O Banco Central optou pela prudência ao sinalizar ao mercado que encerrou o ciclo de corte da taxa básica de juros (Selic), depois de derrubá-la de 7% para 6,75% ao ano. Ainda que veja espaço para promover mais uma redução da Selic, o time comandando por Ilan Goldfajn prefere pecar pelo excesso de zelo do que correr o risco de ter que agir no afogadilho em caso de uma virada brusca nas condições financeiras da economia. Essa postura vem prevalecendo desde outubro de 2016, quando começou o ciclo de queda dos juros. Muitos cobraram do BC uma postura mais agressiva nos cortes. O tempo, porém, mostrou que o gradualismo contribuiu para consolidar a confiança de que a inflação estava domada e longe de voltar a ser um problema.
Tanto no governo quanto no mercado financeiro, estava clara a percepção de que o BC praticamente fecharia a porta para novas reduções dos juros. Essa visão se consolidou no início desta semana, depois do clima de pânico que tomou conta dos mercados financeiros mundiais diante do tombo monumental da Bolsa de Valores de Nova York. Em apenas um dia, as perdas no pregão norte-americano chegaram a US$ 1,9 trilhão. Levantou-se o temor de que um movimento disseminado nos preços das ações poderia estimular uma fuga maciça de recursos de países emergentes, elevando, além da conta, a cotação do dólar do Brasil e, por consequência, a inflação. Felizmente, o ajuste dos mercados deverá ser mais moderado.
Mas, como diz um integrante da equipe econômica, todo cuidado é pouco. Não se pode esquecer que a taxa Selic está no nível mais baixo dos últimos 60 anos. Recuou, em pouco mais de um ano, 7,5 pontos percentuais. O melhor é manter os juros baixos por um período mais longo, do que errar a mão na baixa e, meses depois, ser obrigado a subir a Selic. Para o técnico, por tudo o que já se ouviu da equipe do BC dentro do governo, pode-se depreender que o objetivo de Ilan é evitar que, quando for necessário aumentar os juros, que a alta seja pequena. Que a Selic não passe de 8%. O BC deseja, segundo esse mesmo técnico, atravessar as eleições sem estresse e, se possível, evitar a subida da Selic em 2019.
Ameaça
Olhando para as projeções que o Comitê de Política Monetária (Copom) tem em mãos, a inflação ficará no centro da meta ou mesmo abaixo dela em 2018 e 2019: 3,9% e 4,2%, respectivamente. Hoje, as condições não apontam para pressões inflacionárias. Os preços dos alimentos, que têm forte peso no custo de vida, tendem a se manter comportados. O ritmo da atividade continuará fraco, pois o desemprego está elevado e há grande ociosidade no parque industrial. Há, ainda, reservas cambias mais do que suficientes para conter qualquer movimento de alta no mercado de câmbio.
Para o BC, o único senão neste momento vem do mercado externo. Caso nenhuma turbulência se verifique mais à frente, pode ser que a autoridade monetária venha a discutir mais um corte nos juros. Isso seria possível, por exemplo, se o governo conseguisse aprovar a reforma da Previdência, o que ninguém acredita. Nem o BC. De qualquer forma, a instituição fará pressão para que medidas adicionais sejam tomadas pelo Palácio do Planalto para evitar a explosão do deficit público. Esse, sim, uma ameaça que está à espreita e pode provocar desarranjos na política monetária ante uma possível explosão da dívida pública.
“O BC ainda tem um caminho tranquilo a percorrer. O ano de 2018, ao que tudo indica, será de estabilidade nos juros a partir de agora. O ideal seria pavimentarmos a estrada para que 2019 não seja de aperto monetário”, diz um auxiliar de Michel Temer. Para ele, mesmo que a economia cresça 3% neste ano, a base ainda será muito baixa. “Devemos chegar a dezembro com mais de 10 milhões de desempregados. Com esse nível de desocupação, é difícil falar em pressão de demanda. Por isso, todas as estimativas apontam para inflação abaixo da meta”, acrescenta.
Brasília, 06h57min