Severino Francisco
Matéria de Naum Giló, publicada no caderno Cidades, expõe a dramática situação da Fundação Athos Bulcão, instituição responsável pelo legado do mais importante artista de Brasília. Como todos sabem, Athos é uma referência internacional na integração arte-arquitetura.
O fato de Brasília ser reconhecida como patrimônio cultural da humanidade pela Unesco se deve ao projeto urbanístico de Lucio Costa, ao gênio arquitetônico de Oscar Niemeyer, à mestria de Burle Marx, mas, também, ao talento excepcional de Athos Bulcão.
E, sobre isso, o arquiteto e parceiro Lelé Filgueiras ressalta que Athos Bulcão é uma figura exemplar nas artes plásticas, não só no Brasil, mas no mundo. Nenhum artista integrou de forma tão profunda a sua arte na arquitetura. Apesar das propostas de Fernand Léger e de Mondrian nesse sentido, depois do advento da arquitetura moderna, isso só aconteceu com abrangência pelas mãos de Athos Bulcão: “Athos não é somente um artista de Brasília; é um artista universal”.
Apesar de toda a relevância e de estar presente no Congresso Nacional, no Itamaraty, no Teatro Nacional, nas paredes das escolas das superquadras, no cemitério, nas fachadas dos banheiros do Parque da Cidade e no Aeroporto, Athos se tornou um sem-teto na cidade que ajudou a criar. A Fundação que leva seu nome, abriga acervo de mais de 700 obras doadas pelo artista e desenvolve projetos educacionais sobre a obra de Athos enfrenta graves dificuldades financeiras para sobreviver.
E a razão crucial para o drama é porque não tem uma sede própria e os aluguéis do Plano Piloto são estratosféricos. A principal fonte de receita da Fundathos é uma lojinha que vende produtos inspirados no design do artista.
Em 2 de junho de 2009, na passagem dos 90 anos de Athos Bulcão, na gestão de José Arruda, o GDF fez a doação simbólica de um terreno no Setor de Difusão Cultural, próximo à Torre de TV, para a construção definitiva da sede da Fundação Athos Bulcão. Mas, em seguida, o lote foi “desdoado”.
É um descaso incompreensível com um dos símbolos de Brasília. Quando construía o Beijódromo, próximo ao câmpus da UnB, Lelé queria aproveitar para construir a sede da Fundathos. Tudo, no entanto, emperrou na burocracia e no desinteresse. Mas, agora, surge uma notícia alentadora.
A Secretaria de Economia Criativa publicou no Diário Oficial a convocação da população para audiência pública no intuito de tratar da conessão de um terreno, no lote 12 do Setor de Divulgação Cultural, para a Fundação Athos Bulcão, em 12 de julho. Se isso, de fato ocorrer, seria a solução definitiva para a Fundathos. O edifício desenhado por Lelé para Athos representaria o encontro póstumo de dois gênios da cultura brasileira na capital do país, como destacou o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil-DF, Luiz Eduardo Sarmento.
O IAB, a Câmara Legislativa e o Ministério Público precisam participar do debate e do encaminhamento dessa dívida de Brasília com Athos Bulcão. Eu gostaria que algum instituto fizesse uma pesquisa ou o GDF instituísse um plebicisto para saber se Athos merece ou não um terreno para a sua sede. Sou capaz de apostar que a resposta seria, sim, Athos merece uma casa digna na cidade que ajudou a construir.
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