Presidente de Portugal diz que novo primeiro ministro é caipira, imprevisível e dá muito trabalho

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O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que o novo primeiro-ministro do país, Luís Montenegro, de centro-direita, é caipira (“com comportamentos rurais”), imprevisível e dá muito trabalho.

“Ele é uma pessoa que vem de um país profundo, urbano-rural, com comportamentos rurais. É muito curioso, difícil de entender, precisamente por causa disso. Agora, é completamente independente, não influenciável e improvisador”, disse Rebelo de Sousa, em jantar, na noite de terça-feira (23/04), com jornalistas estrangeiros.

Na avaliação do presidente, como decide tudo muito em cima da hora, Montenegro, que tomou posse em 2 de abril último, é bem diferente do antecessor, António Costa, que, “por ser oriental, era lento, gostava de informar, acompanhar e entregar”.

“António Costa era lento, por ser oriental. Montenegro não é oriental, mas é lento, tem o tempo do país rural, embora urbanizado. Me faz lembrar o antigo PSD (Partido Social Democrata), que era isso. O PS (Partido Socialista) era Lisboa, a grande Lisboa, as áreas metropolitanas, e o PSD era o resto do país, sobretudo o Norte e o Centro-Norte”, comparou Rebelo de Sousa.

Segundo o líder português, diariamente, ele é surpreendido pelo novo primeiro-ministro. “Todos os dias, tenho surpresas, porque ele é imaginativo e tem uma lógica de raciocínio como sendo de um país tradicional”, assinala. “É estimulante, mas, para mim, dá muito trabalho”, emendou.

Improviso nas europeias

A mais recente surpresa de Montenegro, acrescentou Rebelo de Sousa, foi a escolha do jovem Sebastião Bugalho, 28 anos, para encabeçar a lista da Aliança Democrática (PSD/CDS/PPM) às eleições europeias de junho próximo. Todos davam como certo que a liderança seria do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. “Foi totalmente uma improvisação, um segredo até o fim”, disse.

Com a nomeação dos 17 ministros do governo, não foi diferente, destacou o presidente. “Ele (Montenegro) formou um governo de forma impensável. Só começou a convidar os ministros na manhã do dia de me entregar a lista, um risco. E foi tão sigiloso, que nenhum deles sabia do outro. Só foram se encontrar no dia da posse”, ressaltou. Esse comportamento, inclusive, impediu que os nomes dos secretários de Estado fossem anunciados no mesmo dia.

Para Rebelo de Sousa, como Montenegro é “muito, muito, muito sigiloso”, continuará com improvisos e surpresas. Afirmou, ainda que, quando o primeiro-ministro “acredita que é um erro falar, prefere o silêncio. Por isso, vai virar um político do silêncio”. Sendo assim, pode-se esperar “a gestão do silêncio”, o que não se vê desde os tempos dos generais. “Há, também, o efeito surpresa. Quando esperam que ele faça algo, faz uma coisa diferente, ou no time ou na ideia”, complementou.

No entender do presidente da República, é difícil prever se esse tipo de comportamento dará certo. “Ele é um grande orador, mas é um político à moda antiga, não é um político ao estilo do ex-primeiro-ministro António Costa e muito menos ao estilo de (integrantes de) partidos populistas. Vamos ver se conseguirá controlar o tempo, compatibilizá-lo com o governo, em meio à polarização”, disse.

Vicente Nunes