Categoria: Íntegra
A solução para Jango ser presidente da República no exílio é simplesmente ridícula. Seria um general Delgado, com sotaque gaúcho.(Publicado em 28/8/1961)
Verba volant, scripta manet. A expressão latina, contida na rumorosa carta que o vice-presidente Michel temer enviou a presidente Dilma, muito mais do que seu significado (as palavras voam, os escritos permanecem), de certa forma resume muitos dos acontecimentos ocorridos ao longo deste ano que finda. Durante todo este ano, declarações das mais variadas, vindas do mundo político, voaram entre o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo, agitando as palavras, como folhas secas ao sabor dos ventos da crise.
A Torre de Babel construída por este governo, com ajuda óbvia do parlamento, mostrou à nação que, em momentos de crise, os dirigentes não falam a mesma língua do restante da população. Ao contrário, usam dialeto próprio que os identifica entre si, mas que serve para confundir o cidadão comum. O repertório de palavras jogadas de um lado para outro teve, no entanto, a capacidade de paralisar o país, estagnando a economia e levando os brasileiros de volta para o flagelo da inflação e do desemprego. Promessas vãs, cobiças mil.
Chamado a todo momento para esclarecer as armadilhas aladas do idioma político, o Supremo Tribunal Federal assumiu, por diversas vezes, o protagonismo do momento, recolocando cada palavra no seu lugar, provocando uma espécie de judicialização permanente nas decisões do governo e do Congresso.
No entanto, no mundo de hoje — dominado pela tecnologia —, as palavras podem ser facilmente capturadas pelas câmeras e vir à luz no momento certo para desdizer o que foi dito, preenchendo lacunas nas quais a verdade se escondeu.
A Operação Lava-Jato, que ao modo policial vai passando o país a limpo, tem nas palavras que voaram nos acordos à meia luz, seu principal elemento de reconstrução da cena do crime. As palavras voam agora na boca dos colaboradores da Justiça, por meio da delação premiada. O que elas revelam, a cada lance, é a história de um país onde permanecem (manet), por séculos, os maus-tratos ao Estado sem dó ou ressentimentos.
“Um 2016 a jato para o Brasil!”
Desejo de quem sabe o que vem pela frente.
Relator da PEC que cria as advocacias da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Tribunal de Contas da União, o deputado Paulo Abi-Ackel explica a situação absurda. Por incrível que possa parecer, o Legislativo não tem personalidade jurídica para comparecer em juízo. Atualmente é representado pela União, por meio da AGU.
Na Rádio Nacional, o Momento Três celebra Keith Richards, Steven Spielberg e Steve Biko. São os aniversariantes do dia, um bolo em forma de guitarra, fita de filme e luta pelos direitos humanos.
Alguém ao lado da presidente Dilma teve a sensibilidade de abrir canal de comunicação para esclarecer as dúvidas da sociedade sobre os últimos acontecimentos. Com o título de “Rebater boatos”, o Twitter e microblog entrarão em constante atividade.
Existe um lugar onde ninguém imagina que se possa descumprir as normas de decibéis. Justamente na casa legislativa. A campainha para convocar os parlamentares para o plenário do Senado é tão alta que, ontem, visitantes ficaram tontos com a intensidade do som contínuo.
Cuidado com os novos contratos de aluguel. Mudaram para 30 meses e não mais 12. Acontece que alguns documentos não trazem a cláusula de possível desistência. Como a multa é abusiva, há possibilidades de ganho por parte dos inquilinos.
O sr. Breno da Silveira já iniciou sua campanha de “simpatia” pela Prefeitura do Distrito Federal. A cidade amanheceu pichada à moda MPJQ de Taguatinga, sugerindo o nome daquele deputado para a prefeitura do Distrito Federal.(Publicado em 28/8/1961)
Por meio de manobra ladina e sub-reptícia, a Mesa Diretora da Câmara Legislativa conseguiu aprovar, em primeiro turno, alteração significativa na Lei Orgânica do Distrito Federal, abrindo a possibilidade de reeleição para os cargos de direção da Casa. O que à primeira vista pode ser interpretado como mudança sem maiores consequências para o Poder Legislativo local e para os cidadãos, de modo geral, esconde, de fato, estratégia capaz de provocar verdadeira reviravolta nas relações institucionais entre os Poderes e, de quebra, alijar o cidadão das principais decisões da CLDF.
Se, de um lado, a mudança aponta para aumento do poder de barganha do Legislativo frente ao Executivo, a mudança traz em si problema antigo e já experimentado por outras câmaras país afora: a formação de blocos monolíticos e fechados, capazes de tudo para permanecer indefinidamente no poder. Salienta-se, ainda, que a Presidência da CL está na linha direta de sucessão do governador.
De outro lado, o expediente de reeleição dos membros da Mesa não foi discutido nem com a comunidade, nem com as principais lideranças políticas da capital, limitando-se a debate interno, feito à meia-boca para não levantar muita poeira e suspeitas. O tema colocado na undécima hora para a apreciação logicamente não estava na pauta do dia, veio escondido na forma do tradicional jabuti, surgindo de supetão durante a votação de vetos.
Para alguns parlamentares presentes durante a votação, a medida representa golpe contra a democracia. Para uma Casa que tem sofrido críticas constantes da população, pelo modo de agir em dissonância com os eleitores e em proveito próprio, o instituto da reeleição só vai colocar mais lenha na ânsia de suas excelências por cargos, empurrando toda a Casa para permanente estado de pré-eleição, com cisões e manobras que não interessam à sociedade. Nesse jogo de xadrez, os primeiros para fora do tabuleiro político serão justamente os poucos que não concordam com as tramoias, incluídos aí todos os brasilienses. Até quando o Legislativo vai abusar da nossa paciência?

