Severino Francisco
Há uma cena que me parece simbólica da irresponsabilidade da Vale em relação aos próprios funcionários e cidadãos de Brumadinho. A empresa construiu um refeitório precisamente na rota de um possível acidente com a represa da Mina do Córrego do Feijão, que estourou na sexta-feira. A tragédia só começou a ter os danos contabilizados e já se configura como o maior desastre de barragens da década no mundo, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Como já disse, não sou consultor de segurança; no máximo, sou consultor de insegurança. Mas qualquer leigo seria capaz de detectar o óbvio. Aquele restaurante não poderia, de maneira alguma, ser erguido no virtual caminho da avalanche de rejeitos em caso de desastre. O risco é real e precisa ser calculado, milimetricamente, pelos engenheiros, em um plano de segurança, segundo consultores especializados.
Parece-me que a empresa foi vítima da própria arrogância. Havia o megaprecedente de Mariana, que atingiu o meio-ambiente de três estados brasileiros. Mesmo assim, a Vale reincidiu nos erros, na ganância, no descaso, na negligência e no desrespeito pela vida humana.
Mas mudar a diretoria não resolve o problema. Não se trata de procurar bodes expiatórios, e sim de buscar a solução dos problemas na raiz. É preciso transformar as leis, as exigências, a fiscalização, o trâmite para as licenças e a participação dos envolvidos nas decisões. A tragédia de Brumadinho demonstrou que esse é o protocolo da irresponsabilidade. Em suma: é preciso mudar todo o sistema.
As crônicas, os contos e os poemas que Carlos Drummond de Andrade escreveu sobre a mineração deveriam servir de parâmetros para uma nova legislação e uma nova visão sobre o tema. Elas contém um antiprograma que pode ser transformado em verdadeiro programa para o país precisa para administrar a situação de uma maneira mais justa, sustentável, segura e humana. É só fazer tudo ao contrário: “A tripla, agressiva empresa/Acha que tudo se exporta/E galas da natureza/São luzes de estrela morta”.
Uma imagem não me sai da cabeça: a da mãe atordoada pelo mar de lama, que se agarrou a um tronco. Quando recobrou os sentidos, ela entrou em desespero, percebeu que não segurava o filho. O garoto de 1 ano foi levado pela onda de lama com o pai e outra filha de 13 anos.
Segundo o deputado João Victor Xavier (PSDB-MG), existem 400 barragens que são bombas-relógio só em Minas. No Brasil todo são 3.300 em situação de risco. Trocar a direção da Vale não vai resolver o problema. O caso não é exceção; é regra. A Samarco, responsável pela tragédia de Mariana, uma das maiores catástrofes ambientais do planeta, produzidas pelo homem, não pagou nenhuma multa até agora. O Ministério Público e o Judiciário não podem se omitir em caso tão grave.
A questão é substituir o protocolo da irresponsabilidade pelo da responsabilidade humana, social e ambiental. Caso contrário, outras tragédias anunciadas explodirão, com um mar de lama tóxica, em avalanche, soterrando inocentes, destruindo cidades, liquidando com a fauna, envenenando os rios e todo o ecossistema durante várias décadas. É esse o legado que deixaremos a nossos filhos, a nossos netos e às gerações futuras?
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