“Acompanhamos todas as tentativas que houveram até aqui”, disse o candidato no debate da tevê. Não satisfeito, completou: “Nós temos consciência da demanda por moradias que não haviam no mercado”. Ops! Baita trombada. Há muito, aliás, o verbo haver causa estragos na fala e na escrita. Lá longe, no curso primário, nossos professores já diziam: “O verbo haver, no sentido de existir e ocorrer, é impessoal”. O que isso quer dizer?
A maioria dos verbos – comuns, rotineiros, sem charme – é pessoal. Conjuga-se em todas as pessoas (eu, tu, ele, nós, vós, eles). Veja, por exemplo, trabalhar: eu trabalho, tu trabalhas, ele trabalha, nós trabalhamos, vós trabalhais, eles trabalham.
O verbo haver é diferente. Detesta fazer parte de rebanho. Quer ser especial. No sentido de ocorrer e existir, é impessoal. Sem sujeito, só se conjuga 3a pessoa do singular. Por isso se chama verbo singular. É o caso dos nossos exemplos: Acompanhamos todas as tentativas que houve (existiram) até aqui. Nós temos consciência da demanda por moradias que não havia (existiam) no mercado.
Por que se faz tanta confusão com essa criatura? Muitos, com medo de errar, imaginam que o objeto direto é o sujeito, sobretudo se o verbo estiver no passado. Quando se diz “houve poucos distúrbios”, distúrbios não é sujeito, mas objeto direto, ao contrário do que pensam os desavisados. O verbo haver é impessoal, lembre-se.
Contágio
A impessoalidade é contagiosa. Os auxiliares do haver também se tornam impessoais: Deve haver muitos distúrbios. Ia haver habitações no mercado. Pode haver briga nas eleições.
Sempre que se vir tentado a flexionar o verbo haver, pense. No sentido de ocorrer e de existir, ele é invariável, irremediavelmente fiel à 3a pessoa. Por via das dúvidas, risque o houveram do seu vocabulário.
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