O avanço da dengue

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Severino Francisco

Em 2014, peguei dengue, possivelmente, em um quintal do condomínio onde moro.Os manuais médicos dizem que o ciclo da doença é de 7 a 10 dias. No entanto, eu senti os efeitos da enfermidade por um período muito mais longo. A rigor, recuperei plenamente a vitalidade depois de 1 ano. Um colega de redação me contou que alguns índices dos exames só voltaram aos níveis normais depois de oito meses.

É óbvio que a dengue deveria ter entrado no calendário de saúde pública dos governos. O problema é previsível. Em razão do agravamento da crise sanitária, O GDF resolveu decretar situação de emergência, instalou tendas, ampliou o horário de atendimento nas UPAs, adquiriu novos carros para espargir fumacê, contratou servidores temporários, pediu ajuda ao Exército e organizou uma campanha de educação nas escolas.

São providências corretas, a esta altura dos acontecimentos, para proteger a população e reduzir os danos, mas fica evidente que falta planejamento e ação preventiva.

O número de casos registrados de dengue em Brasília é o mais alto do país, a cada 100 mil habitantes, quase nove vezes a média nacional. Além dos números alarmantes, a prova inequívoca da falta de cuidado é que o governo não planejou uma ação preventiva contra o surto da dengue é o fato de, mesmo com quase R$ 5 milhões para esta finalidade, só gastou R$ 887 mil. E seria pouco mesmo se tivesse gastado todo o montante reservado para o combate à doença.

O governo local não contratava agentes de saúde de vigilância havia 11 anos. E, nos últimos 10 anos, deixou de investir R$ 241 milhões na prevenção de arboviroses. Não faltou dinheiro; faltou interesse, planejamento, prevenção e compromisso com a saúde pública. O resultado é que as UTIs dos hospitais estão lotadas.

Pesquisas revelaram que 75% dos casos de contaminação ocorreram em ambientes domésticos. Com certeza, é difícil controlar uma doença que prolifera nestas condições. No entanto, se é um problema de educação, ele só pode ser resolvido com campanhas intensas de conscientização. Exige uma campanha de mobilização permanente. Não foi isso que vimos nesta e em outras temporadas.

Em vez disso, vemos o governo local empenhado em construir viadutos questionáveis, que só contribuem para incentivar o uso do carro e estão levando a uma situação de mobilidade insustentável. Não adianta demitir o secretário de Saúde no meio da crise, pois isso não resolve o problema da falta de uma política pública para combater a doença.

Durante a pandemia da covid-19, os equipamentos de proteção eram a máscara e o álcool em gel. Agora, com a dengue, os únicos meios individuais de defesa são os repelentes e a vacina. Muitos alunos não têm dinheiro. Será que não daria para o governo distribuir repelentes para as crianças nas escolas?

E, em meio a essa grave crise, ainda existem idiotas fazendo campanhas contra a vacinação. Não é possível que a Justiça permita que esses irresponsáveis permaneçam impunes. Eles são criminosos que ameaçam a saúde pública. Não dê ouvido a esses tolos, vacine seu filho se ele estiver na faixa de imunização oferecida. Não espere o Estado fazer tudo, cuide do seu quintal. Faça a coisa certa.

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