Severino Francisco
Na madrugada de sexta-feira, acordei com o barulho de uma tempestade que se abateu de maneira abrupta, com ventos sibilantes e uma profusão de trovões e raios. Nunca havia ouvido uma chuva com aquelas características. Um raio faiscou, o trovão estrondou e a luz foi embora. E, de fato, quando raiou a alvorada brasiliana, pude perceber o estrago que a chuva havia feito.
A vala para escoamento da chuva entupiu com galhos de árvores, impediu a passagem da água pela rua e parte dela se espraiou até a garagem, carregando uma enxurrada de lama, que ameaçou invadir a área de serviço. Fiquei com medo de uma devastação maior. No entanto, a maior avaria no quintal foi a queda de um bouganville alaranjado, que tombou para o lado e precisou da escora de um pedaço de madeira para permanecer de pé, embora a raiz tenha permanecido intacta.
Sempre gostei do bouganville, também chamado de primavera, precisamente porque é uma flor faceira, alegre e vibrante. Fiquei aflito, pois temos mais quatro arbustos da espécie e ela é vulnerável às intempéries das mudanças climáticas.
Em minha insciência, eu julgava que o bouganville fosse de origem francesa, mas fui pesquisar e constatei que ele é brasileiríssimo. O nome foi dado em homenagem ao chefe de uma expedição francesa no Brasil em 1767, Louis Antoine de Bougainville, por um botânico que descobriu a planta no Rio de Janeiro. É uma planta versátil, radiante e extrovertida. Sempre que não tinha um motivo para felicidade, eu ia espiar o bouganville.
A caminho da escola das crianças, vimos diversas árvores ou arbustos arrancados pelo ímpeto da tempestade e dos ventos. Mesmo assentada com um bloco de concreto de uns dois metros de altura, uma placa de publicidade caiu próxima a uma pista, com a base revirada.
Em São Paulo, a força dos ventos durante as chuvas derrubou árvores, provocou a destruição de carros e matou um homem. Retirar as árvores não é a melhor política para sanar a situação, alertaram os pesquisadores. Há o problema do cuidado com as árvores, no entanto, se ocorrerem ventos com mais de 80km, elas não resistem e podem causar desastres.
Ao ouvir as menções aos sinais das mudanças climáticas, enquanto levávamos as crianças para a escola, a minha neta Aurora, de 11 anos, lembrou que existe um jogo do Roblox que contempla múltiplas experiências sobre os efeitos do aquecimento global. Vejam, enquanto as excelências ignoram o cataclisma e se ocupam de saber se chamar uma mulher ser chamada de bonita é ou não uma ofensa ou criam mais uma maracutaia para manter o Orçamento Secreto, as crianças brincam nos games com o que acontece na realidade.
Aurora listou 13 desastres naturais incluídos nos jogos do Roblox. Avalanche, nevasca, tsunamis, terremotos, fogo, inundação repentina, chuva de meteoros, tempestades, tempestades de areia, chuva ácida, chuva de meteoros, tornados, erupções vulcânicas e vírus mortais. E fez um comentário:”É perfeito para quem quer morrer de raiva”. Perguntei por que e ela me esclareceu: “É porque no fim o cenário se desagrega e cai em cima dos jogadores”.