Rui Barbosa mediúnico 2

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Severino Francisco

Neste momento grave da história brasileira, esta coluna conseguiu uma entrevista mediúnica exclusiva com Rui Barbosa. Ele discorre sobre um dos esportes mais praticados pelos governantes, a mentira. Fala, mestre!

Como o senhor classifica a mentira, esporte tão praticado, atualmente, no Brasil?

Os antigos enxergavam no mentiroso o mais vil dos tarados morais. Depois de enumerar todas as misérias de um perdido, concluíam, quando cabia: “E, até, mente.”

Mas, pelo menos, na política os danos da mentira são menores?

Não, senhores. Aí, pelo contrário, é que as suas devastações não têm limites, e que a sua indignidade excede todas as craveiras do nojo.

E por quê?

No terreno as coisas públicas, entre nós, a mentira constitui instrumento, por excelência, da usurpação da soberania nacional pela oligarquia da União, pelas oligarquias dos Estados, pelas oligarquias das municipalidades.

De que maneira isso ocorre?

Cada uma delas mente, assumindo o nome do regime Constituição, que absorveu, e matou. Cada uma delas mente, sonegando ao público as dissipações, as malversações, as corrupções, à custa das quais se mantém. Cada uma delas mente, organizando com o nome de serviços públicos a miseranda afilhadagem, cuja interesseira dependência as assessora, sustenta e desfruta.

Mas isso não é feito em nome do patriotismo?

Cada uma delas mente, simulando o civismo, e não praticando senão um personalismo deslavado. Cada uma delas mente, assoalhando a legalidade, e não perdendo ensejo de sofismar, evadir, ou inverter abertamente as leis.

O que lhe incomoda mais hoje no Brasil?

O reinado ignóbil da mentira. Mentira na terra, no ar, até no céu, onde segundo o padre Antonio Vieira, o próprio sol mentira no Maranhão, e diríeis que, hoje, mente ao Brasil inteiro.

O mal está vencendo o bem?

O mal nunca venceu o bem, senão usurpando a este o necessário para o iludir, o arredar, o adormecer, o fraudar, o substituir, o vencer. Se a injustiça, a mentira, o egoísmo, a cobiça, a rapacidade, a grosseria d’alma, a baixeza moral, a inveja,  o rancor, a vingança, a traição aparecessem nus e desnudos aos olhos do indivíduo, aos olhos do povo, aos olhos da sociedade, aos olhos do mundo, ninguém preferiria o mal ao bem, e o bem não se veria jamais desterrado pelo mal.

Qual é o remédio para os males da política?

Circulai o voto do mais rigoroso cordão sanitário contra a trampolinice dos conluios e manipulações oficiais. Não transijais com as situações vencedoras pelo contubérnio do poder com o crime, da fraude com a autoridade.

Que conclusão, o senhor tira de tudo isso?

Em vez de evoluir, retrogadamos.

Severino

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