Que ano!

Publicado em Íntegra

Verba volant, scripta manet. A expressão latina, contida na rumorosa carta que o vice-presidente Michel temer enviou a presidente Dilma, muito mais do que seu significado (as palavras voam, os escritos permanecem), de certa forma resume muitos dos acontecimentos ocorridos ao longo deste ano que finda. Durante todo este ano, declarações das mais variadas, vindas do mundo político, voaram entre o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo, agitando as palavras, como folhas secas ao sabor dos ventos da crise.

A Torre de Babel construída por este governo, com ajuda óbvia do parlamento, mostrou à nação que, em momentos de crise, os dirigentes não falam a mesma língua do restante da população. Ao contrário, usam dialeto próprio que os identifica entre si, mas que serve para confundir o cidadão comum. O repertório de palavras jogadas de um lado para outro teve, no entanto, a capacidade de paralisar o país, estagnando a economia e levando os brasileiros de volta para o flagelo da inflação e do desemprego. Promessas vãs, cobiças mil.

Chamado a todo momento para esclarecer as armadilhas aladas do idioma político, o Supremo Tribunal Federal assumiu, por diversas vezes, o protagonismo do momento, recolocando cada palavra no seu lugar, provocando uma espécie de judicialização permanente nas decisões do governo e do Congresso.

No entanto, no mundo de hoje — dominado pela tecnologia —, as palavras podem ser facilmente capturadas pelas câmeras e vir à luz no momento certo para desdizer o que foi dito, preenchendo lacunas nas quais a verdade se escondeu.

A Operação Lava-Jato, que ao modo policial vai passando o país a limpo, tem nas palavras que voaram nos acordos à meia luz, seu principal elemento de reconstrução da cena do crime. As palavras voam agora na boca dos colaboradores da Justiça, por meio da delação premiada. O que elas revelam, a cada lance, é a história de um país onde permanecem (manet), por séculos, os maus-tratos ao Estado sem dó ou ressentimentos.

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