A caminho do insuportável

Publicado em Íntegra, ÍNTEGRA

Desde 1960

colunadoaricunha@gmail.com

com Circe Cunha e Mamfil

 

Confirmadas as previsões sombrias de que a crise hídrica que assola Brasília e o resto do mundo, por suas dimensões e por diversos outros fatores envolvidos, tende a se intensificar ainda mais, a cada ano, poderemos chegar a vivenciar um tempo em que um quadro do pintor espanhol Pablo Picasso, precioso e cobiçado por muitos, valerá muito menos do que um litro de água fresca e cristalina.

Essa previsão que, à primeira vista, parece surreal, pode ser comprovada, bastando que se observe as inúmeras ruínas de antigas civilizações espalhadas por diversos lugares pelo planeta. Todo o esplendor de algumas dessas culturas desapareceu do dia para noite, quando a escassez de água se impôs, forçando seus habitantes a deixarem tudo para trás e migrarem em busca de outros sítios, onde o precioso mineral ainda existia em quantidade suficiente.

De todas as encruzilhadas deparadas ao longo da história da humanidade, nenhuma parece mais séria e desafiadora do que a presente escassez de água potável. Na capital do país, esse é hoje o maior problema que temos para resolver no presente. Um fato se impõe: somos todos responsáveis, direta e indiretamente, pela crise hídrica. Da mesma forma, temos que assumir que cabe a cada um, individualmente, parcela de esforço para minorar o problema.

Pelos dados fornecidos pela Agência Reguladora de águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), nos dois dos principais reservatórios que abastecem a capital — Descoberto e Santa Maria —, os volumes úteis marcam,  respectivamente, 32,52% e 41,95%. De acordo com os técnicos, isso indica que o racionamento deve ser mais rigoroso e por tempo ainda mais prolongado. O pior é que essa tendência de baixa nos reservatórios tende a se agravar nos próximos anos. A cada novo ciclo de estação, o volume de chuvas diminui acentuadamente. O mesmo ocorre com a média das temperaturas que tem aumentado ano após ano, agravando o processo de falta de água.

Para piorar esde cenário, o brasiliense, por diversas razões, afirma não confiar no trabalho da Companhia de Água e Esgoto (Caesb), justamente a empresa que tem a responsabilidade de administrar a crise hídrica. A redução significativa de pressão na rede, os rodízios, além do programado e suspensão do fornecimento , a água com a cor de leite dado o excesso de cloro, ou da cor do mel, devido ao barro. Tudo é resolvido sem que a população saiba exatamente o que está acontecendo.

Ligar para o serviço de atendimento é perder tempo. O aparelhamento político da empresa e a falta de sintonia com a população só agravam o problema da pouca água. Contribuindo para o agravamento do problema, o que se verifica é que a capital está completamente cercada por gigantescos latifúndios, totalmente mecanizados, onde se pratica um tipo de monocultura nociva e dissociada do equilíbrio ecológico e delicado do cerrado, assoreando rios e córregos, contaminando o solo, transformando o que, outrora, se denominava berço das águas em um vastíssimo e árido deserto. Nesse sentido, qualquer trabalho para minorar a crise hídrica da capital que não atente para o macroproblema do Entorno é como enxugar gelo. Se gelo ainda houver.

 

A frase que foi pronunciada

“A liberação do poder do átomo mudou tudo, exceto nosso modo de pensar. A solução para esse problema reside no coração da humanidade.”

Albert Einstein, físico teórico alemão

 

Passado

» Apenas para registrar. Diariamente, em São Paulo, carros-pipa lavam as ruas com jatos d’água. Noticiou-se que mendigos foram expulsos das calçadas por esses jatos. Na verdade, o que o prefeito Doria fez, quando a notícia foi veiculada na imprensa, foi protestar veementemente. Por ser inverdade e porque faltou boa vontade da imprensa para divulgar o Programa Emergencial de Inverno. Trata-se de um abrigo para moradores de rua com 460 lugares, com camas, cobertores, café da manhã e jantar. A Igreja  Adventista entrou no circuito e doou kits de higiene pessoal.

 

Emergência médica

» Marcos Linhares informa a preocupação da presidente do Conselho Regional de Farmácia, drª. Gilcilene Chaer, quanto à falta dos reagentes que apontam a carga viral em pacientes portadores do vírus HIV em pacientes. Segundo a especialista em ciências médicas, o teste é fundamental para o seguimento e prognóstico dos portadores do HIV. Ajuda a prever o quanto a doença está em evolução ou até quanto tempo o indivíduo vai continuar sem doença ativa. Quanto maior a carga viral, mais rápida é a progressão da doença

 

Release

» O deputado Wellington Luiz convida a todos para participar da audiência pública, que acontecerá às 15h do próximo dia 14, no Plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal, a fim de debater as condições de trabalho e infraestrutura do Sistema Socioeducativo do Distrito Federal, bem como a carência de políticas públicas por parte do governo para a ressocialização de adolescentes infratores submetidos a regime de internação, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescentes.

 

História de Brasília

A questão dos bombeiros no aeroporto será estudada pelas companhias particulares, onde não repercutiu muito bem, a nota da Aeronáutica. A hipótese de que os bombeiros existem só para salvar passageiros não foi bem-aceita, e as empresas estão inclusive dispostas a se aparelharem para novas emergências. (Publicada em 3/10/1961)

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