As chuvas de verão são certas como o suceder dos dias e das noites ou da mudança das fases da Lua. Regulares, transmitem a impressão de que figuram no calendário como o Natal, a Páscoa e o carnaval. Mas, apesar de previsíveis, pegam os governantes de calças curtas. Ruas viram lagos, rios transbordam, morros deslizam, carros se afogam, casas desmoronam, famílias se desalojam, pessoas perdem a vida.
Este ano o enredo se repete. As tragédias se sucedem. O primeiro ato foi em Niterói. A seguir, Belo Horizonte. Dias depois, Brasília. Outras cidades põem a barba de molho. Sabem que a água despencará do céu. Só não sabem quando. Enquanto esperam, dão uma olhadinha na gramática. Aprendem a conjugar o verbo ruir.
Ruir é defectivo. Pra lá de preguiçoso, só se flexiona nas formas em que o e ou o i seguem o u. A primeira pessoa do presente do indicativo seria eu ruo. Nem pensar. Sem ela, nada de presente do subjuntivo. Assim, temos:
presente do indicativo: ele rui, nós ruímos, eles ruem
pretérito perfeito: eu ruí, ele ruiu, nós ruímos, eles ruíram
pretérito imperfeito: eu ruía, ele ruía, nós ruíamos, eles ruíam
futuro do presente: eu ruirei, ele ruirá, nós ruiremos, eles ruirão
futuro do pretérito: eu ruiria, ele ruiria, nós ruiríamos, eles ruiriam
imperfeito do subjuntivo: se eu ruísse, ele ruísse, nós ruíssemos, eles ruíssem
futuro do subjuntivo: quando eu ruir, ele ruir, nós ruirmos, eles ruírem
É isso. O verbo que ninguém ama nem quer não tem todas as pessoas, tempos e modos. Ainda bem. Já imaginou se fosse completo? Os estragos seriam multiplicados. Valha-nos, Deus! Xô!