Em 1968, eu tinha 14 anos, morava em São Paulo e um dos meus melhores amigos era santista doente e parceiro de peladas na rua do bairro Jabaquara. Sempre ia ao Morumbi e ao Paecambu para assistir aos jogos do Santos. Voltava extasiado com os malabarismos de Pelé em campo. Meu pai resistia a que eu frequentasse estádios, pois era pastor presbiteriano. Como ir à celebração pagã do futebol, coisa do demônio, em pleno domingo, dia de culto na igreja?
Todavia, tanto insisti que ele concordou que eu assistisse a um clássico, Santos e Corinthians. O Santos armou um timaço, com Carlos Alberto, Clodoaldo, Lima, Toninho, Edu e Pelé. O Corinthians tinha Rivellino e comecei a torcer para o Timão por causa dele. Era um embate de titãs: o Rei do futebol contra o Reizinho do Parque São Jorge.
A semana transcorreu em dramática contagem regressiva de tempo até o dia do fatídico confronto. Lá fomos para o Morumbi e entrei em contato, pela primeira vez, com a energia enlouquecedora da torcida corintiana.Ela esgoelava gritos de guerra que estremeciam as arquibancadas de concreto: “Corinthians! Corinthians!”.
O jogo estava tenso, mas o Coringão se segurava. Pelé era o grande ausente. Eu tinha ido ao Morumbi, principalmente, para ver o maior jogador de todos os tempos e me frustrara. O beque corintiano Luiz Carlos,bom marcador, mas um pouco lento, fazia uma partida impecável, se antecipava, ganhava todas e não deixava Pelé ver a cor da bola.
O relógio avançava: 15, 30, 40 minutos, e nada, o camisa 10 do Santos continuava apagado. A partida prosseguia meio arrastada. Mas eis que, na metade do segundo tempo, se não me engano, Toninho cruzou a bola na área corintiana, o beque Ditão tentou se antecipar, Pelé ameaçou que ia, mas voltou e, em um átimo, na velocidade do instinto, aplicou um chapéu espetacular no beque Ditão e fuzilou para as redes. O Santos abriu o placar.
Há uns cinco anos, tive a oportunidade de rever esse gol memorável em uma exposição-instalação sobre Pelé numa das salas do Museu da República. Mesmo no videotape, fica difícil acompanhar a rapidez dos movimentos de Pelé em um bote de fera, na velocidade da luz.
Para apreciar melhor os detalhes do lance, seria preciso desacelerar as imagens. Pelé fez mais uma tabelinha com Edu, avançou para a área corinthiana e fez outro gol para o Santos. A equipe santista fez o terceiro. O Corinthians ainda descontou em um gol de cabeça de Paulo Borges, pouco comemorado em falta cobrada por Rivellino.
Para apreciar melhor os detalhes do lance, seria preciso desacelerar as imagens. Pelé fez mais uma tabelinha com Edu, avançou para a área corinthiana e fez outro gol para o Santos. A equipe santista fez o terceiro. O Corinthians ainda descontou em um gol de cabeça de Paulo Borges, pouco comemorado em falta cobrada por Rivellino.
O camisa 10 do Santos só fez duas jogadas e acabou com o jogo. Tive o privilégio de ver em dois lances de futebol-arte, a serem emoldurados e colocados na parede, com assinatura, que me fizeram entender porque Pelé era o rei do futebol. Que me desculpem os hermanos, Messi ou Maradona podem ser príncipes, condes, duques, arquiduques, marqueses, viscondes, mas o rei do futebol é mesmo Pelé.