O colapso da mobilidade

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Severino Francisco

As notícias se sucedem em uma velocidade vertiginosa e, muitas vezes, não prestamos a devida atenção a elas. Saiu no caderno Cidades do Correio: o Distrito Federal ultrapassou a marca de 2 milhões de veículos registrados em circulação, de acordo com dados do Departamento de Trânsito (Detran-DF).

O DF tem 3 milhões de habitantes. Isso quer dizer que, de cada três brasilienses, 2 são donos de carros. Para os especialistas, o DF atingiu a um patamar muito próximo de uma mobilidade urbana insustentável, pois, entre outras questões, as vias teriam alcançado o estado de saturação.

Desculpem a pretensão, mas eu falo com a autoridade de usuário. Durante muito tempo, utilizei o transporte público da cidade e posso testemunhar de que, em vez de melhorar, quase sempre, ele piorou. Houve um pequeno avanço com os investimentos feitos para a Copa do Mundo de 2014. Mas foram insuficientes e não mudaram, significativamente, a vida dos que transitam pela cidade em transporte coletivo.

Em seguida, tudo retornou à mesma situação anterior de sufoco, irregularidade de horários, atrasos e desrespeito ao usuário. Nenhuma empresa é punida. Em vez disso, várias são brindadas com mais investimentos milionários. O Ministério Público se omite, finge que tudo está em ordem e o caos se instala.

Brasília é uma das raras cidades do mundo em que circular de transporte coletivo desclassifica o cidadãos. Essa é uma das maiores anomalias da cidade. E, como se não bastasse, as principais políticas públicas são direcionadas a estimular ao uso do carro. Vejam a febre de viadutos que toma conta da cidade, ameaçando as qualidades do projeto urbanístico de Lucio Costa. A cidade-parque está virando a cidade-viaduto.

Se viaduto fosse solução para os problemas do trânsito, São Paulo e Rio de Janeiro seriam os paraísos da mobilidade urbana. E todos que conhecem as duas cidades sabem que os deslocamentos pela cidade, nos horários de pico, são experiências infernais. Não se trata de demonizar o carro, como dizem os governantes atrasados, mas, sim, de criar opções coletivas para a mobilidade.

O Correio publicou uma série em que especialistas afirmam que o DF poderia ser uma referência em mobilidade urbana. Mas, para que se aconteça, é preciso estabelecer prioridades que beneficiem os interesses coletivos. As prioridades estão invertidas: o carro não pode reinar soberano e determinar as políticas públicas.

A doutora em transportes pela Universidade de Brasília, Adriana Modesto, afirma, na referida reportagem, que multiplicar viadutos, vias e túneis aproxima o DF de uma mobilidade insustentável. É, obviamente, necessário ampliar e diversificar os meios coletivos de transporte. A Câmara Legislativa do DF e o Ministério Público não podem permanecerem omissos. O preço da omissão será o colapso anunciado da mobilidade urbana do DF. Se não houver uma reversão de prioridades o trânsito do DF tende a se tornar igual ao de São Paulo e do Rio de Janeiro.

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