Enquanto assiste, atônita, à mais grave crise política do país em quase três décadas, a população vê seu poder de compra ser destruído de forma avassaladora. A inflação acumulada nos 12 meses terminados em novembro atingiu 10,48%, refletindo o desastre da política econômica de Dilma Rousseff, que só tem um objetivo: salvar seu mandato. A maior parte da alta do custo de vida veio das tarifas de energia elétrica e dos preços dos combustíveis, que a petista represou o quanto pode para garantir a reeleição, que, agora, está ameaçada por um processo de impeachment.
O quadro inflacionário é alarmante. Oito em cada 10 produtos e serviços pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram aumento em novembro. A disseminação dos reajustes levou os analistas a revisarem, para pior, as projeções de dezembro. Há quem fale em taxa próxima de 1%. Com isso, 2016 começará com o custo de vida pressionado, apesar de o nível da atividade estar despencando. Tudo indica que, pelo segundo ano seguido, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vai estourar o teto da meta, de 6,5%.
A inflação é uma inimiga da qual não se pode descuidar nunca. Dilma, no entanto, acreditou que um pouco mais de carestia seria bom para o Brasil. Ajudaria a sustentar o crescimento econômico. Quando ela se deu conta de que o aumento do custo poderia ser um problema para a reeleição, tratou de recorrer a maquiagens para enganar os eleitores. Na canetada, reduziu as tarifas de energia em 20%, na média, mesmo com toda a conjuntura desfavorável para o setor. Em relação aos combustíveis, obrigou a Petrobras a segurar os reajustes, o que consumiu mais de R$ 60 bilhões do caixa da empresa.
Depois da reeleição, a presidente impôs a realidade aos brasileiros, num dos maiores estelionatos eleitorais da história do país. Desde então, a conta de luz não parou de subir, registrando, nos últimos 12 meses, aumento médio de 51,27%. No mesmo período, a gasolina ficou 19,35% mais cara. Não bastasse isso, os consumidores tiveram que arcar com repasses generalizados da alta do dólar para os preços, apesar de o Banco Central dizer que essa transmissão seria pequena. A moeda norte-americana subiu, principalmente, por causa da desconfiança em relação ao governo.
Onda de remarcações
Para o IPCA chegar aos 15% não falta muito. Com a crise política paralisando toda a economia, o Brasil pode assistir a uma onda de remarcações preventivas. Num país em que a memória inflacionária continua latente e há uma forte indexação de contratos à inflação passada, o controle de preços é muito frágil. O Banco Central, inclusive, admite que os efeitos secundários dos aumentos das tarifas públicas ainda não chegaram com tudo à economia. Quer dizer: há uma inflação reprimida referente à energia elétrica e aos combustíveis que tende a contaminar os demais preços da economia.
Não por acaso, a autoridade monetária está elevando o tom para avisar que a taxa básica de juros (Selic), em 14,25% ao ano, subirá em janeiro. O Banco Central sabe que, se não agir rapidamente, o descontrole inflacionário se tornará realidade, desorganizado uma economia que levou décadas para se estabilizar. Foi a leniência do governo, com a subserviência do BC, que levaram o país ao quadro atual. Para satisfazer Dilma, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic ao menor nível da história em 2012, para 7,25%. Mesmo tendo iniciado um processo de arrocho seis meses depois, a instituição nunca conseguiu levar o IPCA para o centro da meta, de 4,5%.
A praga da inflação está concentrada justamente nos três países que optaram por políticas populistas, ludibriando a boa vontade dos eleitores: Brasil, Venezuela e Argentina. Nas economias em que houve a responsabilidade fiscal — aqui, o governo fechará o ano com rombo nas contas pelo segundo ano seguido —, forte abertura econômica e estímulo à competição, a carestia está nos níveis mais baixos da história. É o caso do México, onde a inflação em 12 meses atingiu 2,21%, afastando qualquer possibilidade de o banco central local elevar as taxas de juros.
Sem perdão
Com o governo derretendo e o Congresso sendo desmoralizado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que manobra descaradamente as regras para não perder o mandato por corrupção, a situação no Brasil só tende a piorar. Ciente disso, a agência de classificação de risco Moody’s avisou que vai rebaixar o país. As condições impostas pela empresa para manter o grau de investimento são de que a economia cresça pelo 2% ao ano e que o governo faça superavit primário (poupança para o pagamento de juros da dívida) de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), Não há como isso acontecer tão cedo.
As projeções apontam para retração do PIB de pelo menos 3% em 2016 e queda próxima de 0,5% em 2017. Já as contas públicas registrarão deficit até o fim de 2016, a despeito de o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prometer superavit primário de 0,7% do PIB. Com a política dando as diretrizes e Dilma totalmente desacreditada, só mesmo uma mudança de governo seria capaz, neste momento, de limpar o horizonte e mudar as perspectivas para o país. Foi a torcida por esse quadro de alívio, por sinal, que levou a Bolsa de Valores de São Paulo a registrar ontem alta de quase 4% e o dólar a cair mais de 1%.
Nesse momento tão difícil, talvez o governo pudesse dar um alento à população: a garantia de que a carestia não sairá do controle. A população mais pobre está desesperada. Já não consegue mais comprar sequer produtos básicos. Muita gente está sendo obrigada a dar calotes. Cerca de 57 milhões de pessoas estão na lista de inadimplentes. O desemprego chegou com tudo. A lição é clara: a inflação não perdoa. Mata.
Brasília, 08h30min