Olhos se arregalaram. Ouvidos se afinaram. Bocas se calaram. Ninguém acreditava. Mas é fato. A prova está lá, nos anais da Assembleia Geral da ONU. A razão do espanto: construção pra lá de sofisticada exibida pelo presidente. “Esta é a oportunidade de o Brasil se apresentar ao mundo”, disse Bolsonaro diante do plenário lotado.
Por que de o Brasil?, perguntavam presentes e ausentes. Há explicação para a preposição ficar de um lado e o artigo de outro? Há. Na gramática, nem todos são iguais perante a lei. Alguns são mais iguais. É o caso do sujeito. Dono e senhor da oração, ele manda e desmanda. Com ele ninguém pode.
Sem intimidade
Um dos caprichos do mandachuva: nunca vir preposicionado. Por isso, nem em delírio junte o artigo ou o pronome que acompanha o todo-poderoso com a preposição. Dizer “É hora do show começar”? Valha-nos, Deus! Peça perdão de joelhos. E redima-se: É hora de o show começar.
Veja exemplos: Chegou o momento de a viagem (sujeito) começar. Sobre a possibilidade de o presidente Trump (sujeito) perder o mandato, muita água vai rolar. É tempo de os programas de tevê (sujeito) diminuírem a violência. Treme só de pensar na hipótese de a mulher (sujeito) pedir o divórcio.
Tratamento igual
A mesma distância aristocrática vale para o pronome. Diante do sujeito, não duvide. É um pra lá e outro pra cá: Chegou o momento de ela (sujeito) agir. Está na hora de eu (sujeito) entrar. O fato de este servidor (sujeito) chegar atrasado tem a ver com a greve do metrô.
Olho vivo
Não seja mais real que o rei. Só o sujeito rejeita a preposição. Os outros termos pertencem ao time dos iguais: É hora do descanso. Falamos sobre a possibilidade de reconciliação dos dois irmãos. Gosto dela.
Superdica
Pra entrar no time do mais igual, o sujeito vem seguido de verbo no infinitivo: Antes de o galo cantar, tu me negarás três vezes.
Dito e feito. Amém.