determinado espaço de 2,7 X 2,7 onde ratos e camundongos, aqui denominado “Universos de camundongos”, viveriam num mundo ideal, com comida e água à vontade, temperatura ideal, centena de ninhos e ausência de predadores. Seria como uma “utopia de ratos”.

         Formado inicialmente por quatro casais de camundongos, a população passou a dobrar de tamanho a cada 2 meses. Quando o experimento alcançou a marca de 620 ratos, os problemas surgiram de todos os lados. A escassez de espaço acelerava o desmoronamento dessa sociedade. Incapazes de encontrar seu lugar dentro dessa hierarquia, os ratos mais jovens logo se tornaram desajustados. As fêmeas solteiras se isolavam, como ermitãs, nos ninhos mais altos, evitando a todo o custo o acasalamento. Nessa sociedade superpopulosa, os machos alfa se tornaram excessivamente agressivos, chegando ao canibalismo. Outros machos passaram a exibir um comportamento de apatia profunda, comendo, bebendo e se cuidando, alheios ao mundo em redor. Mesmo as mães, oprimidas pelo estresse da superpopulação, pararam de cuidar das crias, abandonando-as ou mesmo atacando cada uma delas. Com isso, a mortalidade infantil chegou a atingir cifras de 96% em algumas áreas do experimento. Mesmo havendo espaço para 3.840, camundongos a cidade utópica dos ratos ficou estagnada em 2.200 indivíduos.

          A partir desse ponto (600 dias de experimento), a comunidade de ratos entrou naquilo que o cientista chamou de ralo comportamental, com os animais deixando de cuidar de si e de suas crias e cessando por completo de interagir normalmente. De certa forma, esse experimento já era previsível conforme o que dizia o economista inglês Thomas Malthus (1766-1834) em “Um ensaio sobre o princípio da população”. Para Calhon, o experimento serviu como uma advertência sobre a questão da superpopulação terrena, mostrando que, mesmo satisfeitas todas as suas necessidades, haveria, nesse caso, uma “morte do espírito”.

         Na mesma década de sessenta, 30 cientistas visionários de dez países, liderados por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), reuniram-se na Itália para debater e estudar o futuro da humanidade e, mais precisamente, a questão do vertiginoso crescimento populacional e suas consequências para o planeta. O grupo daria origem ao famoso Clube de Roma, que passaria a buscar soluções socioambientais para o fenômeno da superpopulação. A esse grupo, foram submetidos problemas como a explosão demográfica e a pressão sobre os recursos naturais e serviços básicos; a poluição, o desmatamento e a perda de biodiversidade; escassez de recursos naturais como a água, energia e outros, e a disparidade entre ricos e pobres que iria se ampliar muito, gerando conflitos de toda a ordem. De acordo com eles, era preciso acionar um alarme mundial para chamar a atenção para a necessidade urgente de mudança de modelo de desenvolvimento em âmbito global, estimulando debates em busca de soluções sustentáveis.

          Em 1972, o Clube de Roma iria publicar seu mais sério relatório, que viria a se transformar em livro de grande sucesso: “Os limites do Crescimento”. Tendo à frente o cientista Dennis Meadows e utilizando um modelo computacional, foram feitas análises de interação entre a população, recursos naturais, produção industrial e meio ambiente. Os resultados mostraram que se a população continuasse no mesmo ritmo de crescimento, os recursos naturais iriam se esgotar rapidamente, levando o mundo a uma crise sem precedentes.

         Diante dessa ameaça, os cientistas alertaram para a necessidade de mudança de paradigma, com a introdução global de novos modelos de desenvolvimento e de políticas que visassem a diminuição da poluição. Em 1970, a população mundial era de 3 bilhões 695 milhões de habitantes. De lá para cá, a população aumentou para 8 bilhões e 200 milhões de habitantes, duas vezes e meia a mais. Naquela ocasião, não havia ainda o fator aquecimento global e sua consequência à mudança climática, que entrou nessa equação de população versus recursos naturais para complicar ainda mais o problema relativo à sobrevivência da espécie humana. Toda essa situação se torna ainda mais bizarra quando se prevê que, nas próximas décadas, a população global deverá atingir 10,3 bilhões de pessoas. Somente a partir de 2080, é que poderá haver uma diminuição gradual da população global. Devemos torcer para que essa diminuição populacional não seja provocada diretamente por ação do próprio planeta, incomodado com a atuação desses carrapatos humanos sobre sua crosta.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A questão real não é o excesso populacional, mas as ações da população.”

Amit Kalantri

 

História de Brasília

Diversos altos funcionários do Ministério da Fazenda que residem no Rio pediram os atrasados da “dobradinha” desde janeiro último. (Publicada em 17.04.1962)

Cérebros distantes

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Ilustração: Cemile Bingol/Getty

 

Num mundo em que as tecnologias e as ciências se converteram no mais importante capital de um país, fica evidente que quanto mais desenvolvida for uma nação, mais e mais cientistas e pesquisadores ela necessita para manter alto seu padrão de desenvolvimento humano.

Só para se ter uma ideia da importância das ciências para o desenvolvimento de um país, os Estados Unidos investiram aproximadamente R$ 500 bilhões em pesquisas no ano de 2021 e vêm aumentando gradativamente esses valores a cada ano. Lá, a maioria das centenas de universidades investem em pesquisa, pois sabem que esse é o modelo de ensino que mais atrai investimentos, além, é claro, de conferir prestígio a essas instituições.

O governo federal americano investe pesado em pesquisas acadêmicas por meio de agências como o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, Departamento de Defesa; Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço; Departamento de Energia; e o Departamento de Agricultura. Os governos estaduais também investem em pesquisas, bem como os fundos próprios das instituições, organizações sem fins lucrativos ou apoiadores privados entre outros negócios. Esses investimentos em pesquisas são avaliados de forma séria e servem para medir o grau de atividade de pesquisa de uma universidade. Essas instituições são avaliadas ainda por indicadores como publicações, citações, comercialização de descobertas, além de prêmios acadêmicos recebidos. Apenas no ano de 2022, 21 universidades ultrapassaram a marca de U$ 1 bilhão em pesquisas e desenvolvimento. Somente a Universidade de Johns Hopkins investiu U$ 3,18 bilhões em pesquisas e desenvolvimento.

Com relação ao Brasil, no mesmo ano de 2021, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação, foram investidos em pesquisa algo como 1,2% do PIB, mas esse valor vem diminuindo ano a ano. Também o setor empresarial, que no passado chegou a investir grandes somas em pesquisas, passou a reduzir esse tipo de investimento, em decorrência das más condições econômicas do país, agravada pela elevação sem precedentes da carga tributária e de outros encargos.

O Brasil segue na contramão dos países desenvolvidos quando o assunto é investimento em pesquisas. Não por outra razão, os cientistas e pesquisadores brasileiros, assim que alcançam um patamar de conhecimento respeitável, tratam logo de sair do país em busca de outras instituições e empresas estrangeiras, dispostas a bancar, o quanto for, por pesquisas que levem a descobertas valiosas. O fato é que, sem dinheiro, não há ciência, nem coisa alguma. A cada novo corte nos gastos do governo, as áreas das ciências e educação são as mais penalizadas. Desde sempre, nosso país assiste calado a uma verdadeira diáspora científica, com milhares de pesquisadores abandonando o Brasil, quer por vontade própria, quer por motivo de convite de empresas e universidades interessadas em seus trabalhos. Em termos de financiamento em pesquisa, não há como competir com países como os Estados Unidos, Alemanha ou China. Por outro lado, também não existe, por parte do governo, uma crença ou convicção sedimentada na importância das pesquisas para o progresso do país.

No último mês de julho, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq), por pressão dos próprios acadêmicos do país, anunciou que fará a abertura de um processo de seleção para o Programa de Repatriação de Talentos – Conhecimento Brasil. Pelo edital do Programa haverá a escolha de até mil projetos de pesquisadores que trabalham hoje no exterior e que, porventura, desejam retornar ao Brasil. A ideia é oferecer uma bolsa mensal, mais verbas para pesquisa, viagens e outros benefícios, como contratação de plano de saúde para a família e previdência.

Um dos empecilhos, além do dinheiro oferecido lá fora, é que as ciências hoje experimentam um novo modelo, em que a mobilidade é parte integrante da própria ciência, já que os pesquisadores precisam trocar informações, conhecer novos métodos de pesquisa, novos equipamentos e um mundo de outros meios para a realização de pesquisas.

Atualmente, há aproximadamente 1.200 pesquisadores brasileiros espalhados por cerca de 42 países, embora o número exato de cientistas que deixaram o Brasil ainda seja desconhecido e pode ser ainda muito maior. A fuga de cérebros em nosso país é antiga e persiste ainda hoje, sendo um indicativo de que estamos distantes ainda do ideal de pesquisa e portanto do ideal de desenvolvimento.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O mercado de ações está cheio de indivíduos que sabem o preço de tudo, mas o valor de nada.”

Philip Fisher

Philip Fisher. Foto: reprodução da internet

 

Desrespeito

O marketing agressivo das operadoras de celular não permite que o cliente manifeste sua vontade. Até permite. Mas não há treinamento para aceitá-la. Depois de responder que não há interesse na promoção, é apresentada outra oferta. A seguir uma negativa e outra promoção. E a conversa se desenrola presa em um script lido por alguém desprovido de respeito e empatia. Os idosos são os que mais sofrem.

Charge do Miozzy

 

História de Brasília

Em vista dos últimos acontecimentos o prefeito Sette Câmara mandará publicar no “Diário Oficial” todos os pagamentos efetuados pela Novacap. A Comissão entrará em funcionamento imediatamente não se sabendo, entretanto, do afastamento ou não do dr. Laranja Filho. (Publicada em 18.04.1962)

Próximo, por favor!

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Charge do Amarildo

 

          Parafraseando o pequeno e famoso texto do pastor luterano Martin Niemöller (1892-1984), podemos, com toda honestidade, trazê-lo para o presente e inseri-lo no atual contexto de nosso país, substituindo alguns substantivos originários por outros inerentes à realidade que estamos vivenciando. “Primeiro eles vieram buscar os conservadores e a turma da direita, e eu fiquei calado. Eu não pertencia a esses grupos. Então, vieram buscar os liberais, e eu fiquei calado. Também não era um liberal. Em seguida, vieram buscar os patriotas, e eu, mais uma vez, fiquei calado- porque não era patriota. Foi então que eles vieram me buscar, e já não havia ninguém para me defender.” Se esse pequeno texto não é capaz de fazer com que você reflita sobre o atual momento político atravessado por nosso país, é porque você já pode ser o próximo da lista a ser “buscado” pelo sistema.

         A história tem nos ensinado que a liberdade é um valor infinitamente mais elevado do que quaisquer partidos e ideologias políticas. Sem essa condição, intrinsicamente humana, você é apenas um peão isolado no tabuleiro. Sem liberdade não há salvação possível, nem a direita, nem a esquerda. Utopias políticas são possíveis. Outra coisa diametralmente oposta é a utopia de liberdade. Desse modo, a liberdade não pode ser ofertada por ideologias. A liberdade é o que é e não necessita de outros atravessadores.

         É em nosso caso e em muitos outros países pelo mundo, o que está delineado nas Constituições. Querer definir liberdade, conferindo-lhe outros significados de acordo com uma espécie de voluntarismo subjetivo, é negar-lhe seu real significado, distorcendo a Lei Maior, como alguém que pretendesse instalar dois braços postiços à Vênus de Milo.

          A questão, com fechamentos políticos, é que eles nunca se dão por completo ou satisfeitos, por isso mesmo é preciso ir mais além, ter sempre alguém em mira, buscando a todos, até que não reste ninguém mais a ser levado. Se não é um produto a ser ofertado por partidos políticos, a liberdade também não necessita de tutelas, pois ela não pertence a um indivíduo apenas, mas a todos igualmente.

          Democracias do tipo tuteladas são aquelas que satisfazem apenas aos desejos de uma elite no poder. A liberdade impõe que você seja escravo apenas de si mesmo e não de governos, responsabilizando-se inteiramente por seus atos.

         Sobre nossa Constituição, o que almejam aqueles que a reduzem a sincretismos indecifráveis é que ela, como poderia ter dito Millôr, tendo nascida pura e original, deverá morrer como um plagio de si mesma.

         De fato, só existe uma liberdade que é aquela expressa pelo pensamento. As grandes migrações humanas, em todo o tempo e lugar, sempre foram feitas no sentido e em direção a liberdade e nunca ao contrário. Em todas as ditaduras, sempre existiram aqueles que, por meio de palavras afiadas como espada, desafiaram o regime. É o caso aqui do músico e poeta português Sérgio Godinho: “Não me digas que não me compreendes/ quando os dias se tornam azedos/ não me digas que nunca sentistes/ uma força a crescer-te nos dedos/ e uma raiva a nascer-te nos dentes/ Não me digas que não me compreendes”.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente.”

Sir Acton

Lord Acton. Foto: gazetadopovo.com

 

Santa paciência

Em pleno sábado, 10h13min, a Bradescard invade uma linha privada com ligações eletrônicas. Ao responder alô, a ligação é completada. Até aí nenhuma novidade no inconveniente. O pior é que o número do devedor não confere com o infeliz que atendeu a ligação. E assim se passa a semana. Com 3 ligações diárias atendidas nessa modalidade.

 

Desrespeito

O marketing agressivo das operadoras de celular não permite que o cliente manifeste sua vontade. Até permite. Mas não há treinamento para aceitá-la. Depois de responder que não há interesse na promoção, é apresentada outra oferta. A seguir uma negativa e outra promoção. E a conversa se desenrola presa em um script lido por alguém desprovido de respeito e empatia. Os idosos são os que mais sofrem.

 

 

História de Brasília

Em vista dos últimos acontecimentos o prefeito Sette Câmara mandará publicar no “Diário Oficial” todos os pagamentos efetuados pela Novacap. A Comissão entrará em funcionamento imediatamente não se sabendo, entretanto, do afastamento ou não do dr. Laranja Filho. (Publicada em 18.04.1962)

Verde, amarelo e cinza

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Imagem feita por drone, mostra queimadas em vegetação de serrado e canavial, próximo a Sertãozinho, interior de São Paulo. Foto: Joel Silva/Fotoarena/Agência O Globo

 

Para onde quer que o cidadão volte a cabeça, aparecerá um problema dos grandes que necessita ser resolvido o quanto antes. Afinal, estamos imersos até o pescoço em tempos de grandes desafios, interna e externamente. O mundo e o país, nestas duas décadas iniciais do século 21, mudaram como em nenhum outro período. Há claramente uma forte tensão do tipo planetária. Em parte, decorrente das mudanças climáticas, que vão se mostrando cada vez mais intensas, ameaçando a sobrevivência de nossa espécie.

Indiferente ao que ocorre, governos diversos parecem estar se preparando para a intensificação do que seria a inevitabilidade das guerras, com um possível alastramento de tensões em vários continentes. Tendo que suportar mais de 7 bilhões de habitantes, a Terra segue, segundo especialistas, rumo a um estado de exaustão de recursos naturais.

Em tempos assim, em que as bocas são muitas e os alimentos cada vez mais escassos e caros, os conflitos armados medram como erva daninha. Durante o longo período da história humana, crise de recursos e alimentos levaram a muitas guerras sangrentas.

Internamente, o Brasil tem que lidar com seriedade para impedir a todo custo a destruição contínua de nossos biomas e riquezas naturais. Mesmo com toda a importância que possa ter para a balança comercial do país e para a economia nacional, o agronegócio tem sua parcela de culpa na questão ambiental.

O Brasil já deveria ter aprendido as muitas lições do seu passado colonial, sobretudo com os processos de monoculturas cultivadas em vastíssimos latifúndios. Desses ciclos, pouco restou. Do mesmo modo, deveríamos ter assimilado as lições e experiências com as nefastas práticas da mineração, num tempo em que o país era perfurado de Norte a Sul em busca de ouro, pedras preciosas e outros minerais. Do período da mineração restaram enormes extensões de terras totalmente arrasadas e sem mais serventia. Nenhuma dessas lições foi de fato retida em nossa memória, o que resultou, obviamente, na repetição dos mesmos caminhos errados de outrora.

De alguma forma, retornamos ao período colonial, mudando apenas de metrópole. Continuamos no mesmo lugar do passado, como economia complementar e periférica. Trocamos Portugal pelo restante do planeta, mas, ainda assim, continuamos como colônia do mundo, abastecendo diversos países com produtos primários de pouco ou nenhum valor agregado. Para atingirmos essa pretensa excelência produtiva, tivemos que prosseguir com a destruição de nossas riquezas naturais. Não há cantos nesse país em que os desmatamentos, as queimadas e as enormes crateras no solo não se mostrem em quantidades. Do mesmo modo, é visível o desaparecimento de muitos cursos d’água, assoreados por nossa ganância.

Desse ponto de vista histórico, permanecemos correndo em círculo, repetindo os erros, mesmo conhecendo as consequências ruins de cada um deles. Os incêndios gigantescos que consumiram boa parte dos canaviais no estado de São Paulo e que ameaçaram sufocar todo o país resultam da substituição da policultura pelo cultivo da cana-de-açúcar em grandes latifúndios mecanizados.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“Biocombustíveis, como o etanol, exigem enormes quantidades de terras cultiváveis e acabam substituindo plantações de alimentos ou áreas naturais selvagens, o que não é bom.”
Elon Musk

Elon Musk. Foto: Anadolu Agency/GettyImages

 

História de Brasília
Foi o que o dr. Laranja fêz, uma portaria com os mesmos nomes, estendendo as sindicâncias às administrações passadas. Pouco depois de saber disto, o dr. Paulo Nogueira comunicou-se pelo telefone com o dr. Laranja e pediu para que fosse sustado o seu ato, o que foi feito com relação à publicação no Diário Oficial, não sendo possível, entretanto, retirá-lo do Boletim da Companhia, que já estava rodando, sendo, depois, recolhido por ordem do presidente da Novacap. (Publicada em 17/4/1962)

Orçamento participativo, por quem?

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Experiência de Orçamento Participativo em Belo Horizonte. Foto: fpabramo.org

 

Uma coisa é certa: o orçamento participativo (OP), que contava com sugestões das populações locais para a confecção do orçamento dos estados e municípios, parece ter perdido o fôlego, e, hoje, praticamente, não se vê nenhum movimento significativo em defesa dessa boa ideia. Ninguém melhor do que a população local para saber o que de mais importante e urgente essas regiões necessitam. O orçamento participativo é um dos melhores mecanismos de democratização das políticas orçamentárias e de gestão pública. Talvez, por isso, e pela simplicidade de todo o processo, o OP é visto como um poderoso instrumento de decisão posto diretamente nas mãos dos cidadãos. Aliás, a cidadania só é exercida em toda a sua plenitude quando os indivíduos decidem como usar os recursos oriundos dos impostos. A ideia surgiu primeiramente no Rio Grande do Sul, em 1980, e de lá pulou para muitas partes do Brasil.

Outro aspecto importantíssimo é de que o orçamento participativo induz à transparência no uso dos recursos públicos, pois é aprovado e acompanhado de perto pelos moradores. É aí que a coisa desanda por pressões escusas. A questão é que somente uma pequena parcela de governadores, prefeitos e vereadores bem-intencionados estimula e empreende esse tipo de confecção orçamentária. A maioria dos políticos nacionais não dá muita atenção a esse modelo, por achar que ele retira parte fundamental das funções dos agentes públicos. Nada mais enganoso do que essa ideia.

Para boa parte de nossas autoridades, o poder de manipular e direcionar, ao seu bel prazer, os recursos públicos lhes confere prestígio e força perante à população, ajudando também nos períodos de eleições. Esse, infelizmente, tem sido o comportamento de boa parte dos eleitos, talvez herdado do tempo dos coronéis e dos caudilhos, quando os recursos públicos se confundiam com a coisa privada.

Toda essa situação vexaminosa traz ainda mais danos quando se verifica que todo esse recurso, que poderia muito bem ser usado em benefício direto para a população, é desviado para o próprio bolso do gestor ou de laranjas. Nenhuma política pública imposta de cima para baixo tem o poder e a eficácia como o orçamento participativo. Deixar que os cidadãos pagadores de impostos sejam coautores das políticas públicas produz muito ciúme e deixa à vista a importância relativa dos políticos quando o assunto é a vida como ela é nos rincões deste imenso país.

A transparência no uso e na prestação de contas dos recursos públicos é outro fator que leva, país afora, ao boicote do orçamento participativo. Um aspecto favorável ao OP é que ele estimula também uma alocação de recursos mais aberto e equitativo. Isso tem relação direta com o desenvolvimento harmônico não só daquela determinada comunidade, mas da população em geral. Não é por outra razão que a Constituição de 1988 trata desse assunto em seu artigo 29, ao estabelecer regras e princípios para o bom funcionamento dos municípios, abrindo à participação das associações na elaboração dessa peça fundamental de planejamento. O Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001) dispõe em seu artigo 4º que a gestão orçamentária dos recursos públicos deve envolver, para o bem da transparência, a participação da governança local e cidadã na elaboração do OP.

Toda essa questão é elevada ao grau máximo de um problema quando se verifica que as interferências de um Poder sobre o outro tem produzido ainda mais dificuldades para a realização dos OP. Um caso aqui é quanto às emendas parlamentares, antes simplesmente alcunhadas de emendas secretas. Com isso, os labirintos que vão desde os cofres públicos até a ponta final, que é onde estão os cidadãos, passaram a ter que percorrer outros intrincados caminhos. Essa situação piorou ainda mais quando da aprovação das emendas parlamentares impositivas.

Hoje, mais de R$ 50 bilhões estão nas mãos da elite política com assento no Congresso, e esse valor deverá crescer ainda mais nos próximos anos. De posse dessa dinheirama, os políticos passam a atender prioritariamente suas bases eleitorais, ou seja, somente aquelas regiões onde foram majoritariamente bem votados. Resultado disso é que municípios que deram poucos votos para um determinado político serão excluídos na distribuição dos recursos via emendas.

Um ponto a pesar contra o orçamento participativo é que muitas dessas emendas sequer são devidamente auditadas, o que tem aumentado os escândalos de desvios de recursos públicos. Também a corrupção endêmica é o principal empecilho à adequada e justa distribuição da riqueza nacional. E, para coroar toda essa sanha na aplicação correta dos recursos públicos, vemos que os maus gestores ou os que desviam esses recursos não são punidos ou sequer alcançados pela Justiça.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“Se comandarmos nossa riqueza, seremos ricos e livres. Se nossa riqueza nos comandar, seremos pobres de fato.”
Edmund Burke

Edmund Burke. Imagem: arqnet.pt

 

História de Brasília
Enquanto isto, o prefeito nomeava uma comissão de inquérito, e comunicava, em Brasília, ao seu chefe de Gabinete, dr. Paulo Nogueira. O chefe de Gabinete então, mandou ao sr. Laranja Filho, a relação dos nomes que integravam a comissão. (Publicada em 17/4/1962)

A família e o Estado

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Foto: vaticannews.va

 

Há razões suficientes para crermos que, no cerne de alguns discursos políticos, sobretudo aqueles que abordam, pela ótica marxista, o tema da família e suas relações com o Estado, existe, de modo subjacente, uma retórica que visa convencer os ouvintes menos atentos de que esses clãs são naturais. Dessa forma, podem justificar plenamente sua razão de existir quando se mostram capazes de atender às necessidades do Estado, cumprindo assim seu papel político. Do contrário, são catalogados como instituição burguesa, o que serve apenas aos interesses das classes dominantes, perpetuando a opressão e a exploração da classe trabalhadora. Vista por esse ângulo, obtusamente materialista, a família precisa ser, então, abolida. Não somente ela, mas também a propriedade privada e o casamento, acusado de ser uma forma de controle social e de opressão das mulheres. Em resumo, a pretendida emancipação da classe trabalhadora só se tornará possível com a destruição total da família burguesa.

Para Marx, a família era apenas uma construção social e histórica, ligada diretamente ao modo de produção capitalista, à propriedade privada e ao controle dos meios de produção. Nesse sentido, a família, ao garantir o modo de produção capitalista, passa a se constituir num agente que se opõe frontalmente às teses marxistas. Ou melhor ainda: enquanto for possível manter a tradição histórica nas relações familiares, haverá a certeza de que o marxismo não irá se impor como doutrina política.

O que se tem aqui mostra, claramente, que a família é também uma forma de trincheira para impedir o avanço das tropas marxistas. Existe nesse debate, estratégias e táticas inconfessáveis, que visam, primeiramente, retirar dos indivíduos todos e quaisquer traços da figura paterna e sua importância na introdução da lei e da ordem simbólica na vida da criança. A abolição da família é, antes de tudo, nas pregações políticas niilistas, a destituição da figura paterna e sua substituição por algo vago e irreal do tipo “pai da pátria”.

Há um entendimento entre psicólogos e psicanalistas de que a função paterna é fundamental para a formação ou estruturação do sujeito. Para justificar o desmonte da família, como sendo “algo atrasado, que deve ser combatido” para o avanço das ideias progressistas, vale tudo, inclusive alcunhar a família de “burguesa” e perpetuadora da luta de classes. Nada mais irreal.

Nesse sentido, para eliminar a família, é preciso antes desestruturá-la psicologicamente, de preferência tirando desse grupo a figura paterna. Essa ausência, em sentido amplo, induz a problemas na constituição psíquica, contribuindo para a ausência de identificação e outras dificuldades que, na vida adulta, são ainda mais ampliadas, dando margem para a dominação do cidadão e sua submissão a algo etéreo, como o Estado. A criação para o mundo é função do pai. A mãe educa para a vida, o que é outra coisa fundamental. Em ambos os papéis, a figura do Estado é nula.

Fôssemos fazer um levantamento em todos os consultórios de psicologia, ou de psicanálise, sobre que assuntos são tratados na maioria dessas consultas, veríamos que o pai está sempre no centro dessas conversas, quer pelo excesso, quer pelo vazio da ausência. As primeiras e mais fundamentais leis são passadas no seio da família — geralmente pelo pai —, que, para isso, estabelece também as primeiras obrigações, sendo a mais fundamental o respeito às leis e normas da casa.

Num mundo em que a cultura Woke e o feminismo tentam, por todos os meios, superar a família, livrando-a de um dos seus alicerces, é preciso ficar atento e na defensiva permanentemente. O pai, mostrado aqui como indutor do patriarcalismo, é, antes de tudo, um indutor a restabelecer a ordem contra o caos, colocando cada coisa em seu lugar. Bem ou mal, o patriarcalismo tem podido livrar a família das garras do Estado. Para os chamados progressistas, é preciso retirar o pai da equação família. Matá-lo, simbolicamente, se preciso for. Sem liderança natural, a família está à mercê de outras forças, entregue às vontades de outros líderes externos, que, em relação a esse agrupamento, não mantêm qualquer sentimento ou laços afetivos nem sequer cordialidade. O que o Estado, ideologicamente politizado, quer da família é apenas sua força de trabalho, não importando seu destino final.

Diferentemente do Estado, o pai deseja a perpetuação e união do grupo, pois mantém com ele laços de sentimentos e tem, nessa relação, a razão da própria existência. Esse embate destrutivo entre o Estado politicamente ideologizado e a família, contém também o germe que, no futuro não muito distante, provocará o declínio e o fim do Estado. Sem a família, o Estado se torna uma instituição fantasma e sem alma.

 

A frase que foi pronunciada:
“O direito de expressão é o princípio e o fim de toda a arte.”
Johann Wolfgang von Goethe

Johann Wolfgang von Goethe Johann Wolfgang von Goethe, gravura de James Posselwhite, século XIX.

 

História de Brasília
Queria ainda, o dr. Laranja Filho que fossem apuradas também, as condições de funcionamento interno em que ele recebera a Companhia. (Publicada em 17/4/1962)

Famosos silentes

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Incêndio nas margens da rodovia Raposo Tavares, no interior de São Paulo. Foto: poder360.com

 

        Diante da situação atual, em que basta abrir a janela para se certificar que o Brasil arde com mais de 20 mil focos de incêndio, é preciso alertar: “É o meio ambiente, estúpidos”. O fogo é sempre um assunto desagradável e não combina com popularidade e eleições. Candidatos omissos são, por isso, condenados nas urnas. Os satélites mostram um país coberto por nuvens pálidas e agourentas das fumaças. Entre o que se ouve oficialmente das autoridades, quando afirmam que o combate aos focos de incêndio tem sido exitoso, que tudo está sob controle, e o que olhos e pulmões constatam vai uma distância imensa — quase uma notícia fantasiosa. Os olhos não enganam. O nariz, também não. Há cheiro de fumaça no ar. E onde há fumaça há fogo.

        Onde há uma ausência ou inação governamental para proteger o patrimônio verde da nação, em seu lugar, há névoa de fumo e fuligem a anunciarem o que parece ser um país consumido pelas chamas. Visto a olho nu, o Brasil vai sendo devorado pelas beiradas. Com mais esse problema pela frente a se somar a tantos outros, nesses tempos nebulosos, estamos, literalmente, imersos na estória infantil em que o rei, por suas veleidades, acaba saindo nu pelas ruas do país. Por detrás da fumaça, o que se vê é o protagonista da peça teatral seguindo para os autógrafos, alheio à situação real.

        A questão é saber: iremos arder todos com as queimadas no Brasil? Não há como estocar ou esconder o vento fumacento varrendo-o para debaixo dos novos e caríssimos tapetes reais. Por onde andam os hollywoodianos indignados para clamar pela natureza brasileira? Ninguém viu. Talvez, mais efetivo seria cobrar de volta o cachê e destiná-lo para os pequenos municípios que não veem, há tempos, a cor azul do céu e do sol dourado.

        O país vai sendo encoberto por um véu que parece anunciar o fim dos tempos. De fato, estamos vivendo debaixo de tempos nebulosos. Esse é também o nevoeiro que ajuda apagar da memória o que vivemos. Também faz-nos esquecer e perdoar, mesmo contra a vontade de muitos. Talvez estejamos ardendo de desgosto e desalento. Queimam-nos a alma a realidade interna e a nossa responsabilidade perante o mundo. Os brasileiros estão pondo fogo no próprio país. É o que dizem. O mundo enxerga-nos sempre como um coletivo. Somos nós, brasileiros, e não o Estado, que achou por bem deixar que o país pegasse fogo. O mundo nos culpa de piromaníacos.

        O aquecimento global passa a ser uma mixaria quando notamos que, depois de cinco séculos, ainda estamos à mercê da monocultura da cana, cultivada em enormes latifúndios ou com as usinas de álcool e açúcar. Da mineração inclemente que esburaca o país, deixando para trás desertos inabitáveis, também não nos livramos ainda. São Paulo, outrora próspero e promissor e com clima ameno, produtor de uma diversidade de alimentos, hoje é um canavial gigante a enriquecer poucos e a empobrecer a terra e os homens comuns. Voltamos no tempo. São Paulo voltou ao ciclo canavieiro da época colonial. Talvez, por isso, pague um alto preço. Lavouras de fumaça são o que parecem produzir. Em meio ao braseiro, não é possível distinguir claramente entre culpados ou omissos. Todos carregam uma parcela de culpa, um fósforo na mão ou um litro de gasolina.

        Somos protagonistas de uma tragédia continental que é só nossa. O futuro promete absolvição plena aos verdadeiros culpados, livrando-os de todas as penas. Atentamos, há séculos, e sem remorsos contra o meio ambiente do país. Praticamente, não há local algum neste país em que não possamos verificar paisagens destruídas pelas mãos humanas. A cada dia, milhares de novos focos de incêndio são registrados. Entre 1º e 31 de julho deste ano, foram observados quase 12 mil novos focos de queimadas. Trata-se de uma sequência de ocorrências jamais registrada na nossa história.

        Os dados oficiais tentam minorar essa situação, mas os satélites internacionais mostram toda a realidade. Além de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e a Amazônia estão em chamas. São dezenas de milhares de focos. Nem  mesmo o Cerrado tem escapado dessa tragédia. No primeiro semestre deste ano, houve quase 10 mil queimadas registradas. A região de Matopiba (acrônimo dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia ) vive situação idêntica. A expansão agrícola desenfreada, somada aos efeitos da seca e ao aumento da temperatura global, parece ter transformado nosso país num gigantesco e único foco de queimadas. Bem-vindos ao inferno!

 

 

A frase que foi pronunciada:
“Os incêndios que se alastram pelo país são questões de direitos humanos, saúde pública e economia.. (…) Estão sendo provocados, conforme avaliação que nos chega até o momento.”
Senador Paulo Paim

Senador Paulo Paim. Fonte: Senado.gov.br

 

Interessa?
Agressiva a campanha de bandidos que usam voz, script e até número parecido com o SAC dos bancos. Não é possível que idosos sejam constantemente abordados por esses larápios. Faz pensar que os dados do INSS estão sendo vazados. Bancos e operadoras de celular até hoje não conseguiram investir em segurança para evitar esse tipo de golpe.

Charge do Thyagão

 

História de Brasília

O dr. Laranja, segundo nos disse, comunicou-se ontem de manhã com o prefeito, que está no Rio, e disse de sua intenção de nomear uma comissão para apurar essas irregularidades, não somente na sua administração, como, igualmente nas anteriores. (Publicada em 18.04.1962)

Hordas infernizam as madrugadas da Asa Norte

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Imagens que circulam nas redes sociais vêm despertando indignação geral, pois mostram hordas de moradores de rua perambulando nas madrugadas pela Asa Norte, cometendo todo o tipo de vandalismo e crimes. As imagens foram captadas por diversos moradores locais e em ângulos diferentes. Escondidos detrás de cortinas e persianas, apavorados com o que documentavam, os brasilienses residentes em muitas áreas desse bairro assistem a tudo, com um misto de terror e desamparo.

São dezenas desses catadores de papéis e outros mendigos que se juntam e saem pelas ruas revirando lixeiras, quebrando e danificando placas e postes de iluminação, invadindo casas e roubando o que encontram do lado de fora nas varandas. Tudo é pilhado, desde vasos de plantas, containers, carros e tudo o mais que encontram pela frente.

Essas arruaças perigosas são sempre impulsionadas por um grande consumo de drogas e bebidas, tornando esses bandos ainda mais perigosos. O que espanta é que, nesses casos e por repetidas vezes, os moradores acionam a polícia, que raramente é vista para conter esses desocupados. Não é de hoje que se sabe que boa parte do dinheiro arrecadado com a coleta de papéis e outros produtos, assim como o que é amealhado com esmolas, é gasto na compra de drogas e bebidas.

Muitos desses moradores de rua também conseguem alguns trocados com a venda de drogas, principalmente o crack. A situação, como mostram as imagens, saiu de controle. Ao que os cidadãos assistem agora, na forma de um imenso problema social, é a formação embrionária das cracolândias, que migraram de outras partes da cidade para a Asa Norte e parte da Asa Sul.

Quando a madrugada chega, muitos moradores sabem que o pesadelo recomeçará. Ninguém, nesse momento, se atreve a sair de casa. Naquelas quadras situadas acima do Eixão, a situação é fora de controle. O prejuízo para moradores e comerciantes é sempre grande e constante. As ruas de nossa cidade, outrora tranquilas como cidades do interior, de uns anos para cá, se transformaram em verdadeiros cenários de guerra. As polícias militar e civil parecem que não estão dando conta do recado, tamanha é a quantidade de chamadas pedindo socorro.

Nessas regiões, o que impera é o medo dos cidadãos que pagam impostos para serem usados em educação, saúde e segurança. Mas não é o que veem. Não bastasse as áreas verdes terem se transformado em locais de acampamento, agora toda a cidade vai se rendendo a um fenômeno que mistura problema social severo com criminalidade incontrolável e crescente.

O governo, ao qual a cidade e a segurança de seus habitantes são confiadas, precisa, o mais urgente possível, vir a público e apresentar um plano de segurança efetivo que ponha fim a essas ondas de banditismo. Ou se faz algo agora, ou a situação ganhará escala para um processo de guerrilha urbana, onde o “salve-se quem puder” será voz corrente.

 

A frase que foi pronunciada:
“Nós, o povo, não compreendemos nossos representantes.”
Entrelinhas do preâmbulo da Constituição brasileira

Charge: humorpolitico.com.br

 

Aparências
Tocado pela situação do lavador de carros que trabalhava mesmo tendo deficiência, o morador da 213 Norte resolveu atender ao pedido. Comprou uma boa cadeira de rodas para o rapaz. Passados alguns meses, percebeu que o homem não lavava mais carros por ali. Perguntou ao porteiro que respondeu com um sorriso nos lábios: “Ele vendeu a cadeira que o senhor deu e sumiu daqui”. Meses depois, o destino colocou os dois cara a cara. O doador da cadeira, revoltado com o golpe, falou sem titubear: “Mas você usou a única perna que tem para passar em mim!”

 

Conquista
Um aumento de mais de 50% nas candidaturas de pessoas negras para prefeituras e câmaras municipais. A Justiça Eleitoral afirma que é apenas a segunda vez na história que isso acontece.

Foto: tse.jus

 

Consume dor
O deputado Jorge Viana, da Câmara Legislativa do DF, está no grupo que vai sair pela cidade para defender os absurdos praticados contra os consumidores. Um deles é desembolsar R$ 15,00 por uma garrafinha de água mineral, valor cobrado no aeroporto de Brasília. A solução vai ser instalar bebedouros, tanto no saguão de embarque quanto no desembarque.

Píer Sul do Aeroporto Internacional de Brasília. Foto:

 

História de Brasília
O assunto veio à baila, mesmo quando o deputado Ademar Costa Carvalho resolveu contar tudo ao prefeito Sette Câmara, e inúmeras acusações foram feitas à administração Laranja Filho. (Publicada em 18/4/1962)