Severino Francisco
Tomei um táxi para ir ao médico e o motorista comentou que o calor estava insuportável. Eu gostaria de dizer: “É, mas vai passar”. No entanto, a realidade nua e crua é que vai piorar. No recesso da pandemia, li Terra inabitável – Uma história do futuro, de David Wallace-Wells, e fiquei estarrecido. O autor é jornalista e, na verdade, fez uma compilação das previsões dos cientistas sobre as mudanças climáticas.
É impressionante, quase tudo que eles falaram está acontecendo no Brasil e no mundo. Os fenômenos extremos são cada vez mais frequentes. No Amazonas, vemos a fumaça subir de rios antes caudalosos, agora ressequidos, reduzidos a desertos de areia. Enquanto isso, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, estados que votam em governantes negacionistas, as tempestades provocaram o caos.
Casas foram inundadas, ruas viraram rios, escolas ficaram em ruínas e o ramo do agronegócio sofreu sérios prejuízos. Só no Rio Grande do Sul as perdas alcançaram R$ 2 bilhões. Essa situação deveria acender o sinal de alerta nas excelências da política, mas parece que elas vivem em um mundo paralelo e passarão incólumes pelas mutações em curso desencadeadas no meio ambiente.
As nossas excelências estão enfrentando o turbilhão das mudanças climáticas com uma política de avestruz, fingindo que nada está acontecendo e será possível controlar e manipular tudo como antes. Com o que estão preocupados? Em rever a decisão do STF que impediu a trapaça jurídica do Marco Temporal, lançada contra os direitos dos povos indígenas.
Ora, no mundo inteiro, existe a consciência de que a defesa das terras indígenas é um dos itens fundamentais de um pacote verde capaz de viabilizar o futuro do planeta. A preservação das matas é garantia de estabilidade do clima e de que haverá chuva para o plantio do agronegócio no campo e clima salubre para a nossa vida nas cidades.
Claro que o STF tem lá os seus pecados. Por exemplo, é muito cioso do próprio salário e relapso com a remuneração dos outros trabalhadores. Mas foi graças ao STF que a democracia não sucumbiu aos ataques terríveis que sofreu nos últimos tempos. Enquanto isso, a maioria das excelências do Congresso Nacional alugou a consciência para o Orçamento Secreto. Essa PEC para limitar as atribuições do STF é totalmente inoportuna e perigosa.
Não por acaso todos os regimes autocráticos começam com o ataque aos tribunais superiores. Isso ocorre na Polônia, na Turquia, em Israel ou na Venezuela. Essa é uma PEC de república bananeira que não respeita as regras do jogo democrático.
O que as excelências deveriam estar fazendo agora é convocando os cientistas para eles esclarecessem sobre as mudanças do clima e sobre as políticas públicas para enfrentar o problema. A questão transcende esquerda ou direita, diz respeito a todos.
Ainda é possível reduzir as consequências das mudanças climáticas. Mas as excelências precisam tomar consciência dos graves problemas que enfrentamos, com responsabilidade e coragem. A política de avestruz não levará a nada. Se demorar, os efeitos serão irreversíveis.
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