Tragédia política 2

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Severino Francisco

A todo instante que me viro para a tela da tevê vejo cenas devastadoras de alguma cidade do Rio Grande do Sul inundada. Algumas parecem imagens de guerra. O que atingiu 450 cidades foram as tempestades, mais do que anunciadas pelos cientistas.

Para os que têm dúvida se a tragédia é política basta constatar que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, promoveu um desmonte nas estruturas de fiscalização e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo não tomou nenhuma providência para a manutenção do sistema de diques e muros de Porto Alegre.

Claro que as chuvas que castigaram o Rio Grande do Sul estão no cenário global de aquecimento do clima. Mas o governador e o prefeito não têm o benefício o álibi da surpresa ou da ignorância. Não se prepararam, se omitiram ou optaram por decisões que só agravaram a catástrofe.

O Ministério Público pediu que o Tribunal de Contas da União avalie as mudanças que levaram a uma flexibilização das leis ambientais no Rio Grande do Sul e que tenham contribuído para intensificar o desastre climático que provocou a morte de 147 pessoas até agora, em decorrência das tempestades que assolaram a região.

No documento, o MP observa que, somente em 2019, sob a alegação de melhorar as condições de negocio, o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) tomou medidas que flexibilizaram mais de 500 tópicos do Código Florestal. A ironia trágica é que chamou a essas intervenções nefastas de “modernização da legislação”.

E, mesmo com o Rio Grande do Sul submerso pelas enchentes e pela lama, o governo de Eduardo Leite insiste em negar o óbvio: as medidas de flexibilização das regras ambientais vulnerabilizaram e aceleraram a calamidade do clima. A cada declaração fica claro que Eduardo Leite é um negacionista da ciência e um fundamentalista do neoliberalismo.

Como se não bastasse, em entrevista, ele chegou a repelir o esforço nacional de solidariedade ao Rio Grande do Sul, alegando que poderia prejudicar os pequenos comerciantes. Não deixa de ser uma ironia trágica o fato de um estado que, em alguns momentos, alimentou veleidades separatistas esteja recebendo a generosa solidariedade de todo o país, inclusive dos estados do Nordeste, nesse momento tão doloroso e dramático.

E, ainda, não deixa de ser outra ironia trágica que o governador fanático pelo estado mínimo, agora clame por recursos da União para reconstituir o Rio Grande do Sul devastado pelas enchentes. É preciso rever, urgentemente, o voto em negacionistas do clima.

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