Severino Francisco
Enquanto o mundo explode, cuido de coisas mínimas que acontecem nas cercanias. Depois que escrevi sobre o aparente aumento da população de canarinhos, uma leitora me indagou se a presença das araras, em quantidades notáveis, na cidade-parque, é consequência da devastação promovida pelo agronegócio nos biomas brasileiros. Ou seja: se elas estariam migrando para o Plano Piloto em busca de um ambiente mais acolhedor e mais seguro para morar.
Mais uma vez, recorri a meu consultor de aves, Tancredo Maia. É natural do Acre, cresceu inebriado com as cores e com o canto dos pássaros. Quando se mudou para Brasília, transferiu a paixão para as aves do Cerrado. É um dos criadores e um dos integrantes mais ativos do grupo Observaves, que acompanha, contempla e fotografa os pássaros em nosso território.
Sem querer comparar grandezas incomparáveis, em relação a meu consultor de aves, Tancredo Maia, me sinto na situação de Nelson Rodrigues que, acometido de miopia em algo grau, ia ao Maracanã assistir ao Fla-Flu e perguntava ao amigo Armando Nogueira: “O que estamos vendo?”.
Recentemente, fui resolver um problema na 402 Comercial Norte e, de repente, avistei duas lindas araras azuis fazendo algazarra no topo de uma palmeira. A visão das araras me brindou com um instante inesperado de beleza no meio do frenesi da cidade.
Mas elas estão muito presentes no Lago Sul e, principalmente, no Lago Norte. Em alguns momentos, é possível flagrar o voo azul de tons belíssimos, tarjado de amarelo. Ou, então, nos ninhos que costumam construir nos troncos das palmeiras. Tancredo conseguiu fazer inúmeras fotos delas. Mas, para esclarecer a dúvida da leitora, se as araras azuis que circulam pela cidade seriam fugitivas do Pantanal ou da Amazônia, assolados pelos desequilíbrios ambientais provocados pela expansão descontrolada do agronegócio, Tancredo responde que não.
As araras azuis e amarelas que circulam pela cidade e nos surpreendem pela beleza e pela algaravia são da espécie canindé. Antes mesmo de ter fundado o grupo Observaves, em 2010, Tancredo já registrava a presença delas na cidade, voando, geralmente, em casal ou em bandos.
A impressão de que a população de araras aumentou decorre do interesse e da concentração em passarinhar. Quanto mais você presta atenção, mais aparecem aves no Plano Piloto, ensina Tancredo. Existem mais de 500 espécies no DF. Quer dizer, na verdade, nós é que somos alienados dos passarinhos.
A arara canindé ocorre na Amazônia, no Centro-Oeste, em São Paulo e no Paraná. Não existe apenas no Sul e no lado Leste do Nordeste: no Rio Grande do Norte, na Paraíba e em Sergipe. De fato, na cidade-parque, a população das araras canindé tem proliferado, pois encontra um ambiente propício, com muitas palmeiras para fazer ninhos e fartas opções de alimentação.
Mas, em outras regiões, a espécie está ameaçada pelos que aprisionam as araras para fazer tráfico de animais. Ser surpreendido pela algaravia ou pelo voo azul das araras canindé é um pequeno, mas precioso privilégio de morar em uma cidade-parque.
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