Severino Francisco
Nicolas Behr se engalfinhou com o Plano Piloto de Lucio Costa, mas a briga não parou na delegacia, virou um caso de amor, entre tapas e beijos. Behr se tornou uma referência inescapável da cidade. Mas o que nem todos sabem é que a mãe de Nicolas, Therese von Behr, é uma fina aquarelista, apaixonada pelo cerrado. A sua arte pode ser apreciada no livro Aves e árvores do Brasil Central, elaborado com a colaboração de Nicolas e do biólogo Paulo de Tarso Zuquim Antas.
Therese von Behr nasceu em Vilna, na Lituânia, em 1930, filha de uma das maiores aquarelistas polonesas do século passado, Anna Romer. Antes de chegar ao Brasil, em 1950, onde se casou com Anatol von Behr, Therese morou na Bélgica, na Alemanha e no Canadá.
Lembra-se das corujas, camufladas como os troncos dos pinheiros, em casas de madeiras construídas pelo pai. Os filhotes piavam no ninho, na boca de dois canhões, em frente a sua casa, resquícios da guerra napoleônica.
Quando se mudou para o Brasil, o encanto pelos pássaros se reavivou nos cerrados de Minas e de Mato Grosso. “Mas quem não quer ser um pássaro?”, indaga Therese, na apresentação do livro. E ela mesma responde: “Eu queria! Sentir-me livre no ar, pousar nos galhos seguros e escondidos no verde, procurar alimento e cuidar da prole – outros somente sobrevoando este vasto Planalto Central para outros países do sul”.
A mudança para Brasília em 1974 não a afastou do cerrado. É uma capital com o maior índice de pássaros por metro quadrado, apesar de todas as ameaças de destruição da natureza. Nada está separado no ecossistema. No livro, Therese optou por sempre associar um pássaro a uma árvore.
O beija-flor e a canela-de-ema, o joão bobo e a lobeira, o besourinho-de-bico-vermelho e a laranjinha-do-campo, o beija-flor-de-fogo e o lírio-do-cerrado, a saíra-macaco e a embaúba, o xexéu e a sucupira-preta, o gavião-caboclo e a sucupira-branca, o pica-pau-verde-barrado e o ipê-amarelo, o tucanaçu e a gomeira, o periquito-rei e a caraibeira, o curiango e a florzinha-azul-do-cerrado, o periquito e a paineira-rosa, o anu-branco e a marolinha-do-campo.
Só os nomes parecem a música da poesia de Guimarães Rosa. É um livro com tratamento esmerado de arte, mas não é um tomo para enfeitar a sala. A leitura é leve e agradável, educa e entretém, ensina e enleva. Mesmo porque o bioma cerrado está gravemente ameaçado.
Therese usou a sua arte para sensibilizar sobre a necessidade de proteger e preservar a riqueza do cerrado para as futuras gerações. A presença ou a ausência de aves informa muito sobre o equilíbrio do meio ambiente. Therese transformou o desejo de ser pássaro em lindas, delicadas, diáfanas e aladas aquarelas.
PS: Quem se interessar pelo livro pode adquiri-lo no viveiro de plantas Pau-Brasília, na saída rumo a Sobradinho, logo depois do Lago Norte.