Severino Francisco
Ante os recordes de temperatura registrados em várias capitais e a imagem de nuvens de fumaça subindo dos rios amazônicos, em meio a paisagens desertificadas, nenhuma questão é mais urgente do que a do meio ambiente. Isso nada tem a ver com esquerda ou direita, é um problema de sobrevivência. Na Europa até os partidos de extrema direita têm uma agenda para as mudanças climáticas.
Os sinais de transtornos no clima estão em todos os lugares. Enquanto os rios da Amazônia agonizam em um cenário de deserto, os temporais castigam o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A situação é dramática e estaria mais desesperadora se não fossem as comunidades tradicionais que conservam e vivem em harmonia com as nossas matas. São indígenas, quilombolas e quebradeiras de coco, entre outros grupos.
Se você se interessa pela preservação do Brasil e do planeta não pode perder a série documental Quem conserva a Amazônia?, dirigida pelo cineasta maranhense Neto Borges, com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), a ser apresentada, somente, hoje, às 19h30, no Cine Brasília.
O templo do cinema brasiliense receberá mais de 100 pessoas vindas diretamente das tradicionais do interior da Amazônia Legal, precisamente na transição para o Cerrado. Eles estão na capital para o 3o ECOS Amazônia, um encontro organizado pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), para avaliar os resultados de 56 projetos realizados entre 2019 e 2023.
Nos filmes, revelam suas experiências de práticas sustentáveis de produção que, ao mesmo tempo, geram renda, vida digna para as famílias e conservam a floresta. Para eles e para nós, pois o que acontece na Amazônia repercute no país e em outros pontos do planeta. A jornalista Eliane Brum subintitulou o livro sobre a Amazônia de “o centro do mundo”. Não se trata de uma simples metáfora, é uma realidade no novo cenário das mutações climáticas. Na lógica da conservação, todos os biomas estão conectados.
A série de nove curtas a serem exibidos hoje mostra comunidades que manejam os territórios ocupados há gerações, mantendo de pé a vegetação nativa, conservando rios e a biodiversidade, por meio da agrotecnologia, pecuária sustentáve, pesca artesanal e rede de sementes. Na transição da Amazônia para o cerrado, elas cultivam e beneficiam o pequi e o baru.
Não custa lembrar que mais de 3 mil rios da Amazônia nascem no Cerrado. No entanto, já perdemos 52% do nosso bioma, considerado o berço das águas. O cacique Iracadju Ka’Apor, no filme Roça Kupixapu’a: ancestralidade e inovação Ka’Apor, fala sobre como a roça circular faz parte de um modo ancestral de trabalhar a terra e de viver. “A floresta é nossa casa. Nossa casa é nosso território. Por isso, temos esse nome, Kaa’Por: “Kaa” é floresta, “Por” é povo. A gente não está separado da floresta”, diz.
O cacique Iracadju Ka’Apor, no filme Roça Kupixapu’a: ancestralidade e inovação
Ka’Apor, fala sobre como a roça circular faz parte de um modo ancestral de trabalhar a terra e de viver. “A floresta é nossa casa. Nossa casa é nosso território. Por isso, temos esse nome, Kaa’Por: “Kaa” é floresta, “Por” é povo. A gente não está separado da floresta”, diz.
No filme Caiapó – Nutrindo o Araguaia, a pescadora artesanal e membro da Associação
de Pescadores do Rio Caiapó, Leonette Mesquita, fala do trabalho de vigilância das matas
ao longo do rio. “Protegemos a mata contra o próprio homem. A pesca é sagrada para nós.
Passa de geração em geração. A gente tem isso com a gente, essa ligação com a terra,
com os nossos rios”, conta. O Brasil precisa aprender a valorizar os que preservam nossas matas.