Rui Barbosa mediúnico

Publicado em Crônicas
Rui Barbosa. Credito: Raul Lima/Enciclopedia Britanica do Brasil/Reproducao sobre obra de Timoteo da Costa.

 

Severino Francisco

Durante a sessão do fim de semana, que elegeu o novo presidente do Senado, o busto de Rui Barbosa no plenário daquela Casa observava a tudo com tensão estampada no rosto. Pois bem, esta coluna conseguiu uma entrevista mediúnica exclusiva com o insigne parlamentar. Fala, excelência!

De uma maneira geral, o senhor diria que o mal venceu o bem no mundo globalizado?

O mal nunca venceu o bem, senão usurpando a este o necessário para o iludir, o arredar, o adormecer, o fraudar, o substituir, o vencer. Se a injustiça, a mentira, o egoísmo, a cobiça, a rapacidade, a grosseria d’alma, a baixeza moral, a inveja, o rancor, a vingança, a traição aparecessem nus e desnudos aos olhos do indivíduo, aos olhos do povo, aos olhos da sociedade, aos olhos do mundo, ninguém preferiria o mal ao bem, e o bem não se veria jamais desterrado pelo mal.

O que caracteriza o mal?

O mal, e, sobretudo, o mal político, a terrível avariose brasileira, é essencialmente falso, falsídico, falsificador e refalsado.

Porque os que praticam malfeitos ou são nulidades conseguem tanto espaço na política?

Mas quando os pantomineiros entram em cena, toda a gente se lhes esquece dos truques, para se lhes deixar levar dos trejeitos e feitiços, dos embelecos e lorotas.

A culpa é do caráter das raças que formaram o Brasil?

Todo esse Brasil anêmico, opilado, barrigudo, pernibambo, cretino, desnervado, caxingó, sem memória, iniciativa, atividade, perseverança, ou coragem; toda essa desnaturação da nossa nacionalidade não vem do negro, nem do caboclo, nem do mesmo nem do português. Vem, sim, do mal político, da politicorréia, clorótica, enervante, desfibrativa, que entrega a nação a todas as endemias físicas e morais de um povo sem higiene do corpo, ou d’alma.

A que atribui a decadência das câmaras legislativas?

Encerraram as câmaras legislativas numa atmosfera de servilidade e mercantilismo. Os negócios invadiram o sagrado recinto dos procuradores da soberania nacional e os postos de vigia das sentinelas do povo à obra dos seus servidores.

O que está destruindo o país?

Mentira na terra, no ar, até no céu, onde, segundo o Padre Vieira, o próprio sol mentia ao Maranhão, e diríeis que, hoje, mente ao Brasil inteiro.

Qual a consequência?

Uma impregnação tal das consciências pela mentira, que se acaba por se não discernir a mentira da verdade, que os contaminados acabam por mentir a si mesmos, e os indenes, ao cabo, não sabem se estão, ou não mentindo.

O senhor está muito pessimista. Qual é o remédio para os males da política?

Circulai o voto do mais rigoroso cordão sanitário contra a trampolinice dos conluios e manipulações oficiais. Não transijais com as situações vencedoras pelo contubérnio do poder com o crime, da fraude com a autoridade.

Que conclusão, o senhor tira de tudo isso?

Em vez de evoluir, retrogadamos.

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