Vale para os EUA, vale para o Brasil

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com Circe Cunha e MAMFIL

Entre a eleição do magnata Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos e a eleição de Marcelo Crivella para a prefeitura do Rio Janeiro, respeitadas as diferenças, existe um ponto em comum que parece marcar todo o mundo Ocidental na atualidade e que pode ser identificado como um desencanto generalizado da sociedade com os políticos e as políticas tradicionais vigentes.

Na verdade, nada resiste ao desgaste do tempo. O que parece é que, na forma e no conteúdo, a democracia secular, do tipo representativa, começa a dar sinais de esgotamento e fadiga de ideias. Não se trata aqui de um esgotamento do modelo em si, mas do perfil de candidato que esse modelo parece atrair. A larga porta aberta pelo sistema democrático aos mais variados pretendentes, mesmo aqueles sem expertise para o cargo, acaba resultando num jogo de azar em que a parte perdedora será sempre a população. São os candidatos e não propriamente o modelo que tem necessitado de reparos.

Grosso modo, a eleição do novo presidente dos EUA equivaleria, para nós brasileiros, elegermos um bicheiro de sucesso, dono de muitos pontos de aposta, rico e influente, como tem sido boa parte desses zoo empresários entre nós. No Rio de Janeiro, diante dos descalabros visíveis, o povo achou melhor escolher logo um salvador. Aqui, os votos a esse candidato celeste foram dados como uma espécie de dízimo em que se espera a indulgência posterior.

Já nos EUA, os votos foram colocados no pano verde da mesa de apostas enquanto se aguarda que a roleta pare de girar. Lá e cá o povo desconfiado achou mais seguro apostar na fezinha. Quem sabe não vem do além e da sorte a saída para a crise, inclusive moral, que assola o Ocidente? Para quem entende dos meandros da política nacional, a eleição de Crivella, no Rio de Janeiro se insere em um amplo esquema que visa, em última análise, instalar no Palácio do Planalto um legítimo representante dessa Igreja, para, numa fase posterior, transformar o Brasil numa grande nação de fiéis.

Lá, ao Norte do Rio Grande, a eleição de Trump, creem os ficcionistas, foi bancada por Putin, da Rússia, que financiou diretamente a divulgação de e-mails e outros segredos de Estado que estavam em posse de Julian Assange da Wikileaks e de Edward Snowden. De posse desses segredos, Putin, um especialista em espionagem na KGB, estaria a par de informações sobre o relacionamento de Trump com a máfia dos jogos que operam nos EUA e outras informações comprometedoras sobre seu passado. A chegada desses e de outros diferentes candidatos ao controle do Executivo decorre de um fator apenas: a desilusão.

A frase que foi pronunciada

“Nenhum político deve esperar que lhe agradeçam ou sequer lhe reconheçam o que faz; no fim de contas, era ele quem devia agradecer pela ocasião que lhe ofereceram os outros homens de pôr em jogo as suas qualidades e de eliminar, se puder, os seus defeitos.”

Agostinho da Silva, filósofo português

À saúde

» Dentro da proposta Arte e Reabilitação totalmente apoiada pela Dra. Lúcia Willadino Braga (que além de neurocientista toca flauta transversal muito bem), o Coral do Senado fez um concerto riquíssimo. No repertório, músicas brasileiras e sul-americanas, e a interpretação de partes da ópera Carmen, de Bizet, com encenação. Os pacientes aplaudiram efusivamente.

Vans

» Da precariedade dos serviços de transporte público oferecidos pelas empresas particulares aos habitantes da capital se originam todo tipo de mazelas. A principal delas é o reaparecimento das vans de transporte pirata que a população acreditava ser coisa de um passado triste.

Risco

» Quem mora nas bordas do Plano Piloto notou que essa modalidade arriscada de transporte voltou com a força total e repete os mesmos equívocos de outrora. Disputas acirradas contra a concorrência, principalmente contra o transporte público regulamentado, passageiros conduzidos amontoados e sem cinto de segurança e velocidade excessiva têm sido observados com frequência.

Bragueto

» Aos poucos vamos sepultando a principal construção que permitiu a fixação da população em Brasília. Infelizmente, prosseguimos destruindo indefinidamente uma coisa para criar outra. O ideal, e talvez mais barato a longo prazo, seria um transporte público em que o secretário de Transporte e Mobilidade falasse tão bem da sua pasta que fosse capaz de ir e voltar ao trabalho nas mesmas condições da população. De ônibus e metrô.

Impacto ambiental

» Com as obras viárias do Trevo de Triagem Norte (TTN), realizadas no fim do eixo Norte, o assoreamento do Lago Paranoá e, principalmente, o desaparecimento do espelho d´água sob a Ponte do Bragueto segue, em ritmo acelerado. Depois da construção do Setor Noroeste, chegou a vez das obras desse trevo lançar toneladas de terra no já sofrido lago. Com a chegada das chuvas, os rios de lama encontram caminho livre em direção ao Lago.

História de Brasília

Cidades-satélites. Há apenas a planificação para as cidades-satélites. Em todas elas, entretanto, a vida é insuportável, e todos os problemas de ordem humana têm que ser enfrentados com possível solução. (Publicado em 17/9/1961)

Uma cidade que vai se desmanchando

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com Circe Cunha com MAMFIL

Sem uma fiscalização efetiva e rigorosa, nenhuma cidade tem futuro promissor. Deixada aos caprichos de cada um de seus habitantes, a tendência é que os espaços públicos desandem progressivamente para o caos. Uma vez instalada as primeiras desordens, é dada a largada para uma sequência desenfreada de múltiplas irregularidades que vão num crescendo de difícil retorno.

É fácil identificar uma cidade onde os órgãos de fiscalização e controle não funcionam. Elas estão espalhadas por todo o Brasil e já fazem parte da nossa triste paisagem. Praticamente nenhuma metrópole brasileira ficou imune aos processos de degradação paulatina. Sujeira, poluição visual, calçadas irregulares e perigosas, iluminação precária, puxadinhos desengonçados por todo lado. Toda essa confusão urbana é bem conhecida e, de certa forma, estamos nos acostumamos aos desarranjos.

Turistas que vêm de países onde a fiscalização é onipresente veem nossas metrópoles como retrato acabado do Terceiro Mundo: perigoso e precário. Brasília, principalmente sua área tombada, vai, pouco a pouco, caminhando para se igualar às demais cidades de nosso país naquilo que elas tem de pior. Circular pelas avenidas W3 Norte e Sul, duas das principais e mais antigas artérias da capital e que a décadas vêm aguardando uma reforma séria e profunda, confirma a tese de que a cidade parece entregue à própria sorte.

Cada comerciante, daqueles que ainda teimam em permanecer nestes espaços comerciais, na ausência dos fiscais, interferem nos espaços públicos como querem. Constroem suas próprias calçadas, montam seus outdoors na dimensão que acham mais visível, montam largos estacionamentos em áreas verdes, espalham mesas e cadeiras escondidinhas por plantas.

Alguns mais empreendedores constroem coberturas sobre os prédios comerciais e cobrem com generosos telhados coloniais. Tudo na maior boa vontade e longe dos olhos cegos da fiscalização. Na falta de um projeto público consistente, os arquitetos e urbanistas sem diploma vão fazendo o que podem, desconstruindo o bairro tijolo a tijolo.

Enquanto a desordem vai brotando aqui e ali, os brasilienses vão assistindo a explosão do comércio de lata por todo o lado. Em algumas localidades, como nas vizinhanças do edifício principal da Caixa Econômica no SBS, a multiplicação dos comércios fixos e fora do padrão é assustador. Não parece Brasília.

Em decorrência da crise econômica e do desdém dos fiscais, a capital do país vai experimentando o modismo dos truck foods. O que parece modernidade esconde um futuro de caos e um grande perigo para a saúde pública. Só Deus sabe em quais condições os alimentos sobre rodas são conservados e preparados. É comum observar nesses trailers a falta de luvas, toucas e outros uniformes de uso obrigatório para quem manipula alimentos. A oferta de água é precária.

Por todo lado é visível a presença desses trucks, numa concorrência desleal com os comerciantes fixos. Alguns proprietários desses caminhões, livres dos olhos da lei, chegam a cercar seu estabelecimento com gambiarras de luzes, onde instalam mesas e cadeiras. Nesses ambientes improvisados, sob a leniência do GDF, instalam suas caixas de som e seja o Deus quiser. Aos infelizes moradores das áreas vizinhas às centenas de bares espalhados pelo Plano Piloto, resta implorar pela vinda de algum salvador da ordem pública.

A frase que não foi pronunciada

“A arquitetura é uma ciência, surgindo de muitas outras, e adornada com muitos e variados ensinamentos: pela ajuda dos quais um julgamento é formado daqueles trabalhos que são o resultado das outras artes.”

Vitrúvio

Flipiri

» Hoje termina o Festival de Literatura de Pirenópolis. Os homenageados são Ziraldo e Nurit Bensusan, e outros autores, como Ignácio de Loyola Brandão e Tiago de Melo Andrade. Ilustradores que darão o ar da graça: Geni Alexandria, Elder Rocha Lima, Ziraldo, Roger Melo e Christie Queiroz. A Flipiri é promovida pelo Instituto Cultural Casa de Autores e pela Prefeitura Municipal de Pirenópolis. A programação completa está disponível no site http://www.flipiri.com.br/.

História de Brasília

Acabamento das superquadras. Não há superquadra iluminada, e a maioria está sem urbanização. Os canteiros de obras, algumas paralisadas, continuam emperrando o desenvolvimento do serviço.
(Publicado em 17/9/1961)

Ordem e progresso pelo malhete

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Na raiz dos protestos e das badernas que vão grassando por todo o país, o que aparece em primeiro plano é a ação deletéria dos governos petistas, que por mais de uma década empreenderam uma administração articulada e absolutamente corrupta e que levaram não só à quebra econômica do país, mas à instabilidade social. Justiça seja feita. Baderna é baderna. Tanto de políticos roubando e se apoderando dos bens públicos quanto de cidadãos que depredam e desrespeitam a ordem pública.

A incúria administrativa, aliada à corrupção sistêmica visando a perpetuação no poder a qualquer custo, resultaria, inevitavelmente, no debacle nas finanças públicas. Com a falência econômica do Estado, vieram os protestos e, com eles, a desordem generalizada que vai tomando conta de todo o Brasil. Para piorar a situação, o antigo governo e maior causador dessa ruína, no lugar de reconhecer os erros e ajudar a reconstruir o país, ainda encontra espaço para açular os movimentos sociais, atrelados ao petismo, contra o atual governo e a favor da desestabilização do Estado.

As ocupações e as depredações do patrimônio público, com enfrentamento, cada vez mais violentas entre os manifestantes e a polícia, crescem de tal forma, que não será surpresa se essas agitações sociais resultarem em sérios conflitos, inclusive com mortes de ambos os lados. Os acontecimentos atuais resultam de uma matemática social clássica, podendo ser observada em outros países, como é o caso da Venezuela, que também teve a infelicidade de experimentar governos do mesmo naipe.

O que se colhe aqui e alhures são as consequências de se subordinar o Estado aos ditames de um partido e seus acólitos. Não é por outro motivo que os especialistas enxergam, nessas manifestações todas, o começo do que está por vir. Na opinião daqueles que conhecem os estragos feitos na máquina do Estado, não será possível reverter essa situação de penúria e agitação antes de um prazo de, pelo menos, uma década. Até lá os brasileiros ainda terão de conviver com a instabilidade social provocada pelos protestos generalizados. Transformado numa espécie de seita de fanáticos, o que o petismo conseguiu, ao fim de 10 anos foi retirar do altar do Estado a figura da racionalidade, do bem comum, do respeito ao patrimônio público, respeito à Constituição, às leis, substituindo-a por uma imagem que mistura milagreiros do sertão e personagens do tipo Macunaíma. Deu no que deu.

De toda forma, desta fase traumática atual poderão ser colhidas experiências válidas, para que no futuro as novas gerações aprendam que com o direito supremo do voto não pode haver tergiversações. Ao fim desse processo doloroso para todos, o que se espera é que as águas bentas da Operação Lava-Jato e outras do gênero venham em socorro de povo crédulo, lavando as escadarias do poder e desobstruindo os caminhos à frente.

A frase que foi pronunciada
“Para Karl Marx, a ditadura do proletariado seria apenas um estágio na evolução dialética. Abolidas as classes e a propriedade privada, assistiríamos ao fenecimento do Estado e à floração da liberdade. Infelizmente, Marx era bom filósofo, medíocre profeta e mau político.”
Roberto Campos

Palácio da Poesia
» Atenção minha colega jornalista Diná Oliveira. Soube que o evento dos 30 anos da Casa do Cantador foi um sucesso. Por favor, transmita nossos cumprimentos a todos os amigos que têm a capacidade de transformar a vida e o destino em arte.

Assaltos
» Na 715 Norte, o número de assaltos aumentou, o que está incomodando bastante a vizinhança. Em frente a um prédio de oficiais da Marinha, três pessoas em diferentes dias e horários foram abordadas por ladrões em menos de uma semana.

SOS
» Instituições de ensino, como a Escola Americana e Escola das Nações, as mais caras de Brasília, estão juntas nos apuros das últimas semanas. Na primeira, uma panela de pressão estourou, machucando um aluno, um pai e um funcionário. Na segunda, a água está contaminada e o corpo docente e discente sofreram com uma misteriosa doença.

Fica a dica
» Mesas de Natal nunca vistas! Se quiser algo elegante, sofisticado e sem frescuras, Célia Estrela é a melhor pessoa para dar brilho à sua festa. Basta procura-lá no Facebook.

Ah, bom!
» Primeiro o susto com a imagem de uma invasão na Universidade de Harvard. A multidão de alunos na entrada. Depois todos acomodados na famosa biblioteca. Eles só queriam estudar.

História de Brasília
Asa Norte. Já há 64 blocos habitados, e não há rede de esgotos. Há fossas. Não há rede telefônica. Há para os privilegiados. A urbanização é precária, pela falta de verbas. (Publicado em 17/9/1961)

Suprema verdade

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Gradativamente, a sociedade vai aprimorando a percepção sobre os mecanismos que propiciam e induzem a plena democracia. Obviamente, esse aprendizado lento e contínuo só pode acontecer se forem atendidas algumas premissas básicas. Talvez a principal delas seja justamente o direito à informação absoluta sobre todos os fatos que se desenrolam dentro da máquina do Estado.

A coisa mais pública, dentro de uma República que se preze, é a informação. Quanto mais cristalino é um Estado e um governo, mais aperfeiçoada é também a estrutura democrática. Em outras palavras, só pode existir democracia de fato numa República na qual seus cidadãos têm pleno acesso a tudo o que diz respeito ao Estado. Quem lida com as coisas de Estado tem de deixar a cara à mostra para todos.

Nada mais contraditório do que uma autoridade de qualquer um dos Poderes que pretenda manter em torno de si e de sua vida uma cortina de espessa. Todos que, de alguma maneira, vivam do Estado são para ser expostos em vitrine pública, sob a luz forte da sociedade.

Quem possui vida privada e a ela tem excepcionais direitos é o cidadão comum. Dessa forma, qualquer situação que suprima aos cidadãos o direito à informação incorre em desvirtuamento do poder público. Quem quer se pôr a salvo da curiosidade da população deveria tomar rumo contrário a tudo o que diz respeito à República.

Ao restringir o direito de qualquer indivíduo às informações de que necessita, a República deixa de ser o que ela é na sua origem. Reuniões a portas fechadas, encontros e agendas secretas, acordos feitos sob sigilo, empréstimos e contratos realizados longe da visão do cidadão, conchavos à meia luz, julgamentos e decisões sem o conhecimento público, gastos com cartões corporativos de maneira sigilosa, sob o argumento de segurança nacional e outras modalidades do gênero têm sido comuns ao longo de toda a nossa história como nação. O que tem resultado desses segredos todos, em quase 130 anos de República, é o divórcio litigiosos entre a classe política e a sociedade, a ponto de a população precisar sair às ruas para dizer, em alto e bom som, que nenhum político ou partido representa, de fato, a nação. Com a Lava-Jato e congêneres, a maré do Brasil baixou a tal ponto que agora quem nadava nu começa a ser visível para todos.

A frase que foi pronunciada

“Acima da lei, acima do teto! Quanto mais alto se voa, maior a queda.”

Manifestante na Câmara

Toque

» Quem frequentou os cines Marcia, Karim Nabut e outros tantos nos áureos tempos de Brasília deve as boas memórias a Abdala Karim Nabut, que saiu devagarinho desta vida, com a elegância e discrição de sempre.

Dica
» Para as férias, segue uma sugestão de leitura. O romance O Labirinto das Moiras, da médica e escritora Tânia Calciolari. “De certa forma, acredito que você já me conhece. Eu sou o Destino. E como entrei aqui? Bom, deve saber que não preciso de convite para entrar em parte alguma. Na verdade, eu já estou em toda parte.” (pág. 6)

Leitor

» O voto distrital baratearia em muito as campanhas políticas para deputados estadual e federal, e senadores. Isso porque o candidato buscaria seus votos em seu domicílio eleitoral. Em seu domicílio eleitoral o candidato é mais conhecido. Por que iria um candidato de Uberaba buscar votos em Montes Claros? Muitas vezes, porque seus vizinhos aprenderam a não confiar nele e, portanto, tem que se buscar votos alhures. Esses custos a mais recaem no contribuinte. O voto distrital premia os que têm uma vida aprovável pela população local. Assinou J.R.

Haja criatividade!

» Mais uma sugestão para a engenharia de trânsito na entrada do Lago Norte. Até hoje os motoristas não respeitam a direita livre! Uma fila enorme se forma no horário do almoço, sem necessidade.

Novidade

» Travis Busbee, da Universidade de Harvard, é coautor de um projeto de impressão em 3D para uso humano. O primeiro caso foi de um paciente que recebeu uma mandíbula impressa em três dimensões. O detalhamento das peças contribui para o sucesso do uso. A rejeição do organismo ao corpo estranho está sendo vencida.

História de Brasília

Conservação do Lago. Concluir a estação de tratamento de esgotos, que se encontra quase que paralisada. Enquanto isto, o esgoto está sendo atirado no Lago. Antes, diretamente. Agora, com tratamento preliminar, mas sempre perigoso. (Publicado em 17/9/1961)

Obrigada por aguardar

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Obrigada por aguardar

Só quem já tentou algum dia cancelar um simples chip da Claro e similares pode imaginar o quão surreal é a tarefa. A começar pelo script. Todas as alternativas de convencimento estão listadas. Vai perder os pontos, não há custo adicional em congelar a conta por três meses, é possível fazer uma conta partilhada e por aí vai. Impossível convencer os atendentes a cumprir uma simples e justa vontade da consumidora. Encerrar a conta. Romper o contrato conforme é previsto.

Os atendentes do call center são adestrados. Proibidos de usar o bom senso na conversa com o cliente, que é levado em mais uma tentativa de convencimento a permanecer como tal, sendo ignorado na sua singela vontade de acabar com uma relação consumerista. É levado a um mundo encantado do faz de contas, com ofertas maravilhosas e velocidades espetaculares.

Após aguardar longos minutos travando uma batalha vernacular, dialética para ser respeitado no pedido, tem início uma jornada fantástica. Nunca faça apenas uma ligação. Anote a ordem da chamada na primeira vez: 1 para isso, 2 para aquilo. Use diferentes aparelhos para ligar várias vezes. Anote o nome de todos os atendentes. Marque dia e hora para pedir a gravação na audiência. E aí prepare-se para tricotar, arrumar aquela pasta de documentos ou assistir a um filme enquanto cuida do cancelamento do maldito chip. Nunca cuide só disso. Faça qualquer coisa ao mesmo tempo.

Depois de não ter conseguido, por vias honestas, o cancelamento, há que se inventar uma razão imbatível como: “Meu marido está indo para os Estados Unidos trabalhar com o presidente Trump”. Alguns ainda esperneiam dizendo que o chip funciona perfeitamente nos EUA também. Só um pigarro basta para desmoronar a empreitada. Aguarda daqui, transfere a linha para lá, começam por conferir lentamente seus dados. Lembre-se: nunca seja atendido por uma pessoa só. Desligue o telefone e recomece o processo. Assim, seus dados vão se solidificando no sistema. E continua a via-crúcis. Primeira etapa vencida, razão do cancelamento gera o fim das alternativas do script.

A partir daí vem a segunda etapa: nome da mãe, endereço, CPF, data de nascimento. Nesse momento surgem dúvidas. Eles dizem que os dados estão divergentes e você pensa: mentir a idade para um call center? Com que finalidade? Desliga e liga novamente. Touché! O dado estava certo. É difícil, mas o fato de o operador acreditar que você é você mesmo é um indicador importante para apontar o tempo restante da empreitada. Afastadas todas as dúvidas de que você é mesmo o insolente que, em algum momento, ousou cancelar um serviço dessa magnífica empresa. Passa-se então para o nível seguinte. (Vale lembrar que os tribunais estão cheios de causas trabalhistas ganhas nas quais os empregados protestam por ser obrigados a mentir para os clientes e manter o lucro da empresa.)

Faz-se, então, mais um longo período de silêncio, como se a ligação tivesse caído. De cá parece não haver ninguém ouvindo. Mas há. A dica é relembrar o oratório Elias, de Mendelssohn. E cantar com a voz solta! Com vibrato, glissando e fortíssimo. Em poucos instantes o atendente volta. Não aguenta tanta erudição e agora quer resolver sem a espera.

Quando restabelece a comunicação, o atendente lhe adverte que o cancelamento desse serviço será prejudicial para você e que haverá perdas desnecessárias, pontos perdidos, créditos cancelados e outras possíveis benesses desativadas. Repete todo o script em uma voz de partir o coração. Um repetente de palavras que deixa o calor do lar para ir trabalhar em um lugar inóspito desses, onde ele está proibido de conversar, opinar, dar dicas, bater um papinho. É muito triste. Até tentaram colocar um salzinho na voz do robô que atende no SAC, mas tirar o ânima da voz de quem tem vida é desolador. Um acinte ao direito de personalidade.

Quando a ligação retorna, o atendente avisa com uma locução verbal desnecessária , tipo estarei transferindo seu pedido para o atendente dos cancelamentos. Aqui só conferimos os dados. Ouve-se então a chamada interminável para outro ramal. Nesse ponto, finalmente, você passa a acreditar ter liquidado de vez com o Minotauro em seu labirinto. Seus problemas estão chegando ao fim. Enquanto isso, prossegue a chamada para o ramal que você foi transferido. Uma gravação faz com que você esqueça de ligar novamente, e depois da espera, você começa a imaginar que correria não estaria havendo naquela sala de atendimento da empresa, com todos atabalhoados buscando um meio de ajudá-lo com presteza. Um devaneio. Mais alguns minutos e a ligação cai. Poderia ter sido proposital? Eles ousariam tamanha tortura? Nesse ponto, você passa a ter a certeza de que no lugar de nervos estão fibras óticas no corpo daquela gente.

Nova chamada, novo atendente. Todo o processo reiniciado. Não adianta reclamar. Nessa nova tentativa, você tenta estabelecer um diálogo humanizado e começa a falar das razões íntimas que o levou a desistir do pequeno chip. Evoca a mãe doente, a necessidade de se desfazer de algumas despesas. Nessa tentativa de sensibilizar o que pode ser um atendente robô, com o coração de lata, você começa a agir já sob o que parece ser a síndrome de Estocolmo, buscando em seu algoz alguma identificação. Fala como deve ser triste passar tantas horas em um lugar estafante como esse enquanto os filhos ficam com a vizinha.

Agora, seu novo atendente, vendo o número de protocolos do seu CPF, começa a perceber claramente que você está a se render. Seguem-se novos questionários e a decisão derradeira. Você será transferido para o departamento das soluções racionais. Feita a transferência, é preciso aguardar ser atendido. O telefone chama, chama. Enfim, o Francisco aparece falando como gente. Faz todo o processo, garante que cancelou o chip e de repente pi, pi, pi, pi. Agora é esperar a assessoria de imprensa da empresaperguntar como pode me ajudar. E eu repetir como todas as vezes. Resolva o problema dos clientes de todo o Brasil!

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Andamento de papéis. Melhorar a máquina burocrática, porque, atualmente, um “habite-se” demora às vezes três meses para ser dado, quando devia possuir pessoal em condições de prestar pronto serviço. (Publicado em 17/9/1961)

Isso é o Brasil

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Se é difícil para os estrangeiros entenderem o Brasil, para a população que aqui vive, majoritariamente, composta por trabalhadores de baixa renda, é perda de tempo buscar sentido racional para o que acontece no dia a dia, principalmente com relação à escalada dos preços. Mesmo para os padrões americanos e europeus, os valores cobrados por diárias de hotéis e restaurantes de padrão médio no Brasil são extremamente mais elevados do que os preços desses mesmos serviços no exterior. São inúmeros os impostos e tributos que incidem sobre todos os bens de consumo. No ciclo fechado dos impostos, o único beneficiário direto é o governo, ou, mais precisamente, a gigantesca máquina administrativa do país que absorve o grosso da renda.

Além disso, o povo brasileiro não exerce a cidadania como outros povos. Associações, institutos, até agora, ninguém foi capaz de unir a população para cobrar do Estado o cumprimento de suas obrigações. Na década de 1960, sem Twitter, Facebook ou WhatsApp, as donas de casa conseguiam se mobilizar propondo boicote instantâneo aos produtos com preços abusivos ou a estabelecimentos com atendimento a desejar. Hoje, curiosamente, com todo esse aparato tecnológico, o máximo que se vê são piadas engraçadíssimas, mas sem efeito prático algum.

Difícil explicar em qualquer língua que apesar de possuirmos enormes jazidas de petróleo e contarmos com uma empresa com grande expertise na exploração, refino e distribuição desse mineral, temos o combustível mais caro e misturado do planeta. Como fazer entenderem outros povos quando afirmamos ter o maior rebanho de bovinos e frangos do planeta, se, nos supermercados, esses são artigos que só podem ser comprados por uma minoria?

Impossível que os estrangeiros entendam que somos o celeiro do mundo e temos milhões de quilômetros quadrados de terra perfeitamente agricultáveis, exportando grãos diversos para todos os cantos do planeta e nas gôndolas dos supermercados e nas feiras de rua o quilo do feijão, que é o alimento básico da população, chega a custar mais de US$ 6?

Qual a explicação para o fato de possuirmos 7.491 quilômetros de extensão de litoral e 200 milhas náuticas de mar territorial e termos uma produção e um consumo irrisório de pescado e derivados do mar? Como explicar os preços exorbitantes desses produtos para o consumidor? Como pode encontrarmos no mercado peixes vindos da China? Pior. Como um povo que vê na Constituição artigos que lhe garante saúde, transporte e educação e apesar disso ter que buscar plano de saúde, escolas particulares e usar o próprio carro por falta da mobilidade e esse mesmo povo reage com samba e futebol?

Nossos cientistas precisam deixar o Brasil para poder trabalhar e desenvolver projetos. Quem entende isso? Somos a Pátria Educadora que não educa; e que permite campanhas, comerciais, novelas e programas totalmente deseducativos. Nada foi feito efetivamente contra as baixarias na televisão. Talvez porque baixaria já não seja a mesma coisa. Valores e preços são substantivos que se misturam.

As mesmas interrogações se repetem para tudo o que produzimos e consumimos. Se repetem também para a complacência ao saber que há corrupção no samba, no futebol, na educação, na saúde, no transporte e, mesmo assim, a troca de informações nos meios eletrônicos se resumem em piadas ou, no máximo, colheres batendo em panelas. Melhor resumir essas questões com a frase enigmática: Isso é o Brasil.

A frase que foi pronunciada

“Os estrangeiros, eu sei que eles vão gostar, tem o Atlântico, tem vista pro mar. A Amazônia é o jardim do quintal e o dólar deles paga o nosso mingau.”

Raul Seixas

Até quando?
Por falar nisso tudo, a Secretaria de Educação do DF ainda não adotou nas escolas o livro de Marcelo Capucci e Marcos Linhares, Faço, separo, transformo. Tem gente em Londres que já se interessou. Precisa ser assim? Nunca vamos valorizar os nossos escritores, atores, músicos, cientistas, pintores, escultores…

História de Brasília

Estão falando muito em moratória para o comércio em Brasília. Será um descalabro. Basta que a Novacap pague suas dívidas, e o comércio de Brasília funcionará que é uma beleza (Publicado em 12/9/1961)

* Expecionalmente, republicamos a coluna de 9 de agosto de 2016

Ensino público não é prioridade

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Com o passar dos anos, um fato vai ficando evidente: o ensino público em nosso país, em todas as séries, incluindo, as universidades, não é prioridade de nenhum governo, em tempo algum. Não é por outro motivo que o Brasil continua patinando num eterno subdesenvolvimento, dependente de outros países quando o assunto é ciência e progresso tecnológico. Enquanto prosseguimos como exportadores de matérias-primas, vendidas a preços de irrisórios e que vão exaurindo, para sempre, nossos recursos naturais, outros países, menores territorialmente do que muitos estados brasileiros, lucram muito mais apenas com a formação de gerações de cérebros aptos a trabalhar com pesquisas científicas. Os nossos cérebros não encontram por aqui vantagens para dedicação a pesquisas.

A partir principalmente da revolução industrial, muitos países começaram a enxergar no desenvolvimento das ciências o lastro e o caminho mais seguro para o alcance do progresso e da riqueza. Países, como o Japão, a Alemanha, a Coreia do Sul, praticamente transformados em ruínas pelas guerras e pelas bombas, ergueram-se dos escombros apoiados por um massivo e prolongado programa de educação. Basta uma visita às escolas no interior das regiões mais pobres do Brasil para constatar o grau de precariedade com que esses estabelecimentos funcionam. Algumas escolas nem teto têm, outras faltam carteiras e material didático básico. Alunos têm de viajar quilômetros, as vezes a pé, para frequentar as aulas. Merenda escolar também é item de que muitas escolas não dispõem. Há prefeitos com coragem para subtrair a verba do lanche das crianças para outra finalidade.

Acesso à informática ainda é apenas sonho em muitos grupos escolares pelo interior do país. Em pleno século 21, nossas escolas públicas seguem sendo exatamente como eram em séculos passados. Com tal descaso, gerações, uma após outra, são obrigadas a permanecer atoladas no atraso e no subdesenvolvimento, reféns da vontade de políticos demagogos que usam o analfabetismo como ferramenta para permanecer eternamente explorando a população.

Em 2015, após a realização da Prova Brasil, que avalia alunos do ensino básico, constatou-se que quase 70% dos alunos do quinto ano das escolas públicas não sabiam, sequer, reconhecer um quadrado, um círculo ou um triângulo. Mais de 60% não conseguiam localizar informações colocadas de forma explícitas nas historinhas. Cerca de 90% dos alunos do 9º ano não sabiam converter uma medida dada em metro para centímetros. Educadores são unânimes em reconhecer que no ritmo atual o Brasil levará décadas para atingir as 20 metas de ensino propostas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), a serem cumpridas até 2020.

A proposta de destinar 100% dos royalties do petróleo e recursos, ditos infindáveis, do pré-sal, que os governos petistas anunciavam como uma panaceia redentora, mostrou-se um engodo, após as revelações da Operação Lava-Jato. Destruída pela corrupção avassaladora, a Petrobras, que poderia patrocinar esse imenso plano, é hoje uma empresa falida, assim como o ensino público deste país.

A frase que não foi pronunciada

“Ah, Marechal Deodoro da Fonseca, era por esse tipo de República que o senhor esperava?”

Pergunta imaginária de cidadãos brasileiros que, independentemente da forma de governo, continuam com problemas na saúde e educação, e enfrentam o péssimo exemplo dado pelos governantes

Que figura!

» Simpatia, simplicidade e muito trabalho. Karina Curi Rosso andava com os óculos despencando do rosto a todo momento. A falta de tempo e a preocupação com o volume diário de trabalho estavam sempre tomando o lugar da óptica. Até que alguém fechou a agenda por algumas horas para que Karina cuidasse do apetrecho. Por ela, estaria na sua simplicidade, segurando as lentes até hoje.

História de Brasília

Lama atola Jeep. Caiu a rampa do Senado, e a lama foi até a Vila Amaury. Vamos usar o atalho. Que nada, ninguém passa. Liga a reduzida! Até que enfim…(Publicado em 15/9/1961)

Um Brasil justo para Lula

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com Circe Cunha com MAMFIL

Fosse tomada ao pé da letra e num país ideal, a campanha, lançada pelo ex-presidente Lula e sua claque, intitulada Um Brasil justo pra todos e pra Lula, prestar-se-ia, a priori, como movimento legalista em defesa dos princípios constitucionais de igualdade de todos perante a lei e — quem sabe? — contra privilégios, como foro privilegiado para as autoridades. Mas num país que foi tomado como propriedade particular de um partido e de uma ideologia incipiente, o significado e o objetivo reais da campanha deixam subentendido que se trata, isso sim, de mais uma tentativa de desvirtuar o trabalho histórico do Ministério Público, criando e reforçando a falsa noção de que as investigações miram, seletivamente, apenas nos governos petistas, e, particularmente, no ex-presidente.

Trata-se, como já deixou claro, em diversas outras oportunidades, de construir uma narrativa crível de que a Justiça tem agido, atiçada por uma direita raivosa e vingativa. Pelo conteúdo dos discursos feitos na ocasião, fica claro que se trata de manifestação visando apenas blindar o ex-presidente, que já é réu em três processos relacionados a casos de corrupção e obstrução da Justiça.

Em seu discurso, Lula partiu logo para cima dos procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato, acusando-os de formarem, juntamente com a mídia e a Polícia Federal, “um pacto quase diabólico”, visando desconstruir sua reputação e seus 8 anos de governo. “Eu penso, disse Lula, que eles cometeram um pequeno erro. É que eles mexeram com a pessoa errada. Eu não tenho nenhuma preocupação de prestar contas à Justiça brasileira. O que eu tenho preocupação é quando eu vejo um pacto quase diabólico entre a mídia, a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz que está apurando todo esse processo.”

Analisando apenas a expressão “eles mexeram com a pessoa errada”, fica claro que o ex-presidente se considera diferente e acima dos demais brasileiros e que, portanto, não pode ser alvo de investigação. Já a colocação de que está sendo alvo de um pacto diabólico, iguala o discurso de Lula às pregações feitas por muitos pastores neopentecostais para amedrontar os fiéis e, assim, transformá-los em presa fácil para as igrejas caça-níqueis.

“Eu me sentiria confortável participando de um ato de acusação à força-tarefa da Lava-Jato, que está mentindo para a sociedade brasileira”, afirmou o ex-presidente, para quem os delegados que o investigam agem comprometidos ideologicamente com determinados partidos. Somada a essa campanha de blindagem, os movimentos sociais, orquestrados pelo Partido dos Trabalhadores, realizaram manifestações em algumas capitais brasileiras, queimando pneus em vias públicas e paralisando os serviços de transporte público. Como sempre, sobrou para os verdadeiros trabalhadores. Um dia de caos.

A frase que não foi pronunciada

“Ambiente universitário é local de debates acadêmicos de ideias… Não é lugar de impor a força, mas o convencimento. Foi isso o que aprendi estudando aqui.”

Professor Alex Araújo, da UnB na Assembleia dos Professores contra atos de força na UnB

Perigo

» Atenção, motoristas! A engenharia de trânsito do Distrito Federal descuidou da construção de recuo para a parada de ônibus na lateral do Shopping Iguatemi, na descida para o Varjão. O embarque e odesembarque dos passageiros são feitos no centro da pista, interrompendo o fluxo de veículos.

Lei cega

» Os moradores da 715 norte estão aterrorizados com a onda de assaltos à mão armada na quadra. Em apenas uma semana, três assaltos aconteceram na área, mas até o momento ninguém foi preso. A maioria dos casos aparenta ser, segundo testemunhas, praticada por menores de idade. A pergunta que fica é: o crime praticado por menores é menor

Lava a jato

» É uma tristeza andar pela UnB e ver prédios novos como a Face, o Bsan e o Irel pichados com frases de ordem ideológicas. Depredar o patrimônio público é crime. Quem fará com que a lei seja obedecida?

Estresse

» Exagerada a quantidade de outdoors pela cidade. A poluição visual, assim como a sonora e a ambiental, causa problemas de saúde na população.

História de Brasília

E a distribuição do O Jornal, como vai? Se o Calmon chegar aqui e não encontrar o jornal no aeroporto, e no Hotel, você acaba sendo demitido. Era a luta dia a dia. Todos os horários de aviões na cabeça. Real, às 9h30, e Panair, às 10h. Se não vier num, virá no outro.(Publicado em 15/9/1961)

Os fios das Ariadnes

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com Circe Cunha e MAMFIL

Colocada ao lado da realidade, a ficção se mostra apenas como uma sombra. No Mito da caverna, de Platão, o que os prisioneiros acorrentados veem e aceitam como fato não passa de ficção projetada contra o fundo da parede. A realidade, ofertada a poucos, arde lá fora. Recém-formada em direito, Ariadne divulgou pela internet o que é apresentado aos milhares de navegantes acorrentados: um mundo como ele é e que muitos ainda insistem que é delírios oriundos da imaginação. No texto enxuto, escrito em forma de despedida e que logo será capturado por alguém, como roteiro de um thriller, o que se apresentam são as pegadas meticulosas de um serial assediador.

O uso da posição hierárquica, como arma afiada, da inteligência, como armadilha, capaz de encurralar a presa num canto escuro. O assédio moral nas suas infinitas formas e que muitos tribunais não julgam com a rigidez necessária, os projetos de lei sobre o assunto que repousam no Congresso, cheios de lacunas na tipificação do crime, e a própria sociedade continuam torcendo o nariz. Por isso, fazem vítimas a todo o instante. Os alvos param de agir como se estivessem em uma areia movediça. Gritam, mas no lugar do socorro vem o pedido de silêncio. Toda a história incomoda muito. De um lado a indústria do dano moral e de outro o assédio moral mal compreendido, com sequelas psicológicas, como se a vida fosse se desbotando.

Quem vence o episódio de assédio moral carrega sempre uma cicatriz. É inegável. Ariadne não tinha o apoio da família. Com a autoestima frágil, o desfecho dificilmente seria outro. Para os mais sensíveis e indefesos, o fim do caso pode ser fatal. Quem entende da questão relata que é comum, em muitos casos, que a presa passe a se sentir como que atolada numa areia movediça. A cada movimento feito para se libertar, corresponde uma ação contrária, com a pessoa afundando mais e mais, até ser completamente tragada pela areia. Paralisada , com o encantamento aterrorizante da serpente, a presa não encontra ação para resistir.

Se o alvo do assédio moral tiver o azar de encontrar psicólogos ou psiquiatras que tratam da mente, da alma sem o conhecimento necessário para agir corretamente, aí o desastre é certo. Aqueles que agem dentro da ética na medida do possível devem ser execrados o mais cedo possível.

Que forças ocultas e inexplicáveis seriam capazes de fazer uma jovem, recém-formada e com uma longa estrada pela frente, viajar propositadamente dezenas de quilômetros para se pôr à beira do precipício e de lá empreender um salto para o vazio? O que temos agora, queimando em nossas mãos são as linhas de Ariadne. Escritas, como se fossem um novelo de lã, parecem querer nos conduzir para fora desse labirinto do Minotauro. Ariadne da mitologia teceu a solução para a saída desse emaranhado de entradas e saídas. Ariadne de Brasília deixou o fio da meada para trás. Ninguém conseguiu ajudá-la.

O testamento de Ariadne é o derradeiro grito dado por uma menina desesperada, que, para além do pavor, ainda encontrou coragem para alertar outros do grande perigo. Agora, o dedo silencioso de um cadáver apontando determinada direção parece indicar o algoz próximo. Mais são muitos. Qual deles? O que poderá toda inteligência humana contra um dedo de cadáver apontando em várias direções? Muitas Ariadnes por todo o canto experimentam neste exato instante terror psicológico semelhante e não encontram a saída do labirinto. O que poderá todo o monumental edifício do direito contra um dedo rijo e morto que insiste em apontar?

A frase que foi pronunciada
“Assédio moral não é uma
foto. É um filme.”

Marie-France Hirigoyen

Novidade
» Uma cartilha foi a solução para explicar a políticos, congressistas, empresários, jornalistas e outros contatos da Embaixada do Brasil em Washington. O tema é a transição política e econômica no Brasil. Quais os passos para recuperar a economia e como se deu o impeachment.
Sem surpresas
» A pesquisa do Ibope que o Ministério da Educação encomendou apontou que 70% da população apoia a reforma no ensino médio. Alguma coisa precisa ser feita. Professores universitários são os que mais reclamam do baixo nível dos alunos nos últimos 10 anos.

História de Brasília
Éramos três: Antônio Honório, Jairo Valadares e eu. Para um pouco, chega! Vamos ao hotel tomar alguma coisa! A gente enlouquece, nessa nostalgia. Vinham aos sábados as visitas. Era o único dia de passeio. A gente iria mostrar a cidade. Cuidado, não beba água sem limão. Dá dor de barriga! (Publicado em 15/9/1961)

Alea jacta est

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com Circe Cunha com MAMFIL

Fossem os países do Ocidente um grande tabuleiro de xadrez, o que estaríamos assistindo agora seria à enorme reorganização das peças para nova rodada de jogos estratégicos que parecem estar prestes a começar. Os cidadãos americanos fizeram suas apostas e depositaram nas urnas. No entanto, o que emergiu da contagem de votos, não foi um enxadrista cerebral, que seria a escolha mais racional, mas um antigo magnata dos cassinos.

Nos próximos quatro anos, a nação mais poderosa e rica do planeta será comandada literalmente por uma espécie de crupiê que dará as cartas com uma mão e recolherá o dinheiro com a outra. Quem visita as cidades americanas de Las Vegas e Atlantic City, com seus enormes cassinos, decorados com o que existe de mais luxuoso e cafona, pode assistir, a cada manhã, à chegada sucessiva de dezenas de caravanas de ônibus, na sua maioria repletos de americanos da terceira idade. Assim que desembarcam, rumam apressados para a jogatina que se estende até ao final do dia.

Durante horas seguidas, idosos, a maioria aposentados e solitários, ficam defronte às máquinas caça-níqueis (slot machines) acionando as manivelas da engenhoca, à espera da sorte grande, que, obviamente, jamais virá. Muitos manejam mais de uma máquina ao mesmo tempo, depositando nelas a aposentadoria depois de décadas de trabalho. Economias de toda uma vida são instantaneamente tragadas pelos dragões de metal, sob o olhar frio dos seguranças que transitam desconfiados pelos salões repletos.

Quando a noite cai, os disciplinados grupos de cabeças brancas regressam aos ônibus e partem para uma longa jornada de volta. Retornam para suas cidades de origem, depenados e mais leves. Todos os dias a cena se repete, com levas de idosos tentando a sorte nos cassinos. Para muitos, é diversão e aventura. Para os donos, a certeza de muitos milhões diariamente.

Parte da fortuna do futuro presidente americano, agora eleito, foi montada às custas do empobrecimento voluntário de seus conterrâneos de mais idade. Afinal, tudo é feito sem remorso e a partir da decisão livre de cada um. Também no Brasil a sorte está sendo lançada. Com a aprovação pela Comissão Especial do Desenvolvimento Nacional do Senado do projeto de lei que legaliza os jogos de azar no país, de autoria do senador Ciro Nogueira (PP-PI), em breve teremos espalhados por todo o território nacional nossos próprios cassinos, bingos, jogos de bicho e outras modalidades de jogos de azar.

A sorte, claro, ficará apenas para os proprietários das casas de jogos. Quem sabe um dia alguns dos novos magnatas dos jogos não venham se lançar na política e concorrer a presidente da República do Brasil? Por esses caminhos, teremos também a nossa versão de Trump. A sorte está lançada.

A frase que foi pronunciada

“No Brasil, temos a operação Lava-Jato e a Operação Lava-Cérebro”

Alguém vendo estudantes em manifestações repetindo mecanicamente frases de efeito.

Catetinho

» Já se passaram 60 anos da construção do Catetinho, primeira sede do governo federal em Brasília. Parece que quanto mais simples o palácio, mais realizações são feitas.

Mulheres

» Por todo o país, há muitas músicas compostas com o objetivo de denunciar violência contra a mulher. Paulo Diego de Sousa, de Samambaia, compôs Meu pai é um monstro; Drika Ferreira e Micheli Hansen, de São Paulo, são as autoras da canção Lei Maria da Penha. Em uma só voz foi composta por Lidiane de Jesus, de Planaltina. Está na hora de promover essas pessoas. A música é um bom instrumento de conscientização.

Mulheres

» Quem detesta fila e engarrafamentos para assistir a bons shows tem uma oportunidade amanhã. No Setor Comercial Sul, Edifício Presidente Dutra, Teatro Silvio Barbato, Sesc, show de Célia Rabelo e noneto da Brasília Popular Orquestra. A batuta é do maestro Manoel Carvalho de Oliveira. A melhor parte: O show é às 11h30 e vai ter um bolinho para Célia, que faz aniversário.

História de Brasília

Observância ao Plano Piloto. Na W3, há diversas oficinas, principalmente de automóveis (Folks, DKW, Willys) tudo isto irregular. No Setor Escolar, há uma estação de rádio. Em frente à Novacap, residências são transformadas em casa de comércio, e os cartórios dão mau exemplo. Nos SCL, a área de trânsito público é ocupada por bares, com mesas ao ar livre. Sobre o ajardinamento, a área total reservada para jardins de Brasília atinge a milhões de metros quadrados, incluindo a margem do Lago. É um dos Departamentos que merecerá maior verba, para útil aplicação. (Publicado em 17/9/1961)