Severino Francisco
O depoimento do ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten na CPI da Covid foi um festival de mentiras, quase que do começo ao fim. Ele não se lembrava de nada do que falou em entrevista concedida à revista Veja, na qual, entre outras declarações, qualificou a gestão do ministério da Saúde dirigido por Pazuello de “incompetente”.
De duas uma, Veja ou Wajngarten mentiram. Os senadores da cúpula da CPI solicitaram as gravações originais à Veja, mas a revista se adiantou ao pedido e liberou os áudios para que todo o Brasil avaliasse quem dizia a verdade. Alguns governistas ainda tentaram impedir que a senadora Leila divulgasse o áudio no microfone do plenário, mas era tarde.
O áudio já circulava com a velocidade digital pelos sites. O Brasil inteiro sabia que Wajngarten mentiu. A situação estabeleceu um impasse na CPI. O relator Renan Calheiros e outros senadores, como é o caso de Fabiano Contarato, pediram ao presidente da CPI, Omar Aziz, a prisão de Wajngarten. Alegaram disposições do regimento interno do Senado para enquadrar os mentirosos, Pinóquios nas CPIs.
No entanto, Omar Aziz, que vinha conduzindo muito bem a CPI, vacilou, contrargumentou que tinha sido alvo de injustiças e não pediria a prisão de ninguém, não se prestaria ao papel de “carcereiro”. É uma indecisão que pode custar caro à CPI. Toda a política criminosa que já matou mais de 420 mil brasileiros está fundamentada em uma máquina da mentira para disparar notícias falsas e na certeza da impunidade.
A CPI era a esperança de fundar um espaço em que a política de mentiras fosse barrada porque quem diz inverdades pode ser preso em flagrante. Até agora, o morticínio da pandemia permanece um crime sem castigo. Quem mentiu, falseou informações, fez campanha contra a vacina ou minimizou a maior crise sanitária da história da humanidade permanece impune e impávido.
Com a falta de coragem de cumprir o que reza o regimento do Senado, Omar Aziz abriu a porteira para a mentira e para a desmoralização da CPI. Se Wajngarten pode mentir impunemente por que o ex-ministro Eduardo Pazuello falaria a verdade? É somente a responsabilização pelos seus atos que para os irresponsáveis.
Em plena tragédia sanitária, com mais de 400 mil mortos, o ex-ministro Pazuello passeava tranquilamente pelos corredores de um shopping de Manaus, sem máscara, em uma atitude de escárnio. É somente a certeza da impunidade que autoriza tamanha desfaçatez. A omissão de Omar Aziz afetará o destino da CPI.
No fundo, autoriza qualquer depoente a mentir ou a dizer meia-verdades. A CPI não é uma festa de confraternização pela morte de 425 mil brasileiros. Sem fazer justiça, a impunidade e a mortandade continuarão. Depois do depoimento de Wajngarten, ontem, na CPI, o Dia da Mentira pode ser transferido para 12 de maio.