Reciprocidade no cabaré

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

O prêmio Nobel de economia Paul Kugman afirmou que a decisão do presidente Trump de taxar os produtos do Brasil em 50% nas relações com os Estados Unidos é ilegal e o republicano deveria ser impichado. É algo muito improvável, pois o Congresso e o Judiciário norte-americanos estão de joelhos para Trump. Ele pode cometer o desatino que quiser, pois não será incomodado e confia na total impunidade. O que dizer? Ele incitou um golpe de Estado e continua falando e agindo como se nada tivesse acontecido, arvorando-se, cinicamente, em defensor da democracia.

Vejam só a cena de chanchada: o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, sim, aquele mesmo que botou o boné de American great again, ligou para ministros do STF para pedir que Bolsonaro negocie com Trump a redução das taxas de 50% contra os produtos brasileiros. A excelência tem uma concepção de Brasil enquanto república bananeira. Mas desde quando um ex-presidente, réu por tentativa de golpe de Estado, tem autoridade para representar os interesses do Brasil em uma negociação oficial?

Não se pode usar os problemas pessoais que algum cidadão tenha com a Justiça para prejudicar as relações comerciais entre dois países e provocar graves prejuízos na economia. Esses são os patriotas que só pensam no próprio umbigo. Se não queriam contrair dívidas com a Justiça, que não cometessem crimes e não produzissem fartas provas autoincriminatórias. O Brasil não pode pagar pelas ações de indivíduos em conflito com a lei.

O que Trump queria? Que o Brasil aceitasse ser candidato quem fez campanha sistemática de desmoralização ao sistema eleitoral brasileiro? Que aceitasse candidatos enrolados com a Justiça Eleitoral, como liberaram Trump nos Estados Unidos, mesmo com três processos criminais e 86 acusações criminais na Justiça?

Caro leitor, segundo a versão de alguns líderes, você sabia que mora em uma ditadura, na qual não existe liberdade e expressão? Aqui, você não pode contestar o STF, não pode criticar o presidente, não pode falar asneira nas redes sociais. Querem criminalizar o peculato, o racismo, a propina, o desvio de bens do patrimônio público e a tentativa de golpe de Estado. Trump só voltará a negociar quando o país retomar a democracia. Os vira-latas consideram que é normal negociar a soberania de um país em benefício pessoal de meia-dúzia de pessoas encrencadas com a Justiça.

O presidente Lula disse que recorrerá da decisão de Trump em todos os fóruns, culminando com ação na Organização Mundial do Comércio. E indicou que o Brasil aplicará o recurso da reciprocidade nas relações comerciais com os Estados Unidos.

Enquanto isso, circulou nas redes sociais, em escala de viralização, a nota fiscal ou a suposta nota fiscal de um cabaré ou suposto cabaré de Fortaleza que decidiu aplicar a tarifa-Trump de 50% nas contas de um cliente norte-americano. Possivelmente, foi apenas uma brincadeira, típica do senso de humor esculhambado cearense. Se você colocar os números na máquina de calcular, o resultado não bate. Não importa, valeu pela blague. O cabaré fictício de Fortaleza fez Trump sentir o gostinho da reciprocidade antecipadamente pela linguagem do humor. Tome Trump!

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