A voz da democracia

Publicado em Íntegra

VISTO, LIDO E OUVIDO – A voz da democracia

Criada por Ari Cunha desde 1960

jornalistacircecunha@gmail.com

com Circe Cunha e Mamfil

 

Muito fácil reconhecer, neste estranho país, que a cada governo entrante, corresponde uma ou mais crises específicas que, em última análise, acaba por definir e dar forma e caráter a ele. Essa é a trilha que escolhemos para seguir a jornada desde 1500. Talvez exista, nestas atribuladas governanças do homem branco, algum Oremú ou urucubaca lançada pelos primeiros habitantes dessa terra, traído e ameaçado, contra os invasores europeus. Parece que somente pelo viés das superstições é que se pode encontrar uma explicação inteligível para o fato desta sequência ininterrupta de governos e suas respectivas crises, sejam elas institucionais, políticas, econômicas, sociais ou de saúde; pública ou pessoal.

Há aqueles cidadãos que acreditam também numa revanche espiritual, vinda do além, da família imperial, usurpada do poder por um golpe de Estado, dado por meia dúzia de oficiais traidores, que na calada das três horas da madrugada de 15 de novembro de 1889, prendeu toda a família no Paço, mandando-a para o Velho Continente.  Primeiro, a bordo do cruzador Parnaíba até a Ilha Grande, onde todos embarcaram, durante uma tempestade, no paquete avariado Alagoas rumo ao exílio forçado na Europa.

Com o advento da República, o que menos podemos afirmar é que o Brasil encontrou, finalmente, um período de estabilidade política. De lá para cá, o que se viu foi uma sucessão de trapalhadas e uma sequência insana de pequenos golpes intramuros que, ao fim ao cabo, definiu o que somos hoje.

Bom lembrar que, ao longo dessa jornada histórica trôpega, a participação dos militares nas empreitadas palacianas doidivanas serviria para garantir a baixa qualidade de nossa governança desde então.

A substituição brusca de um imperador culto e apaziguador por militares semialfabetizados e com ímpetos absolutistas de um monarca deu no que deu. Com uma movimentação institucional dessa natureza, nada podia dar certo. Sem mencionar o período após 1964, que, verdadeiramente, ajudaria o Brasil a se afastar da área de influência ideológica da União Soviética e, depois, tomaria outros rumos e descaminhos, o que acabaria alijando toda uma geração de brasileiros ilustres e providenciais, com expurgos e outras medidas desproporcionais. O que se viu, após o retorno da democracia, em 1985, fala por si.

Crises seguidas, projetos e programas políticos desastrados e uma espécie de institucionalização da corrupção em toda a máquina do Estado. A falta de cultura e de escolarização do povo e das autoridades, aliada à existência de um sem número de estatais e outras sinecuras sem razão de ser, além de fatores, como a cegueira providencial da Justiça em relação aos poderosos, conduziu-nos ao ponto nebuloso em que nos encontramos hoje.

Inútil falar em crescer com responsabilidade quando, como disse Heloísa Helena, há um balcão de negócios por trás de projetos. Impossível falar em mais obras para o futuro quando a propina é abafada com tapete de borracha. Infrutífero pregar a redução da desigualdade social quando, nas escolas, é permitido dar aulas no quadro da ideologia. Inapropriado falar em união dos brasileiros quando, repetidas vezes, troca-se a roupa e o corpo da verdadeira democracia. Não há participação popular em decisão alguma. Os desmandos provocam medo, que dizem não existir entre os homens e mulheres de bem do Brasil. Totalmente infrutífero conclamar a população para crescer com responsabilidade, com o aviltante esbanjamento do dinheiro suado do contribuinte.

Passados tantos séculos de estripulias e desavenças, o que vemos a partir de nossa janela, confirma que nada aprendemos ao longo desse tempo todo. Mergulhados no que talvez seja sua maior crise existencial pelo menos na área da ética. O silêncio carregou em si o maior protesto já registrado nesse país. Sem infiltrados, sem ataques, sem prejuízo ao patrimônio material. Uma forma inteligente de gritar calando. Assim não há como prender. Assim não há como condenar. Impossível perseguir. Em cada crise parece não haver gente preparada para enfrenta-la com a voz. Só com o silêncio.

Sorriem indo para a Índia, distribuindo adeus, enquanto a parte sul do país agoniza. Mais uma vez um evento esvaziado depois de dezenas de horas de viagem. São os encastelados nas mais importantes funções do Estado, tentando, às cegas, reduzir os danos de uma popularidade zero. Mesmo com tantos favores, tantos “amigos e amigas”. Está na hora de acender uma vela para D. Pedro II, pedindo misericórdia, e para Nossa Senhora Aparecida, proteção.

 

A frase que foi pronunciada

“O povo que não conhece sua história e seu passado não terá a chance de construir um futuro melhor”

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil

 

História de Brasília

No Departamento de Força e Luz, há um relógio elétrico, que dispara, automaticamente, às 11h30, avisando o almoço dos funcionários. Com as interrupções de energia, o relógio para e volta a funcionar, e, outro dia, os funcionários trabalharam uma hora a mais sem saber. (Publicada em 23/3/1962)

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