Viva o Udigrudi!!!

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

O Udigrudi, o grupo de teatro mais internacional de Brasília, está celebrando 40 anos de estrada, hoje e amanhã,com espetáculo no Teatro Plínio Marcos e instalação do parque de esculturas sonoras para crianças Diverson. A trupe já se apresentou em mais de 40 países e é uma referência nacional e internacional em palhaçaria.

Criado a partir da mixagem das experiências dos grupos Música-À-Tentativa, Liga Tripa e Udigrudi, a companhia Udigrudi, formada por Marcelo Beré, Luciano Porto e Márcio Vieira, o Mació, é sinônimo de invenção. O talento da trupe foi potencializado com a direção da britânica Leo Sykes, que explorou novas possibilidades de fusão das linguagens do circo, do teatro e da música. No palco, o que se vê é uma alquimia improvável de teatrinho mambembe brasileiro, nonsense dos Irmãos Marx e invenção musical de Smetak. O Udigrudi mistura cinturão com abacate, como diria o poeta Zé Limeira.

Em 2000, fui assistir ao espetáculo O cano, da Companhia Udigrudi, e saí do teatro fulminado pela sensação de que havia visto algo extraordinário. Lembro que a trupe fez uma interpretação memorável da composição Trenzinho caipira, de Villa-Lobos, com uma orquestra de tubos de PVC. Uma orquestra de canos, preparada por Márcio Vieira, nosso bruxo do som candango, tocou sozinha uma música afinadíssima de pingos e goteiras. Parecia uma orquestra fantasma no palco da Funarte.

Na hora de escrever o comentário sobre o espetáculo, eu mesmo achei que havia me entusiasmado demais e perdido o senso crítico. Ouvi uma voz imaginária me soprando ao ouvido: “É provincianismo, ação entre amigos”. Aceitei a provocação da voz imaginária e dobrei a aposta porque achei que O cano era um espetáculo magnífico. Argumentei que um espetáculo bom para Brasília teria de ser bom também em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Paris, em Nova York, em Marte ou em Plutão.

Logo em seguida, o Udigrudi participou do Festival Internacional de Teatro de Edimburgo, o mais importante evento de artes cênicas do planeta. Para meu alívio, duas semanas depois, li na capa da Folha de S. Paulo matéria de um enviado especial, com a manchete escancarada: “Grupo brasiliense é sensação do Festival de Edimburgo”. Era o Udigrudi, que ganhou o prêmio principal do evento e, a partir dali, decolou uma carreira internacional.

O Udigrudi é sinônimo de invenção. E foi assim com o Diverson, um parque de esculturas sonoras. As gangorras têm uma caixa de vidro com bolinhas de gude, que, ao serem, movimentadas, produzem músicas aleatórias. Ao deslizar pelo escorregador, as crianças roçam uma fileira de peças metálicas, que emitem o som de um avião supersônico.

 Tudo que as crianças tocam vira música. É uma experiência, a um só tempo, didática e mágica. Cada criança que brinca com as esculturas sonoras se sente um artista. A música é uma linguagem universal que sensibiliza qualquer pessoa nos mais diversos pontos do mundo. O Diverson deveria ser um parque permanente no CCBB ou no Parque da Cidade. Seria uma atração para os brasilienses e para os turistas que visitam Brasília. Vamos celebrar os 40 anos do Udigrudi, a trupe que levou o nome Brasília para o mundo de uma maneira positiva.

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