Severino Francisco
Eu sempre me interessei por uma arte de viver. Li muitos livros sobre o tema. Em Regras de conduta para bem viver, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer recomenda a receita budista da supressão dos desejos como a melhor maneira de alcançar a felicidade. A fórmula de Schopenhauer nunca me convenceu inteiramente.
Nietzsche refuta frontalmente Schopenhauer e propõe a interpretação de que a vida é vontade de potência. Ele foi tão mal entendido que chegou a ser incorporado pelos nazistas e pelos fascistas. Mas a potência de Nietzsche não pode ser confundida com poder político, militar ou força bruta. O nosso filósofo só acreditava em deuses que soubessem dançar. Ele queria chamar a atenção para a potência da singularidade de cada indivíduo.
Tanto assim é que Nietzsche recusou inteiramente a teoria da seleção natural de Darwin, segundo a qual sempre os melhores sobrevivem: “É preciso defender os fortes contra os fracos, pois a seleção natural favorece a mediocridade”. Esse preâmbulo pra lá de marrakeshi é para dizer que, ao fim, cada um precisa encontrar a sua arte particular de viver, a partir do próprio autoconhecimento.
E, neste sentido, eu gostaria falar de um brasiliense que considero um dos mestres na matéria: o poeta candango/piauiense Climério Ferreira. Ele é um piauiense zen, pratica, cotidianamente e poeticamente, a filosofia do menos é mais, com uma coragem e com uma lucidez comoventes. Vejamos alguns exemplos.
Em entrevista concedida à revista piauiense Revestrés, ao ser perguntado sobre o que era fazer sucesso, Climério responde: “Para algumas pessoas sucesso é o que toca no rádio, na TV. Para mim, sucesso quer dizer o que vem depois, o que sucede, então meu sucesso é fazer muita coisa continuamente. Nesse sentido, eu sou um sucesso: tenho várias canções gravadas e não paro de fazer coisas novas. Eu escrevo um poema todo dia”. Climério já foi chamado de Buda do Piauí, mas eu reivindico a cidadania brasiliense para nosso candango zen.
Nesta longa estrada da vida, para mim, atualmente, o segredo da felicidade está em cumprir o meu dever, em fazer o que me cabe, do meu tamanho e da melhor maneira possível. Porque em relação aos outros fatores circunstanciais ou do destino, não tenho o menor controle. Mas cumprir a minha obrigação moral eu posso em quaisquer contingências. Esse é o meu parâmetro de felicidade. E que os deuses joguem seus dados.
Na já citada entrevista concedida à revista piauiense Revestrés, a certa altura, Climério é perguntado se se considerava uma pessoa feliz e responde que sim, mesmo sob o risco de parecer pretensioso. Todavia, logo em seguida, ele explica as precauções que tomou e me parecem medidas de extrema sabedoria de vida. Enxugou os desejos e eles ficaram do tamanho que queria. Gosta do que faz, fica feliz quando lança um livro ou quando alguém grava uma canção sua.
Reconhece que há algo de vaidade nisso, mas essa autocontenção, realismo e atenção aos aos talentos e aos limites o torna uma pessoa feliz, como registrou em versos, com fino senso de humor, o nosso piauiense zen, piauiense da Asa Norte, Buda candango. Em vez de suprimir os desejos, como recomendava Shopenhauer, Climério prefere adéqua-los à capacidade de realizá-los. É para fazer um adesivo e colar na geladeira ou no vidro do carro: “Eu quero tudo o que tenho,/ só desejo o que posso,/E sou da minha idade,/será isso a tal felicidade?”
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