CUSTO EFETIVO DA DÍVIDA FEDERAL CHEGA A 41,4%

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A desconfiança em relação à presidente Dilma Rousseff está matando as finanças do país. O custo efetivo da dívida pública do governo federal e do Banco Central chegou a inacreditáveis 41,4% nos 12 meses terminados em outubro. É quase três vezes a taxa básica da economia (Selic), de 14,25% ao ano, já apontada como uma aberração num mundo em que os juros médios estão próximos de zero. Quanto mais o Brasil demorar para sair do maremoto político, agora agigantado pelo pedido de impeachment de Dilma, mais caro ficará o financiamento do setor público. O risco de insolvência do país ficará latente.

 

O custo efetivo da dívida está camuflado nas estatísticas do Banco Central. Não há interesse em revelá-lo para evitar críticas mais pesadas ao governo. Mas a situação chegou a um ponto tão preocupante, que os especialistas passaram a acompanhar o indicador com lupa, sobretudo pela velocidade com que vem aumentando. Em abril, o custo estava em 30,9%, ou seja, em apenas seis meses, saltou 11,4 pontos percentuais, algo sem precedente para um espaço tão curto de tempo em mais de uma década. “Não há como sustentar uma taxa tão elevada por muito mais tempo”, diz Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC.

 

Para se ter uma ideia do estrago que o custo efetivo da dívida está fazendo nas finanças públicas, os 41,4% resultaram em uma despesa de R$ 506,9 bilhões com juros, o equivalente a 9% do Produto Interno Bruto (PIB). Nunca, na história do país, se pagou tanto aos credores. Mas ou era isso ou governo enfrentaria problemas para se financiar no mercado. Os investidores não perdoam. Diante do desajuste fiscal do país e das dificuldades de se fechar as contas, eles sabem que têm poder de sobra para exigir taxas cada vez maiores do Tesouro Nacional.

 

Descalabro fiscal

 

O custo efetivo da dívida inclui as perdas do Banco Central no mercado de câmbio. Desde agosto de 2013, quando o descalabro fiscal se tornou público e os especialistas passaram a alardear sobre os erros da política econômica da petista, o BC foi obrigado a intervir diariamente nas negociações para tentar segurar o dólar. Usou um instrumento complexo para a maioria da população, os contratos de swap cambial, uma espécie de venda futura da moeda norte-americana. Mesmo totalizando mais de US$ 100 bilhões, as operações não impediram que o dólar saltasse dos R$ 2,40 para quase R$ 4.

 

A justificativa do governo é de que, não fossem os contratos de swap, com os quais o BC perde a cada alta do dólar, o país teria mergulhado em uma grave crise cambial, cujas consequências seriam dramáticas, diante da possibilidade de quebra de grandes empresas. Alega, ainda, que, mais do que a desconfiança dos agentes econômicos em relação à política econômica de Dilma, foram os sinais emitidos pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, de que poderia elevar as taxas de juros, os principais responsáveis pela arrancada da moeda norte-americana.

 

O aumento dos juros nos EUA realmente entrou no radar. Contudo, o Brasil pagou muito caro por seus desajustes internos. Devido às escolhas erradas de Dilma, os investidores viam o país como um dos cinco mais frágeis do mundo às mudanças na política monetária da maior economia do planeta. Ela promoveu uma gastança desenfreada com o intuito de estimular o consumo, que resultou nos chamados deficits gêmeos, o fiscal e o externo. Não satisfeita, permitiu a volta da inflação, que, nos últimos 12 meses até novembro, chegou a 10,4% — o dado oficial será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Intrigas e corrupção

 

Na avaliação de especialistas, não há como esperar uma reversão no custo da dívida tão cedo. Além de a equipe econômica não ter um plano efetivo para o ajuste fiscal, a crise política roubou de vez a cena. A perspectiva de impeachment de Dilma e a desintegração do governo com o claro desembarque do vice-presidente da República, Michel Temer, minaram qualquer chance de se aprovarem medidas que possam reverter a grave recessão na qual o Brasil está mergulhado.

 

Em sua maioria, investidores e empresários veem a saída de Dilma como o melhor que pode ocorrer para a economia, pois não há mais como ela agregar força para dar a virada pela qual todos torcem. Há, porém, muita preocupação com o que virá no caso de o impeachment da presidente ser aprovado pelo Congresso Nacional.

 

O Brasil mergulhou num mar de incertezas que transformou o ano de 2015 no pior em 25 anos para o país. A possibilidade de 2016 ser ainda mais desastroso ganhou força. E que ninguém estranhe se, também, em 2017 houver retração da atividade. Nesse quadro perverso, a população, desprotegida, assiste atônita ao mundo ruir à sua volta. Para onde quer que olhe, só vê decepção. A esperança se esvai em meio à corrupção, às intrigas, às traições. Que país é esse.

 

Brasília, 08h30min