Quem salva Dulcina?

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Severino Francisco

Alguns avaliavam que o projeto de Dulcina de Moraes estava com sentença de morte decretada de maneira inapelável. Mas o cancelamento do leilão para vender o teatro e a faculdade pela Justiça Federal, ocorreu depois de uma intensa mobilização do setor cultural. Desde o início, esse leilão era absurdo. Como é que você promove um leilão para vender prédios desenhados por Oscar Niemeyer com um acervo de mais de 4 mil objetos e documentos, tombados como patrimônio cultural de Brasília?

Foi uma vitória da dignidade de Brasília. Não resolve todo o problema, mas infunde um novo ânimo para buscar uma solução para superar a crise financeira com dívidas de mais de R$ 20 milhões. Claro que, para você ou para mim, que ganham em reais ou em merrecas, essa quantia assusta.

Mas, na verdade, o BRB, o banco distrital do governo, investiu 52 milhões no Flamengo, enquanto o Teatro Nacional permanece fechado e a Faculdade e o Teatro Dulcina quase foram arrematados em leilão e ainda estão sob ameaça de extinção.

Como bem indagou Gilberto Rios, presidente da Fundação Brasileira de Teatro: por que o GDF não transforma o complexo de equipamentos culturais daquele território em Centro Cultural BRB, de maneira semelhante ao Centro Cultural do Banco do Brasil, o popular CCBB ou à Caixa Cultural, pontos de referência na cidade?

O Ministério da Cultura, sob a gestão de Margareth Menezes, também seria bem-vindo a esse caso. A Fundação criada por Dulcina guarda um acervo precioso de objetos e documentos que contam a história do teatro no Brasil. Não adianta agora ficar estatelado pelos erros cometidos em gestões anteriores. É preciso dar uma solução para os problemas.

De outra parte, há um descolamento entre os grandes empresários milionários e a cidade. Eles se locupletaram às custas de Brasília e não devolvem nada em troca. Não patrocinam nenhum evento ou ação. As grandes corporações tem zero de investimento na arte da cidade. Em São Paulo a Companhia de Força e Luz patrocina o Café Filosófico há 20 anos, que convoca pensadores para discutir os grandes temas da atualidade. E, em Brasília, qual atividade cultural a Neoenergia patrocina? Ela poderia promover editais para projetos culturais na cidade.

O Museu do Ipiranga, em São Paulo, tem como patrocinadores o BNDES, o Bradesco, a Catterpillar, a Comgas, o Itaú, a Sabesp, a Shell, o Santander e a Vale. Isso sem contar os copatrocinadores. O projeto de modernização e reforma do Museu Ipiranga recebeu recursos de de 36 empresas para realizar projeto de restauro, ampliação e modernização. O valor total foi de R$ 235 milhões, informa o site da instituição.

Por quê o projeto de Dulcina não pode receber 20 mihões? Por quê as empresas e os bancos não investem nos projetos e equipamentos de cultura da capital do país? No fim das contas, o susto do leilão teve um impacto positivo. Acordou as excelências para a alienação em relação a um dos patrimônios culturais mais valiosos da cidade. Mas existem enormes desafios pela frente. É preciso salvar o sonho de Dulcina.

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