Tesouro Direto volta a vender títulos e eleva juros para mais de 12% ao ano

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ROSANA HESSEL

O mercado já cobra uma a fatura mais alta pelas aventuras populistas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que tenta emplacar o novo Bolsa Família de R$ 400 destruindo o teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas à inflação e o governo aumenta a remuneração dos títulos públicos.

Após a interrupção na venda de alguns títulos, nesta sexta-feira (22/10), o Tesouro Direto retornou à normalidade pagando mais de 12% nos títulos prefixados, mesmo nos com prazos de vencimento mais curtos. Já os prêmios adicionais para todos os títulos indexados à inflação (Tesouro IPCA) estão acima de 5% até para papeis com vencimentos em 2026, o que não ocorria no início da semana.

O Tesouro Prefixado com vencimento em 2024, o mais curto disponível para a compra, era negociado pagando juros de 12,22% ao ano. Já o mesmo Tesouro Prefixado com vencimento em 2027, passou a remunerar 12,41% ao ano. Essa taxa está acima dos 11,54% ao ano pagos para o mesmo papel com vencimento no leilão de ontem, quando foram vendidos 50 mil unidades.

O Tesouro IPCA com vencimento em 15 de agosto de 2026 passou a pagar 5,34% adicionais à inflação, acima dos 4,90% negociados no leilão para o mesmo papel no último dia 19. O Tesouro IPCA mais longo, com vencimento em 15 de maio de 2055, remunera IPCA mais 5,50% ao ano, com cupom semestral.

Curva inclinada

De acordo com analistas, o mau humor do mercado afetou a curva de juros que ficou mais inclinada, ou seja, os investidores estão cobrando um prêmio de risco mais alto para comprarem os títulos públicos. Logo, isso deverá refletir em uma alta mais forte na taxa básica da economia (Selic) na próxima reunião do Copom, entre os dias 26 e 27 deste mês. As novas estimativas são de alta de, pelo menos, 1,5 ponto percentual na Selic.

O economista-chefe da RPS Capital, Gabriel Leal de Barros, contou que, apenas hoje, houve uma alta de dois pontos percentuais na precificação da curva de juros. “O Banco Central deveria elevar a Selic em 150 pontos-base na próxima reunião, mas tenho dúvidas se o farão”, disse. Segundo ele, a curva de juros para contratos agosto de 2022, está em 12,38%.

Barros prevê duas altas de 1,25 pontos percentuais nas duas últimas reuniões do Copom , o que elevaria a taxa Selic dos atuais 6,25% para 8,75% ao ano até o fim do ano. “É o que acho que irão fazer, mas não o que deveriam fazer”, acrescentou.

Enquanto isso, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) segue em queda nesta sexta-feira, após abrir com forte oscilação nos primeiros minutos de pregão após amargar R$ 284 bilhões em perdas na véspera. Às 13h16 o Índice Bovespa, principal indicador da B3, registrou queda perto de 3,5%, renovando o piso de 103,9 mil pontos. O dólar continua em alta e encosta em R$ 5,73.

E a piora nas estimativas está em curso com o visível fim do teto de gastos, a única âncora fiscal vigente. Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, elevou de 10,5% para 10,75% a taxa Selic no fim do ciclo do aperto monetário, que deverá ocorrer até abril de 2022. Por enquanto, ele prevê alta de 5,16% na inflação oficial de 2022, mas o viés é de alta. “O peso no ajuste do Banco Central é necessário para evitar descontrole das expectativas. Bye Bye âncora fiscal”, destacou.

Vicente Nunes