Tempo de dilúvios

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

Em meio a notícias sobre o alastramento de incêndios florestais na Califórnia, nos Estados Unidos, a estação das chuvas virou dilúvio em algumas áreas do DF. O ano passado registrou a estação mais seca da história da cidade. Nas últimas 24 horas, choveu 137,4 mm em Águas Emendadas, em Planaltina, quase metade do montante esperado para todo o mês de janeiro, 206 mm.

Até agora, o total de chuvas em Planaltina, com 322mm, superou em 56% o esperado para o mês, 206mm. Houve pistas alagadas, ruas transformadas em rios, estradas esburacadas pelas enxurradas, carros tombados, muros derrubados e invasão de casas pela torrente de água. Elas caem de maneira desigual e em regiões mais ou menos vulneráveis. Existem relatos de transtornos provocados pelas tempestades em Vicente Pires, no Sol Nascente, no Guará e no Gama.

Sem as mudanças climáticas, a cidade não estava preparada para receber as chuvas. O saneamento, o escoamento e drenagem são precários. Em determinadas regiões administrativas, as ruas viram rios de lama quando chove.

Mas, agora, com o novo cenário das condições ambientais, a situação se agravou e demanda uma nova consciência dos cidadãos e dos governantes. Estamos atrasados nas providências para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. As versões iniciais do PPCUB ignoraram quase que completamente essa realidade, privilegiando apenas os interesses da especulação imobiliária em detrimento da qualidade de vida da maioria da população.

Queriam reduzir as áreas verdes e os espaços vazios do Plano Piloto, que amenizam os efeitos do calor e facilitam a ventilação. A ONG A vida no Cerrado, sediada em São Sebastião e com ramificações em vários estados lançou, nas últimas eleições, o Guia para Candidaturas Ambientalistas. Um aspecto interessante está no fato de que a ONG é uma proposta de jovens. A mocidade precisa abraçar a causa ambiental, senão estamos ferrados.

Bruno Eduardo, biólogo e mestre em ecologia, vice-diretor da Avinc (A vida no Cerrado) concedeu entrevista à coluna Eixo Capital, de Ana Maria Campos, em que tocou em pontos importantes para uma nova visão sobre a vida nas cidades sob a emergência climática. Segundo Bruno, os cidadãos e os políticos não devem olhar o meio ambiente como uma bolha, mas, sim, como um tema transversal.

A crise climática envolve tudo: meio ambiente, saúde pública, educação e mobilidade urbana. Os prefeitos, vereadores e governadores estão na linha de frente das cidades assoladas por enchentes, secas e calor extremo. Com políticas públicas, eles podem promover a resiliência em seus territórios e a sustentabilidade nas cadeias produtivas.

Bruno destaca que adotar soluções baseadas na natureza. Isso é muito importante. Áreas mais verdes podem reduzir a sensação térmica. E, em relação a isso, o Plano Piloto está bem aquinhoado. No entanto, a maioria das outras regiões administrativas padecem da falta de verde. E é preciso tornar as cidades mais permeáveis. Clamamos por chuva, mas quando ela chega, enfrentamos a dificuldade de drenagem. Os solos estão altamente compactados, não conseguem infiltrar a água.

É preciso investimentos para lidar com a crise climática. Não é mais possível votar em candidatos que não têm um programa para o meio ambiente. Como diz o personagem do Cristo Zumbi, em A Idade da Terra, de Glauber Rocha, berrando para ninguém no meio do Cerrado, sob o fundo do Palácio da Alvorada: “Acorda, humanidade! Acorda, humanidade!!!”

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