São Cosme e São Damião 2

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Severino Francisco

Todos anos, no mês de setembro, eu atualizo uma célebre crônica de Rubem Braga sobre São Cosme e Damião. Sempre fico impressionado como é fácil fazer as crianças felizes. Basta colocá-las junto com outras para brincar, distribuir doces ou fazer uma chuva de balinhas. Depois, quando crescem, começam as complicações criadas pelo mundo dos adultos, as discriminações por raça, porque não têm um tênis de marca ou porque moram em um bairro pobre.

Por isso, valorizo muito São Cosme & São Damião, o santo das crianças, que ainda inspira em muitas pessoas à generosidade de distribuir doces de graça para todos os que aparecerem, sem qualquer tipo de preconceito. A alegria deles não tem preço. É o momento de uma pequena utopia fugaz, precária e possível.

Na terça-feira, publiquei nova versão da crônica sobre a dupla de santos protetores das crianças e ela encontrou uma leitora muito sensível ao tema, a Dona Edna, uma jovem senhora de 85 anos. Ela leu o texto, em feitio de oração, e enviou uma mensagem tocante para explicar porque a história dos dois santos protetores das crianças lhe é tão cara.

Há 74 anos, Dona Edna e a família celebram uma festa em louvor de São Cosme e São Damião, com farta distribuição de bolo, doces, picolés, sacolinhas de balas e muita alegria para a comunidade do Setor Octogonal. Não falta mão de obra. Ela tem 21 filhos, uma família grande e sempre unida para comemorar a data.

O motivo de tanta devoção é que quando Dona Edna tinha 11 anos ficou hospitalizada na UTI, entre a vida e a morte, por causa de uma infecção por tétano. No desespero, a madrinha Adelaide apelou para São Cosme e São Damião, os santos protetores das crianças. Se Edna fosse curada, a madrinha distribuiria doces para sete meninas de rosa e sete meninos de azul.

E parece que os santos se sensibilizaram, pois Edna alcançou a graça pedida pela madrinha e foi salva. E, assim que ela se reestabeleceu, a madrinha cumpriu a promessa. No entanto, com a morte da benfeitora, a família seguiu a tradição. É sagrado: todo 27 de setembro, ela mobiliza os filhos para deixar alegre e inesquecível para as crianças o Dia de São Cosme e Damião.

As imagens da dupla de santos acompanham Dona Edna há 74 anos. Ela tem fé de que só está viva hoje graças a promessa da madrinha Adelaide e a ajuda providencial de São Cosme e São Damião. A madrinha morreu, mas a tradição permanece viva na família.

Em 27 de setembro, Dona Edna terá mais um ano para guardar na história, mais uma tarde doce e alegre da dupla de santos. O endereço é a entrada da Octognal 4. Com certeza, será um dia especial para a garotada daquelas cercanias. Ó São Cosme, ó São Damião, protegei as crianças de Brasília e do Brasil!

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