#Suspeita de bomba no Banco Central Foto: CB/D.A Press

Endividamento das famílias volta a crescer e bate novo recorde

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

O endividamento total das famílias brasileiras bateu novo recorde, chegando a 58% da massa salarial, conforme dados divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira (28/06) referentes ao mês de março.

Em fevereiro, essa taxa estava em 57,5% e foi o maior patamar da história. Descontando os financiamento imobiliário, esse percentual passa para 35,7%, acima dos 35,4% contabilizados no mês anterior. Os dados do BC mostram que o comprometimento da renda ficou estável em 30,5%, na comparação com fevereiro.

“O endividamento permanece na trajetória de crescimento com base nos rendimentos referentes ao mês de março. Esse aumento é consistente e causado pelo crescimento do crédito para as pessoas físicas”, afirmou o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, que destacou queda no agregado das taxas de juros em maio, mas alertou para a volta de crescimento dos custos dos empréstimos nos próximos meses devido à continuidade das altas na taxa básica da economia (Selic), que foi sinalizada no última ata do Comitê de Política Monetária (Copom). “Houve queda nas taxas médias para pessoa física no agregado, mas, se olharmos para frente e para o ciclo da política monetária, a tendência é de aumento”, alertou.

 

Rocha também tentou minimizar esse nível elevado de endividamento das famílias, apesar de reconhecer que o crescimento dos níveis desse indicador, tanto com crédito imobiliário quanto sem o financiamento do imóvel. Segundo ele, isso não quer dizer que quase 60% da renda anual de todas as famílias estão comprometidos, mesmo com queda na renda da massa salarial dos brasileiros. “O crédito total está crescendo, mas eu acho que, considerando todos os fatores, ainda não se tem uma maior preocupação com esse indicador individualmente”, disse.

 

Em março, a massa salarial das famílias encolheu R$ 15,2 bilhões na comparação com o mesmo mês de 2020, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O fato de a massa ter caído em março faz parte das idas e vindas de uma recuperação econômica que tem um sentido claro, mas nem todos os fatores econômicos caminham nesse mesmo sentido. Isso não é uma tendência. Espera-se melhoria nesse número”, acrescentou.

 

Na avaliação do economista Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), essa nova taxa recorde de endividamento das famílias não pode ser minimizada. “O governo não pode minimizar uma taxa de endividamento extremamente elevado. E quadro para frente é de muita dificuldade para as famílias, com desemprego crescendo e com queda na renda por conta da inflação mais forte, e que não deve ser revertido com facilidade”, alertou. 

O economista reconheceu também que a inadimplência é baixa, principalmente, porque os bancos estão negociando o quanto podem com os clientes, dando prazos de carência mais alongados para evitar justamente esse aumento do calote em meio à pandemia. “Muitos casos de empréstimos foram renegociados ou pausados para evitar aumento da inadimplência. Mas, em algum momento, essa carência vai acabar e a pessoa ou a empresa vão ter que começar a pagar a dívida. Os índices de inadimplência, hoje, são baixos, mas tendem a subir com esse quadro de desemprego elevado e inflação correndo a renda“, afirmou.

 

 

Saldo em crescimento

 

 

Os dados fazem parte da nota do mercado total de crédito, incluindo a dívida pública, que apresentou aumento de 0,8%, totalizando R$ 12,4 trilhões, o equivalente a 156,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo a autoridade monetária, a variação mensal mensal refletiu crescimentos no mercado local de 1,2% nos empréstimos e financiamentos e de 1,8% nos títulos de dívida. A dívida externa registrou queda de 1,7% “refletindo a apreciação cambial de 3,17% no mês”. Na comparação interanual, o crédito ampliado cresceu 14,6%, resultado principalmente da elevação da carteira de empréstimos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e de títulos públicos.

 

O crédito ampliado a empresas situou-se em R$ 4,3 trilhões (54,2% do PIB), com redução de 0,7% no mês. Já crédito ampliado às famílias alcançou R$ 2,6 trilhões (32,5% do PIB), com crescimento de 1,6% no mês e 15,8% em doze meses, em função do desempenho dos empréstimos do SFN. 

 

Enquanto isso, o saldo das operações de crédito do SFN no mês de maio alcançou R$ 4,2 trilhões em maio, aumento de 1,2% no mês, com crescimento tanto na carteira de pessoas jurídicas (saldo de R$1,8 trilhão, com expansão de 0,7%) quanto na de pessoas físicas (saldo de R$2,4 trilhões, com alta de 1,7%), conforme os dados do BC. Em 12 meses, o crescimento da carteira total acelerou de 15,1%, em abril, para 16,1%, em maio. A carteira de pessoas físicas manteve aceleração, de 14,5% para 16,5%, enquanto a de pessoas jurídicas permaneceu em desaceleração, de 16,0% para 15,7%.

 

Apesar desse crescimento no estoque e no saldo, as novas concessões de crédito apresentaram queda de 1,9% nos dados dessazonalizados. Além disso, o BC contabilizou crescimento da inadimplência para pessoa física pela primeira vez desde fevereiro, de 2,9% para 3%. Essa taxa, no entanto, é considerada ainda baixa pelo técnico do BC, que reconheceu que ainda há renegociações em curso das instituições financeiras de prazos e condições de empréstimos devido à pandemia. “A inadimplência segue em níveis baixos e não está em níveis preocupantes para o setor financeiro, nas últimas análises, estão mostrando sua solidez”, afirmou Rocha.